Os fios flamejantes se espalharam pela almofada enquanto a jovem se lançava no sofá, cansada, fora difícil o dia inteiro, maluco.

— Está morta, não é? — Domi murmurou colocando a bolsa sobre a mesa de centro

— Você não imagina o quanto!

— Rose... — Domi suspirou com a voz carregada de emoção e sentou em sua poltrona branca de veludo ao lado do sofá onde a ruiva fechava os olhos — Sentimos sua falta

— Quer dizer, você sentiu minha falta? — Rose girou de modo confortável para encarar a prima

— Ai, Rose! Você saiu das nossas rotinas e foi como um tapa, e nem se quer olhou para trás! E todos os planos, Rose? E todos os sonhos?

As palavras de Dominique eram como socos em seu estômago, um atrás do outro, responsabilidade, ela era responsável por varias coisas e apenas as abandonou, não apenas simples coisas, eram pessoas.

— Eu entendi, Dominique! Quer me deixar dormir pelas próximas dez horas, por favor?

— Não, Rosália! Pare de fugir! — Dominique esbravejou e Rose se sentou perplexa com o tom de voz raivoso da prima.

[...]

Enquanto subia as escadas da frente, com o cheiro das rosas irradiantes na porta e o céu começando a clarear sobre sua cabeça, o suor gelado ainda escorria pelo pescoço. Nem se quer bateu na porta branca emoldurada, girou a maçaneta e simplesmente entrou, nunca deixavam a mesma trancada, pela enorme chance de alguém conhecido se refugiar ali.

A sala de estar como sempre, vazia, as luzes apagadas, e a porta para o corredor largada, o final do corredor que levava a escada, e ante mais duas portas, uma a esquerda que levava a cozinha e a sala, onde a luz irradiava do cômodo, enquanto do outro lado a porta do banheiro. Tudo simplesmente vazio, sem um móvel se quer. Ele seguiu pelo corredor até a cozinha, na cozinha tinha apenas uma mesa de canto, encaixada a parede, três cadeiras rodeavam a mesa e em cima da mesma havia uma bolsa de couro branca, dedilhando a bolsa uma ruiva jovem sentada impaciente, ele sorriu e se dirigiu a cadeira a sua frente.

— Atrasei? — O tom de deboche fez a menina revirar os olhos

— O que estava fazendo?

— Quase morri e...

— Jimmy! — Ela arregalou os olhos irritada como ele falava com descaso

— Eram dois prédios, e tive que atravessar, simples — Ele deu de ombros e olhou para cima pensativo — E eu cai!

A exclamação foi tão imprevisível que a ruiva o olhou desconfiada, as mãos que dedilhavam a bolsa, agora agarraram a bolsa, como um ato de pensamento rápido, ele sabia muito bem que ela sempre estava preparada para qualquer situação, desde a mais perigosa a mais rápida e prática.

— Calma! Está ficando louca hein, não sou um fantasma — ele riu do alerta — Eu cai, mas voltei para a base do prédio, eu não... Cai realmente, mas cai... Entende?

— Jimmy, você está usando drogas?

— Logico que não — ele revirou os olhos e sorriu — Alguma coisa me puxou para cima, como um gancho, ou alguém

— Alguém? O que?

— Como alguem invisível...

— Mas como assim?!

— É mais uma coisa que não sei explicar — O jovem deixou a cabeça tombar levemente para o lado, os fios levemente caindo sobre os olhos o fez notar que precisava cortar o cabelo

— Onde está Sam?

— Eu é que pergunto

Um suspiro demorado escapou dos lábios da mais nova, ela agarrou uma mecha de cabelo e o encarou apreensiva

— Lucy está morta — um sussurro baixo e amedrontado foi o que conseguira dizer

— O que? — o moreno sentou ereto a fitando assustado

— Lucy está morta — agora ela pronunciou com mais convicção — Ela e o Louis tinham ido até o local onde Al estava... Jimmy...

A voz da garota ia falhando enquanto seus olhos grandes e castanhos se enchiam de lágrimas, o mais velho engoliu em seco. Ele levantou da cadeira e se aproximou, a ergueu em um abraço apertado e respirou fundo.

— Está tudo bem, Lils — ele afagou os fios ruivos escuros da menina

— Se eles mataram Lucy só por estar procurando, imagina o que eles fizeram com Alvo

— Eles não mataram o Al, tudo bem?

— Como você pode saber? Isso é o pior, ninguém sabe — As notas de voz embargadas eram como facadas no coração do irmão

— Vai ficar tudo bem, nos vamos encontrar ele, são e vivo — James beijou o topo da cabeça da irmã engolindo a própria dúvida.

A sensação era horrível, e sempre fora, desde que a alguns meses, um jogo entrara em suas vidas. Mesmo correndo perigo eles precisavam agir.

— Vamos, encontramos Samantha no caminho e pegamos o Louis, onde quer que ele esteja...

Ele foi interrompido mais uma vez, com a vibração de dois celulares, um em seu bolso apenas vibrando, e o outro na bolsa de couro tocando uma musiquinha estranha, os dois se encararam. Lily revirou os olhos e puxou a bolsa, saindo dos braços do irmão e começando a sair dali.

— Vamos, James, o desafio está lançado.

[...]

— Não estou...

Rose agora tinha a voz falha, com os olhos baixos e chocados.

— Você está sempre fugindo, Rose! Fugiu de mim, de Lily, do Al, do Scorp, do Jay, até dos seus próprios pais! Pare de fugir, Weasley! — A voz de Dominique estava furiosa, como se finalmente explodisse de algo guardado a tempos

Rose não conseguia pronunciar nada, ela sabia que era verdade, queria gritar para retrucar mas não conseguia.

— Por que está fugindo, Rose? Porquê? — a voz dela se tornara chorosa, Rose sabia que lágrimas corriam por seus olhos mesmo que a ruiva não a olhasse

— Eu não posso...

— Pare de ser estúpida! Chega de fugir, Weasley! Pelo amor de Deus, pare de descartar tudo como se fossem figurinhas, você não é o centro do universo, as pessoas se importam se você some ou não, sua idiota! — Dominique agora começava a controlar a vontade de gritar, apesar de alterar a voz

— Me desculpe...

— Desculpas não vai trazer Alvo de volta!

Então finalmente Rose ergueu o rosto, a prima chorava descontroladamente e suas mãos tremiam nervosas

— Domi... — Ela murmurou levantando e indo ate a jovem se ajoelhando em frente a poltrona —O que aconteceu com Al?

— Levaram ele, Rose, eles levaram...

Antes que ela pudesse terminar, o celular da ruiva tocou em seu bolso e ela franziu o cenho, Dominique a observou atentamente engolindo o choro, Rose com cuidado tirou o celular do bolso e deslizou o dedo na tela, desbloqueando, levou ao ouvido vagarosamente, com o número desconhecido na tela.

— Alô? — A voz de Rose vibrou e ela engoliu em seco

— É melhor sobreviver — uma voz metálica sussurrou do outro lado, como se respirasse no microfone do telefone — Se abaixe

Tudo foi muito rápido quando Rose arregalou os olhos, agarrou a mão de Dominique e a puxou para o chão, as duas caíram de costas enquanto o vidro ali da janela da sala estilhaçava, impactados por balas de ferros, Rose olhava para cima com o coração na boca, enquanto as balas voavam por cima das duas, destruindo a sala, destruindo tudo que encontrasse pela frente, era como se ela visse a morte voando ali, bem acima de seus olhos, torcendo pra que nenhum pedaço se quer daquela morte caísse sobre elas.

[...]

Agora seu corpo doía, como se tivesse sido moído, ou alguém tivesse o espancado, a dor de cabeça havia passado, porém agora parecia estar morto preso a seu próprio corpo. O corpo pesava e ele não queria se mover, deitado sobre algo do tipo um colchão, ou talvez dois lençóis sobre tijolos?! Tudo doía ali. Em sua boca, um gosto salgado e estranho, mas ele reconhecia bem aquele gosto, sangue, havia sangue em sua língua, e parecia invadir mais sua boca que a própria saliva.

Ele abriu os olhos lentamente, as pálpebras pesavam, ele teve um falho vislumbre do local escuro, queria dormir um pouco mais, e sua meia consciência insistia em gritar desesperada. Ele fitou primeiro o chão, e seus olhos ergueram ate as barras de ferro, uma cela, ele correu os olhos pelas barras. Não lembrava como tinha ido parar ali, perdido em seu próprio consciente. Ele esforçou a mente para lembrar de qualquer coisa, mas a dor era insuportável, e ele não tinha muito mais forças para aquilo.

Tudo que Alvo sabia naquele momento, era o seu nome e que de alguma forma fora parar dentro de uma cela.