Here Isnt Alice

Escape and forget me, please


John estava sentado em um jardim, do lado Norte do castelo, queria ficar um pouco afastado das coisas, era difícil ter que mentir para Annie, mesmo com muita vontade de dizer toda a verdade e enfrentar sua mãe, mas isso seria muito precipitado e ele só terminaria sem cabeça, no final das contas quanto mais se passa o tempo lá, mais as pessoas ficam estranhas e viram bichos, querendo apenas o poder, a verdade era que em poucos anos “Underland” perderia todo o seu encanto e deixaria de ser um mundo de maluquices, engraçado e divertido, no qual desde o inicio era para ser. O mundo humano era tão cruel quanto o dele, nada era diferente. Exceto que eles tinham magia, o que só piorava a situação. Mesmo que não fosse apaixonado por Annie, usar a alma de alguém era imperdoável e ele não queria se tornar igual sua mãe. Não era a primeira solução que iria trazer paz e ele precisava de um tempo para pensar em uma segunda.

Com seus pensamentos ocupados, John não percebeu uma certa aproximação, de Elizabeth.

- Posso ser velha e trabalhar para uma louca, mas acho que você deveria compreender porque faço tudo isso...

- Beth? – John se virou, um pouco surpreso – Não esperava encontrar ninguém aqui...

- Está abandonado a tantos anos que nem eu pensei que um dia iria te encontrar por aqui, mas John, porque tantas duvidas? – Perguntava preocupada

- E você quer mesmo saber? Não vou ficar contando as coisas para você Beth, depois você morre para a minha mãe e... você é capacho dela, sabe como isso me fere?

John parecia perturbado, mas Elizabeth estava um pouco mais, fazia tudo apenas pela segurança dele, já que era tudo o que lhe importava desde o dia em que viu aquele rostinho recém nascido sorridente. A rainha estava feliz em ter seu filho, mas ela só tinha planos maléficos para a criança e não dava a menor atenção ou afeto ao menino, assim Elizabeth se ofereceu para cuidar dele, o que certamente agradou a rainha, mas após anos cuidando dele, se tornou um filho e agora já velha, ela faria tudo, como uma mãe, para proteger o seu bebe, mesmo ele não querendo e a odiando.

- Existem coisas que você não pode entender John, que... quando chegar a hora, você verá que tudo o que fazemos nesse mundo, menos sua mãe, é por amor... todos os pensamentos egoístas, as brigas, as falas e as coisas ruins que fazemos, é tudo pelas pessoas que amamos e queremos proteger, mesmo que elas não queiram ser protegidas... por isso, meu filho, eu peço, não fique parado sofrendo e apenas achando que o Destino vai tomar conta, pensando que perdeu, vá atrás da menina que você ama, lute pela alma dela, e mesmo que você tenha que derrubar a todos nós, mostre o quanto você a quer... tenho certeza de que ela vai entender e voltar a retribuir totalmente...

- Beth... – John parou por alguns minutos, ponderando a situação - ...eu entendi...quer dizer, estou entendendo a onde quer chegar.. Obrigado.

E com isso, se abraçaram.

Já do outro lado do castelo, uma certa Rainha impaciente, tentava arrumar seus planos, ficando um pouco aflita com algumas propostas de uma certa loira sexy.

- ACHA QUE SOU IDIOTA REIRA? – gritou a Rainha, como sempre

- Majestade, é a melhor forma de deixar a menina triste, separar os dois por uma longa distancia!

- MAS..! – a rainha parou por alguns minutos, se recompondo – Mas isso daria uma chance a menina de fugir, ela poderá ir embora e ai não ganhamos nada...

- Majestade, não está pensando direito... – Reira continuo, calma - ...pense o quanto a menina ficou abalada quando ficou longe do Adam, e por mais que ela queira fugir, se sente em divida com ele, se deixarmos ela escapar, mas deixarmos Adam aqui, ela com certeza se dará conta de muitas coisas, e verá muitas coisas, tenho certeza disso, assim voltará para buscar Adam, e em troca, pedimos sua alma, que do jeito que aquela menininha é burra, dará... E é claro, serei sua espiã nessa historia toda, darei uma de boazinha, ajudando eles a escaparem, mas antes farei um acordo com Adam, como se ainda amasse ele...

- REIRA! ISSO É BRILHANTE! Esperando de uma menina tão... tão cheia de malicia e maldade como você! Me daria orgulho em ver meu filho assim, tão empenhado que nem você...Mas antes de irem, terei que dar um jeito de Annie saber que John é meu filho, assim ela se enfraquecerá mais rápido e ele terá o troco por não ter feito seu papel direito...

O plano de Reira tinha seus riscos, mas de uma coisa ela tinha razão, Annie estava tão ligada a culpa por ter metido o Chapeleiro nessa historia toda, que iria fazer de tudo para que ele saísse vivo e bem disso tudo, nem que pra isso tivesse que dar sua alma. As duas continuaram conversando sobre os detalhes do plano, quanto mais perverso, mas a Rainha se admirava e gostava, era outra tática de Reira para estar sempre por cima, a mulher era realmente má.

Enquanto tudo isso acontecia, o Chapeleiro andava rapidamente pelo castelo com Annie em seus braços, mole como um corpo sem vida. A menina não respirava, o que o estava deixando louco, se ela morresse seria um problema, mas ela tinha comentado com ele algo, então tentou manter a calma enquanto andava.

- Eu vou te ajudar... por favor, resista... – ele dizia baixo, mesmo sabendo que ela não escutaria.

Quando Reira estava saindo da sala, deu de cara com o Chapeleiro e Annie, caída em seus braços.

- O que está acontecendo aqui Adam? – Perguntou, fingindo preocupação

- Já falei para não... Ah, deixa pra lá, eu preciso do remédio de Annie, ela...não sei, tem uns problemas esquisitos que só com o remédio resolve, e não acredito que estou falando isso, mas pode me ajudar Reira? – Perguntava as pressas, olhando para Annie

Aquela situação só tinha favorecido Reira, que tinha acoplado aquilo, automaticamente, ao plano e seria perfeito. Fez uma cara de preocupada, e pegou Annie no colo, acariciando o rosto da menina.

- O que é que está fazendo? – Ele perguntava um pouco curioso, suspeitando da ação de Reira

- Xii... Fique quieto... vou tentar...

Reira viu algo caindo do bolso de Annie, um tubinho com um nome estranho, deveria ser o remédio dela. Assim, Reira puxou sem que o Chapeleiro percebesse e voltou a atuar.

- O que você vai tentar Reira?

- Ia tentar usar o meu poder mental para ajudá-la, mas estou vendo que isso não ajudará em nada, não é mesmo? – Perguntou, fingindo estar desapontada

- Não Reira, o problema da Annie é no coração...

Na mosca, ele estava confiando um pouco mais nela, o que a deixava mais animada para continuar seu teatrinho.

- Ah! Será que isso pode ajudar? – Falou como se estivesse tendo uma idéia, puxando o frasco de seu bolso

- A onde achou isso?

- Roubei da Rainha, ela foi tão má comigo, e percebi suas más intenções Adam, e ela estava guardando isso, então resolvi roubar, sabia que serviria para alguma coisa...

- Certo.. depois discutimos o quão má ela é, agora de o remédio para Annie.. – ele falou um pouco irritado, se abaixando e ficando perto de Annie

Reira abriu o frasco, tirando um comprimido e colocando na boca de Annie, fazendo-a engolir. Na mesma hora, Annie começou a tossir e a abrir seus olhos, vendo Reira, uma desconhecida até então, e o Chapeleiro.

- O que? – Falou assustada, se levantando

- Calma querida, cuidamos de você é isso... – Reira comentou em tom amoroso

- Eu desmaiei? – Annie perguntou ao Chapeleiro, ignorando um pouco Reira

- Sim e está bem agora, Annie, porque estava sem o seu remédio? – O Chapeleiro perguntou um pouco desapontado – Você poderia ter morrido...

- Isso é o que todo mundo quer ultimamente, então não faria muita diferença... a onde estamos? – falou confusa, finalmente se levantando e se apoiando no Chapeleiro

- Estamos perto da sala da Rainha, acho que seria interessante irmos para um lugar um pouco melhor, tenho uma coisa para conversar com vocês e John...

- Está certo, primeiro, quem é você? – Annie perguntou aborrecida, se virando para Reira

- Ah, não disse, sou uma empregada contratada pela Rainha, mas... eu explico no caminho senhorita Annie.

Annie não se convenceu muito das explicações de Reira no caminho e se sentiu um pouco excluída da conversa, já que o Chapeleiro estava dando uma atenção especial a Reira por estar chocado com a mudança repentina, mas a única coisa que eles deveriam ter pensando era que as pessoas raramente mudam e nunca é do dia para a noite, então era um erro fatal que o coração do Chapeleiro estava cometendo, ficando ao lado de Reira, e pensando o quanto ela estava mudada, se iludindo um pouco com aquela sensação de ter seu coração aquecido por aquele sentimento de paz, que não sentia a um bom tempo.

- Bom, chegamos... – Reira disse, abrindo a porta do quarto de Annie e John -...vou buscar o John, Adam, você fica aqui com ela, certo?

O Chapeleiro apenas balançou a cabeça positivamente e se sentou com Annie na cama, olhando para Reira, até ela fechar a porta e sair.

- Adam é? Esse é o seu nome verdadeiro? – Annie perguntou interessada, se afastando dele – E obrigada por me dar um apoio até aqui, não sabia se ia conseguir...

- Tudo bem, já estou fazendo tudo por você, uma coisa a mais ou uma a menos, não seria nada... – ele respondeu perdido em seus pensamentos.

- Quem é ela Chapeleiro?

- Ela já te explicou...

- É a mulher não é? Aquela que você falou comigo antes de sermos pegos pela Rainha...

O Chapeleiro se virou assustado, como ela sabia daquilo? Mas nenhuma palavra saiu de sua boca, apenas uma expressão culpada, enquanto olhava aqueles olhos azuis curiosos por uma resposta.

- É... Annie, é ela... – foram as única palavras que ele pronunciou

- Que bom! – Annie gritou animada, quebrando o clima pesado – Quero dizer, você finalmente esta vendo um lado bom dela, você estava tão triste quando falou dela e agora olha só pra você, animado e todo bobo com o jeito que ela está ajudando, isso é ótimo!

Não, aquilo não era ótimo, Annie estava sentindo um peso no coração que não entendia, não gostava daquela mulher e nem do jeito que se achava perto deles, mas tinha medo desse sentimento, porque mais cedo ou mais tarde ela iria embora e não poderia nunca mais ver nenhum deles, ou seja, ela não devia se meter na vida de ninguém por ali, não o que fosse interferir no tempo que ela não estivesse mais, assim resolveu dar apoio, se aquilo o fazia feliz, logo logo a faria feliz também.

O Chapeleiro por sua vez continuou se surpreendendo com o jeito de Annie, mesmo estando explicito que ela não tinha gostado de Reira, ela estava torcendo para ele conseguisse encontrar sua felicidade novamente, afinal era uma coisa que ele tinha perdido a um bom tempo, até antes mesmo de perder Reira, mas ele tinha encontrado um pouco dessa felicidade com Annie, e ainda queria entender o porque de ser tão apegado a uma menina como ela, que só sabia irritar com aquele jeito corajoso que ele sabia muito bem que não era tão corajosa assim. Esperai, ele sabia mesmo?

- Chapeleiro? – Annie chamou, empurrando o braço dele levemente

- Anh? O que foi? – Ele finalmente respondeu, voltando de seus pensamentos

- Estava falando com você, mas você nem ao menos se deu ao trabalho de responder, está tudo bem mesmo? – Annie perguntou emburrada

- Ah, não me enche pestinha, eu preciso pensar um pouco e esse seu jeito infantil não ajuda em nada... – ele disse de forma grossa

- Não precisa ser tão chato assim quando tocamos em assuntos pessoais...

- Ah, vai se magoar com outro, não tenho tempo para isso agora Annie, estamos presos, se lembra? E a culpa é sua!

- A culpa é minha? É, tudo bem, nisso você tem razão, mas eu não admito que você fale nesse tom comigo!

- Será que não podemos passar um tempo juntos que já começamos a brigar? – Ele disse completamente irritado, se levantando

- Não sei! Talvez seja melhor você perguntar para si mesmo, já que foi você que começou essa discussão sem sentido, imbecil... – disse magoada

- É, mas talvez você também possa responder, já que continuou a briga, sua idiota...

O silencio predominou e cada um foi para um canto. Era sempre assim, desde a primeira vez que Annie tocou em assuntos pessoas, ele agia assim, como se ela fosse uma criança chata que ele não queria por perto bisbilhotando em sua vida passada. Com essa pensamento, a irritação de Annie foi sumindo rapidamente, dando lugar a uma curiosidade extrema e um sentimento de compaixão estranho.

- Você quer que eu fique irritada com você e pare de tocar no assunto porque você sofre ao lembrar dessas coisas não é mesmo? – Annie perguntou de uma vez, mais calma dessa vez

- Você não sabe de nada... ninguém sabe, alias, quem é você? Um troféu! Isso que você é aqui Annie, só isso, não tem nada de especial em você, nunca terá, aqui você não é nada, assim como todos os outros, e sabe porque? Porque você só tem valor morta... só isso...

As palavras ditas sem pensar sempre tem suas conseqüências, e foram exatamente as piores que o Chapeleiro procurou com aquelas palavras tão duras, mas tão reais para Annie. Aquilo cortou completamente todos os pensamentos dela, a fazendo se aproximar dele quase que correndo e o virar para ela, o olhando nos olhos, bem perto.

- Olha na minha cara e me diz isso... vai... quer que eu me sinta mais mal do que já estou?

O momento foi cortado pela perto se abrindo e Reira e John aparecendo. Na mesma hora Annie soltou ele e se afastou, o deixando apenas com alguns pensamentos estranhos e com uma grande frase na cabeça “Porque eu disse isso?”

- Vocês estão bem? – Reira perguntou desconfiada

- Annie! Reira me disse o que aconteceu, você está bem? – John perguntou aos prantos, indo até Annie, a abraçando

O clima ruim foi passando aos poucos, quando Reira foi contando seu “plano” a eles e mostrando as chaves que tinha roubado de uma sala que só os guardas têm acesso, e era a mesma chave que tiraria aquelas pulseiras das mãos deles e do pescoço do Chapeleiro. Todos se animaram com a noticia, mas Reira tinha algumas cartas na manga para fazer com que só Annie e John fossem embora.

Como já estava de noite, Reira escoltou o Chapeleiro até o quarto dele, deixando Annie e John para trás com suas esperanças transbordando. A noticia era boa, mas Annie ainda precisava decidir o que ia fazer, mas John já sabia. Reira tinha sido um pouco mais esperta e tinha convencido John a fazer um pacto com ela, só eles sairiam de lá e ele poderia levar Annie embora, para o outro mundo e nunca mais voltar lá, deixando tudo para trás, mas seria difícil pedir tal coisa a Annie e como todos já sabem ela jamais concordaria em deixar ser ser e seu charmoso chapéu para trás.

Chegando ao quarto Reira começou a colar as cartas na mesa para Adam, o Chapeleiro.

- É o seguinte, nós ficamos e eles vão Adam...

- Como é que é? – ele perguntou perplexo – Eu sabia que tinha coisa ai, eu sabia...

- É simples, se não aceitar eu não deixo a menina ir embora e faço da vida dela um inferno... não percebe o que está acontecendo? Ela está tomando você, fazendo você ficar diferente, eu quero o meu Adam de volta...

- Sinto muito Reira, isso não vai acontecer, eu preciso ajud—

- Não! Não precisa! – ela gritou um pouco desesperada e logo depois continuou, mais calma – Já falei com John e ele disse vai cuidar dela, não acha que é o certo? Afinal, ela está aqui por ele, ela veio até aqui para salva-lo Adam, ou se esqueceu que você é um mero pião nisso tudo... ô menininha esperta viu...

- Como? Annie não mentiria pra mim...

- Pensa assim, ela vai esquecê-lo, já que quando voltar ao mundo humano irá ter sua vida normal e assim eu tiro as lembranças dela de você para que você esqueça ela Adam, assim todos saímos ganhando...

É verdade, Annie esqueceria dele assim que passassem alguns meses, era esse o processo, quando ela voltasse ao mundo humano ela pensaria que aquilo tinha sido apenas um sonho e iria viver sua vida junto de John e seus outros amigos, sem se preocupar com...ele.

- E então..?

- Está bem Reira, se esse é o melhor para ela...

Ele dizia finalmente derrotado por um sentimento que achou que nunca teria, ciúmes e uma raiva tremenda de John.

No outro dia, logo pela manhã Reira foi até o quarto deles com o Chapeleiro, pegando a chave e tirando as pulseiras de todos, inclusive a dela e o colar do Chapeleiro. Annie estava toda animada, achando que todos iriam fugir juntos, o que apertava ainda mais o coração do Chapeleiro ao olhar aqueles olhos infantis cheios de alegria pela primeira vez. Andaram em silencio entre os arbustos e as arvores, despistando os poucos soldados que tinham ali. Assim que chegaram no muro, Reira mostrou uma passagem secreta que tinha ali, fugitivos antigos tinham feito aquilo.

John foi o primeiro a passar, e Annie não queria ser a segunda, queria que fosse o Chapeleiro, mas assim que puxou o braço dele, ele travou ficando parado ali.

- Pare de piti Chapeleiro, estamos quase saindo... vem...

- Não... – ele disse baixo, sem olhar para Annie

- Como é que é? Brincadeiras agora não! Já falei para ir logo...

- Você não escutou? Eu não vou Annie, vai logo, eu vou ficar aqui, com a Reira...

- Não, você e a Reira vão juntos, não era isso? – Annie perguntou um pouco desesperada ainda puxando o braço do Chapeleiro

- Não...

Aquilo seria demais para ela, mas quando iria falar alguma coisa um alarme disparou e varias guardas começaram a correr naquela direção, eles não tinham muito tempo.

- Vai logo Annie! – O Chapeleiro gritou – Eu... eu vou ficar bem tá? Só, me vai e me esquece, eu ficarei bem aqui... foi um prazer conhecê-la... Adeus... – Disse com um belo sorriso melancólico em seu rosto.

Annie ia continuar protestando, não ia sair de lá sem ele! Mas ele tapou a boca dela com a mão, a empurrando pelo buraco e fechando.