— A gente não pode só atacar eles? — Amy cochichou ao seu lado, encarando o anfitrião que lhes sorria de forma sádica.

Se não fosse pelo fato de Ronan estar sendo preso por capangas e por Zero ter sumido depois de causar uma onda de destruição após um momento de descontrole, isso sem contar o fato de o “anfitrião” ser na verdade um espírito da natureza de alto escalão, Lire concordaria. Mas infelizmente, aquele não era o caso.

Enquanto tentava chegar numa conclusão do que fazer enquanto assistia Ronan ser cada vez mais encurralado e impedido de tentar contra-atacar, e tentava empurrar a preocupação do que podia acontecer com Zero do lado de fora naquele continente que não conheciam, Lire só conseguia pensar em como estava com raiva de Lupus.

Geralmente não se dignava a sentir raiva de alguém porque não valia a pena e porque raramente a pessoa a afetava diretamente, além de que, na maioria das vezes, era ela quem tinha que apaziguar as brigas.

Mas ali, naquele momento, ela quis atirar uma flecha na testa do haros.

Porque Zero não teria se descontrolado se Lupus tivesse ficado de boca fechada e não tivesse sido inconveniente sobre as origens do rapaz. E se Zero não tivesse tido um ataque de fúria, ele não teria destruído o quarto do hotel onde estavam hospedados, e Ronan não teria sido aprisionado por tentar resolver as coisas na base da conversa e talvez do dinheiro, apesar de não terem tanto assim.

Por isso, Lire queria jogar Lupus para correr pra fora daquele hotel e nunca mais dar as caras na Grand Chase. Mas infelizmente, ele ainda era um membro da caçada, e embora fosse insuportável com quase todo mundo, era alguém muito útil e um dos que mais contribuía para a renda do quartel general.

Ele era importante.

— Não... A gente vai ter sorte se conseguir sair daqui sem nada quebrado. — respondeu para a dançarina, que bufou e encarou Lupus.

Ela também devia estar com raiva do caçador de recompensas.

— Então, meus caros... qual é mesmo o nome do grupo? — o anfitrião começou, depois de conversar com o grupo que parecia cuidar de alguma gerência do hotel que pertencia a ele. Um dos homens lhe murmurou a resposta — Ah, sim. Minha cara Grand Chase. O seu amigo de cabelo verde deu um prejuízo muito grande para o meu hotel, e eu não posso deixar vocês saírem sem antes nos pagar o que nos devem.

— Mas nós oferecemos dinheiro! — Amy exclamou, parecendo nervosa com o violino na mão (ela estava tocando para os outros hóspedes antes de toda a bagunça começar) — Vocês não aceitaram e ainda prenderam um dos nossos.

— Nós não queremos dinheiro — ele respondeu, divertido. — Eu sou um ser mágico, posso consertar aquilo sem nenhum esforço, mas vocês não podem destruir algo e saírem sem pagar por isso.

Lire apertou os lábios, pensativa.

— E o que o senhor quer como recompensa?

Ele sorriu mais uma vez, e Lire estava começando a odiar também o senso de humor dele. Para uma criatura da natureza, ele era sádico demais.

— Ele — o anfitrião apontou para uma das pilastras de sustentação do lugar, onde Lupus estava apoiado com expressão de descaso enquanto parecia checar algo em uma de suas pistolas. — Vai atirar em nome do meu hotel. Escolha um dos seus para atirar contra ele. Se vencerem no tiro ao alvo, podem sair sem pagar nada.

“Um jogo??” Lire franziu as sobrancelhas e olhou para Amy.

— Mas ele é um dos nossos... — Amy começou a argumentar, mas Lire fez um gesto para que parasse ao ver um dos homens do hotel entregar para Lupus um pequeno saco de couro com moedas. Amy bufou e sussurrou, conformada. — Mas é um vendido mesmo.

— Tudo bem. Eu vou. — Lire suspirou e olhou para a mesa que estava antes de toda a bagunça, checando se seu arco ainda estava ali. — Se nós perdermos, quanto vamos ter que pagar?

Eles não tinham muito dinheiro, esperava que uma porta quebrada e uma planta desconhecida para si não fossem muito caras.

— Não será muito, eu lhe garanto — Ele sorriu para si e depois olhou para Amy, e algo no brilho doentio do olhar dele fez Lire sentir um arrepio.

Tinha que vencer.

Foi até o arco e a aljava que estavam sobre a cadeira perto da mesa e, depois que checar mais uma vez que Ronan estava bem — ele estava, apesar de claramente irritado por não poder fazer nada para sair dali, já que não estava com a espada — fitou o anfitrião.

Ele sorriu e guiou ela, Lupus e Amy até uma sala que com certeza tinha sido planejada para aquele tipo de jogo, já que tinha pelo menos uns 5 alvos espalhados, em diferentes distâncias. No fundo da sala, um painel ocupava a parede inteira, com alvos móveis em três níveis diferentes.

Quando ela e Lupus foram posicionados atrás de uma linha branca no chão de frente para o painel e um cronômetro marcando trinta segundos foi posto sobre uma cadeira, ela teve a certeza que de teria que ser muito rápida para sacar as flechas, porque Lupus já tinha uma vantagem por não ter que repor munição (já que suas pistolas tinham um pente maior do que as comuns)

— Trinta segundos, quarenta alvos. — O anfitrião informou, se sentando sobre um banquinho de madeira e cruzando os braços. — Quem acertar mais ganha. Bem simples.

Lire assentiu e olhou para Lupus enquanto os capangas do espírito mágico conferiam se todos os alvos estavam bem presos.

— Você não deveria estar do nosso lado? — Perguntou em tom baixo, vendo ele dar de ombros.

— Eles me pagaram.

Lire revirou os olhos e decidiu não responder mais. Lupus realmente não valia o couro que usava.

— Tudo pronto? — o anfitrião perguntou para os seus homens, que confirmaram. — Então, se posicionem.

A arqueira ergueu o arco, posicionando duas flechas contra a corda e puxando, pronta para atirá-las quando achasse melhor. Ao seu lado, Lupus ergueu as pistolas à altura dos olhos, atento para acertar todos os alvos.

Sabia que o haros era muito bom, aquela seria uma competição acirrada levando em conta que sua aljava não estava cheia e devia ter cerca de trinta e três flechas.

— Comecem!

O cronômetro começou a rodar, e o único som que foi escutado durante aquele pequeno intervalo de tempo foi o de flechas voando pelo espaço de cinco metros entre Lire e a parede, e o das balas de chumbo deixando as armas de fogo do rapaz.

E quando o tempo acabou, restavam cinco flechas na aljava da elfa, que queria mais do que tudo fincar uma delas no peito do haros por causa de toda aquela situação.

— Tempo esgotado! — O anfitrião gritou com um sorriso, se aproximando do painel para contar quantas flechas e buracos de bala os alvos em formatos de pepes e gons tinham.

Lire assistiu paciente e quase que ansiosamente. Ao seu lado, Lupus parecia extremamente desinteressado, como se, uma vez que a tarefa estivesse concluída, não tinha mais porquê estar ali.

O rosto do espírito se contorceu quando chegava ao final da conta, e Amy deu um gritinho histérico quando o anfitrião jogou as flechas no chão com força, parecendo com muita raiva.

— Vinte e oito flechas. — Ele anunciou com desgosto — Vinte e cinco balas.

Lire arregalou os olhos enquanto era abraçada por Amy, sem entender. Repor flechas demorava, comparado à facilidade de simplesmente pressionar o gatilho.

Lupus tinha deixado que ganhasse?

Ficou parada enquanto Amy cobrava ao espírito anfitrião que libertasse Ronan para que pudessem ir embora. Enquanto os dois e os outros homens, saíam, apenas ela e Lupus ficaram para trás, o haros ocupado demais olhando algo em uma de suas pistolas para dar atenção para qualquer coisa.

— Você me deixou ganhar? — Lire questionou depois de ter certeza que estavam à sós. — Lupus, eles te pagaram pra vencer. Pensei que você honrasse os contratos.

O haros a fitou, um sorriso de canto provocante se fazendo presente,

— Não se ache, elfa. Eu não te deixei vencer, uma das minhas pistolas está com problema, alguns tiros falharam.

— Mas—

— E — ele continuou, dando as costas para ela e começando a andar, mas parando antes de sair da sala. — Eles me pagaram para jogar por eles, não para ganhar por eles.

Ele saiu da sala, provavelmente para pegar suas coisas no quarto para finalmente saírem e procurarem por Zero. Mas Lire não conseguiu fazer outra coisa senão sorrir desacreditada e balançar a cabeça, tendo uma constatação antes de ir ver como Ronan estava.

Não estava mais com raiva do haros, e talvez Lupus não fosse tão vendido assim, afinal das contas.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.