The hospital of souls.

“Parecia que eu estava vendo um filme que eu era o ator principal. Via primeiramente uma cena de uma moça saltando de uma carruagem. Um homem de cabelos curtos e pretos a observava com seus olhos também negros. A mulher era pálida, com cachos escuros de cabelos caindo em cascata. Usava um vestido branco e esvoaçante, envolto na cintura estreita por uma fita de cor de pêssego. Um chapéu da mesma cor empoeirava-se na cabeça, cobrindo seus olhos. Como se ela soubesse que o homem a observava, ela se virou. Quando os dois olhos se cruzaram, eu tinha certeza de quem ela era e de quem era esse homem. Esse homem cuja estava ardendo de paixão por essa mulher era eu. E essa mulher era Leana. Tinha certeza, mas não sabia como.

Parecia que eu havia mudado de canal, como se eu estivesse vendo um filme da minha própria vida. Agora eu estava vestido de farrapos, pedindo esmola na rua e chorando. Era um homem com deficiência em uma perna.

E então o filme mudou novamente. Dessa vez a imagem me chocou. Dois homens brigando. Um homem loiro de olhos azuis tentava se desculpar e o outro rindo sem piedade, arrancou seu coração bem na frente de seus olhos. Senti vergonha, pois sabia que eu era o homem que estava rindo, cego por desejo de vingança. E o homem cuja eu tirei o coração era… Não podia ser. Mas eu sentia. Sabia que era Zacky. Milhares de outras cenas de outras vidas se passaram pelos meus olhos. Quase não conseguia distingui-las, mas conseguia entender cada uma. Então eu vi uma mulher loira com cabelos até o chão praticamente, pedindo meu perdão. Eu era um homem com cabelos pretos compridos até o ombro e dizia que não podia perdoá-la e que nosso amor havia acabado. Essa mulher era Vanessa.”

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Leana teve uma conversa nem um pouco confortante com Vanessa e depois as duas se viram se abraçando e chorando pela perda de seu amor. Vanessa tentou se recuperar enquanto Leana preparava água com açúcar para a mesma.

- Obrigada. - Vanessa agradeceu ao pegar o copo com a mão tremendo.

- Você precisa ligar para Brian, se não ele não chegará a tempo. - Leana a lembrou, sem querer pressioná-la. Seus olhos ainda estavam vermelhos e inchados. Vanessa assentiu com a cabeça e discou o número.

- Brian? - Ela perguntou, tentando manter a voz firme. - Você precisa voltar para casa.

- O que aconteceu, Vanessa? - Agora ela não se segurava mais e chorava desesperadamente sem poder falar mais nada. -Vanessa? - Leana também chorava, mas tentou ser forte e engolir o choro. Pegou o telefone da mão de Vanessa e respirou fundo.

- Brian, volte. Por favor. Nós duas precisamos de você aqui.

- Leana? O que você está fazendo com a Vanessa? Estou ficando preocupado. Cadê o Jimmy? - Leana começou a chorar desesperadamente. - Leana, me responda! O que houve com o Jimmy? - Ela respirou fundo e continuou, com a voz falhando e trêmula.

- Ontem, ele… - Leana continuou em meio de soluços. - O coração dele estava muito… - Ela não conseguia continuar a frase, apenas suspirou e falou o que Brian precisava ouvir para ter certeza. - Ele não resistiu, ele…

- O que? - Brian já estava gritando na linha.

- Ele morreu, Brian! Por favor, pegue o primeiro voo que tiver. Se quiser pode ficar na casa de Vanessa, ou na minha. Você sempre será bem vindo. - Leana conseguiu completar uma frase, já tentando respirar mais normalmente. Vanessa estava se recuperando de seu lado também. - Fique até a missa de sétimo dia, por favor Brian. - O mesmo chorava do outro lado.

- Eu vou. Estou a caminho. - E desligou.

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Após ver todas aquelas cenas de sua vida, Jimmy viu um clarão que o cegou e se viu na cama de um hospital. Mas era um hospital diferente, um hospital que nunca havia visto antes. De repente, aquela dor em seu coração voltou muito forte e ele gritou. Rapidamente, um homem veio vê-lo.

- Calma, vai ficar tudo bem.

- Onde estou? - Jimmy perguntou, ainda tonto. - Que hospital é este? - Jimmy tentou levantar, mas a mão leve do homem o impediu. - Está doendo! Faça alguma coisa, por favor. Me dê meus remédios. - Jimmy implorou, não aguentando a dor.

- Não trabalhamos com remédios aqui, senhor.

- Como assim? Vocês são loucos? - O homem não respondeu, apenas tirou a camisa de Jimmy, deixando seu peito exposto. Tinha um grande ferimento onde estava seu coração. - O que foi isso? - Ele perguntou espantado.

- Calma, vai ficar tudo bem. - O homem passou a mão sob o machucado de Jimmy e então, como se fosse mágica, o mesmo sumiu e ele parou de sentir dor.

- Quem é você? - Perguntou sorrindo.

- Damião. - Ele retribuiu o sorriso. - Agora, descanse. Você precisa melhorar.

- Eu te chamo quando estiver melhor.

- Não é necessário. Eu saberei.

Jimmy não sabia por que, mas tinha uma grande ternura por aquele homem. O observou andar. Tinha cabelos loiros e olhos azuis cintilantes e estava com um jaleco branco, calças brancas e um tênis também branco. Tinha tantas perguntas a se fazer, embora soubesse muito sobre o espiritismo, ainda se sentia tonto. Sabia que ia acordar em um hospital e sabia que, mesmo sem falar nada, Damião era seu guia espiritual. Tinha certeza disso. Sorriu satisfeito por saber que tudo que a velha senhora havia ensinado era verdade. Logo se lembrou de Alice e um sorriso brotou em seu rosto. Onde será que ela está agora?

Leana e Vanessa estavam começando a se comunicar enquanto a TV estava ligada, mesmo elas não prestando atenção.

- O Brian já devia ter chegado. - Vanessa disse. - E eu vou me vestir. Você deveria ir para casa.

Leana assentiu com a cabeça e foi andando devagar e respirando o ar puro até chegar em uma floricultura. Entrou e observou as flores. Viu rosas brancas e sorriu. Havia ganhado flores assim de Jimmy uma vez. Comprou algumas e voltou para casa, buscando um vestido preto até o joelho e sem alça, refinando sua cintura com um cinto também preto. Colocou seus cabelos em um rabo de cavalo e botou seu brinco de cruz. Colocou um sapato alto e fino também preto e foi começou a passar o perfume suspirando. Pegou uma bolsa de mão e no momento que estava saindo pela porta e pegando as rosas, seu celular tocou. Era Vanessa e ela estava chorando.

- Vanessa… O que houve?

- Olhe… - Ela tentava continuar a frase em meio de soluços o que fez com que o coração de Leana começasse a pular mais ainda. - Ligue a TV. Vá no noticiário. Rápido.

Leana desligou e rapidamente a obedeceu. Deixou tudo cair no chão quando viu que o voo cuja Brian havia pegado, sofreu um grande acidente e, infelizmente, ninguém saiu vivo.