Holbrook

Capítulo 23 - Cortesia


Quando Dean soltou minha mão, eu fui capaz de sentir o olhar tenso de Lexie sobre nós dois. Ela parecia bem nervosa e com medo de que a gente se atracasse ali mesmo, mas é claro que eu jamais faria isso, então pra acalmar ela, eu a olhei e sorri, para os dois na verdade. Ela retribuiu e logo foi mudando de assunto, tentando descontrair o ambiente, o que deu totalmente certo, principalmente quando seus outros amigos e, agora meus, se aproximaram. Nós conversamos por um tempão até que resolvemos voltar pra dentro da casa. Quando caminhávamos para a sala, eu abracei a Lexie e quando passamos pela enorme porta da sacana, eu disse a eles que já voltava.

— Onde você vai?

Lexie me perguntou e eu hesitei em responder. Mordi meu lábio e então brinquei com ela fazendo todos rirem.

— Número um.

Eu pisquei a olhando sorrir e dei alguns passos pra trás, ainda a encarando e sorrindo também. Me virei de costas pra eles e os deixei lá se divertindo. Caminhei até o banheiro, fiz minhas necessidades e então parei em frente ao espelho, me encarei e abri a torneira.

Joguei um pouco de água no rosto e puxei o papel da máquina que havia sido colocada cuidadosamente na parede. Sequei meu rosto e joguei o papel no lixo, enquanto abria a porta e a segurava com o pé. Quando sai, senti meu celular vibrar, mas quando o peguei tive uma surpresa.

"Olá, Holbrook! Senti saudades, ainda mais da nossa querida Lexie."

Quando terminei de ler, eu sai correndo atrás da Lexie, mas quando cheguei perto do pessoal, ela não estava.

— CADÊ A LEXIE? - Eu falei completamente alterado, olhando por minha volta enquanto passava a mão no cabelo e Ethan se aproximou de mim, sério e tão nervoso quanto.

— O que foi cara?

— Eu preciso encontrar ela.

Olhei nos olhos dele e sai dali ouvindo ele me gritar até não ouvir mais nada. Quando eu tava correndo esbarei em alguém e pra minha alegria era a Louhuman. Ela já estava vindo em minha direção e quando nos trombamos ela quase caiu no chão, mas eu a segurei antes.

— Lexie! - Eu falei a encarando enquanto segurava seus braços, meio em choque - A gente tem que sair daqui.

— Que? Por que?

Ela me olhava tão confusa quanto eu.

— Eu recebi uma mensagem, ele deve tá por aqui. - Eu a puxei e ela me seguiu.

— Como assim? Quem?

— Teu sequestrador, Lex.

— O que? Como sabe que é ele?

Eu suspirei sem paciência para explicações e então com a ideia rápida que veio a minha mente, eu peguei o celular do meu bolso e entreguei na mão dela.

— Ai caramba! Só pode ser ele. O jeito de escrever, só pode ser ele.

A voz dela estava chorosa e eu só sabia olhar pra todos os lados. A gente saiu da casa, corremos pelo jardim e quando saímos pelo portão, Lexie parou na minha frente.

— E por que temos que sair daqui? E se ele quer que a gente saia?

— Por que ele deve estar aqui, fora ou dentro da festa, não importa. Ele deve tá nos vigiando.

— Aqui? Na festa?

Sua ultima frase foi alterada e dessa vez, ela quem olhava por todos os lados.

— Não sei, dentro ou do lado de fora, não faço ideia, mas não vamos ficar pra descobrir.

Nós estávamos correndo para o carro e quando chegamos até o mesmo, nós paramos e eu gritei um "bosta", soquei uma árvore que estava ao nosso lado pela raiva e encarei o carro. Os pneus estavam totalmente vazios, todos eles.

— Foi ele quem fez isso?

— Sim, foi ele. A gente precisa de um táxi.

— AQUI? Você acha que aqui vai ter um táxi? Não vai.

— Tem que ter.

— Derek, mais de quatro quadras é uma área particular da família do meu amigo. Você acha mesmo que táxi passa aqui?

— Tá brincando!

Eu falei levando minha mão direita a testa e Lex suspirou batendo o pé no chão por nervosismo. Eu ouvi o barulho de um carro e olhei para direção do mesmo. Um táxi. Eu o encarei em dúvida e surpreso, pelo comentário da Lexie. Ela também encarava o mesmo com a mesma expressão, mas soltou quase como um sussurro.

— Mas hoje é festa. Bom, táxi não vem aqui, mas nós podemos pedir.

— Ótimo. Ainda bem que alguém deve ter pedido então.

Eu a segurei pela mão e a puxei até o carro próximo a nós. Encostei meu braço esquerdo na janela e encarei o motorista.

— Alguém te chamou?

— Sim, senhor. Me chamaram.

— Pode pedir um outro táxi pro seu cliente? Eu pago o dobro da corrida se tirar a gente daqui.

O homem pareceu surpreso, mas logo concordou me dizendo que só poderia me levar até um certo ponto. Eu e Lexie entramos dentro do carro e em poucos minutos estávamos quase saindo dos arredores da mansão. Eu olhava pela janela e Lexie encarava o chão quando levamos susto com o celular do motorista.

O mesmo encostou o carro e o atendeu. Eu o encarei e tudo que ele respondia era coisas como "Eu entendo" "Sim, farei isso, senhor" "Sei" e quando ele desligou eu logo perguntei quem era, não podia marcar bobeira.

— Algo sério?

Perguntei e ele me encarou ficando em silêncio por alguns minutos.

— Não. Era o meu cliente.

— Espero não ter te arrumado problemas.

— Não, não. Eu acabei fazendo o certo sem querer.

Ele sorriu me olhando e depois voltou sua atenção para a estrada. Eu não entendi com o que ele quis dizer a respeito de "fazer certo sem querer" mas ignorei. Era coisa do trabalho dele e não interferia em nada.

Eu olhei pra Lex e segurei em sua mão, ela me encarou e sorriu, um sorriso fraco mas era sincero, então eu sorri de volta. Andamos mais alguns minutos assim, de mãos dadas, e então o táxi parou no meio do caminho.

— Pronto, nós chegamos.

Eu olhei em volta soltando a mão de Lexie e estávamos em uma rua vazia, completamente deserta, comércios fechados, casas com as luzes apagadas, não tinha ninguém além de nós três.

— Não... Não é aqui, precisamos ir pra cidade.

— O homem que pediu táxi para vocês me disse que a corrida seria até aqui. Agora já tenho uma outra corrida baseada nas informações dessa. Não posso me atrasar. Me desculpe. É um cliente muito importante.

— Como assim o homem que pediu o táxi para nós?

— Sim, me ligaram e pediram um táxi para Derek Holbrook. No telefonema ele me disse que era o senhor.

Lexie olhava para o motorista incrédula e me encarou sussurrando em seguida

— Foi ele, Holbrook.

— Precisa nós tirar daqui, esse homem..

— Não, não posso senhor, eu não posso. Posso pedir um outro táxi se preferir.

O homem não me deixou terminar a fala, parecia irritado e irredutível. Péssimo dia para não estar com o comprovante de agente. Pensei comigo que seria só uma festa e que Lexie merecia uma noite, não com o agente, mas com o Derek.

— Está bem, quero um outro táxi. Obrigado.

Eu olhei em completa tensão para Lexie, que estava do mesmo jeito. Segurei sua mão e saímos do carro. Fechei a porta de costas para a mesma, enquanto encarava Lex. O táxi pareceu receber outra ligação e logo arrancou com o carro. Eu olhei para os lados apreensivo e me assustei com o meu celular. Eu sabia que era ele, por isso mordi meu lábio, fechando os olhos controlando toda a minha raiva. Levei meu celular até o ouvido e falei em um tom mais tenso impossível.

— O que você quer?

— Olá, Derek. Espero que você tenha gostado da minha cortesia em pagar o táxi, mas você sabe, não posso ser gentil sempre.

Ele desligou e eu olhei pra Lex, ainda com o celular no ouvido, mas tudo que eu ouvia era o som do ocupado.