Compulcividade

O medico estava demorando, isso deixava tia Addy impaciente, ela ficava andando de um lado para o outro com aquele olhar perplexo e perdido, sempre virava-se e olhava pra mim assustada, acho que ela estava com medo de que eu fizesse algo ou simplesmente não sabia oque fazer, e eu estava da mesma forma, chocado e perdido, eu iria me sentir eternamente culpado se eu matasse Leon e mesmo que não, eu feri o garoto que se propôs a ser meu amigo, que confiou em mim, eu machuquei a família que me abrigou quando não tinha para onde ir. "Porque ele fez aquilo?" não saia da minha cabeça essa pergunta, não fazia sentido defender aquele monstro, curiosamente ele desapareceu assim que tia Addy entrou no comodo, acho que tem algo haver com os adultos, pois Melissa também sumia quando eles apareciam, mas não quando Leon... isso não importava mais, tudo que eu queria era saber oque seria de mim dali pra frente.

-Fique sentado ai, não saia dai está me ouvindo?! eu vou buscar seu tio na recepção. - Disse tia Addy, de uma maneira que parecia estar tentando impor uma ordem, como se por um acaso eu saísse dali algo ruim fosse acontecer.

Meus pensamentos estavam muito vagos "Será que eu vou ser preso? se eu contar a verdade, provavelmente eu vou parar em um hospício ou algo do tipo... será que se eu fizer outras pessoas verem ela, ela pode provar que é tudo verdade?"

-Eu vou matar aquele menino! Pegar ele foi a pior escolha que tomamos, ele é um demente igual a mãe, se acontecer algo com Leon ele não vai parar nem mesmo em um orfanato, vai direto para um cemitério!

Eu fiquei com muito medo daqueles gritos que tio Roger dava no corredor, ele parecia extremamente furioso, e não era pra menos, porém eu teria que desobedecer tia Addy e sair dali, se eu ficasse não sei oque aconteceria, capaz que ele tentasse me matar. Comecei a olhar em volta e raparei que havia uma porta para escada de emergência bem próxima dali, e antes que meus tios chegassem eu corri para lá e com um tropeço praticamente rolei escada a baixo, estávamos no segundo andar então não foi uma queda tão terrível e não me machuquei tanto, comecei a correr desesperadamente pra fora daquele lugar, e em seguida por ruas e ruas que nunca tinha visto antes, tentando me afastar, sem rumo nenhum. Acabei batendo de frente com uma garota que aparentava ter mais ou menos a minha idade, ela estava carregando umas sacolas e com a batida acabou derrubando o que pareciam ser compras, resolvi me acalmar pois parecia já ter me distanciado o suficiente.

-Me desculpe por isso. - Disse ajudando-a a recolher as coisas.

-Você esta bem? - perguntou ela olhando os espirros do sangue de Leon ainda por minha roupa.

-Sim isso foi, bem...

-Deve ter sido o frasco de Ketchup que estourou, você gostaria de me ajudar com as compras e aproveitar pra se limpar? eu não moro muito longe.

A garota era realmente linda, seus cabelos eram ruivos, sua pele muito branca, seus olhos eram castanho claro, e ela parecia realmente delicada e confiável, então não recusei, precisava mesmo limpar aquele sangue, ou uma hora iriam acabar chamando a policia e estaria de volta ao inicio.

-Se não for incomodar...

-Na verdade será uma grande ajuda, essas sacolas estão pesadas - disse a garota me entregando as que estava segurando e pegando as outras duas no chão.

-Como você se chama mesmo?

-Na verdade eu não disse meu nome, mas é Alicia.

-Eu me chamo Charlie.

-Sim, eu sei... - Disse a menina apertando o paço.

Achei sua resposta estranha, mas ela tinha avançado um pouco e não podia me ouvir, comecei a reparar então que o lugar já não me era tão estranho, parecia que já estive ali antes, porém, não me lembrava em que ocasião, subimos uma pequena escada e ela abriu a porta, era uma casa um tanto quanto comum, porém meio escura, reparei que os vidros eram pintados de preto, entramos diretamente na cozinha e finalmente pude perguntar:

-Você disse..."Sim eu sei"?

-É claro,te conheço, você achou que abriria a porta pra qualquer um?

-Nos conhecemos de onde?

-você não se lembrar de mim?- A garota fez uma cara de espanto enquanto colocava as compras sobre a mesa - Tudo que você falou pra mim por acaso era mentira?

-Do que você esta falando? - soltei as sacolas e apalpei a porta tentando encontrar a maçaneta.

- Você me falou que eu seria sua primeira, que você me amava, que nos casaríamos, que você nunca se esqueceria de mim, isso era mentira? - Seus olhos estavam arregalados e vermelhos de uma maneira assustadora.- Sabe quanto tempo eu fiquei te esperando? Você prometeu que iria me buscar.

Senti alguém tentar abrir a porta atras de mim e em seguida uma voz familiar disse para que eu me afastasse, obedeci com medo de quem poderia ser, mas me preocupei em não ir em direção daquela menina louca, olhei pra figura que entrava na casa, não podia ver seu rosto antes que ele fechasse novamente a porta, pois como disse ali era muito escuro e o sol estava muito forte aquele dia, quando o homem se virou tive uma surpresa, era Ritashi, meu padrasto, isso me remeteu de onde conhecia aquela vizinhança, mas de fato ali não era a casa dele, pois lembro bem da casa dele era muito grande, diferente daquela que eram cubículos.

-Então você encontrou ele? -Perguntou se referindo a Alicia.

-Na verdade ele veio correndo em minha direção quando eu voltava do mercado.

-Comprou tudo que eu pedi?

-O dono falou que aquilo ainda não tinha chego.

-Então teremos que manter você aqui um tempo. -Ritachi olhava diretamente em meus olhos quando falava.- Sabe, você não deveria fugir assim depois de tentar matar seu primo, sorte sua que seus tios ligaram pra mim antes que pra policia, falei pra eles que você tinha fugido pra cá, oque foi aceitável pela direção que veio, e sua tia falou que seria melhor que ficasse aqui até que soubessem oque fazer, parece que o estado de Leon piorou, e Roger não está nada contante com você.

-Ele pode ficar no meu quarto? - interrompeu a garota.

-Eu não quero ficar aqui, quando eles decidirem oque fazer não vai ser nada bom.- passei por ele e tentei abrir a porta, sem resultado, de alguma forma ele já havia trancado ela.

-Eu não te dei uma escolha, você vai ficar aqui querendo ou não.

Tive calafrios pelo modo com que ele falou, passou a mão na cabeça de Alice, se virou e subiu as escadas.