- Está tudo bem? - Perguntou a moça dos olhos verdes.

- Sim... Está sim, eu... Eu estou bem. - Respondeu Rafael, naquela noite de outono.

- Não... Não está não... Desde quando começamos a guardar segredos entre nós dois?

- Não é segredo... Eu... Eu preciso te contar uma coisa...

- E o que foi? - Perguntou ela, curiosa.

- Julie, eu... Eu fui aceito pela Força Aérea... Eu vou partir de manhã. - Disse ele, segurando os ombros dela, nesse instante, o vento soprou e algumas folhas se desprenderam dos galhos das árvores, pelo céu estrelado elas voaram e caíram em volta dos dois, ao lado do Impala.

- O que? Mas nós... - Protestou ela.

- Julie, eu nasci pra isso... Eu nasci pra voar... Sonho com isso desde que eu era apenas um garoto de uns cinco anos... Eu tenho que ir...

- Nós não nos veremos mais? - Os olhos dela se tornaram tristes de repente.

- Eu não sei, mas se não... Olha, não importa onde você estiver, eu vou tentar ir até você. Nem pra que isso eu caia de um avião.

Os dois se abraçaram, algumas nuvens no horizonte brilharam com os relâmpagos, aquela noite seria a mais triste da vida dos dois. Na manhã seguinte, Rafael embarcou em um ônibus militar, andou pelo corredor e sentou num banco ao lado da janela, ele olhou através do vidro e viu Julie parada na esquina, os dois se olhavam pela última vez, o motorista girou a chave e o motor do ônibus ligou, Rafael botou sua mão na janela e Julie estendeu sua mão na direção dele, o ônibus começou a se movimentar e logo se juntou aos outros veículos na rua.

* * *

Rafael acordou de sua triste lembrança, abriu seus olhos, se lembrou de que tinha caído e se levantou rápido da cama, viu sua pistola, uma Tokarev TT 33, em uma mesa um pouco atrás de sua cama, estranhou, pois se tivesse sido capturado pelo inimigo como pensava, eles tomariam sua pistola pelo perigo, mas não havia ninguém ali. Os pilotos carregavam uma pistola por precaução, já que se caíssem em território inimigo, poderia ter uma chance de se defender. Caminhou até a mesa e pegou sua pistola, olhou o pente para checar se estava carregada, e depois a engatilhou. Rafael andou até outro cômodo que parecia ser uma sala, as cortinas balançavam com o vento vindo de fora, podia-se ouvir os sons das explosões na cidade, pareciam mais como o som de trovões distantes no horizonte, mas tudo mudou quando ele ouviu uma voz atrás dele.

- Não se mexa.

Aquela voz feminina parecia-lhe familiar, mas não conseguia identificá-la.

- Quem é você? - Perguntou ele.

- Largue a arma... E devagar... - Disse ela fugindo de sua pergunta.

- Tudo bem... Desde que não me mate... Eu posso...

- Me jogue a sua arma.

Rafael botou seu pé em cima de sua pistola e a deslizou para trás, a mulher assim pegou a pistola no chão, mas Rafael ainda não sabia quem ela era. Ela se virou e caminhou até uma mesa. Ele continuava imóvel virado para a janela, ela riu.

- Pode se mexer, bobo.

Rafael se virou lentamente para trás e viu uma mulher de cabelos castanhos despejando a água de uma jarra para um copo de vidro em uma mesa, ela estava de costas e a pistola dela estava na mesa, mas a sua tinha sumido.

- Quem é você? - Perguntou ele.

- Uma velha amiga. - Respondeu ela sorrindo.

Rafael ficou pensativo por um certo momento, até que ela se virou e caminhou em sua direção com o copo.

- Tome, beba isso.

Naquele instante, Rafael ficou paralisado, não pode ser ela.

- Julie? - Disse ele, ainda não acreditando no que via.

- Oi, Rafael... Quando você disse que poderia cair de um avião pra me encontrar você não tava brincando... - Disse ela sorrindo.

* * *

14 de Fevereiro de 2017, Walrus City, Narkóvia. 18:20

O blindado parou, William e seus soldados desceram com suas armas e observaram o local, uma fina camada de neve cobria o chão, era um dia frio e nublado, as casas ainda estavam intactas, mas a cada passo que William andava para dentro do bairro, mais devastado ele ficava.

- Por que essa neve e esse frio? Estamos em fevereiro! - Disse Ray.

- Concordo com você, Ray... Parece que ao invés de o mundo esquentar como dizem, está esfriando... - Afirmou William, sorrindo.

- Bela descoberta, vou dizer que fui eu quem descobri isso e vou ficar famoso no mundo inteiro...

- Tá bom... Vamos logo com isso, não quero ouvir mais ninguém gritando no meu ouvido... Bem, você sabe de quem estou falando...

- Ah, o general? Ele é um babaca... - Disse Ray, rindo.

- Novamente concordo... - Nesse momento, dez caças passam voando em direção ao centro da cidade, William e seus colegas observaram, atentos.

- São os nossos? - Perguntou Ray.

- Sim, se não teriam atirado...

O silêncio tomou conta do grupo.

- Bem, vamos voltar ao trabalho.

* * *

- Eu acho que não devíamos ter deixado Rafael lá... - Disse Gabriel.

- Todos nós não queríamos isso, mas é o que tivemos que fazer. - Respondeu Henry.

O esquadrão agora voltava para casa, mas há qualquer momento, eles teriam de estar prontos para a próxima missão, para o próximo combate.