Heavenly Hell
Denvers
A poeira na estrada levantava com as fortes e rápidas pisadas de Noite que mais uma vez fazia Melissa pensar que estava voando e embora adorasse cavalgar por lugares novos, preferia estar no Rancho e poder brigar com sua mãe e irmã por passar muito tempo sumida pelas campinas ou por não ter respeitado o toque de recolher.
Fechou seus olhos por um tempo no lombo no animal e quando abriu, se sentiu surpresa por estar parando em frente a casa de Bobby, no meio dos carros do ferro velho.
—- Você me surpreende, às vezes, meu amigo... -- Ela ponderou beijando a crina do cavalo.
—- Mel? -- Bobby surgiu pela soleira da casa e se apressou até ela -- Onde estão aqueles idiotas? Pensei que estivessem com você! -- Ele pareceu zangado por vê-la sozinha.
—- E estavam Bobby, na verdade ainda estão... mas não é culpa minha que Noite seja mais rápido que aquela lata velha que Dean tanto ama. -- Ela disse quando desceu. Seu olhar era triste.
—- Criança... -- Bobby disse abraçando Melissa com seu modo meio sem jeito -- Céus, o que houve? --
A essa altura, o Impala entrou voando baixo pelo terreno do ferro velho e estacionou sem jeito.
—- Eu não sei... -- Ela disse, tentando não chorar, embora tivesse a voz muito embargada -- Eu não entendi nada, Bobby, foi horrível, haviam partes em todo canto e tanto sangue e... eu não sei porque alguém faria isso com elas. -- Melissa finalmente desabou e não se importou com a presença dos irmãos.
—- Eu também não, Mel. -- Bobby respondeu, quando a garota partiu o abraço.
—- Eu preciso saber quem foi, quem fez isso. -- Haviam notas de raiva na voz da garota -- E eu vou me vingar, eu vou acabar com quem fez isso. -- Ela levantou os olhos para os outros.
—- Melissa... -- Sam começou, mas não sabia o que dizer.
—- Nós vamos descobrir, ok? -- Dean disse se aproximando dela.
—- Por que me ajudariam? -- Ela perguntou com sinceridade, embora já se sentisse grata.
—- Acredite, nós sabemos o que é perder a família -- Ele segurou Melissa pelos ombros -- É uma promessa, Melissa. --
A garota ficou em silêncio por um tempo, olhando todos ao redor, até que fixou seus olhos, nos igualmente verdes, olhos de Dean.
—- Eu agradeço, Winchester... -- Ela sorriu um pouco -- Com certeza vou precisar... -- Melissa em seguida desviou olhar do dele.
Dean mais uma vez teve a sensação de ter algo incomum naquela garota, uma espécie de hipnose a respeito daquele olhar.
—- Vamos entrar Mel, acho que você vai querer comer alguma coisa. -- Disse Bobby.
—- Na verdade, eu quero mesmo é um banho, acho que vou dispensar comida por enquanto... -- Ela disse acariciando a crina de seu cavalo.
—- Como quiser, mas vamos... -- Ele lançou um olhar sugestivo para os garotos.
Xx
—- Tem certeza que ela não vai ouvir? -- Perguntou Dean.
—- Tenho, já ligou o chuveiro. -- Sam falou com uma expressão concentrada, como alguém que escuta algo.
—- Muito bem, Bobby. O que diabos tem de errado com essa família Denvers? -- Perguntou Dean arrastando uma cadeira da mesa e se sentando com uma long neck nas mãos.
—- Eu sei muito pouco, Dean, acredite... Simon não era dos mais transparentes. --
—- Eu acho "pouco" ainda uma boa coisa, pode contar. -- Sam disse com um sorriso engraçado.
—- Bem... Eu, ele e Ellen, éramos amigos há muito tempo, caçamos juntos muitas vezes e ele era um caçador comum até encontrar Andreia. --
—- A mãe Melissa? --
Bobby o lançou um olhar crítico pela pergunta óbvia.
—- Sim, Dean. -- Respondeu Sam.
—- Na verdade, nós estavamos na trilha de um demônio bastante incomum... eu já havia visto muitas coisas na vida, mas nada como aquilo... e também nunca mais voltei a ver novamente... -- Bobby tirou o boné e bagunçou um pouco o que lhe restava de seus cabelos -- No começo achávamos que era uma possessão comum, mas não, o demônio dentro da pessoa, estava possuído... era como uma coisa boneca matrioska, uma dentro da outra. Um demônio dentro do outro, dentro de um corpo humano. --
—- O que? -- Perguntou Dean -- Bobby isso é impossível... --
—- Porque o demônio não procurou um corpo para si só... --
—- Pelo que eu entendi, ele não podia. -- Bobby se esforçava para ser claro -- O demônio que possuía o outro, ao que me pareceu nem estava na terra, era uma transferência de consciência ou algo assim. Eu lembro que ele disse que não podia atravessar a barreira por ser muito poderoso, mas que aquele serviço, tinha de ser feito pessoalmente, ele não podia mandar um demônio mais fraco do que ele para fazer o serviço. --
—- Barreira? -- Dean estranhou -- Nunca tinha ouvido falar de Barreira alguma, o que ele quis dizer com isso? --
—- Nós nunca tivemos a oportunidade de entender. -- Disse Bobby.
—- Por que? -- Sam estava visivelmente frustrado.
—- Nós seguimos o rastro dele até o interior de uma caverna, o lugar mais macabro que eu já entrei na minha vida. tinha todo o tipo de ídolo satânico que você possa imaginar e muitas outras coisas perturbadoras -- Bobby disse e a julgar pela expressão dele, havia sido realmente um lugar horrível -- Enfim, lá dentro ele estava mantendo Andreia como refém e a torturava, quando nós chegamos no lugar, eles se calaram, mas estavam falando antes e embora Simon tivesse negado pelo resto da vida, aquilo não era inglês, nem qualquer outro idioma da Terra; --
—- E o que ele queria com a mãe de Melissa? --
—- Nunca soubemos... pelo menos eu e Ellen. -- Bobby deu de ombros -- Simon e Andreia se apaixonaram perdidamente depois daquilo, muito embora não tenha sido ele o seu salvador, nem muito menos eu ou Ellen... --
—- Como assim? -- Dean e Sam estavam confusos.
—- Nós apanhamos e feio. -- Bobby confessou -- Aquele demônio não brincou quando falou que era poderoso, ele era diferente dos outros. -- Bobby tinha um olhar distante -- Quem nos salvou foi um cara chamado Emanuel, ele chegou com uma túnica preta, não parecia ser normal, disse algumas palavras em alguma língua que eu não entendi e os dois demônios, um dentro do outro, se foram... --
—- E a mãe de Melissa? --
—- Ficou bem. Esse não é o ponto. A questão é Simon. Ele se transformou, casou e começou a estudar demonologia a fundo e depois começou com a angelologia e ficou completamente maluco, quando era apenas Clarisse, ele ainda nos visitava e tomava uma cerveja de vez em quando, mas quando veio Melissa, a coisa ficou feia... --
—- Ele não dizia nada a respeito de nada? --
—- Nada além de "se vocês pudessem entender... tem tanta coisa que você nem imaginam por aí... o universo é maior." parecia um hippie maluco. E depois que Melissa nasceu, céus, ele ficou fora de si. Tudo girava em torno dela e tudo era sobre como ela era especial e de repente ela precisava de uma proteção especial... ele viajou por algum motivo, talvez em busca de algo maior para protegê-la, que ninguém sabe direito, só sabemos que foi morto no processo. -- Bobby esfregou o rosto.
—- Então Andreia se mudou com as filhas para esse Rancho, para proteger Melissa, é isso? -- Perguntou Sam.
—- Eu creio que sim... Andreia me pediu no velório de Simon que cuidasse de Mel se alguma coisa acontecesse com ela e Clarisse. --
—- Então tem realmente alguma coisa de estranho com aquela garota? -- Dean disse meio baixo, mas como quem confirma algo.
—- Aparentemente... -- Disse Bobby.
—- Vocês querem dizer, como eu... sangue de demônio ou algo assim? -- Sam supôs.
—- Não Sammy, eu não acho que seja isso e também não faço ideia do que seja, por isso preciso que vocês me contem tudo o que viram no rancho hoje. Cada detalhe --
Xx
E mesmo tendo certeza que o assunto no andar debaixo era ela e sua família Melissa não se preocupou, já conhecia Bobby há muito tempo e sabia que ela era boa gente, os Winchester também pareciam ser, por isso se sentiu segura e tentou relaxar, ignorando os murmúrios vindos do andar debaixo.
Melissa estava finalmente conseguindo relaxar um pouco debaixo da água quente, ela apertava os músculos do ombro e jogava a cabeça para trás molhando os cabelos e rosto, tentava não pensar em nada trágico e embora tentasse focar em todas as árvores que vira pelo caminho no impala e nos olhos verdes de Dean, ela não conseguia se concentrar em nada.
Mas de repente algo estava errado, ela ficou tonta, como se houvesse coisas que quisessem vir à tona em sua mente, mas não encontrassem um caminho para isso.
A garota apertou as têmporas, pela dor aguda que sentiu, em seguida o flash vivo do nome Catarina desenhado no espelho veio com força, Melissa fechou o chuveiro e saiu do box, se apoiando no lavabo de mármore e se olhando no espelho, ela continuou vendo imagens desconexas, entre elas as portas de uma cripta, um símbolo estranho entalhado nas portas de pedra e um homem de pé, olhando o portal, apesar de estar de costas, era visível que estava triste e de repente, ele sumiu, como se fosse fumaça.
Ela, então, se enrolou na toalha e se recostou na porta, respirando fundo.
—- O que diabos é isso? -- Ela se perguntou e então percebeu que estava sem sua pulseira, a que seu pai havia dado e que ela nunca tirava.
Mesmo tonta, Melissa avistou a pulseira caída dentro do box e se forçou até lá e mesmo tendo sérias dificuldades em fechar, conseguiu fechar o objeto em torno do pulso.
E como mágica, não havia mais tontura, não havia nada mais tentando vir à tona em sua mente, estava bem. Exatamente como seu pai dizia, desde que ela estivesse com aquela pulseira, estaria tudo bem.
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