Era fim de tarde e a neblina estava tão densa que era impossível ver um palmo à sua frente. O nevoeiro era estranho naquela época do ano, dificultando a viagem de diversos carros.

Dezembro começara nublado e parecia que as nuvens desceram dos céus para fazer com que os anjos pudessem andar pela terra.

Um, em específico, vinha caminhando pela estrada, recusando caronas, quando os motoristas percebiam ele. A maioria parava e oferecia carona por educação, já que um senhor idoso vinha caminhando lentamente, todo embrulhado e com uma mochila enorme de mochileiro nas costas.

Ele deve estar passando frio. Olhe como está cansado! Está vendo aquelas olheiras? Aquela mochila não está muito pesada para ele? Ele é tão magro, que parece um palito! Como ele deve aguentar? Vamos parar? Vou parar.

E ao chegar perto da janela do motorista, para recusar mais uma carona, podia-se ver cristais de gelo juntando na ponta de seu nariz.

Um caminhoneiro chegou a brigar com o senhor, ao perceber que a longa barba branca dele já estava completamente congelada, e quase o colocou a força dentro de seu caminhão. Só não o fez porque percebera o quão inconveniente estava sendo com aquele senhor.

— Para onde o senhor está indo? - ele ouviu várias vezes ao dia.

— Para Glastonbury. - e os motoristas faziam uma cara de "que lugar é este na terra?", que o senhor respondia educadamente, rejeitando a carona.

O velho realmente queria chegar a pequena cidade à pé. Era assim que ele entrava em contato com a natureza; e com suas vívidas memórias de um passado distante. Um passado jovem e caloroso, cheio de aventura e magia.

Magia, aliás, que pulsava dentro dele, como adrenalina correndo pelo seu sangue. Era com ela que ele se mantinha aquecido, vivo. Mas o suficiente para ele também aproveitar o vento frio cortar o seu rosto, a neblina gélida encher e refrescar os seus pulmões, e seu corpo doer aqui e ali com o peso da mochila e o andar contínuo.

Se ele parasse ali, no meio da estrada, ele sabia que iria ser muito difícil voltar a andar. Por isso, ele seguia ruma a Glastonbury sem nunca parar, dia e noite.

Até que a neblina começou a ficar mais fina e o frio mais úmido. Nenhum pássaro piava e parecia que mais nenhum carro passaria por ele na próxima meia hora.

A cada passo que ele dava, a estrada ficava mais visível, as árvores mais verdes. Os galhos se curvavam sob a presença do velho, abrindo espaço para ele ver a beleza escondida por trás das folhas: um lago enorme e de águas negras, uma grande ilha no centro dele, aonde havia uma torre tão alta, que rasgava o céu. A torre era negra de tão suja que estava. O passar dos anos fora um infortúnio para ela.

E pela primeira vez em muito tempo, o senhor havia parado para contemplar tal beleza. Suas longas pernas tremiam, de tão usadas. Ele olhava aquele cenário como se fosse uma pintura admirado pelo tamanho da torre. E com um sorriso de quem voltou para casa depois de muito tempo fora, ele entendeu que sua busca chegara ao fim.