Bônus I

O encontro

POV'S MONA

Suspirei, quase dormindo de tanto tédio que sentia. Meus olhos quase se fecharam, enquanto uma música de defunto terminava, para logo outra música do mesmo estilo começar. Cara, que lugar chato é esse?! Nossa, eu estava preocupada com a mamãe e com a sua saúde mental, quando ela disse que aqui era um lugar maravilhoso e que eu encontraria um monte de '' amiguinhos''. Amiguinhos é o caralho, só existe eu de criança nessa porra! E eu tô com dor de barriga.

Eu estava sentada em um banco, encostada levemente no balcão, onde saiam os garçons para servir alguma coisa com gosto ruim, e um dedo de comida. Eu tinha que usar um vestido preto e longo, feito especialmente para mim, por uma mulher louca, que minha mãe dizia ser a nossa estilista pessoal. Meu cabelo estava clinicamente penteado em um coque, com uma tiara muito bonitinha. Minhas sapatilhas estavam tão engraxadas que dava para eu me ver ali, refletida.

– Oi, eu sou a Alisson Eve! – Levei um mega susto ao ouvir uma voz infantil ao m eu lado. Me virei lentamente, abri a boca em choque com o que eu vi.

Era uma garota, com toda certeza. Seus cabelos eram pretos, e caíam perfeitamente nas suas costas, seus olhos verdes a deixavam com um anjinho, sua pele bem branca, que reluzia em meio à luz meio escuro. Sua roupa! Céus, ela parecia uma princesinha, com um vestido rodado e rosa, com brilhantes, e uma sapatilha também rosa. Ela era tão fofinha!

– Está falando comigo? – apontei debilmente para mim.

– É claro, né! Com que eu estaria falando? Com a parede? Qual é o seu nome? – ela falava bem rápido. Pisquei os olhos, confusa, para logo em seguida abrir a boca.

– Sou Mona.

– Parece Mona Lisa – ela riu baixinho, eu a acompanhei.

– É um nome bonito. Mas mamãe disse que quando eu nasci, ela não achou que eu fosse parecida com aquela mulher daquele quadro lá, daquele pintor. Ela também disse que Ramona é melhor, combina com a sua banda favorita. Eu não acho, parece que eu tenho nome de cachorro – estranhamente comecei a tagarelar sem parar, acho que estava entusiasmada demais em ver alguma criança.

– Seu nome é lindo! Mas prefiro o meu, Eve.

– Eu também. – Rimos não tão alto, para não chamar muita atenção.

– Então, cadê a sua família? –perguntei, curiosa.

– Ah, não sei! Minha mãe tava conversando demais com um carinha lá, e aí eu fiquei com dor nas pernas, e fugi.

Arregalei os olhos.

– Ela não vai brigar?

– Não, acho que não. Bem, não até eu chegar em casa, e até ela finalmente perceber que eu fugi, digamos que ela é... meio louquinha.

– Então tá – dei de ombros.

– Tá. – Ficamos em silêncio.

– Ei, e você? Cadê sua família?

– Ah – cocei a cabeça –, minha mãe saiu com o James e o papai lá para aquele canto ali – apontei para um canto, onde minha mãe conversava com outra mulher. James estava o lado do meu pai, ouvindo a conversa dele com um homem com sério problema de calvície. Medo.

– Hum... Quem é James?

– O meu irmão gêmeo – respondi baixinho. – Não fala para ninguém, mas ele é tão chatinho! Olha lá, não conta para ninguém, tá? Mamãe vai ficar chateada se descobrir que eu falei isso para você. Ela disse que eu tenho cuidar do James, e o James cuidar de mim – disse.

– Ele é muito bonito! Seu irmão, James. Eu gosto de James, James é legal – Eve olhava para o meu irmão, curiosa.

Cruzei os braços, irritada.

– Ei, você é a minha amiga! E não dele – apontei para James. – E outra: menino não pode brincar com meninas, eles estragam nossas bonecas e se sujam todo de lama – desconversei. A última parte fez Eve arregalar os olhos, e logo virar a cara para mim.

– Seu irmão é assim? – perguntou, horrorizada.

– É – assenti, lentamente. – Ora, ele é menino! Meninos são tudo iguais, minha mãe disse isso. Pera! É homem. Ah, mas o James é homem, mas é mais pirralho e baixinho.

– Juro que não olho mais para ele, tá?

– Tá – concordei, sorrindo.

– Por sinal, seu vestido é lindo!

Conversamos o resto da noite toda. Depois daquilo, nós nunca mais paramos de conversar. Íamos para casa uma da outra, e brincávamos de boneca. Criamos um pouquinho de peito, tivemos paixonites, isso é claro, até a morte da minha mãe. Mas isso vocês já sabem.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.