Herança

Capítulo 21


- Meninas... - Lita falava com uma certa calma controlada - por favor... eu limpei este quarto hoje, e estamos sem robôs de limpeza, não me joguem farinha de novo embaixo da mesa.
- Tá bom mãe, mas seria mais fácil se usássemos a cozinha.
- É só pagar o aluguel - ela sorriu.
- É mais caro que o do quarto - reclamou Marina - se der um desconto...
- Já fui muito boazinha deixando usarem o quarto de hóspedes como fábrica de salgados - respondeu ela, franzindo o cenho, dando um ar mais inquisidor ao seu rosto - lembrem-se da regra principal desta casa. Tudo o que envolver empreendimento, deve ser negociado. Nada de exceções. Vocês concordaram com isso quando decidiram ser empregadas no restaurante, e não participantes da família.
- A gente só tinha uns dez anos quando a senhora fez a proposta, não sabíamos...
- CALA A BOCA MARINA - gritou Allete para ela - Não é com a nossa mãe que você está falando, mas com a nossa empregadora. Pode ser despedida, sabia?
Marina a olhou assustada e depois encarou a sua mãe, que a estava olhando com os braços cruzados, ao pé das escadas, com uma expressão um tanto irritada, de forma a confirmar o que Allete tinha dito. Claro que ainda era um pouco difícil para as crianças entenderem bem o porque dela separar a vida em família com a vida de empregados e patrões. Mas era uma maneira muito eficiente de nenhuma delas tentar obter vantagem daquilo, bem como educa-las para quando tiverem que, realmente, se cuidarem por conta própria.
Se bem que, neste ponto, não precisava se preocupar. As três já tinham um negócio próprio, e ela precisava negociar com elas para ter exclusividade em algumas coisas. E Joynah já estava aprendendo a cobrar alto por isso, já que ela era a principal dona dos quitutes mais desejados.
- Desculpa... mãe - disse ela abaixando a cabeça.
- Vão trabalhar - disse ela já assumindo uma expressão mais calma - e lembrem-se! Barulho é só até as dez da noite. Depois disto, eu quero as minhas filhas aqui em casa, e não três mocinhas com seu primeiro empreendimento, fui clara?
- Sim mãe - disse Allete - muito clara.
As duas seguiram em direção a \"fábrica\" delas e Lita, sorrindo, foi para a cozinha. Quase foi atropelada por Joynah, carregando uma panela enorme com os ingredientes que iria usar para fazer as massas dos salgadinhos. Podia notar que ela estava tendo dificuldades com aquilo, e, involuntariamente, riu em silêncio. Antes, ela levava aquilo com apenas uma mão, agora, mesmo usando as duas, tinha grande dificuldade, sem contar que tinha de dar passos curtos, quase como se fosse uma marionete.
- Desculpa - disse ela quando percebeu que quase deu um banho de farinha, ovos, azeite e outras coisas na sua mãe - é que ainda preciso me acostumar com minha nova força.
- E senso de equilíbrio - completou ela - mantenha as costas eretas, filha, ou vai ter dores lombares terríveis daqui há algum tempo.
- É que não é fácil carregando isso!
- humpft! - murmurou ela indo para as suas costas. Segurou com a mão direita na sua nuca e com a esquerda, espalmou a base de sua coluna. Em um rápido movimento, empurrou suas costas ao mesmo tempo em que mantinha a sua nuca imóvel, forçando-a a ficar ereta assim.
- Pronto! É só manter assim - disse ela - e vai logo, antes que eu não resista a lhe fazer cócegas.
- Mãe... você não ousaria! Isso foi há duzentos anos!
- Não? Ainda estou com aquilo atravessado na garganta! Aquelas taças de cristais foram um presente de casamento.
- Estou indo...
Joynah subiu as escadas em passo acelerado, logo desaparecendo dentro do quarto. Perfeito! As crianças iriam ficar ocupadas por algumas horas - talvez mais, já que Joynah ficava tão cansada quanto qualquer pessoa agora - o que lhe dava uma ótima oportunidade para, mais uma vez, mostrar a si mesma porque as segundas-feiras eram os seus dias de semana favoritos. Hum... onde estava o seu marido? Ele não tinha jantado com ela. Na verdade, ele não tinha jantado mesmo! Não devia estar em casa, portanto, tinha que estar em um dos seus dois locais favoritos. Como já era noite, não devia estar na torre do castelo, restando apenas um lugar para procura-lo.
Ela abriu a porta da casa e olhou a esquerda. Lá estava ele, sentando na grande cadeira de balanço da varanda. Tinha sido ele mesmo quem a tinha construído, com madeira de uma árvore do templo Hikawa que tinha sido derrubada em um vendaval. Tinha ficado linda. Grande o bastante para três pessoas – ou três pestinhas, como eram suas filhas na época – e com grossas correntes cromadas, presas em cada \"braço\" desta, para a manter elevada e permitir um balanço gostoso. A almofada praticamente estofada no encosto e assento tinha sido um toque especial dela, já que era muito gratificante cochilar ali, no fim da tarde, pouco antes de irem abrir o restaurante.
Ele estava meio deitado nela, com a perna direita no assento e as costas apoiadas no braço – também estofado – esquerdo da cadeira. Seu braço direito estava apoiado em cima do encosto, e ele parecia olhar para as plantas do jardim, a terapia particular de Allete. Ela ficava furiosa quando a neve do inverno cobria tudo.
Ela alisou o seu cabelo com as mãos e ajeitou a sua roupa, como se estivesse se preparando para um passeio. Foi até ele, e, sem cerimônia ou licença, sentou-se em cima da sua perna, deitando-se em cima do peito dele. Ele a olhou com um sorriso fraco e ela lhe deu um beijo, logo depois, encostou a cabeça no seu ombro, e ficou olhando também para o jardim.
- Você anda muito quieto – começou ela – desde que fomos a casa de Michiru... já te dei uma semana, e você continua assim – olhou para ele, que ainda não a encarava de volta, preferindo manter o olhar no jardim – afastado de mim. Quando nos casamos, me lembro de ter falado algo do tipo na alegria ou na tristeza...
Ele virou a cabeça e ficou olhando nos seus olhos. Podia-se ler uma certa agonia nestes.
- Meu amor... – ela começou a passar os dedos na sua testa, na linha formada pelas raízes de seus cabelos - ...o que o está preocupando?
- Memórias – murmurou ele – apenas memórias.
- Não me faça perguntar coisas que ainda não estou interessada – pediu ela, em uma voz um pouco triste – você fica tão chateado quando começa a responder... e eu detesto ver você assim. É como se eu mesmo ficasse chateada, sentindo a agonia que você sente.
- E você a sente mesmo – ele voltou a olhar para o jardim.
- Como? Eu... sinto o que você sente?
- Em um certo nível, sim. Eu fui um guerreiro estelar, querida. Mesmo não sendo mais, parte do que esta identidade possui, eu ainda carrego. Nós não nos casamos no dia em que estávamos no altar, nem quando os advogados registraram o \"contrato\". Estávamos casados cerca de dois meses antes disto. No dia em que nos abraçamos e nossos corpos reluziram com nossos poderes internos. Nossas sementes estelares fizeram uma ligação permanente naquele dia, uma ligação que só pode ser quebrada quando um de nós partir...
Lita sentiu uma súbita dor lancinante em seu peito, assim que ele disse aquilo. Não sabia se era devido a surpresa dele ter lhe contado isso ou se estava mesmo sentindo uma agonia vinda dele. Felizmente, logo passou.
- Nós... estamos casados há séculos e você nunca me disse isso?
- Ah... eu disse sim. Muitas vezes, alias – ele a olhou nos olhos e começou a fazer um carinho em seus cabelos, especialmente na base de seu rabo de cavalo – disse isso na noite de núpcias, e em todos as aniversários de casamento. Sempre disse que nossas almas estão irremediavelmente unidas, lembra? Mas acho que você sempre achou que eu estava sendo metafórico. Por que acha que nunca brigamos? Um pode compreender o outro. Eu confio minha vida a você e você confia a sua vida a mim. Acha que tal nível de confiança surgiu apenas por vivermos sem segredos um para o outro? Como você sempre sabe o que precisa fazer para me fazer feliz? Como eu sempre sei como faze-la sorrir? Porque, mesmo agora, você está apenas curiosa com o que estou falando, e não indignada, por parecer que eu nunca mencionei algo tão importante e pessoal assim?
- Você... – ela olhou para baixo, meio envergonhada de si mesma, por nunca ter pensando mesmo a respeito daquilo – nunca tinha sido tão convincente antes.
- A única diferença – disse ele sorrindo com uma certa amargura – é que você não sabia o que eu tinha sido. Um guerreiro estelar. Bom, mesmo que soubesse, acho que não ia entender o significado disto. Só agora, depois que Setsuna deu com a língua nos dentes, dois anos atrás.
- Você... você sabe agora o que ela nos contou?
- Sei que ela disse o suficiente para vocês não me perturbarem muito. E acho que isto inclui uma certa pessoa...
- Você e ela... suas sementes...?
- Sim – novamente ela sentiu aquela dor, e agora podia reconhece-la. Uma dor de perda, uma dor como aquela que se sente quando quem você mais gosta se afasta para sempre.
- Querido... – ela o abraçou, sentindo um grande carinho por ele. Fazendo sua paixão crescer internamente até explodir. Ele era a primeira prioridade em sua vida, logo seguida por suas filhas. E, naquele instante, fez valer isto também em seus sentimentos. Apostando que, se ele também podia sentir parte do que ela sentia, isto poderia preencher um pouco o vazio que ele ainda devia sentir.
- Lita... – ela olhou e viu que seu sorriso estava mais... feliz... – obrigado.
- Disponha. Afinal, acho que estou aqui para isso, não é mesmo? Cuidar da sua felicidade, assim como você andou cuidando da minha, segurando essa dor que você ainda carrega.
- Ela vai passar um dia. Mas, até lá...
- Shhhh... – ela o fez ficar quieto com um beijo – apenas fique quieto e sinta o quando o amo. Assim como eu faço o mesmo...
Até lá, ele precisa suportar a ligação harmônica com uma semente estelar banida da existência.
Lita não sabia de onde aquele pensamento veio. Apesar de parecer ser continuação do que ele estava falando, não parecia ser ele. Será que também podiam compartilhar pensamentos?
Estranhamente, ela não se importou com aquilo. Deveria ter ficado assustada, curiosa, impressionada, talvez até receosa. Mas ela simplesmente esqueceu o fato. E não voltou a pensar nele. Tudo o que queria era que ele sentisse o seu calor. O calor humano de seu corpo, ali, colado ao dele, para que este preenchesse um pouco o vazio que estava em seu coração. Um vazio que - não sabia como, mas sabia – ela sempre tinha preenchido, desde o momento em que pos os olhos nele.

-x-

- Ai minhas mãos...
- O que foi Joynah? – perguntou Allete sorrindo – está querendo uma folga é? Lembra de como ficava em cima da gente nos chamando de fracas?
- Eu sei que fui injusta - disse ela – mas nunca pensei que fazer massa para salgadinhos podia dar caimbras. São poucas as ocasiões em que ando sentindo falta do que eu era antes. E esta é uma destas vezes.
- Eu não – riu Marina – agora sobra muito mais comida aqui em casa. E podemos usar a sua geladeira para as nossas coisas.
Estavam na metade das encomendas de salgadinhos que Allete tinha conseguido. Em uma situação normal – melhor dizendo: quando Joynah era permanentemente a sailor Terra – já teriam acabado. Agora, no entanto, ela não tinha mais seu vigor quase inabalável, nem podia ser tão rápida quanto antes. Demorou uma hora a mais que o normal para se certificar de que as massas estavam com o gosto certo. Ela ainda sabia como fazer as coisas, mas precisava se certificar disto agora. Felizmente, as massas e os recheios eram a única parte manual do processo. Todo o resto podia ser feito pelas máquinas que tinham comprado, para dar a forma, embalar e até etiquetar os pacotes de salgadinhos crus. Mais duas panelas de massa com uma mistura especial de alho e azeite e estava acabada a parte mais dura do processo. Daí era só por a massa e os recheios nas máquinas e assistir os pacotes saírem do outro lado. Até lá, contudo, ela continuaria reclamando de como seu corpo estava fraco e diferente de antes.
Além destas sensações óbvias, haviam outras, que ela não teve coragem ainda de comentar com ninguém. Por exemplo: era estranho sentir o frescor de uma brisa, ou o calor de uma chama. Ela nunca tinha tido tais sensações antes, de forma que, para ela, tudo isso era novidade. Mesmo ter queimado o dedo no fogão do restaurante tinha sido uma sensação nova – desagradável, é verdade, mas, mesmo assim nova. E ela ficava maravilhada com estas sensações. O melhor mesmo foi sentir o calor da mão de Herochi. Tinha sido uma experiência tão linda, que ele não conseguiu entender porque ela tinha ficado muito melosa de repente. Claro que também tinha coisas incômodas. Ela sentia falta de algo. Falta de alguma sensação que não podia ter como antes. Mas não conseguia definir o que era, provavelmente não existiam palavras para descrever.
A palavra que mais se aproximava seria isolamento. Ela se sentia isolada de alguma coisa. Não dos elementais, que seu pai tinha dito que a consideravam como uma filha, era outra coisa. Uma coisa que ela não conseguia conceber ou compreender, mas, fosse o que fosse, era uma parte de si, uma parte dela própria que tinha de ficar separada, quando ficava em sua forma \"normal\".
Então era isso o que era ser uma pessoa comum. Machucar-se facilmente; suor no corpo – coisa extremamente irritante, alias – as roupas esfregando-se na pele – ela podia sentir isso agora, embora já tenha se acostumado – o ar entrando pela boca e seguindo rumo aos pulmões; A linda cor anil do céu – antes, ela podia ver vários tons do mesmo – o calor de um outro corpo humano – sua nova sensação favorita – dor quando batia muito forte em alguma coisa, e, o fim de sua fome.
Essa era a melhor de suas perdas. Não sentia mais seu estômago exigir que algo fosse posto nele. Mas... mesmo isso era diferente. A fome que ela sentia agora, era diferente da de antes. Não sabia classificar, mas era diferente. Outra diferença era que agora, ela sabia o quanto sua comida era gostosa, pois finalmente podia comparar o gosto dela com as feitas por outros. A vida inteira tinha sido uma mestra suprema na culinária, e não conseguia se dar conta disto.
- Filhota! – era a voz de sua mãe vinda lá de baixo.
- Mãe? – disse ela surpresa – ESTOU AQUI EM CIMA, MÃE!
Que burrice... lógico que ela sabia que ela estava lá.
- Pegue seu visor, a rainha quer falar com você.
- Eu já volto – disse ela pegando uma tolha de prato e tirando um pouco da massa e farinha das mãos.
- Salva pelo gongo – disse Marina – mas não vai tirar o corpo fora não. Semana passada passamos um sufoco para fazer tudo isso sozinhas, enquanto vocês se divertiam no passado.
Joynah mostrou a língua para elas e pegou a fita que usava no cabelo, para manter o seu rabo de cavalo – atualmente, não mais empinado, como o da mãe – ela a colocou na sua testa como uma tiara e, como se fixasse nesta, um visor cobrindo os seus dois olhos surgiu. Ela fez uns movimentos com as mãos para pegar a transferência de chamada que sua mãe tinha iniciado e recebeu a ligação da rainha. Ficou surpresa de aparecer a imagem dela no seu visor. Era raro comunicações com transmissão de imagens por eles.
- Boa noite majestade, tudo bem?
\"- Estou sim, obrigada. Eu queria saber se Diana está aí com vocês.\" - Ela pôde ver Luna do lado dela, com os olhos quase que suplicando.
- Não, não está. A última vez que a vi foi na escola, durante o intervalo. Um momento – ela olhou para Marina – Marina, Diana disse se iria para algum lugar hoje?
- Não – respondeu ela pensativa – não disse nada.
- Quando a viu pela última vez?
- Na saída da escola. Ela seguiu na direção normal do castelo. Nada indicou que iria para outro lugar antes.
- Majestade...
\"- Eu ouvi. Obrigada por perguntar a sua irmã. Onde será que esta peralta se meteu?\"
- Não é um pouco cedo para ficar preocupada com ela? Ainda são oito horas. Talvez ela esteja no shopping, ou passeando no parque da canção.
\"- Ela não costuma fazer isso sem avisar que vai passear\" – disse Luna aflita – \"ela nunca faz isso, a menos que esteja investigando algo que surgiu de repente, como das outras vezes. Já falei com a Anne, mas ela disse que sentiu ela se afastando, até sair de seu alcance, entre as cinco e seis horas.\"
- Hum... espera um pouco! Não desliguem.
Joynah saiu correndo do quarto de hóspedes – que estavam usando como fábrica de salgadinhos – chegou ao corredor superior que dava acesso aos quartos da parte de cima da casa e, colocando a mão direita no corrimão, deu um impulso para pula-lo. Pouco antes de seus pés saírem do chão, ela percebeu a besteira que ia fazer, e se agarrou com as duas mãos neste. O corrimão fez um som forte como se vários pedaços de madeira rangessem ao mesmo tempo, e Joynah conseguiu se segurar neste, com a perna direita em cima do mesmo.
- Joynah, o que foi? – perguntaram suas irmãs que saíram do quarto atrás dela, logo depois de terem ouvido o som.
- Eu... esqueci que não posso mais voar a qualquer momento – disse ela assustada – quase que levei um tombo.
- Distraída!
Sem se incomodar em responder a Allete, ela seguiu pelo corredor correndo um pouco e desceu as escadas fazendo um barulhão.
- Pai! – gritou ela assim que chegou na sala – paiê!
Nada. Ele não estava lá. Correu até a cozinha e não o viu, foi para o salão de jogos e nada, a mesma coisa no bar e na sala de troféus, onde a família guardava as taças ganhas em competições. A esmagadora maioria era da sua mãe, referente a artes marciais.
Ela voltou a sala de estar e ficou pensando onde ele estaria. Também não tinha visto sua mãe, o que podia indicar que estavam juntos, e que talvez tivessem saído. Abriu a porta de entrada da casa para ver se o carro estava na garagem, e, surpresa, viu ambos, seu pai e sua mãe, sentados na grande cadeira de balanço da varanda. Sua mãe estava sentada no colo dele, fazendo alguns carinhos nos seus cabelos. Não era algo fora do comum, mas eles pareciam um pouco... diferentes desta vez.
- Filhota? Tome cuidado... – ela sorriu – pode acabar vendo coisas embaraçosas...
- De vocês? Duvido! Sempre são muito reservados. Pai, desculpe atrapalhar seu namoro, mas... você pode sentir a Diana?
Ele fechou os olhos um pouco e se concentrou. E bastante, considerando o quanto seu corpo começou a ficar relaxado.
- Sim... mas ela está bem longe... perto do limite de minha capacidade.
- Cinqüenta quilômetros? – Joynah assobiou – nossa! Onde será que ela está? E como chegou lá tão rápido? Mesmo em sua forma de gato, iria levar um dia para percorrer esta distância, se é que conseguiria suportar.
- Ela continua se afastando – disse ele ficando sério – bem mais rápido do que seria de esperar se estivesse apenas correndo. Deve estar em algum veículo.
- Vou me transformar e voar até lá - disse ela preocupada. Opa! Majestade! A senhora ouviu?
\"- Sim, eu ouvi. Vou pedir para Serena ir com você também, assim que ela chegar aqui. Ajam com cautela.\" - e desligou.
- Eu vou com você – disse sua mãe se levantando – se não se importar em me dar uma carona...
- Sem problemas – Joynah sorriu – deixa só eu pegar meu broche... hum... não é melhor o papai ir? Ele pode sentir onde ela está. Nós vamos ficar meio perdidas sem a orientação dele.
- Esta não é uma função primordial de um guardião - disse ela estreitando os olhos - já é hora de você, e todas as outras, respeitarem a área de atuação de cada um.
- Se é assim... eu também não deveria ir...
- Não deveria? – ela a olhou de uma forma quase ultrajada - Você é uma inner, lembra? Honorária ou não, você tem as mesmas responsabilidades que eu. Para de enrolar e se transforme logo. E avise as suas irmãs que elas devem ficar em casa, e só irem se forem convocadas.
- Sim senhora - disse ela entrando um pouco chateada com a \"dura\" que levou. Se bem que não sabia se quem tinha dado a dura tinha sido sua mãe ou a sailor Júpiter. Talvez as duas...
Ela subiu até o seu quarto e, na volta colocou a cabeça no quarto de hóspedes e disse que tinha de sair como sailor Terra. Ambas logicamente se prontificaram a ir junto, mas ela explicou – suavemente – que tinham que ficar lá e esperar serem chamadas, se fosse o caso. Voltou até a sala de estar e encontrou sua mãe já transformada, e esta lhe deu uma nova bronca por ainda não ter feito o mesmo.
Envergonhada por levar dois sermões no mesmo dia – na verdade, com um intervalo de dois minutos – ela se transformou e voou, carregando a sua mãe, pela clarabóia do sótão. Tinha sido construída há coisa de um ano, especialmente para ser usada assim. Apesar das indicações de seu pai, sobre para onde seguir, ela ainda se perguntava o porque sua mãe, e não ele, a estar acompanhando. Considerava isso um erro tático, para não mencionar ser uma teimosia tola. A não ser que Serena trouxesse Anne com ela.