Hogwarts: uma outra história

Capítulo 95. Cuidado com o que você sonha


Capítulo 95.

Ah bom, finalmente fim de semana de Hogsmeade, depois de uma semana estafante! Era legal ver o bom e velho vilarejo como uma lembrança de quando eu era jovem, sem preocupações... Enrique me olhou de cenho franzido e eu me preparei para o coice.

— Está fazendo aquela cara de novo. - Pelo tom de voz dele, não era a minha melhor “cara”, então eu não respondi essa provocação.

— Ainda não acredito que você aceitou vir no Circo de Pulgas comigo! Na verdade, não acredito que todos vocês aceitaram! - Inclui todo mundo que estava me acompanhando para a bilheteria do tal circo, instalado no final da avenida principal do vilarejo, já na saída da cidade.

— Aceitar implica em opção, coisa que não nos foi dada. - John disse isso mal-humorado, sendo hoje o acompanhante da minha irmã encalhada, já que a namorada dele estava abaixo da linha do Equador.

— Não seja estraga-prazeres, John, na verdade eu estou bastante animada com tudo isso. - Rebeca disse sorridente e todos nós a encaramos surpresos. – O que é, seus imbecis? Eu não posso gostar de outro circo além desse que vocês fazem todo dia?

— Ufa, é a nossa monstra! - Eu disse aliviado.

— Pensei que teríamos que pegar os aurores pelo braço pra encaminhar essa impostora para Azkaban. - Tony completou a raiva da nossa amiga. Ela fez aquela expressão perigosa dela, que combina com um sibilar de serpente pronta para dar o bote.

— Pois eu estou gostando de ver, Wainz! Vou te dar aquela carta de recomendação para você fazer parte das Madames Caridade como você me pediu. - Rose disse animada e Rebeca sorriu... Angelical?

Esperei os outros se distraírem um pouco com alguns pestinhas a nossa frente fazendo birra para comprar alguma tranqueira na mão de um palhaço vestido de pulga ou pulga vestida de palhaço, ainda não consegui identificar, ele está muito longe.

— Rebeca, o que você está aprontando? - Ela nem se dignou a me olhar, só deu aquele sorrisinho dela, apreciando o pobre menino ser arrastado para longe da bilheteria, provavelmente perdendo o direito de ver o show.

— Não estou aprontando nada, não posso apenas estar querendo ser uma pessoa melhor, como você? - Ela me disse cínica e eu sei disso porque aquele brilho malicioso nos olhos dela eu não conheço de ontem, né?

— Querer eu não quero, mas faço porque preciso estar no meu melhor comportamento pelo campeonato, você por outro lado... - Deixei o resto da frase no ar e Scorp olhou da namorada para mim e depois o inverso, sorrindo sonso.

— Eu acredito na mudança de Rebeca, porque esse é o resultado da convivência comigo. - Rá, tá aí a prova! Uma convivência com Scorp só pioraria as coisas.

— Você é o quê? O álibi dela? - Perguntei encarando ele, mas quando vi a monstra cruzando os braços, olhei para ela, com meu sorriso de “eu sei o que você fez na semana passada”.

— Talvez eu seja, talvez eu tenha descoberto o que minha namorada quer... Oucht! Eu estou te defendendo, garota! - Rebeca havia pisado no pé de Scorp e agora o encarava falsamente confusa.

— Seu namorado está te chamando, Cesc, para de nos atormentar, porque eu não estou planejando nada, apenas me infiltrando nas... No lado do bem, algum momento isso iria acontecer, porque eu sou bondosa. - Ela terminou seu discurso com um sorriso condizente.

— Infiltrar não é um bom verbo, é bastante sugestivo, na verdade. - Enrique falou, enquanto me entregava nossos bilhetes. Como ele conseguiu com a fila desse tamanho?

— É adequado se for utilizado para dizer “infiltrar uma broca de titânio no meio do coração de Rebeca para achar a tal bondade perdida”. - Scorp riu, disfarçando uma tosse e a monstra me ameaçou com os punhos, mas disfarçou que estava se espreguiçando assim que Rose olhou para gente.

— Você não me provoque, Cesc! Não quando eu estou tentando ser uma pessoa melhor! - Rebeca disse entre dentes e depois sorriu como uma maníaca. Claro, Deus que me livre tirar um carneirinho do bom caminho. – Obrigada pelo bilhete, Enrique, você é um amorzinho.

— Sou mesmo, tanto quanto você é bondosa! - Ele disse divertido e Rebeca agradeceu o “elogio” com uma vênia medieval.

— Então é muito amorzinho, porque Rebeca é a bondade encarna... Olha, Tony está nos chamando para entrar. Será que conseguimos ficar perto deles? - Chequei o número do meu bilhete, deixando o meu sarcasmo para depois.

— Não é lugar marcado, você nunca foi a um Circo de Pulgas? - Scorp me perguntou sem paciência e eu apenas fiz minha melhor cara de “claro, as pulgas da sua cama passando poção descolorante no cabelo enquanto sapateiam conta?” e ele franziu os olhos pra mim.

Essa minha cara é fantástica.

Nosso grande grupo se juntou sob a lona do circo - eu, Enrique, Scorbeca, Rony e o nome de casal de Louise e John, que deve ser algo como “crianças superestimadas” - mas além de nós, havia outras figuras de Hogwarts aproveitando o espetáculo.

— Segundo e irmã de Segundo, como vão? - A garota negra, com a mesma cara enferrujada do irmão e um cabelo de um tom um pouco mais para o castanho que o dele me encarou com estranheza.

— Capitão e gangue do capitão, que... Interessante vê-los aqui. -Algumas pessoas podem ser inocentes a ponto de achar que Segundo está sendo desagradável apenas para despistar os odiadores do Ocaso, mas a verdade é que ele é assim mesmo.

Os dois viraram para o outro lado.

— Eu não entendo muito de circo de pulgas, a gente fica em pé mesmo? - Perguntei para ninguém em particular, mas Louise me respondeu prontamente.

— Vi no Youtube que é assim, vemos o espetáculo acontecendo com a ajuda de uma lupa ou tela de projeção, porque os insetos são muito pequenos. - É o quê? Mas que esquisito! – Estou torcendo pela lupa, porque dá esse arzinho mais retrô.

— De fato vamos ficar em pé, mas não sei quem disse que vamos ter que ver algo com uma lupa, Lou. - Fred falou diretamente com minha irmã, como se tive... Ah sim, eles se conheciam desde a época em que ela namorava Longbotton. Deuses, isso tem séculos, mas ao menos não é suspeito.

— Quem disse a ela foi o Youtube, você a ouviu. - A irmã de Fred II disse a ele daquele jeito que as irmãs pentelhas falam e ele só revirou os olhos, antes de retrucar algo que foi interrompido pelo barulho das cortinas sendo abertas ao som de um tamborete.

Bem, se não tinha lugar marcado, era melhor eu ficar mais perto de onde toda a ação aconteceria, não é? Me aproximei do palco, que na verdade era meio grande para pulgas... Bom para um cachorro ou um pônei, talvez.

Enrique me puxou pelo capuz para trás e eu não entendi o porquê disso, até pisei no pé de Tony, que estava ao meu lado. Ele me encarou feio, porque o pé chulezento de Tony é sagrado.

— Enrique, por que... - Ele passou um braço ao meu redor e quando a trupe pulguenta entrou no picadeiro, eu entendi o porquê. – Por todos os Deuses da Terra Média, que merda é essa?

As pulgas que entraram no picadeiro não precisavam de lupa alguma para serem vistas, porque cada uma delas tinha o tamanho do meu cachorro, Perseu. Louise deu risada, maravilhada e Fred colocou ela e a irmã atrás das costas, porque não havia grade alguma entre as pulgas e nós.

As pulgonas marcharam e depois se dividiram em duas pirâmides de fazer inveja a líderes de torcidas americanas e o apresentador apareceu entre elas, com um bigode estilo francês - com cavanhaque e tudo - e um sorriso meio... Assustador, na verdade.

— Estão prontos para o espetáculo, crianças?

***

O show estava incrível, mesmo com Louise estragando tudo, dizendo que pulgas não podiam ser amestradas de verdade, que tudo que elas faziam era porque o homem acionava seus reflexos naturais.

Sim, eu sei, Louise é muito irritante.

Quando a pulga de tutu rosa pulou de uma barra para outra, fazendo uma pirueta, ao mesmo tempo que o irmão dela passava pelo círculo de fogo, até o insuportável do John deu risada, porque o inseto parou sobre suas costas.

— Eu não sei se gosto disso, é meio que crueldade com animais... - Rose disse incerta, mas depois abriu a boca extasiada para a apresentação com direito a pirotecnia e chuva de purpurina.

Era um negócio muito, muito hipnotizante.

— Esse apresentador não parece familiar? - Fred II me perguntou baixinho, mas eu não conseguia tirar meus olhos das luzes brilhante. – Sabia o nome dele antes mesmo de sequer ver um anúncio, como eu poderi...

— Ele é famoso, Carl Dolus é famoso, todo mundo sabe disso. - Cortei o papo de Segundo, porque ele sabia jogar no time dos corvinais insuportáveis quando queria. – Agora fica quietinho aí, que Pimp vai saltar num copo d’água! Não tem como Pimp saltar num copo de... Oh, meu Merlin! Ela fez! Olha, Segundo, ela fez!

A pulga havia diminuído de tamanho quando chegou no copo e seu treinador, que no caso era o apresentador mesmo, a resgatou de lá com vida, mostrando ela para a plateia animada na primeira fila, em frente ao picadeiro.

Droga, eu queria tá lá, mas Enrique ainda segurava a minha capa e a de Tony como se fôssemos... Ele precisa de um voluntário! Meu Deus, eu, eu, eu, EU!

— Cala boca, Cesc! ME ESCOLHE, ME ESCOLHE, AQUI! - Tony é um palhaço, estava me sabotando abaixando a minha mão! Piorou quando Enrique me imobilizou num abraço não solicitado.

Só me acalmei quando nem eu, muito menos Tony, fomos selecionados. Toma essa, seu filho da mãe trapaceiro! O escolhido foi Aizemberg, o que era interessante, já que estávamos todos aqui meio que a pedido dele.

No fim das contas a doninha/capivara/zumbi cleptomaníaca e chantagista conseguiu seu artigo sobre o circo, bravo!

— Por que você me segurou? Eu queria ir! - Eu virei indignado, mas Enrique só me olhou sem nenhum remorso.

— Um dia você vai me agradecer por ter reduzido o número de coisas das quais você vai sentir vergonha quando for adulto. - Ele sorriu se sentindo o suprassumo da maturidade. Babaca!

— Foi tão legal o número de Pimp, fiquei tão nervosa por ela! Não tem como Malo superar, ai meu Deus, Malo vai atirar facas em Aizemberg! - Louise soltou um gritinho involuntário e me olhou maravilhada. – Isso não dá para fazer com reflexos involuntários!

— Não e se dermos sorte, a pulga vai fazer o que é esperado e acertar Aizemberg de verdade! - Falei extasiado e John deu risada comigo, sob o olhar de repreensão das meninas, no caso, Louise e Rose.

Dei uma olhada ao redor para absorver a atmosfera de apreensão para poder passar tudo isso para o artigo e encontrei o olhar de Rebeca, abraçada com Scorp, do lado de Enrique. Ela me mostrou os dedos cruzados por trás das costas do namorado e um sorriso de esperança misturada com maldade.

Eu amo minha melhor amiga, a melhor garota do mundo!

***

— Rose, você não pode ser o Mister M e revelar todos os truques do show! - Falei indignado e Tony completou.

—Você não é uma corvinal, Baunilha. - Falou chateado e Rose fez menção de responder, mas se acalmou com esse argumento infalível.

— Mas acontece que ela tem razão, o truque da água entregou que ele usa poções para fazer as pulgas ficarem grandes, mas foi uma boa solução para acalmar os chatos, já que ele mostra que não tem a pretensão de fazer parecer que suas pulgas são diferentes! - John falou, fazendo valer a máxima das águias de não poderem perder uma oportunidade de parecerem pedantes.

— Eu ainda acho que ele tem algo de familiar... Lembra, Roxie? Comentei no Natal sobre um tal de Carl, o insectologista, só não lembrava de onde eu o conhecia. - Fred falou para a irmã, que deu risada.

— Só lembro do marido da tia Katie saindo furioso porque ficou com uma cabeça de porco! - A garota falou, fazendo Rose rir de alguma lembrança de família.

— Você deve está se recordando de algum show itinerante que Dolus fez há uns cinco anos atrás, quando ele estava no auge. - Enrique falou para Segundo, que o olhou em dúvida.

— Por que esse “quando estava no auge”? O show foi bem legal e estava bem cheio. - Eu disse realmente confuso, mas Enrique deu de ombros.

— O cara costumava se apresentar em grandes capitais bruxas, como Vratsa e Bucareste! - Ele disse, se distraindo ao cumprimentar algum conhecido dentro de uma loja de penhores. Sorriu malicioso para a pessoa, como se a tivesse pego no flagra, mas depois voltou a me encarar.– Você tem que admitir que Hogsmeade é meio que o fim da linha, não é?

— Na verdade tem até um bom público quando é final de semana liberado em Hogwarts, não é mesmo, Segundo?- O grifinório deu de ombros para a pergunta de Tony.

— Não temos do que reclamar, os negócios vão bem aqui e se nada der certo, ao menos foi uma boa ideia transferir a fábrica das Gemialidades para cá, onde as taxas são mais baratas e as casualidades em caso de explo... - Fred se interrompeu e sorriu amarelo. – Err... Deixa pra lá.

— Eu te entendo, cara. Desde que meu pai comprou e reformou Ikley Moor e Hector transferiu os laboratórios para lá, os processos das cercanias diminuíram bastante. - Enrique disse compreensivo.

— É, malditos londrinos e essa mania de processar empresas malucas que fazem testes doidos dia e noite... - Scorp falou sarcástico e foi devidamente fuzilado pelos herdeiros dos Impérios mais perigosos da Grã-Bretanha.

— Falando em testes, quando aquela bebida do seu pai vai entrar no mercado? - Louise perguntou interessada - principalmente em desfazer o climão - e Scorp ficou feliz em respondê-la.

— Está prevista para esse verão, as coisas atrasaram com a chegada de Vega e também teve aquele caso do buraco que abriu na garganta do... Ah, quer saber? Vamos deixar pra lá, vai ser colocada sob encomenda para poucos sortudos e se tudo der certo, vamos ampliar a produção logo mais. - Scorp terminou o discurso com um sorriso brilhante.

— Eu me lembro de ter bebido a “Dama da Noite” no Natal retra... No passado? Sem ser esse, no anterior! E saber que eu poderia ter morrido é... - Fui interrompido pelo maior culpado de tudo.

— Deixa de ser chorão, Fábregas! Você já foi mordido por vampiros? Não? Então você está fora do grupo de risco, não torra a minha paciência! - Scorp me interrompeu todo afetado e eu olhei ele de cima abaixo, o que é que essa lombriga tá pensando?

Os outros ficaram mudos ante essa prova terrível de que Draco Malfoy nos ofereceu veneno no Natal passado, até o próprio Scorp terminou seu discurso e ficou lá parado, esperando eu dar minha resposta. É um idiota mesmo.

— Pois eu vou fazer meu pai entrar no negócio armamentista, só para poder entrar nesse clubinho de herdeiros da morte também e meter bala em você, Scorp.

Não pude ver a cara ofendida do loiro, porque um estalo me fez abrir os olhos, me fazendo acordar no meu quarto.

Mas que merda é essa?

— E então, James, ele fala ou não fala dormindo que nem você? - Frank perguntou muito perto de mim, assim como seu melhor amigo que acentia preguiçosamente com a cabeça.

Quase saí de mim, só para poder colocar distância entre minha pobre alma atormentada e esses dois grifinórios, que não sabem o conceito de espaço pessoal. James fez uma careta e encarou o amigo.

— Eu tenho certeza que eu não pareço tão ridiculamente confuso assim... - Frank o olhou com pena e ele fez uma cara de assombro. – Pareço?

— De uma maneira dife...

— Hey, dá pra vocês dizerem que merda tá acontecendo aqui? - Os dois imbecis se entreolharam e Frank parece ter sido escolhido como o porta-voz dessa dupla de trolls.

— Dessa vez eu fui mais esperto e chamei uma testemunha pra provar que você é um... Falâmbulo? - Ele olhou em dúvida para James, que revirou os olhos.

— Não tem um termo certo para quem tem sonilóquio, mas não pira, é totalmente inofensivo. - James sorriu tentando passar calma. – É mais comum na infância e meio que aparece quando a gente tá estressado, mas nada que uma poção de sonhos sem sonhos não resolva.

— Não quero uma de suas poções, sabe-se lá se você é bom nisso! - Falei mentiroso, porque meu primeiro Ótimo em Poções, graças ao roubo que eu e Tony fizemos no semestre passado, contava outra história.

— Ok, depois não chore se Frank descobrir algum segredo que não deva. - James deu uma ênfase desnecessária, tanto que o melhor amigo dele fez uma cara ofendida.

— Minha boca é um túmulo, James, porque você tá falando isso? - Longbotton perguntou acusador.

— Isso explica o mal-cheiro. Olha, eu não preciso... - James me deu um olhar demoníaco, que me fez parar de falar e PUTA MERDA, o djinn! Ele tem razão, mas que merda, tenho que dar um jeito nisso, Frank não pode ouvir meus segredos e PUTA MERDA, o Ocaso! É, eu definitivamente não posso falar dormindo. – Pensando melhor, vou aceitar suas poções sim, Potter.

— Mas dessa vez você vai ter que me pagar mesmo, porque os ingredientes não brotam da... Ok, alguns brotam, mas você me entendeu! - James falou isso para Frank e eu fiquei sem entender.

— Eu poderia apenas lançar um feitiço antirruido ao redor do meu dossel, mas aí eu não ouviria o seu despertador e meu pai está tão feliz comigo chegando nas aulas no horário certo... - Longbotton me explicou animado, provando que eu estava certo ao dizer que ele me agradeceria por acordá-lo um dia. – Posso acertar no final do mês, Jay?

— Lembre-se que desde que Brenam fechou o cerco, eu sou o único que ainda pode te ajudar a passar por Hogwarts suavemente... Me pague tudo, sem falta. - Misericórdia, eu também estava certo sobre James Potter ser um traficante!

— Vou pagar, até parece que não me conhece... - Long... Qual era mesmo o apelido dele que envolvia maconha?

— E quanto a você... Aqui: primeira noite você toma um gole integral, na segunda noite você toma uma parte de água, para uma de poção, depois duas partes de água e então três, assim sucessivamente, até a quinta noite, quando você para de tomar a poção diluída, porque não queremos mais ninguém viciado, não é?

Frank fuzilou James com olhar e ele devolveu um sorriso amarelo. Eu hein, não quero me envolver em uma briga entre um drogado e seu traficante. Interrompi a conversa muda dos dois.

— E se depois da quinta noite eu ainda continuar falando enquanto durmo? - James fez uma careta feia e depois olhou para um Longbotton com uma cara igualmente pessimista.

— Se isso acontecer, precisaremos tomar medidas drásticas. - Ele falou hermético e eu arregalei os olhos para isso, porque medidas drásticas com grifinórios era dar as mãos a morte, todo mundo sabe. – Tenha bons sonhos, Cesc.

Ah tá, vou ter ótimos sonhos pensando em como fazer o meu cérebro - outrora tão iluminado e bonzinho - parar de me trollar. É bom essa poção valer a pena o preço que o lesado do Longbotton está pagando por ela ou então James vai ver só!

***

— Recebeu o convite? - Enrique me perguntou, tendo saído de lá do seu lugar no pedestal - ao lado de “Tedizinho tão divertido” Lupin - na mesa dos professores.

— Recebi, mas gostava mais quando vinha pelo Ocaso. - Falei com desdém, porque a chuva de convites distribuídos para a festa da Corvinal no correio matutino de ontem, na frente dos não-convidados, que nem sequer puderam dedurar a coisa toda, foi cruel sem necessidade.

E não, não me sinto nem um pouco culpado por ter dito que “O OCASO NÃO É A PORRA DO SEU CORREIO PARTICULAR PRA VOCÊ FICAR MANDANDO CONVITE PRA PUTARIA EM NOME DE SEU IRMÃO” na cara de John.

Ok, eu gritei mesmo e ele deu o piti dele, dizendo que eu não sabia levar uma brincadeira na esportiva.

Pois não sei mesmo.

— O pouco que sei do Ocaso, eles não gostam de nada que seja seletivo e aparentemente a festa desse ano está assim. - Enrique me disse com um sorrisinho escroto de quem sabia que eu era o grande responsável pelo convite diferente.

— Deuses, como odeio os corvinais! - Lily se sentou indignada do lado Enrique, que apenas a olhou com superioridade. – Dizem que é provável que essa seja a última festa dos maiores organizadores de festas proibidas e eu não fui convidada de novo!

— Pra quê você quer festa, coisinha? Ainda nem parou de chupar dedo e dormir com unicórnios de pelúcia... - Meu adorável namorado falou sem dó, achando que a pobre Lily tem a idade da sobrinha dele.

— Infelizmente não podemos contar que o pessoal da Corvinal ganhe mais um ano aqui, até porque, só sendo muito burro para repetir de ano. - Lily fingiu que não ouviu Enrique, mas deu a resposta que ele bem merecia.

— Nunca me interessei por notas, mas adoraria dar uma olhada no boletim de secundaristas... Sei lá, me bateu essa vontade. - Enrique disse sarcástico. Ponto pra ele, o boletim de Lily é uma desgraça agora, imagina no sétimo ano.

— Ok, antes que continuem com essa rasgação de seda toda, me passe as batatas, por favor. - Pedi ao adulto maduro da mesa e ele me passou, com um sorriso de quem tinha algo interessante pra falar.

— Ei, você vai ficar mais surtado do que já é, mas adivinha com quem meu irmão está namorando! - Ele me perguntou, como se eu ligasse muito, mas vai, o que a gente não faz pelo nosso namorado, não é?

— Ele está namorando com Lúcifer? Volde... Espera, de quem estamos falando? Só pra eu não chutar na lista demoníaca o nome dele mesmo. - Disse me servindo do jantar que há muito tempo não está lá essas coisas.

Só presta mesmo para a Sonserina na chegada e na saída.

— Estamos falando de Heitor, até porque até onde eu sei, Hector está namorando com uma mulher que está noiva, mas se eu contar quem é, aí sim ele me mata. - Enrique disse divertido e Pottinha franziu o cenho.

— Por favor, diga. Eu nem quero saber, mas sou a favor da verdade acima de tudo. - Ela falou roboticamente, apenas querendo ver Enrique ser assassinado pelo irmão mais velho. Que ser humaninho bondoso!

— Não vou dizer quem Hector está namorando, mas vou dizer quem Heitor está, até porque vocês nunca poderiam adivinhar: Jweek, batedora dos Vratsa Vultures! - Assim que ele falou, minha boca foi ao chão, a de Lily também.

— O que tem minha soberana, dona da minha alma? - Tony chegou feito um ogro, pegando uma das coxas de frango com a mão nojenta dele mesmo, sem nem pegar um prato antes.

— Está namorando com meu irmão Heitor. - Enrique disse simplesmente e eu esperei que Tony reagisse chocado por toda a humanidade.

— O QUÊ?

E ele não nos decepcionou.

Depois de limparmos toda a evidência de um franguecídio das nossas vestes, Tony se recompôs o suficiente para conversar como um ser humano normal. Na medida do possível, claro.

— Que história é essa de Heitor e Jweek juntos, cara? Ela é a embaixadora da causa “Mundo bruxo sem segredo” e seu irmão é um dos motivos para não nos revelarmos aos trouxas! - Eu e Pottinha demos risada disso, mas Enrique não gostou nada.

— O que você quer dizer com isso? - Meu namorado falou sério e Tony piscou confuso, acho que ele falou tão no automático que nem percebeu o que dizia.

— Quis dizer que... Err... Meu primo é tão bonito que os trouxas vão querer matar a gente para vestir nossas peles no inverno. - Tony disse sonso e Enrique só o fuzilou com os olhos.

— Enrique é seu primo? - Lily perguntou com nojinho e antes que meu melhor amigo começasse a fofocar sobre a longa e enrolada história da família ridícula que os dois compartilham, eu fui mais rápido.

— Tony é primo dos irmãos de Enrique do primeiro casamento do senhor Dussel. - Falei e depois coloquei uma garfada enorme de comida na boca, continuei ainda mastigando. – Agora coma seu jantar antes que esfrie, mocinha.

— E daí se eu comer jantar frio? - Porra, mas Lily é uma cobrinha mesmo! Joguei um punhado de batata nela e Enrique fez um escudo não-verbal, fazendo as ervilhas que ela atirou em mim ricochetearem e caírem no colo dela também.

— Comida não é brinquedo, Potter, seu pai não te ensinou não? - Enrique falou cretino e a criaturinha saiu furiosa, provavelmente indo contar para a mãe dela... Droga, ela está indo na direção da mesa dos professores. Vai pra contar para o Potter pai, droga, ela vai contar para o Potter pai!

Limpamos tudo e nós três- porque Tony também riu da cara de Lily e nem foi um riso discreto - ficamos bem quietinhos pelo resto do jantar, pelo bem dos nossos ouvidos no treino de amanhã. Assim que saímos do Salão, Enrique me dirigiu para o seu quarto compartilhado com James e eu o olhei desconfiado.

— Não vou fazer nada aqui, Potter pode chegar a qualquer minuto... - Falei, mantendo distância daquele ser humano sem noção.

— E daí? Talvez ele aprenda uma ou outra coisa... - Ele veio chegando perto e eu o olhei sério. – Que saco! Por que se importa com o que Potter pensa ou deixa de pensar? Mais a cara dele não pensar, na verdade...

— Você me traz para o seu quarto dividido com ele, tendo tantas outras opções melhores e eu sou aquele que esta preocupado com o que James pensa? - Usei minha lógica fantástica e ele só me encarou de braço cruzados.

— Só estava curioso pra saber o que diabos eles quis dizer ontem de madrugada com “estava resolvendo o problema de sono do seu namoradinho “. - Mas que Potter desgraçado, parece um encosto!

— Exatamente o que ele disse, ele foi me dar uma poção a pedido de Frank, porque aparentemente estou muito estressado e estou falando enquanto durmo... - Olhei falsamente irritado, mas continuei fingindo pra ver onde ia dar. – Mas você já sabia disso, só que preferiu rir da minha cara, não foi? Você lembra disso?

— Não achei que fosse algo sério... - Ele me falou resmungando, esperando uma resposta implícita que eu não dei. – É algo sério, Cesc?

Sentei na cama dele, não aguentando fazer essa cena ridícula de novela brasileira. Dei risada e ele franziu o cenho, mas depois sorriu pra mim.

— Só se você considerar sério eu contar algumas de nossas posições favoritas para Longbotton.. - Agora ele riu, mais aliviado. – Céus, isso tudo é medo de eu chutar sua bunda?

— Claro que não, eu me garanto! Mas... Você sabe o que faz e eu seria um retardado se não te mandasse abrir o olho com Potter. - Pisquei confuso pra essa resposta.

— Você mandou? Do que estamos falando agora? - Ele sentou ao meu lado, voltando a ficar sério.

— Estamos falando dessa sua coisa de ficar alimentando o sentimento das pessoas apaixonadas por você a conta-gotas, só para ter certeza que sempre terá alguém para esquentar seus pés no inverno. - Ele me disse essa idiotice e eu fiz minha melhor cara de choque, até porque Enrique tem que ser muito ciumento pra inventar um negócio desses.

Tô ficando com medo!

— Do que é que você está falando, cara? Não fala merda, não tem ninguém além de você gostando de mim, até minha ex partiu pra outra! - Ele revirou os olhos e eu cruzei os braços.

— Estou falando de James Potter e Lexa Prutt, os que são tão óbvios que chega a ser ridículo! - O encarei sem paciência, mas ele continuou. – Cheguei a pensar que Wainz também tinha algo mal resolvido, mas ela é como Lia, só alguém com um passado com você, nada pra eu me preocupar.

— Basicamente falamos de todo mundo que eu já fiquei na vida e alguns que nunca tiveram esse prazer. - Disse cético. – Essa honra, esse privilégio de estar com a pessoa mais gostosa desse planeta, olha ali, mas um caiu diante do meu charme.

Enrique riu e eu o acompanhei, porque um dos protetores corporais de James caiu de cima da pilha de roupa suja do lado dele do quarto. Que decepção, o quarto dele na Grifinória é tão arrumadinho...

Claro que não falei em voz alta isso, já pensou?

— Você até que tem um charminho mesmo... - Ele me disse com um sorriso de lado.

— Essa ceninha já chegou ao fim? Porque eu sei que se eu um dia me propor a fazer isso com sua lista infinita de ex, vamos ficar velhos. - Ele me olhou inexpressivo e eu perguntei com mais ênfase. – Já acabou, Enrique Dussel?

— Não faria nada disso, se você não guardasse segredinhos de mim... - PUTA QUE PARIU, então é isso! Ah, mas que golpe mais baixo! O empurrei na cama e ele arregalou os olhos, pego de surpresa.

— Você bem que disse que faria de tudo pra saber o que eu estava escondendo, hein? Não já tranquilizei você? Até terror psicológico você tá fazendo pra ter mais? - Falei prendendo ele e eu bem sei que ele estava deixando.

— Terror psicológico? Na verdade a parte das migalhas para seus crushizinhos é verdade, mas eu fico com pena, ao invés de com ciúmes. - Ele me disse malvado, com um sorriso cafajeste no rosto. – Principalmente de James, porque ele é tão gostoso...

O beijei pra calar a boca dele, palhaço filho da mãe! Ele me puxou com vontade para mais perto e eu deixei o nosso beijo evoluir para um amasso mais pesado.

— Qualquer dia desses a gente podia convidá-lo para...

— HEY! QUE BAIXARIA É ESSA NO MEU QUARTO? - Sai de cima de Enrique ajeitando minhas roupas, mas ele só ficou lá, com o tronco meio levantado, olhando para a pobre cara vermelha de James Potter.

— Isso é o que acontece quando você tenta dar uma de piranha destruidora de relacionamentos! - Enrique disse com desdém.

— Isso foi muito sexista, cara. - Eu disse, até porque esses dois aqui eram a prova viva de que toda merda que garotas faziam uma com as outras, os caras também fazem.

— Talvez, mas olha a cara dele, às vezes vale a pena. - Enrique disse cheio de graça maligna. James já estava na sua cor normal e com aquela cara de jogo, sem expressão, que só grifinórios puros sabiam fazer.

— Se te consola, James, Enrique quer te fazer um convite. - Sorri sacana, dando a deixa para o meu namorado sem noção falar de um menage para James e receber o soco que merece, mas fui surpreendido com a resposta do grifinório.

— Ele já fez e sabe muito bem a minha resposta. - Ele olhou sério para Enrique e eu também olhei, só que chocado, para Enrique e ele apenas deu de ombros.

— Ainda estou pensado no seu caso, Potter, relaxa aí! - Ele disse risonho e eu só posso me apegar a ideia de que eles estão falando de outra coisa e Enrique está usando mais essa história para me causar terror psicológico.

Porque James nunca colocaria uma condição para aceitar uma merda dessas, não é? A reposta dele seria um sonoro e redondo não, não é? Olhei para a cara dele, bem ao meu lado na porta e ele me encarou, desviando o olhar, corando logo depois.

— Ah James, não venda sua alma pra esse diabo. - Ele riu um riso seco. – Eu não sou tão bom assim.

Era a primeira vez que eu verbalizava algo do tipo para James e ele não negava. Olhei para Enrique e ele olhava curioso a cena toda, como se não estivesse nem aí se realmente seu namorado era ou não um alimentador de crushs a conta-gotas. Olhei sério pra ele.

— Você está de castigo, senhor Dussel. - Ele deu risada jogando a cabeça para trás, o desgraçado. – E você, Potter... Ache alguém melhor, porque a minha resposta para os dois é não.

Saí daquele quarto, com minha dignidade intacta, diferente daqueles dois, que tecnicamente são mais maduros e experientes do que eu. Rá, só na certidão de nascimento, porque de resto Enrique Dussel e James Potter eram dois retardados.

— É cada uma que me acontece, que contando ninguém acredita! - Falei para ninguém em particular, mas uma voz feminina respondeu.

— Eu acredito.

— Vai se ferrar, Thiollent.