Lilith Saphire Noble - POV's

Desde o primeiro jogo da Slytherin no torneio de Quadribol desse ano, eu havia dobrado os treinos da nossa equipe com o intuito de melhorarmos nossa performance para o próximo jogo. Não poderíamos perder novamente, senão estaríamos desistindo da Taça de Quadribol. Todos pareciam se comprometer a ganhar. Os artilheiros conseguiam marcar vários pontos, enquanto o goleiro defendia espetacularmente bem e os batedores também davam um ótimo trabalho. Apenas eu estava com certa dificuldade. Claramente, não deixei que ninguém reparasse nisso, mas desde aquele dia havia tido problemas no jogo ou até mesmo nas aulas.

Me colocara de juíza e analisava a todos e apenas quando terminávamos é que passava mais umas duas horas no campo tentando encontrar o Pomo de Ouro sem distrações, especificamente uma em especial. Não conseguia parar de criticar e analisar cada movimento de Jack. Era meu dever de capitã impedir que ele estragasse nossas chances de vencer novamente. O moreno tentava me esclarecer que foi um acidente e que estava se esforçando, porém eu me recusava a escutá-lo.

Nos demais horários dos dias, eu me concentrara na biblioteca e me esforçara a estudar todo tipo de matéria que me deixasse levemente confusa na classe. Minha concentração estava comprometida, embora desejasse que não passasse de uma fase. Na verdade, sabia que isso se tratava dele. Jack insistia em falar comigo durante as aulas, por isso eu troquei de lugar com a Angeliqué, nossa artilheira. A ruiva foi bastante prestativa. Era óbvio. Todos me obedeciam e como eu era sua capitã, ela nem ousou se opor. Me sentei do lado oposto ao de Jack, onde ela sentava nas demais aulas e tratei de ignorá-lo a todo momento. Quando o moreno vinha falar comigo eu inventava que estava ocupada, ou o deixava falando sozinho ou começava a falar com Angeliqué tentando despistá-lo.

Contudo, a melhor hora era quando Parker se encontrava comigo. Depois de beijarmos em público na frente de Hogwarts inteira no campo de Quadribol, o loiro ganhara mais confiança e passara a me encontrar em todos os intervalos das aulas apenas para segurar nas minhas mãos e dizer que sentira minha falta, uma vez que ele era mais velho e por isso não dividíamos as matérias. Outras apenas segurava em minha cintura – como tanto amava fazer – e deslizava comigo pelos corredores. Não me sentia diferente com ele, de forma alguma. Eu continuava apenas usando do nosso namoro ao meu favor, porém agora me forçava a sorrir docemente para ele quando passávamos próximos de outros alunos e professores, principalmente se Jack estava nos observando. O que acontecia com frequência porque ele deixava a sala comigo e tentava chamar minha atenção apesar de Parker aparecer e me levar para longe dele. Eu agradecia por isso. Parte minha sorria quando via o loiro apenas por saber que poderia deixar de me preocupar com o moreno. Já estava farta de sentir a adrenalina descontrolada em minhas veias. Eu não apreciava nem um pouco me sentir vulnerável. Eu precisava me controlar e permanecer o mais longe possível de Jack. Ele estava se tornando a cada dia mais a minha fraqueza pelo simples motivo de me causar reações que eu não estava preparada para ter.

~*~

Durante a festa na véspera de Natal, passara todo o tempo ao lado de Monterey e vestira um charmoso vestido vermelho de cetim com as costas nuas. Jack se sentara a mesa da Slytherin e tentara se aproximar de mim quando entrei no salão, porém desviei o olhar e deixei com que o loiro me guiasse até a mesa da Ravenclaw. Em minha mente era uma afronta me sentar com as águias ao invés das serpentes, todavia o quanto estivesse distante da minha fraqueza, melhor.

E eu realmente estava conseguindo me manter longe a cada dia mais. O garoto não tentava me importunar tantas mais vezes. E o tempo que passava sozinha era apenas o que estava treinando ou estudando e era exatamente do que precisava.

No dia de Natal, eu levantara cedo e me jogara em uma das poltronas verde esmeralda da comunal. Eu tinha tido dificuldades em me concentrar para praticar alguns dos feitiços mais potentes que estivera estudando, por isso apanhei um livro grosso da biblioteca e comecei a estudar. Toda vez que ameaçava utilizar minha varinha aquela sensação de impotência se apoderava de mim. E por mais que eu me esforçasse e mante-se Jack longe, ele se recusava a me deixar em paz. Vez ou outra aparecia em minha mente, de repente. Apontei a varinha em direção às chamas da lareira e fixei o olhar imaginando que fosse o garoto. Eu desejava poder acabar com aquele sentimento impotente de uma vez, entretanto um reflexo passou em minha mente. Ele estava sorrindo como sempre e se aproximando. Todo meu corpo se estremeceu e não consegui realizar o feitiço.

—Droga! Droga! Droga! - Deixei com que a raiva me controlasse quando empurrei o livro no chão e joguei minha varinha para o outro lado da sala.

Ninguém mais estava acordado a essa hora, então, não teria problema se causasse um escândalo. Não estaria comprometendo a minha imagem em público. Ao menos não na frente de toda a escola, uma vez que uma mão surgiu a minha frente enquanto eu apertava o forro da poltrona com força e encarava o chão. Minha varinha estava entre seus dedos.

Levantei o olhar lentamente até encontrar o dele. Jack estava a minha frente. Estávamos sozinhos na comunal. Fechei os olhos e me forcei a me controlar.

—O que faz aqui?

—Eu que o diga. Acordada tão cedo, princesa? - Ele questionou e me estendeu o objeto de madeira.

—Vim praticar - Apanhei rapidamente sem tocar nele.

—Parecia desesperada... O que foi? Podia ter quebrado sua varinha. Tenha cuidado.

Odiava que tentasse ser compreensivo comigo. Desviei o olhar e me abaixei para apanhar o livro novamente. O moreno se jogou ao meu lado e senti o calor invadindo o ambiente e o pequeno espaço que nos separava.

—Ahn... Percebi que está tendo dificuldades ultimamente... O que foi? - Ele tocou em meu braço e o puxei para longe, de repente.

—Não é nada. Estou bem. Mesmo uma pessoa poderosa como eu deve se esforçar.

—Claro... Você é mesmo muito poderosa - Ele sorriu com o canto dos lábios - E também linda.

Encarei-o de relance e mordi o lábio inferior. Ele não parava nunca. Era inacreditável como ainda tinha a audácia de vir falar comigo os principalmente me elogiar daquela maneira. Desviei o olhar novamente e cruzei os braços. Os olhos fixos no tapete felpudo da comunal.

—Jack, para com isso - Ele me encarou confuso - De me elogiar... Olha, eu já sei de tudo isso, ta legal? Sou linda e poderosa. Não preciso dos seus elogios - Fiz o possível para não alterar meu tom de voz, mesmo me esforçando para estar controlada perto dele.

—Certo, mas... Ainda sim, você parece precisar de ajuda e eu quero ajudar - Ele voltou a sorrir. Estonteantemente - Sabe que pode confiar em mim. Eu já não provei ser confiável o bastante?

—Eu não preciso de ajuda.

Me esforcei para não encará-lo. Mas apesar do esforço, Jack segurou em meu braço e fez com que fosse obrigada a me virar para ele.

—O que você estava fazendo? Posso te ajudar com isso.

—Eu só estava praticando alguns feitiços, não são comuns. Gosto de explorar a biblioteca - Dei de ombros - Além disso preciso me sair excepcionalmente bem nos NOM's esse ano. Mas não preciso de ajuda.

—Bom, mesmo assim... Não acho que seja coincidência acordarmos cedo e virmos para o salão da comunal... Devíamos praticar juntos, nós podemos treinar para os NOM's. Sabe que eu também preciso ir bem. Todos do 5º ano precisam.

Jack estava certo quando dizia que aquele ano era diferente dos demais. Os NOM's eram as provas que antecederiam os NIEM's e depois disso nossas carreiras no mundo da magia. Eram as ótimas notas nesses dois exames que nos permitiriam ser o que quiséssemos ser. Claro que notas boas em determinadas matérias proporcionariam trabalhar em determinadas áreas. E o mais desesperador era que essas Brás também seriam as notas do ano todo, ou seja, os quintos e sétimos anos tinham que se dedicar bem a esses testes porque a nota que tirassem também seria sua nota na matéria e ninguém gostaria de reprovar de ano, ainda mais se teriam que refazer os NOM's ou NIEM's.

Outro ponto em que ele tinha razão era de que eu sabia que podia confiar nele. Era certo que ele como os demais garotos fariam tudo por uma veela. Eles ficavam hipnotizados quando viam uma, mesmo eu não sendo uma completa e sim uma meia veela. E ele provará que era confiável quando me ajudará a providenciar o espetáculo da noite de halloween e mostra que poderia ganhar e era mais poderosa que todos especialmente aquela rebelde Jordan.

O garoto continuou esperando pela minha resposta enquanto analisava a situação por minutos, até que finalmente me virei para ele. Não conseguiria fazer com que Jack simplesmente sumisse e inventaria uma desculpa qualquer para despistá-lo, mas precisava mesmo treinar, portanto resolvi dar-lhe alguns pequenos minutos de glória.

—Bem, eu vou estar ocupada daqui há uma meia hora, mas... Já que insiste tanto em praticar comigo, não vou me queixar - Seus lábios se escancararam e revelaram os brilhantes e brincalhões dentes e seus olhos se expuseram levemente puxados para as extremidades do rosto do moreno. Realmente, naquele momento pude chegar à conclusão de que embora não fosse um menino cobiçado como Parker, ele era de certo bonito - Eu preciso ir bem nos exames mesmo.

—Tenho certeza que vamos tirar um bom proveito disso, Saph - Ele piscou para mim. Aquela sensação estranha de quando o simples apelido, diferente de como todos os outros se referiam a mim, fez com que meu estômago se contorcesse, porém me endireitei e esforcei ao máximo para manter o controle - O que estava praticando exatamente?

—Ahn... Eu resolvi praticar alguns feitiços... Mas não são comuns, longe disso, na verdade são feitiços avançados, as vezes, até mesmo para um estudante do sétimo ano.

Suas sobrancelhas se levantaram e sua expressão perpassou para aquela curiosa e desafiadora que Jack possuía. Ele estava realmente considerando a ideia de realizar feitiços perigosos para nossa idade ainda mais que não havíamos aprendidos e muito menos tido a supervisão de um adulto quando resolvemos aprender.

—Esse aqui deve ser mais simples para você, já que não faz ideia de como realizar feitiços assim - Sorri fraco debochando e apontei para um determinado feitiço escrito em uma página aberta do velho livro grosso - Eu já estou acostumada a praticá-los...

—Mesmo? - Jack interrompeu - Mas você parecia tão desesperada quando a encontrei aqui. Tem algum problema, Saph?

Senti meu rosto quente. Ele me deixara envergonhada por duvidar do que dizia. E lá estava ele abusando do apelido novamente.

—Só estava... Hum, um pouco enferrujada por isso resolvi treinar hoje.

Não fazia ideia de o porquê perdia o controle quando ele estava por perto. No início era algo corriqueiro. Um menino agarrar minha mão durante os testes do Quadribol, ou piscar para mim vez ou outra, ou falar comigo quando passava pelos corredores, porém depois ficou persistente. Ele largara sua única amiga e prima para se dedicar a mim. Ele quis me ajudar e eu nem sonhara em pedir sua ajuda. E sempre tentava ultrapassar a linha tênue que nos fazia parceiros. Ele me questionava e soava interessado no que eu dizia e não somente em minha beleza e poder. E claro... Fazia o possível para chamar minha atenção mais que os demais, tanto que criara um apelido único para mim. Todos me conheciam como Lily e Jack insistia em se referir a mim como Saph. Nem mesmo Parker me chamava assim, apesar de tão pouco me chamar pelo meu apelido normal. Ele costumava me chamar de Safira porque dizia que eu era tão bela quanto uma e meu segundo nome significava exatamente isso. Me sentia honrada quando ele dizia que meus olhos eram pedras preciosas, mas sabia que no fundo não era realmente sincero. Ele apenas queria manter a rainha ao seu lado e ser o rei, e claro, ele era o melhor partido, portanto usufruía daquilo ao meu favor.

—Se estava com dificuldades... - Fuzilei-o com o olhar - Digo, enferrujada... Acho que podia começar... Além disso pode me mostrar como fazê-lo.

—Certo - Suspire e mordi o lábio inferior. A varinha apertada em mãos - É melhor não se distrair. Esse feitiço não é tão fácil quando pode soar ser.

O moreno assentiu para mim e se preparou para que eu pudesse conjurar o feitiço. Fechei os olhos para me ajudar a concentrar. Precisava imaginar que estava em um local totalmente diferente. Sem a minha "fraqueza" logo ao meu lado. Sem me sentir pressionada ou vulnerável. Eu era poderosa. Uma guerreira que conseguia vencer qualquer duelo, não importando com qual criatura fosse. Era isso que precisava imaginar. Era minha concentração.

No momento em que abri os olhos, estendi a mão direita em direção ao fogo da lareira e produzi um movimento circular completo semelhante ao de um ventilador. Três rotas completas, antes de fixar meu olhar nas chamas e me esforçar para imaginar uma sombra em uma praia muito quente. Assim que a praia no auge do verão surgiu a minha mente, Jack deu um passo em minha direção. Me forçara a não prestar atenção em sua presença e fingir que estava sozinha, contudo uma sensação de calor se apoderou de mim quando o garoto se aproximou. Se tornou impossível imaginar a sombra tomando conta da praia e, ao invés, disso imaginei o sol quente contra minha pele clara e Jack. O moreno com os pés contra a areia branca e aquele... Maldito sorriso dentre seus tolos lábios. Resmunguei quase imperceptivelmente e fechei os olhos com força. Esforcei para propagar uma longa sombra que envolvesse toda a praia, incluindo a mim e Jack.

Pyrkagia Pago! - Exclamei o mais forte que consegui e arregalei os meus olhos azuis novamente.

O flash de luz produzido pela magia deslizou da ponta da minha varinha em direção ao crepitante fogo da lareira, entretanto não fora forte o bastante e produzira pouco efeito. O fogo causou uma mínima explosão e fagulhas se espalharam pelo chão de madeira da comunal. Encarei minha mão e abaixei a varinha, antes de apanhar um pedaço de papel que continha no bolso e levá-lo até as chamas alaranjadas. Quando o papel atingiu o fogo aparentemente não se queimara e o feitiço parecia ter completado seu objetivo, todavia no instante em que estava prestes a virar meu rosto em direção de Jack à folha começou a se desintegrar rapidamente. Soltei a mão antes que me queimasse, cruzei os braços dando um passo atrás e resmunguei agora alto o suficiente para o garoto ao meu lado escutar.

—Calma... Esse não é um feitiço simples, você mesma disse.

—Quis dizer que não é simples para alguém como você - Soltei de repente.

Era bizarra a maneira como Jack fazia meu corpo reagir. Eu conseguia controlar todas as minhas palavras para que soassem o mais serena possível, mas com ele, eu produzia um som totalmente alterado. Em hipótese alguma teria dito algo como aquela frase. Soava ofensiva, porém meu corpo explodia quando ele estava por perto. Era impossível me controlar.

—Ahn... - Ele pareceu um pouco sem jeito. Abaixou o olhar em direção ao livro grosso sobre o sofá e se abaixou para apanhá-lo - Deixa eu analisar como esse feitiço complexo funciona... Hum, interessante, "Torna as chamas do fogo, completamente agradáveis e frescas, possíveis de serem ultrapassadas sem queimaduras." - O moreno leu o que estava escrito na página levemente amassada e amarelada pelo longo tempo de uso - Já sei o que pode te ajudar.

—M-me ajudar? - Eu pensara que ele própria iria ser o próximo a conjurar o feitiço. Não imaginava que estivesse querendo que eu repetisse meu fracasso eminente.

—Calma, é simples - Ele deu um passo à frente e, automaticamente, dei um para trás - Hey, confia em mim, certo? Eu só vou te ajudar. Eu te prometi que estaria sempre por perto e que seria seu ajudante... Não fiz isso quando deixei a Joey para ficar com você?

Seus olhos me atravessavam como navalhas. Eu sentia que ele podia ler o que se passava dentro de mim. Uma guerra entre meus instintos e meu poder. Fiz o possível para fixá-lo também com toda a força e superioridade com que fazia com todos os demais, porém com a vulnerabilidade que era possível sentir e a possibilidade de que ele pudesse me descontrolar, desviei o olhar. O moreno tinha razão. Ele deixara aquela rebelde por minha causa e mesmo não sendo o mais competente de todos, estava se dedicando a mim otimamente. Eu sabia que podia confiar nele, mesmo não querendo admitir.

—Esta certo - Deixei com que ele se aproximasse. O garoto esticou a mão até a minha e me fez virar novamente em direção a lareira.

—É só levantar o braço e esticar até o fogo... - Ele quase sussurrou.

Não entendi o porquê de manter a voz tão baixar, porém o timbre que ela produziu atingiu meus ouvidos como um raio, causando uma eletricidade em todo o meu corpo. Entretanto, balancei a cabeça e estiquei meu braço com firmeza.

—Ótimo. O seu movimento foi bom. É só fazer novamente.

Comecei lentamente a produzir um círculo completo. Minhas mãos tremiam com o esforço de me controlar e a adrenalina disputando espaço por entre minhas veias. Jack estava, logo, atrás de mim. Ele pousou uma de suas mãos em minha cintura e me endireitou, enquanto a outra segurou em meu pulso e ajeitou minha mão trêmula. Ele começou a me fazer movimentar varinha de modo melhor.

—Você tem que manter a postura... Assim, e relaxar... O movimento tem que ser perfeito - Ele disse novamente com a voz abaixada. Seus lábios próximos de meu ouvido esquerdo.

O seu toque fez com que meu corpo se tencionasse. Estava mais difícil manter-me em pé daquela maneira. Nos locais em que suas mãos tocavam meu corpo, mesmo que não diretamente em minha pele, e sim, sobre meu suéter de inverno verde esmeralda – combinava perfeitamente com a cor da nossa casa e realçava meus olhos claros – minha pele queimava. Seus lábios estavam praticamente colados em minha orelha e sentia o quanto estávamos próximos. Minha mão, apertada no objeto de madeira, apenas se movimentava porque o garoto estava me guiando. Eu estava completamente petrificada. No instante em que a adrenalina atingiu meu peito, sinto o quão forte meu coração saltou contra minhas costelas. Eu nunca havia sentido meus batimentos tão alterados. Ao mesmo tempo em que estavam lentos, eles se agitavam e depois acalmavam novamente. Senti um calafrio e meu estômago se contorceu. Não consegui proferi nenhuma palavra. Jack continuava atrás de mim. Seu corpo colado ao meu. Não dizia mais nada. Fechei os olhos com força e mordi minha bochecha, antes de voltar a realidade. O controle tomou a liderança entre meus instintos novamente e puxei meu braço com força para que se separasse da dele. Me forcei a ir para frente e dei meia volta para me colocar a frente do moreno. Ele me encarava levemente confuso.

—O que você pensa que está fazendo? - Atirei as palavras contra ele - Me deixa, Jack. Só... - Fiz o possível para tornar minha voz serena, embora estivesse sendo difícil - Desaparece... E-eu preciso ficar sozinha! - Exclamei a última frase e não hesitei em sair desesperadamente da comunal.

Não me importei se estava ou não vestindo as vestes de Hogwarts enquanto atravessava os corredores. Sabia que não podia andar fora da comunal sem elas, porém minha cabeça estava longe. Eu apenas queria me esconder do resto do mundo. Queria me acalmar. Queria estar sozinha. Quando atingi o Saguão de Entrada, um lugar brilhou em minha mente. Era daquilo que eu precisava. Do meu esconderijo.

~*~

Desapareci no banheiro da Murta-que-geme e me vi na Câmara Secreta. Corri o mais rápido que pude em direção à Sala Secreta, aquela que descobrira no primeiro dia e me colocara para dentro. Somente quando estava sozinha em meio a potes e livros velhos e escondidos é que me senti livre o bastante para me expressar.

Gritei com o máximo de força que consegui e atirei uma velha taça de vidro sobre uma das estantes de livros. Alguns despencaram em direção ao chão empoeirado. Fechei os olhos enquanto lágrimas insistentes lutavam para sair. Suspirei deixando com que um soluço rouco saísse de meus lábios tremulastes e abri os olhos marejados.

Apoiei na mesa. Respirei fundo sentindo a falta de fôlego, devido a corrida me atingir. Encarei um pote a minha frente. Era exatamente o mesmo pote que me chamara a atenção naquele dia. Esferas transparentes, densas e brilhante se espalhavam lá dentro, embora parecesse um pouco mais vazio da outra vez. Era como se elas pudessem sentir minha presença, porém não me importei. Tudo ali era parte de mim. Era minha herança e eu me sentia eu mesma naquele esconderijo.

Palavras se forçaram a deixar a minha boca. Sussurrei entrecortada. Aquilo era apenas o meu corpo justificando tudo aquilo que estava sentindo. Eu já me sentia mais calma. O controle voltava aos poucos ao seu domínio.

—E-eu te odeio. Realmente te odeio, Jack Lupin - Suspirei e mordi o lábio inferior com a dor de admitir o restante - Porque realmente gosto de você.

Lary Malfoy - POV's

Após todo o incidente durante a ceia de natal, todos nós encaminhamos para a longa mesa e nos dedicamos a comer. A vovó Hermione estava realmente chateada porque ninguém iria experimentar sua receita esse ano. Era a sua especialidade e ela, como a tia avó Luna, se orgulhavam daquele trabalho árduo que tinham a preparar. Marie tratou de consolá-la e elogiou bastante mesmo sem ter provado a sobremesa.

Quando terminamos, já se passava de uma da manhã e fomos todos para os nossos quartos, porém ninguém estava disposto a dormir, longe disso. Enquanto os adultos desejavam uma boa noite de sono – e a tia Georgia arrastava a Patrícia, a contragosto, para o seu aposento – nós apenas queríamos passar a madrugada inteira rindo e conversando. Nos reunimos no maior dos quartos. Violet e Frederich se sentaram em um puff vermelho que a vovó Ginny comprara em uma viagem ao Peru há anos. A morena mantinha a cabeça deitada no peito do loiro e abraçava sua cintura. Aposto que ela estava cansada, todavia não queria dormir até que todos tivéssemos nos divertido bastante. Freddie começou a brincar com seus fios sedosos e castanhos. O cafuné parecia realmente gostoso e a garota sorria levemente com o toque do namorado. Malina se sentou ao lado da irmã, em uma poltrona de couro, a qual dividia com o primo e melhor amigo, Tom. A garota estava abaixada com os cotovelos sobre os joelhos e a cabeça entre as mãos, já o primo estava ereto com a coluna contra a poltrona. Marie se sentou em uma das camas, entrelaçou seu braço no meu e me puxou para sentar-me ao seu lado. Na outra cama, Coral e Leny estavam sentadas. Brendan se jogou na terceira cama e Jessie deitou ao seu lado. Eles entrelaçaram seus dedos. Era oficial, todos já sabíamos que eles haviam se entendido e que estavam juntos, uma vez que não se desgrudavam mais e quando a morena pedira para Brendan lhe passar um pedaço do peru de natal, o garoto não hesitou em lhe estender uma garfada. A garota soltou uma risadinha leve e mordiscou a carne da mão do moreno. Naquele momento, todos começamos a zoá-los e o tio Albus se sentiu meio desconfortável ao perguntar porque aquilo estava acontecendo. Jess riu e disse que finalmente se entregara ao que sentia e estava feliz por estar com Brendan. Todos fizemos "awwwn" e embora Albus parecesse sentir um leve ciúmes, ele nunca demonstrara isso quando sua filha do meio namorara antes, ou agora.

Hazel e Julia se sentaram ao pé da cama do casal. As duas estavam abraçadas assim como eu e Marie. Klaus, então, se sentou em uma almofada no chão e todos estávamos acomodados no apertado quarto do quarto andar. Começamos a conversar sobre assuntos completamente aleatórios. Violet parecia estar prestes a cair em um sono profundo, pois fechara os olhos e deixara Freddie massageando seus cabelos, até o momento em que ela estendeu-se em um salto e roubou toda nossa atenção.

—O que foi isso? - Júlia perguntou - Parece até que alguém gritou no seu ouvido para você acordar exaltada desse jeito - Todo mundo começou a rir.

—Engracadinha, eu nem estava dormindo... Mas isso foi porque eu tive uma ideia! - Ela exclamou contente e bateu palmas solitárias - Já escutaram um jogo chamado Verdade ou Desafio? - Nós entreolhamos e negamos, exceto por Malina.

—Eu já! Uma vez o pessoal da minha escola trouxa brincou disso no recreio... Mas eu não participei. Parece legal - Ela sorriu abertamente e entrelaçou os braços nos joelhos.

—Sim, eu já joguei com minhas amigas trouxas e é bem divertido. Não é popular no mundo bruxo, porém podemos fazer segundo as nossas próprias regras - Todos encaramos-as curiosos e confusos - Certo, para começar, é simples - A morena se levantou e virou para a estante. Uma garrafa vazia de suco de polpa de abóbora, deixado pela gulosa Malina há alguns minutos, jazia ali - Colocamos a garrafa no centro - Ela se abaixou e deixou ela virada contra o chão - E alguém a gira usando o Wingardium Leviosa. Depois esperamos, a pessoa em quem a ponta dela parar vai ter que responder a algum pedido da pessoa a qual o fundo dela parar. Sendo que se você escolher verdade tem que responder a uma pergunta íntima como um segredo... Já se escolhe desafio, tem que cumprir uma prenda que a pessoa escolher.

Violet finalizou e se jogou no puff novamente, porém como estava de costas não percebeu que Frederich estava em seu caminho e acabou por cair diretamente em seu colo. Ela o encarou e suas bochechas começaram a ruborizar, então, se acomodou ao lado do namorado como antes. A cena foi bastante fofa, apesar de estarmos analisando as regras da brincadeira e não prestamos tanta atenção no casal em nosso meio.

—Como ninguém sabe como jogar ainda, vamos fazer o seguinte - Violet se ajeitou no puff - Eu faço a primeira pergunta e para quem a ponta da garrafa apontar responde.

Todos concordamos com a cabeça e nos entreolhamos para depois encararmos-a. A morena retirou a varinha de dentro das grandes e quentes pantufas de girafas de natal e apontou para o objeto em nosso centro. Murmurou o feitiço e controlou a direção e velocidade com que a garrafa giraria, em seguida, deixou que rodasse e todos observamos para saber em quem ela pararia. No momento em que a rotação foi cessando todos perderam a respiração. Por um momento parecia que ela iria parar em mim ou na Marie. Me senti nervosa em ter que responder a algo pessoal, quando ela passou por nós e parou próximo, apontando para a cama ao lado. Mais especificamente para Cora, ao lado de Leny.

—Certo. Coral. Verdade ou Desafio? - Vi se endireitou e fixou o olhar na ruiva. Ela prendeu os cabelos em um coque frouxo e mordeu o lábio antes de responder a morena.

—Ahn... Desafio.

—Hum, que destemida - Violet sorrio - Bem, sendo assim. Você foi com o Luke no baile e se veem nas reuniões da AH, mas não estão oficialmente juntos, não é? Eu te desafio a... Enviar uma carta para ele pedindo-o em namoro - Ela sorri vitoriosa sobre sua ideia.

—Você é cupido agora, minha linda? - Freddie puxou-a para um abraço apertado e lhe deu uma beijoca na bochecha direita.

Coraliny corou. Suas bochechas estavam realmente vermelhas. Acredito que nem mesmo para uma neta de George Weasley ela estava esperando por aquele tipo de desafio. Violet sorria à espera de uma resposta e a garota apenas suspirou, antes de se levantar.

—Ótimo... Ahn, devo fazer agora? Não sei como funciona esse desafio.

—Bem, essas são as regras - Ela riu leve - Mas me diz... Você também estava esperando por um empurrãozinho assim, não é?

Todos encaramos as duas garotas entre nós. A ruiva ainda estava levemente ruborizada enquanto a morena se via vangloriada. Ela se sentia realmente esperta por ter pensado naquela consequência. Logo, a mais velha se levantou e caminhou até seu malão que jazia jogado em um dos cantos do cômodo. Ela abriu e retirou uma pena dourada e um pergaminho de dentro, então, se sentou sobre a bagagem e começou a deslizar a ponta do objeto sobre o papel. Algumas vezes mordia o lábio inferior e franzia os olhos como se analisasse sua escrita ou estivesse pensativa, por fim, e enquanto todos éramos tomados pela curiosidade, ela caminhou até Violet e lhe estendeu a carta.

—Viu? Estou prestes a enviar... - A morena assentiu sorridente.

A ruiva se aproximou de uma coruja em um poleiro. Era a coruja das Potter: Whistle. A garota entregou-lhe a carta com o endereço de Luke Harrington e sussurrou para a ave, que logo, alçou voou pela madrugada Toca a fora.

—Muito bem! Sua vez de girar a garrafa Cora - A morena parecia entusiasmada.

—Ok - Já Coral ainda parecia anestesiada por ter de lidar com o desafio e a dúvida de se agora era oficialmente namorada do loiro ou não.

A garota se sentou ao lado de Leny novamente e retirou sua varinha da manga do suéter e apontou-a para o objeto em nosso meio. Murmurou o feitiço e fez com que girasse em sentido anti-horário, então todos encaramos-o ansiosos.

No momento, em que o objeto cessou, todos os adolescentes presentes observaram para quem estava apontando. A ponta estava virada em direção a uma jovenzinha sentada em uma poltrona: Malina. O fundo se encontrava voltado para uma das Potter, de cabelos longos e negros: Jessie. Ela se endireitou na cama e fixou o olhar na mais nova do grupo. A mais velha perguntaria a mais nova. Todos estávamos ansiosos para que o jogo desse continuidade.

—Bem, Verdade ou Desafio, Mal? - A garota perguntou sem saber se realmente estava fazendo direito.

—Ahn... - A garotinha pareceu verdadeiramente confusa.

Ela se virou para encarar o melhor amigo ao seu lado, à procura de alguma saída. Obviamente a comilona não era tão boa em tomar decisões sobre pressão. Tom sussurrou "verdade" em sua direção. Normalmente, era como se a menina tivesse um diabinho e um anjinho reais sempre junto dela. Thomas sempre lhe dando conselhos voltados para o que era do bem ou correto e a deixando segura, enquanto Patrícia fazia a garota se arriscar e dava conselhos desafiantes e não tão corretos. Uma vez que a gêmea não estava presente, foi muito mais fácil para Mal se decidir. Ela assentiu para o gêmeo e se virou para encarar Jess novamente.

—Verdade.

—Certo... Bem, deixa eu pensar... - Jess franziu a testa e coçou a cabeça pensativa. As duas mesmo sendo primas não eram realmente muito próximas pela diferença de idade, provavelmente, então ela estava tendo uma certa dificuldade em pensar em uma pergunta - Teve um dia no ano passado que eu escutei você conversando com a Violet e a tia Lily sobre achar incrível eu ser uma monitora. É verdade que você espera ser a segunda da família Potter, mesmo sendo uma herdeira Carver, da nossa geração nesse cargo de Hogwarts um dia?

A pequena sorriu verdadeiramente para a mais velha e começou a balançar as pernas, que raramente roçavam o chão por ela ter a estatura baixa e estar sentada.

—Ah, sim. Eu realmente acho incrível. Você foi a primeira e tipo seria demais se um dia eu também pudesse ser e mesmo você não sendo monitora-chefe, te acho muito responsável é admirável - A mais velha sorriu grata para ela.

—Ah, obrigada, Mal. Aposto que você consegue. É muito inteligente e talentosa também.

As duas mesmo distantes no quarto haviam quebrado o espaço entre elas com aquela enxurrada de elogios. O que não deixava de ser verdade. Nenhuma outra Potter, ou nem mesmo uma Weasley como Marie e Cora, ou uma Malfoy como eu haviam conseguido esse cargo e Malina parecia uma garota esperta e poderosa. Talvez, conseguisse ser a próxima. Apenas Leny, uma Scammander, era monitora da Ravenclaw, apesar de Parker Monterey ser o monitor-chefe e não ela. Nenhum de nós havia alcançado esse cargo tão alto.

~*~

Demos continuidade a brincadeira por mais algumas rodadas. Todos estávamos rindo bastante dos desafios, que iam de produzir feitiços estranhos a micos e trotes. Enquanto outras verdades eram arrancadas em nosso meio. Me senti vitoriosa por ainda não ter sido sorteada. Gostaria de participar, porém não gostaria de me sentir envergonhada na frente de todos ao pagar alguma prenda ou pior ainda, ter que confessar algo íntimo, por menos secreto que fosse, isso não era do meu feitio. Eu raramente comentava sobre meus sentimentos e desejos com alguém, incluindo Marie. Minha confissão depois do amigo secreto foi algo único.

Quando as próximas pessoas foram apontadas pela garrafa, senti um certo desconforto. Brendan perturbaria a Leny. A loira escolheu verdade e o primo parecia já ter a pergunta na ponta da língua. Ele se ajeitou na cama antes de questioná-la:

—Que eu me lembre agora, na noite de Halloween, a Marie e eu acabamos por flagrar você beijando meu camarada de time, Jensen. Então, é verdade que você gosta mesmo dele? Vocês estão juntos, então?

Senti um estômago se contorcer. A ceia estava prestes a interromper a digestão e voltar. Mordi meu lábio com força tentando ao máximo não esboçar reação. Não conseguia mesmo entender como a brincadeira tinha chegado aquela perguntar. Porque Leny tinha que escolher verdade? E porque Brendan tinha que tocar naquele tipo de assunto? Eu fugira antes de vê-los se beijar. Não havia falado com a loira sobre aquela note em hipótese alguma. Não tinha nenhuma vontade de saber o que eles tinham feito ou deixado de fazer. Continuava conversando com o morena entre as aulas e nos treinos, e em momento algum ele havia comentado sobre a Leny, apesar de fazerem dupla nas reuniões da AH enquanto eu ficava com Marie. Agora, Brendan me jogava essa enorme bomba. Porque a ruiva não me contara sobre o beijo? Marie também presenciara e escondera de mim. Uma parte de mim desejava nunca ter sabido sobre esse contato entre meus dois amigos, enquanto outra parte se sentia traída por todos terem escondido o óbvio de mim.

—Ah... Bem, ele é mesmo um fofo, não é? - As bonecas da loira começaram a queimar - Não estamos oficialmente juntos, mas posso dizer que estou gostando mesmo dele... Digo, ele é tão gentil e cavalheiro, quem não gostaria? - Ela soltou uma leve risada e Cora segurou em sua mão sorridente e contente pela amiga.

—Puff... - Murmurei, revirei os olhos e não sem conseguir impedir que meus pensamentos fossem altos demais sussurrei para mim mesma enquanto cruzava os braços - Você não faz ideia do que é gostar mesmo de alguém.

—O que foi que você disse? - Todos haviam se calado no momento em que abri minha boca e, rapidamente, me arrependi de não ter me calado.

Há semanas tentava ignorar o fato de que a garota mentira para mim. Ela escondera seus sentimentos da sua melhor amiga. E eu não conseguia entender como ela podia estar tão errada. Jensen nunca comentara sobre ela e de repente estavam juntos no baile. Só aquele pensamento fazia meu estômago se revirar. E embora tentasse ao máximo me controlar e não responder a pergunta acusadora e confusa de Leny, as palavras simplesmente saíram atropeladas da minha boca:

—Eu só disse que você não sabe o que é se apaixonar.

—O que quer dizer? - Ela continuava com a voz calma enquanto a minha já estava alterada. Cora tentou fazê-la parar, mas no instante em que a Kira analisou meus argumentos, fixou o olhar em mim e disse ríspida - Acha que eu não posso gostar de alguém? E como você pode saber? Nunca se apaixonou por ninguém!

Marie me encarou e negou a cabeça. Todos estavam observando a cena. Não poderia causar um escândalo enquanto não estivéssemos sozinhas e muito menos de madrugada enquanto todos os adultos e Patrícia já estavam dormindo há quase uma hora. Embora soubesse que a ruiva estava certa e que o melhor seria me calar, a adrenalina estava sendo liberada em altas cargas pelo meu corpo. Meu estômago se contraia e as palavras não conseguiam cessar:

—Só acho que não deveria criar esperanças quando está claro que o Jensen não gosta de você... Eu não quero que se magoe, mas ele não é para você... Por isso não estão juntos ainda.

—Ah, é mesmo? E como pode saber disso? - Ela se levantou ignorando o puxão de Coraliny - Já faz muito tempo que você anda estranho comigo... Então, é esse o problema? O que você acha? Acha que ele não é para mim? E para quem seria então... 'você'? - Ela riu sarcasticamente.

Marie esforçou ao máximo para me segurar e impedir que me levantasse, porém assim como Leny havia feito empurrei-a e me coloquei de pé. Eu não poderia deixar com que a garota estivesse acima de mim. Fuzilei-a da mesma altura agora. Como ela podia me acusar assim? O que ela queria dizer? Que ele nunca poderia gostar de mim? Não era esse o ponto. Não estava insinuado isso, me sentia traída, mas no fundo não entendia a minha própria atitude apenas sentia como se ela roubasse o único garoto que sempre me defendeu sem implicar comigo e que ela havia mentido para mim ao não me contar sobre ele. Procurei as palavras da melhor maneira que pude, apesar de me sentir vulnerável devido a sua acusação.

—E-eu não quis dizer isso... Só que ele não...

—Olha - Ela me interrompeu antes que pudesse me justificar - Para sua informação foi ele quem me convidou. Ele não convidou você, Lary. Ele convidou a mim. E ele é super doce comigo e me disse que eu sou muito especial. Além disso eu não simplesmente agarrei-o a força, ele me beijou com o mesmo prazer, senão porque não teria me afastado para longe? Ele parece mesmo também gostar de mim e mal posso esperar para vê-lo novamente e oficializarmos isso. Acho que, na verdade, quem está sobrando aqui é você.

Embora nunca tivesse sido apunhalada no coração com uma faca afiada, eu sabia que a sensação que senti quando Leny levantou a voz e jogou as palavras sobre mim, era a mesma. Tão dolorosa quanto. Aquela brincadeira inocente havia passado de todos os limites. Meus olhos se encheram de lágrimas e a minha visão se tornou turva e embasada enquanto algo em meu peito se rompia. Eu encarei a loira e engoli em seco. Mesmo para alguém que era difícil ficar calada, as palavras simplesmente desapareceram dos meus lábios. Marie se levantou e se colocou entre nós em meio aquele silêncio torturante é constrangedor. Todos nos encaravam.

—Meninas... Não vamos brigar... Vocês são amigas e vão colocar uma bobeira como um menino no meio disso? Além disso, Lary, não devia ter feito aquele comentário primeiro, mas... - Já bastava eu estar me sentindo completamente magoada por uma das minhas duas melhores amigas. Não precisava ser apunhalada por outra delas.

—Sério? - Bufei incrédula e mordi meu lábio inferior com força para impedir que as lágrimas que inundavam meus olhos jorrassem. Eu já havia chorado demais naquele feriado. Tinha de ser forte - Vai mesmo ficar do lado dela, Marie? Ótimo. Esse jogo idiota já deu para mim.

Me virei sem olhar para trás nem por um segundo e dei meia volta no cômodo inteiro até transpassar o portal. Senti a mão da ruiva tocar meu braço, porém eu puxei com força e não deixei que ela me impedisse de sair. Eu precisava estar sozinha. Precisava desabafar comigo mesma. Precisava me ver longe da Leny, o quanto antes melhor. E nem mesmo Marie poderia me ajudar agora.

No momento em que alcancei o corredor eu apoiei as mãos na sacada de madeira dos lances de escadas e permite que as lágrimas transbordassem meus olhos. Fechei-os com força e chorei o mais baixinho que pude. Elas rolaram pela minha face: quentes e salgadas. Respirei fundo sentindo o peso em meu peito se esvaziando aos poucos enquanto desabafava. Desviei o olhar lentamente até o cômodo atrás de mim. Ninguém me seguira até então, porém eu tinha que me distanciar ainda mais. Eu não queria vê-los me julgando ou que me vissem chorando.

Caminhei até os degraus e desci o mais depressa que pude até o andar térreo, por onde eu me joguei no maior dos sofás. A cabeça em uma das almofadas aveludadas de vermelho da tia-avó Ginny e permite que todo o sofrimento e confusão que se encontrava em minha mente e meu coração fossem derramados em meio ao meu choro. Lamentava o mais baixo que podia para que ninguém acordasse por minha causa, todavia ainda assim escutei um leve som de chinelos sendo arrastados no chão de madeira e, cerca de trinta segundos apenas, alguém se sentou no braço do sofá e uma mão levemente áspera começou a fazer um cafuné em minhas mechas aloiradas e descabelas.

—Hey... Aconteceu alguma coisa com a minha menininha? Porque está chorando desse jeito? - Aquele sussurro encheu meu corpo por inteiro.

Levantei me de repente e me joguei em seus braços. Apertei meu avô querido com toda força e me senti acolhida por ele. Permanece apenas chorando em seus ombros enquanto ele acariciava meus cabelos por vários minutos. Até que resolvi falar. Eu precisava me abrir e tirar qualquer peso da minha mente. Abri os olhos contudo permaneci naquele abraço continuo.

—E-eu não sei o que fazer vovô... Eu estou tão confusa... Eu briguei com a Leny e foi uma briga feia... Realmente estou com raiva dela - Suspirei - Ela mentiu para mim. E não é só isso... Jensen e Maxwell também me preocupam... Eu só quero que o Max fique bem... Eu preciso dele comigo 'vivo'... E o Jensen, bem, ele também não me deixa em paz... É-eu realmente não sei o que fazer - Desabafei em meio aos meus soluços ritmados.

—Calma, minha princesa... Isso vai passar. O Maxwell vai ficar bem. E você só tem que se sentir feliz, sguir seu coração e mais ninguém pode te dizer o que fazer - Ele levantou meu rosto entre suas mãos e me encarou nos olhos - Você vai saber o que deve ser feito. Você é muito forte, minha menininha - Ele enxugou minhas lágrimas com suas mãos pesadas e quentes - O importante é que não se esqueça da Leny. Ela é sua amiga e vocês devem permanecer juntas. São os amigos que sempre estão lá para você quando precisar e... Bem, ela também deve estar sofrendo. Agora, trate de limpar essas lágrimas e sorrir - Eu soltei um sorriso fraco e me forcei a cessar os soluços - Isso, minha linda. É esse sorriso que ilumina minha vida.

—Obrigada... - Eu o puxei novamente para os meus braços e funguei em seu pijama de moletom cinza - Obrigada mesmo vovô. Eu te amo infinitamente. E me desculpe por ter te acordado.

—Não foi nada. Sempre estarei com você, minha menininha.

Mantive os olhos abertos enquanto permanecia em seu abraço. Eu me sentia extremamente contente por tê-lo sempre comigo. Não sei o que faria sem o meu melhor amigo e companheiro. Me avô é maior admiração. Escutei alguns passos descendo as escadas e ativei minha visão. A luz da lua e das lanternas coloridas que enfeitavam as janelas da sala iluminaram um garoto. Um setimanista moreno. Ele estava nos observando. Era meu irmão mais velho: Klaus. Ele viera ver se eu estava bem, porém assim que notou que eu estava sendo consolada pelo vovô, suspirou e deu meia volta para os andares acima.

Me senti levemente mal ao ver sua expressão. Klaus e Freddie não eram tão próximos de mim quanto os outros irmãos pareciam ser, mas eu sei que se importavam. Ele viera certificar de se eu estava bem e aquilo realmente significava muito, porém eu também sabia que ele ficava mal porque a atenção do vovô Draco sempre era voltada para mim. Ele também admirava bastante o velho e mantinha seus três tesouros que haviam sido dados pelo senhor, incluindo seu violão inseparável. Senti que ele precisava da minha ajuda e por isso respirei fundo e me forcei a desistir de meus problemas. Não iria mais chorar. Eu precisava ser forte e outras pessoas também precisavam de mim. Já era hora de parar de me lamentar.

Julia Potter - POV's

Dois dias após o dia de Natal, combinamos todos de irmos dar uma volta por Londres, uma vez que estávamos de férias e precisávamos aproveitar o tempo em casa e em família. Foi ideia de Dakaria e Hugo Weasley, pais de Marie, darmos uma volta pelo Beco Diagonal e almoçarmos fora no velho e amigável Caldeirão Furado.

Rapidamente enviei uma carta para Raimond antes de irmos, avisando que teríamos uma chance de nos vermos. Eu estava realmente sentindo a sua falta. Normalmente não era o tipo de garota que me via louca para ver um garoto ou para me encontrar com alguém, mas aquele Slytherin não conseguia deixar minha mente em paz. Ele me fazia realmente me sentir especial e mesmo me elogiando frequentemente e eu tendo de mandá-lo calar a boca, sentia algo diferente em meu corpo toda vez que nos aproximávamos.

~*~

Acordamos bastante cedo para nos arrumamos todos e aparatarmos em direção a vila bruxa mais famosa dentro da cidade de Londres. Logo, que chegamos no local, tratamos de nos separar. Hazel queria dar uma olhada em um novo catálogo de roupas que lançara na famosa loja "Cetim & Ceda", por isso eu, Jessie e Brendan fomos junto dela naquela direção. Enquanto os demais se espalhavam pela tão fabulosa vila de comércios bruxos.

Uma atendente morena e tão jovem que poderia jurar que ela acabara de se formar em Hogwarts, trazia diversas peças novas e as apresentava a Haz. Brendan insistia em dar pelo menos uma roupa nova pra Jess porque ele não dera nenhum presente em especial para ela de natal, embora a garota quisesse apenas ficar ao lado dele. Os dois estavam bastante apaixonados e eu me sentia completamente orgulhosa da minha irmã. Finalmente, ela se arriscara! Depois de ter amarelado no dia de convidá-lo ao baile e de ter escondido por tanto tempo essa paixão, eles estavam juntos e felizes. O sorriso no rosto de Jessie era inquebrável.

—Vamos, Jess - Ele estendeu uma blusa preta - Aposto que você ficaria linda nessa.

—Brendan, valeu, mas sério, não precisa - Ela segurou na mão dele e deitou a cabeça em seu ombro. Aproximando-os mais - Eu apenas quero ficar com você e só isso.

Eu ri da carinha de cachorrinho perdido de minha irmã mais velha e o moreno finalmente cedeu e deixou a blusa em cima do balcão. Ele envolveu a garota com seus braços e os dois ficaram se encarando, mergulhados nos olhos um do outro sem dizer mais nada. Pareciam duas estátuas e eu ri daquela situação. As pessoas podiam ser tão bobas quando estavam apaixonadas. Desviei o olhar para Hazel, que estava em dúvida entre duas peças de roupas que eram simplesmente a sua cara.

—O que eu devo escolher? - Ela mordeu o lábio inferior - Sabe, a mamãe me deixou comprar algo para usar na virada do ano novo.

Eu sabia muito bem o quanto aquela data era especial para ela. Tanto quanto para qualquer um de nós. Hazel havia tido a inesperada sorte, digamos assim, de nascer aproximadamente a meia-noite do primeiro dia do ano. Ela se torna mais velha a cada ano novo. Todavia eu podia notar um brilho diferente em seus olhos. Não era apenas o seu aniversário que estava em jogo. Ela queria impressionar alguém. Eu percebera o seu olhar em direção a Jess e Klaus durante o baile de Halloween, eles pareciam vidrados no rapaz. Ela estava completamente apaixonada e parando para pensar, sobre tudo e todos os momentos em que os dois conversavam ou passavam juntos, Klaus e Hazel simplesmente estavam conectados. Eles tinham uma conexão incrível e eu conseguia ler em seus olhos que ela estava escondendo algo de nós, aliás durante a confusão na ceia de natal, eu percebera que os dois estavam sozinhos na sala de estar enquanto todos os demais, presos na sala de jantar. Era a hora da revelação.

—Você sabe que ficará linda com qualquer coisa - Comentei e ela sorriu para mim. Seu sorriso estava tão radiante como há tanto tempo eu não o via. Desde o primeiro passeio a Hogsmead, quando Jess convidara Klaus, ela não estava tão animada quanto normalmente seria - Hum, que sorriso bonito é esse? Então, o seu brilho voltou, não é? - Ela soltou uma risadinha - O que aconteceu, hein? Me conta e não vale dizer que não é nada porque eu vi que estava sozinha com o Klaus na sala e... Você é apaixonada nele. Isso ta escrito na sua cara.

—O que? - Ela tapou as bochechas com as mãos - É tão óbvio assim? Ahn... Sim, bem, eu realmente sinto algo por ele - Ela rodopiou sorridente com as mãos no peito - E sabe, ele meio que confessou que sempre gostou de mim desde crianças... Eu não sei o que pensar. Quase nos beijamos! Se não fosse pela traquinagem da Patrícia...

—Vocês o que? - Jessie se aproximou e puxou o novo namorado junto a si - Quer dizer que você gosta do Klaus? Esse tempo todo? E eu fui com ele no Halloween! Por isso ele te elogiou daquele jeito... Vocês tem tudo a ver... Me desculpa, Haz, eu sou uma péssima irmã por não me dar conta antes... - Ela apanhou a mão da mais nova e sua expressão estava realmente arrependida - Mas me conta! Vocês são um casal ou o que?

—Ah, não nos falamos ontem direito... Eu não sei... Não sei como falar com ele ou o que fazer - Ela suspirou - A situação ficou meio estranha.

—Relaxa - Brendan entrou na conversa - Ele realmente gosta de você. Serio. As musicas dele são todas sobre o que sente e ele confessou para mim e o Freddie outro dia... Vocês só tem que deixar rolar.

—Mesmo? - Ela riu envergonhada e corou completamente - Ele falou sobre mim?

Naquele instante, alguém surgiu atrás de Hazel, impedindo que ela fosse respondida, e tapou seus olhos, ao mesmo tempo que alguém tapava os meus. Me assustei de início, porém senti um arrepio por todo o corpo e soube de quem se tratava. Na carta, eu informara que iríamos naquela loja antes de mais nada. Fiz o possível para controlar minhas emoções. Eu não fazia o tipo de garota ciumenta e apaixonada, muito menos melosa, porém a saudade daquele garoto tão distinto dos outros estava me deixando louca. Me virei de uma vez e o abracei muito apertado contra mim. A proximidade e o contato de nossos corpos fez com que uma chama se acendesse em meu interior.

—Raimond! Ah, eu senti sua falta.. - Me afastei e segurei seu rosto entre minhas mãos. Ele estava conseguindo de novo. Meu rosto estava queimando. Ele causava reações tão esquisitas em mim - Digo, é mesmo bom ver você.

—Senti sua falta no natal, minha ruivinha - Ele beijou a ponta do meu nariz gelado pelo forte frio do inverno. Aquele toque me aqueceu completamente.

Me voltei para encarar Hazel. Ela ainda estava tentando adivinhar quem vendava a sua visão. Ela parecia receosa em dizer alguma coisa, porém engoliu em seco e murmurou o que mais desejava em seu íntimo.

—Klaus?

O Slytherin se afastou lentamente da mais nova e sorriu amarelo quando ela se virou para encará-lo. Era Maxon. Raimond informara o garoto de que estaríamos aqui. Era óbvio. Ele realmente parecia estar interessado na minha irmã. Eu me sentia mal por saber que ele nunca poderia ser correspondido.

—Ah... Oi, Maxon... - Ela soltou sem graça - Eu não pensei que encontraria você aqui.

—Eu passei o natal com a família do Rai e ele me informou que iria ver a Júlia então pensei em vir ver você também...

—Isso é ótimo - Ela continuava envergonhada e se esforçando para não magoá-lo - Todos juntos aqui.

Hazel desviou o olhar em minha direção e dei de ombros. Não fazia ideia de que Rai convidaria o garoto. Minha irmã clamava por ajuda com os olhos e não fazia ideia de como poderia ajudá-la. A situação se tornava ainda mais constrangedora, quando de repente alguém quebrou o gelo e adentrou o local. Aquela voz fez com que Hazel se arrepiasse por completo. Eu podia apostar que ela se sentia completamente encurralada naquele momento. Ela não tinha saída.

—Hey, pessoal - Klaus caminhou até nós. Ele se colocou ao lado de Hazel e seu sorriso desapareceu assim que percebeu Maxon - Ah, olá, Maxon.

Ele também gostava dela. Eu conseguia ler o seu ciúmes através do olhar. O garoto colocou o braço sobre os ombros de Haz como se informasse que ela era propriedade dele, por mais machista que esse comentário possa parecer, a garota se sentiu viva. Suas bochechas estavam ruborizando novamente. O setimanista viera por causa dela, eu tinha certeza disso.

—Ah, Klaus - Maxon cumprimentou e intercalou o olhar entre ele e a garota em seus braços, a mesma a qual ele desejava ter entre os seus próprios - Vocês...? - Impressionante como sua mente fora rápida.

—Maxon, eu... Preciso falar com você - Hazel tomou as rédeas. Ela caminhou até ele e o puxou para o canto oposto da loja. Klaus continuava fuzilando-o com o olhar e eu ativei minhas orelhas passa escutar do que se tratava e arrastei o meu Slytherin junto de mim para mais perto - Olha, eu gostei do baile. E você é um garoto incrível, mas eu preciso dizer isso... Se eu continuar sem falar nada para não te magoar é que vou estar te magoando mais, porque quanto mais eu te usar... Pior você vai se sentir. E eu entendo isso agora. Me desculpa mesmo, eu sei que você gosta de mim... Você não me convidou para ir no Halloween só porque queria uma parceira... Você queria mesmo que fosse eu e, eu sinto muito, por poder ser só sua amiga... - Ela abaixou os olhos - Mesmo Maxon... Mas eu sou apaixonada por outra pessoa e não posso mudar isso.

O Slytherin se encontrava boquiaberto. Ele não sabia o que dizer nem como se expressão. O moreno desejava tanto que Hazel não tivesse dito aquilo. Me senti mal por ele, contudo sabia que ela estava certa. Ela tinha que colocar um fim naquilo e se entregar a Klaus. Ela fora tão corajosa e me enchera de orgulho. Se ela não se entregasse ao que sentia nunca poderia se perdoar depois e ela precisava se afastar para Maxon encontra o que realmente precisava e não era ela, por mais que ele pensasse... Não era para ser.

—Ah, Haz, eu entendo - Ele abaixou o olhar. Se estivesse contra a luz eu poderia apostar que ele queria chorar - Você e o Klaus... Eu percebo como vocês se olham. Durante o baile de Halloween, vocês tinham aquela especial de... Conexão.

—Oh, Maxon, eu sinto tanto... - Hazel acariciou o braço esquerdo dele.

Sua testa estava franzida. Haz sempre odiou magoar as pessoas ou ver alguém triste especialmente se isso tinha a ver com ela. Ela se dava bem concertando os estranhos e tornando tudo mais brilhante e lindo. Não era o tipo de pessoa que deixava o ambiente mais sombrio ou triste. Ela irradiava luz por onde andava. Essa animação e positividade sempre foi sua maior característica.

—Eu entendo, tudo bem, valeu por ser honesta comigo... - Maxon se afastou ainda sem encará-la nos olhos - Ahn, Raimond! - Ele exclamou e se voltou para mim e o garoto ao meu lado - Eu já vou andando... A gente se encontra em casa, eu vou pegar um ônibus trouxa, não deve ser muito longe.

O moreno não poderia utilizar da aparatação sem que estivesse acompanhado de um adulto ou um estudante de 17 anos que já estivesse apto a aparatar, por isso teria de voltar a pé ou com algum outro meio de transporte. Não era de interesse bruxo causar nenhuma agitação ao voar com uma vassoura ou utilizar cavalos alados – mesmo que a maioria fosse selvagem e isso seria realmente impossível – ou ainda carros enfeitiçados como quando o vovô Harry e o tio avô Ronald estavam no segundo ano em Howarts, portanto ele teria de apanhar um ônibus trouxa e não causar suspeitas.

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Raimond foi em direção ao amigo para se despedirem. Eles se tornaram bastante próximos após começarem a se ver desde que ambos se apaixonaram por mim e Hazel, e também, que a Armada de Hogwarts convocaram ambos Slytherins. Eles antes não se viam frequentemente porque têm idades completamente diferentes, três anos para ser exata, e nenhum era do time de Quadribol ou monitores, apesar de Maxon ser o narrador oficial dos jogos pela Taça.

Hazel caminhou até mim e se jogou em meus braços. Ela estava visivelmente arrasada por ter que tomar aquela atitude e ver alguém próximo se magoar por causa dela. Abracei-a e acariciei seus longos cabelos escuros enquanto sussurrava o quanto ela fora corajosa e eu estava orgulhosa da minha garotinha. Hazel era realmente alguém de se admirar, mesmo tão jovem, ela era esperta e madura, apesar de ter seus momentos infantis e ser bastante destrambelhada em outras horas. Ela estava crescendo e se tornando uma mulher incrível, tanto quando Jessie, sua maior inspiração, havia se tornado.

Naquele instante, quando nos soltamos e Raimond se dirigiu até nós, uma vez que Maxon acabara de deixar a loja, escutamos um grito agudo. Era Jess. Eu reconheceria aquele pânico em sua voz em qualquer lugar. Nos voltamos rapidamente onde antes estavam Klaus, Jessie e Brendan a pouco. Dois dos setimanistas se esforçavam para manter um garoto de pé. Brendan jazia inconsciente com a cabeça jogada sobre o ombro de Klaus. O olhar desesperado de Jessie entregava tudo. Ela mantinha o punho cerrado e, logo, que conseguiu nos encarar seus olhos se acizentaram com o medo. A morena estendeu em nossa direção. Dentre seus dedos trêmulos encontrava-se uma esfera densa e, agora, fosca.

Eu e Hazel nos entreolhamos. Aquilo não fazia nenhum sentido. Estava fora dos limites do castelo, muito distantes de Hogwarts, e mesmo assim Brendan fora atacado. A Armada de Hogwarts precisava o quanto mais rápido agir. Precisávamos desesperadamente encontrar uma saída e nos unirmos, agora mais do que nunca, outro dos nossos integrantes fora atacado e não tinha como mais esconder. Eu não poderia deixar que qualquer um se machucasse, especialmente que algo acontecesse com minha irmãs. Encarei Jess e abracei Hazel. As duas eram muito importantes para mim e não poderia arriscar perdê-las.

Joanne Jordan - POV's

Das masmorras era quase impossível perceber a neve constante e gélida que contornava toda a Hogwarts. O Lago Negro parecia ainda mais sombrio das longas janelas da comunal. Sua superfície estava congelada, e era possível notar claramente o inverno, uma vez que o vidro que separava a casa de Slytherin das profundezas do lago estava repleto de gelo e bastante frio. Toquei com a ponta dos dedos e meu corpo todo se arrepiou. Retirei antes que minha células se integrassem ao vidro e abracei meu próprio corpo.

Havia deitado na janela da comunal como de costume, porém estava completamente envolvida com meu coberto preto de pelinhos. Nem mesmo a lareira era o bastante para deixar toda a masmorra aquecida. Nessa época do ano, com certeza, nossa casa era uma das áreas do castelo mais afetadas pelo frio. Isso ocorria, é claro, por estarmos localizamos bem abaixo da terra e sermos contornados de umidade do Lago.

Suspirei e apanhei uma xícara grande de chocolate quente que deixara em cima de uma mesinha próxima. Beberiquei o líquido e senti meu corpo se aquecer aos poucos. Agradeci mentalmente por não precisar me levantar e dirigir a alguma aula durante a época mais fria do ano. Também agradecia por não precisar passar todo o feriado rodeada de familiares n'A Toca ou jogada em meu quarto, em minha casa litorânea. Meus pais claramente sentiam falta da única filha e, portanto, me enviavam cartas desejando um feliz natal e informando o quanto me amavam e toda a família sentia saudades. Eu sabia que a última afirmação era falsa. Eles não precisavam de mim e não fazia diferença se alguém, isolada, como eu estava ou não participando dessas confraternizações. Apesar, é lógico, de agora termos uma ligação por conta da AH e de eu estar liderando a armada em Hogwarts. Eles confiaram em mim e isso mostrava que tínhamos alguma espécie de contato, embora não deixasse de ser esquisito.

Durante toda a festa da véspera de Natal, eu apenas havia saído do meu dormitório ou de perto das janelas porque tinha vontade de me deliciar com a ceia. Não havia passado horas conversando com os poucos alunos que residiam no castelo. Aplaudira como todo mundo quando os diretores das casas fizeram seus discursos e nos desejaram boas festas, em nome da diretora Malfoy que estava em casa junto de seus três filhos e toda a família Weasley e Potter, além de alguns amigos da família como os Scammander.

Como sempre o banquete estava delicioso. Os Elfos Domésticos não erravam de forma alguma enquanto cozinhavam. O peru me deixara com água na boca. A salada de batatas e alface, o purê de batatas, o ensopado de abóbora, o chocolate quente, o suco de abóbora, a cerveja amanteigada, o pudim de amora e o molho com salsinha estavam tão apetitosos que tive que repetir e fui dormir bastante empanturrada naquela noite.

Já no dia de Natal, eu apenas tratara de responder brevemente com um feliz natal e boas festas as várias cartas recebidas de meus pais e permaneci na comunal durante todo o dia, apenas sai na hora do almoço e do jantar ou para petiscar alguma coisa. Agora, no dia seguinte, resolvi continuar minha rotina em baixo do meu cobertor e observando as populações assustadas pelo frio embaixo do Lago Negro enquanto bebericava uma grande xícara de chocolate quente.

Me voltei para um caderno ao meu lado. Uma pena mágica jazia sobre ele. Ainda não havia escurecido nada para o pessoal da Armada de Hogwarts, pelo simples fato de não saber como começar ou como me socializar com eles. Todos estavam confiando em mim e como desejava ver meu verdadeiro lar, o castelo, a salvo, aceitei em ajudar. Mais cedo algo acontecera, não era apenas pratos deliciosos e camas quentinhas que caracterizavam o início do feriado de Natal. Eu precisava ser verdadeira e informá-los, por isso suspirei mais uma vez e coloquei a xícara na mesa ao lado. Apanhei o caderno entre meus dedos gelados e abri na primeira página. Analisei a folha em branco, antes de também segurar a pena.

Segurei-a com firmeza e me lembrei da frase chave para poder começar a contatá-los. Assim que chegara em meu dormitório naquela noite, tratara de repetí-la diversas vezes para que se fixasse em minha mente e eu não mais esquecesse. Toquei a ponta da pena no papel vazio e murmurei, me certificando de que estava mesmo sozinha na comunal:

—Apenas aqueles corajosos o suficiente para se sacrificar pelos demais são os que possuem a verdadeira nobreza - Rapidamente um brilho atingiu toda a página em branco.

Respirei fundo, mordi meu lábio inferior e comecei a escrever. Cada frase terminada desaparecia com um brilho semelhante ao anterior e a página voltava a ficar completamente vazia.

"Prezado pessoal da AH,

Aqui é a Joey. Eu sei que ainda não escrevi, mas eu não sabia como fazer isso direito, espero estar fazendo certo.

Bem, durante a véspera e o Natal não tivemos nenhum problema em Hogwarts, a não ser o frio que está cada vez pior, porém a festa foi muito boa e a comida estava excelente.

Pensei que não teria que contatá-los e que não ocorreriam problemas... Contudo, hoje mais cedo fomos todos informados de que o castelo não está seguro. Logo, após o café da manhã, um garoto foi atacado no corredor das masmorras. Ele foi encontrado e levado pela diretora de Ravenclaw, Madelyn Froyer, que convocou uma reunião com todos os estudantes e nos mandou ficarmos seguros em nossas comunais e não sair sozinhos. Eles identificaram o corpo como sendo de um quintanista. Foi o Jack Lupin. Ele foi atacado.

Acho mesmo que precisamos agir. O que é que sejam aquelas esferas nomeadas de Slytherols precisam ser detidas e essa ameaça contida. Espero que estejam bem. Farei o possível para investigar por aqui. Jack está sobre os cuidados da Madame Betsy, mas amanhã um pessoal do St. Mungus virá buscá-lo para ser colocado em observação na sessão de coma próximo aos demais estudantes atacados.

Atenciosamente, Joey."

No momento em que enviei a mensagem retomei tudo que dissera para ter certeza que não omitira nada e comecei a me perguntar se não fora formal demais. Eu não sabia como escrever, porém desviei aquele pensamento de minha mente e me detive em Jack. Mesmo estado com raiva do garoto, não desejava que ele fosse atacado. Desejei que todos ficassem bem. Fechei o caderno e depositei-o ao meu lado junto a pena, então, apanhei a xícara e voltei a bebericar o chocolate quente embaixo das cobertas.

Era hora de agir. Mesmo jovens e sem tanta experiência precisávamos de um plano. Não poderíamos deixar que mais alguém fosse atingido. Nem os bruxos mais poderosos conseguiam desvendar esse mistério e os atacados não reagiam. Precisávamos ser ágeis e corajosos. Hogwarts era a nossa casa, o meu lar e eu não poderia de maneira nenhuma perdê-la.