Era difícil caminhar entre todos aqueles corpos, mesmo com apenas dois pés. Noite olhava ao seu redor, buscando por Bobby, não foi muito difícil encontrar. Ele estava amarrado a um tronco um pouco distante dali. Os reféns estavam tão fracos que mal haviam percebido a chacina e sua salvação. Noite se sentiu desprezado, depois de mil anos preso em apenas uma de suas formas, queria um pouco de atenção por poder andar em duas pernas agora. Muito embora estivesse preocupado, poder mudar de forma significava que em breve a Barreira estaria no chão. Mas aquele assunto teria de esperar até que reencontrasse Catarina, seu objetivo agora era Bobby Singer.

—- Boa noite, rapaz. – Disse cutucando Bobby com o pé.

—- Quem é você dessa vez? – Ele soou mal humorado e estava debilitado.

—- Sua liberdade, a.k.a: Noite. – Ele brincou arrumando as roupas de maneira soberba.

—- Noite? Eu devo estar drogado, você era um cavalo da última vez que te vi. – Bobby falou enquanto o outro lhe desamarrava.

—- E eu era, sou ainda. Só que salvar você sem polegares opositores ia dificultar um pouco. – Ele contou ajudando Bobby a ficar de pé – Eles te sangraram muito, cara. – Falou Noite – Aguente firme, sei que há uma saída para isso. – O homem não obteve resposta, Bobby estava tão fraco que já havia perdido a consciência.

Antes de desaparecer com Bobby, Noite libertou todos os outros reféns e fez uma denúncia, não era possível que os humanos fossem tão inúteis, não havia mais monstros ali, só uma dúzia de pessoas precisando de sangue novo e outras dúzias de cadáveres para dar conta. Nada assim tão complicado.

Xx

Catarina já estava perdendo a paciência. Sam já havia repetido toda a história e a gravação umas quatro vezes no mínimo e ainda conversava com Dean num canto afastado. Enquanto ela não tinha nada melhor pra fazer além de desenhar no chão com os dedos e uma vez ou outra empurrar de um lado para o outro a cabeça decepada de Emanuel.

—- Eu não esperava isso de você... – Melissa falou finalmente, sentada numas caixas de madeira, um pouco distante de onde estava Catarina – Digo, eu ouvi a gravação, lá no fundo eu sei que deveria agradecer porque mesmo eu não tendo exatamente alguma coisa haver com a suas razões para mata-lo, você acabou salvando a mim, a Dean e a todos os outros que confiavam cegamente em Emanuel... – Melissa tinha a cabeça baixa – Além do que, você vingou minha família no processo. Emanuel matou meu pai Simon, que eu amava muito e é culpado pela morte da minha mãe, irmã e por estarmos todos aqui agora... – Ela suspirou – Mas mesmo assim foi chocante, Sam esfaqueou ele, mas eu considero você a única culpada, Catarina, você agiu com crueldade, você se divertiu fazendo aquilo... Sam, na verdade, foi misericordioso. Enfim, eu esperava que você fosse provar que Dean estava errado e eu certa à seu respeito, mas agora não sabemos o que pensar, só sabemos que não é confiável e apesar de amar você, até Sam se sente assim. – Melissa levantou a vista e olhou a outra nos olhos – Você sabe disso, eu sei que sabe, mas não parece se importar, ao contrário, está só brincando de bola com a cabeça do cara que acabou de matar... finalmente, o que devemos pensar de você? –

Catarina fitou a garota por um longo tempo, em silêncio e ainda girando a cabeça de um lado para o outro.

—- Não somos humanos Melissa, tecnicamente você também é completamente, e é por isso que sente lá no fundo que o que eu fiz não foi nada além do necessário; temos o mesmo sangue e você quer ser como eu, não quer? – Catarina começou, dissimulando como sempre, armando o bote para convencê-la de seu discurso. Melissa não respondeu – Claro que quer, é sua natureza vaidosa gritando dentro de você, feiticeiras são invejosas, sempre foram... você vê como os outros reagem a mim e quer isso pra você... mas tem medo. Sua moral humana te faz temer que para ser como eu, você vá se tornar também uma criatura capaz de decepar a cabeça de alguém com seus próprios grilhões, alguém que seduz e dissimula, alguém que é uma miragem de tão bela, alguém hipnótico e inescrupuloso. – Ela fez uma pausa sorrido -- Eu. Sou eu que você quer ser, mas tem medo de toda a carga negativa envolvida. – Catarina riu admirando a expressão de Melissa que não parecia entender qual o ponto do que a outra dizia – Mas não precisa ter medo, menina, eu sou assim porque fui criada para ser assim, eu cresci no inferno, amor, debaixo das asas do Arcanjo Sombrio. Você esperava que fosse diferente, que eu fosse a boa moça? Não faz sentido... Então não precisa ter medo de se tornar quem é em essência, porque não vai ser de todo mal; assim como não perca tempo me julgando, ou esperando nada de mim, você ouviu seu pai em suas últimas palavras, eu sou a criança infernal, não tenho misericórdia de quem me dá motivos para morrer. – Ela olhou para Melissa que agora parecia assustada com o tom de profunda sinceridade nas palavras de Catarina – Não vá ficar com medo, nenhum de vocês precisa, eu gostei de vocês... e quando isso acontece, sou mais inofensiva que uma borboleta. – Catarina soou um tanto azeda no final da fala, mas a carga irônica ainda era forte.

—- Eu não quero ser você – Foi a única coisa que Melissa respondeu.

—- Boa sorte se enganando... – Catarina disse de maneira convencida – É uma pena, na verdade, eu sei de tantas coisas que poderiam te ajudar, mas você está magoada, não quer ser como eu, não quer aprender nada que te aproxime da nossa natureza, exuberância... você não quer ter nada a ver com o nosso povo... é uma pena. – Catarina falou suspirando, fingindo tristeza, sabia que havia pego no ponto fraco daquela fortaleza de moralidade da garota, que em essência, era metade Feiticeira.

—- O que você sabe sobre mim? – Melissa perguntou depois de um tempo.

—- Pensei que não estivesse interessada... – Catarina brincou, olhando a outra de canto.

—- Me poupe as ironias, o que sabe? – Melissa foi direta.

—- Sei muitas coisas, sei que, mesmo com a linhagem fraca da sua mãe, você tem uma benção com eu tenho, como Emanuel tinha – Ela rolou a cabeça dele mais uma vez – Como nossa linhagem inteira, não se esqueça que temos o mesmo sangue, querida. Acredito que a nossa linhagem seja pura o suficiente para ter te dado uma benção. – Catarina contou, o que fez Melissa se interessar.

—- E quanto a tal marca de lua na mão? Eu não tenho isso... – Melissa questionou observando a própria mão – E o que diabos é uma benção? –

—- Boas perguntas, meu bem... – sorriu abertamente – A Marca da Lua, – Catarina mostrou a sua, levantando a mão para Melissa – apesar de todo o folclore envolvido é só para mostrar que você pertence à ordem de Feiticeiros da Lua. Existia ainda uma ordem mais selvagem e em alguns aspectos mais poderosa, que era a Ordem Elemental. Meu pai foi último, estão extintos agora. –

—- Isso faz de você mestiça também? – Melissa perguntou – Digo, por ter a mãe de uma ordem e o pai de outra? –

—- Mais ou menos, os dois eram feiticeiros no fim das contas, a única questão é que a minha feitiçaria é mais completa e rara, já que as Ordens quase nunca se misturam... – Ponderou Catarina – Mas o que eu quis dizer na verdade é que, eu não sou completamente nascida na Ordem da Lua e tenho a marca, você é completamente nascida na Ordem, porque mesmo que você funcione como mestiça por conta da condição que sua mãe se encontrava, a linhagem que eu e seu pai compartilhamos é pura o suficiente para contornar este detalhe. – Catarina maneava a cabeça – Simplificando, ter a marca é facultativo. Só facilita para saber a Ordem e, claro, se você é puro o suficiente para uma benção – Deu de ombros.

—- E o que é uma benção? – Perguntou novamente, mais interessada ainda dessa vez.

—- É mais surreal ainda... Nossa raça foi criada não muito tempo depois do anjos e Arcanjos, só alguns milhares de anos... – Ela riu – mas nós somos um povo sábio, belo, poderoso, amistoso até demais... os anjos gostaram de nós e os Arcanjos mais ainda. Nossos povos se tornaram amigos, lutaram juntos em batalha e foi depois de uma delas, que a Ordem da Lua formou uma aliança com os Arcanjos. Nossa ajuda incondicional, em troca de habilidades extras para nossos feiticeiros de linhagem mais pura. Então, cada arcanjo deu um pouco de suas qualidades às nossas crianças. A maneira como a benção é escolhida é misteriosa para todos nós até hoje, só é certo que se revela na lua da noite em que a criança nasceu e depois deixa uma marca de identificação e nos tempos antigos, você sempre acabava conhecendo os Arcanjos, eles viviam balançando suas asas por lá. –

—- Quais são as bênçãos? – Melissa nem pestanejava.

—- Lua Vermelha para o Arcanjo Miguel, mais habilidade em magias de ataque. Lua Prata para Gabriel, como ele era o mensageiro das boas novas, as feiticeiras tinham o dom da clarividência. Lua Azul de Rafael, magias de cura e por fim, a Lua Negra de Lúcifer que dá às feiticeiras o domínio completo e sem consequências da magia negra. –

—- Qual é a sua? –

—- Tem certeza que não sabe? – Catarina devolveu a pergunta.

—- Lua Negra... – Ela respondeu sozinha – Pode descobrir se eu tenho uma? –

—- Até poderia... mas essas belíssimas pulseiras – Ela balançou os pulsos acorrentados – Não me deixariam fazer meu milagre. – Deu de ombros mais uma vez.

—- A marca que a benção deixa... – Melissa começou -- ... é, digo, é por isso que seus olhos são assim? É a marca? –

—- Bingo. – respondeu Catarina, fixando seus olhos nos Winchester agora – Eles não vão parar de falar nunca mais? – Perguntou impaciente.

Xx

—- Dean, você ouviu, ele ia matar você e arrastar Melissa. Catarina salvou você! – insista Sam.

—- Até pode ser, mas você ouviu a conversa dos dois, ela é sádica! Quem garante que o próximo que ela vai matar não sou eu? –

—- Ela não vai matar você! – Sam foi incisivo.

—- Como você sabe? – Dean respondeu no mesmo tom.

—- Você não viu o que ela fez aqui? Se ela quisesse matar você teria dado um jeito, teria soprado nos seus ouvidos até te convencer a estourar seus próprio miolos! Fora isso quantas vezes ela esteve conosco sem que soubéssemos, se ela quisesse nos matar, já teria feito! – Sam disse de cenho franzido. Dean calou-se – Além do que Dean, goste você ou não, eu a amo, e ela... desistiu de me entregar e comprou uma briga com Lúcifer e ela gosta da Mel, não mataria você por causa dela também. –

—- Não se convença tanto assim, você mesmo disse que ela sopraria nos meus ouvidos para eu me matar, quem garante que ela não está soprando nos seus, pra você acreditar que esta tão apaixonado e acreditar, lá no fundo, que ela te corresponde! – Dean apontou o dedo no rosto de irmão que revirou os olhos -- E não se iluda com essa coisa de briga com Lúcifer, não me espantaria saber que ele mesmo já a visitou entre as pernas! -- Dean esbravejou recebendo um olhar severo do irmão.

—- Dean, você se lembra de quando chegaram à casa que eu estava com ela? – Dean confirmou – Você se lembra que eu estava todo ensanguentado e você pensou que tivesse sido ela e eu neguei com unhas e dentes, mas não expliquei o porque de ter tanta certeza? – Sam perguntou.

—- Sim, eu lembro. –

—- Bem, eu menti sobre isso. – Ele trincou o maxilar um pouco com a expressão raivosa que o irmão lhe lançou, mas continuou o que dizia – Eu sangrei daquele jeito por que cuspi isso – Sam explicou tirando uma pequena lâmina do bolso e entregando ao irmão.

—- “O humano vai pagar” ? Mas que merda é essa? – Dean leu a inscrição na lâmina com uma expressão confusa.

—- Não é só isso, isso tem a forma de uma espada e como me pareceu muito específica eu fui pesquisar. É a espada de Lúcifer. – Parou por um momento para o irmão absorver a informação.

—- Ótimo, a aprendiz sai da linha e o mestre ferra você... muito justo. – Dean pesou alto – O que eu podia esperar? É o Diabo afinal de contas... – Ele mesmo se corrigiu.

—- É inteligência, Dean, você mesmo viu que ela não reage a tortura, mas é extremamente vulnerável quando assunto são as pessoas com quem se importa de alguma forma... E aparentemente ela gosta de mim o suficiente. – Sam deu de ombros.

—- Você me mete em cada uma Sam, eu vou ter que fazer o que pra te manter vivo agora? Matar Lúcifer? – Dean ria indignado.

—- Eu não sei... – Sam partiu o pensamento e fez uma expressão estranha se apoiando na parede – tem algo errado. – Ele falou antes do estralado de seus ossos se quebrando invadisse o galpão.

—- Sam? – Dean chamou, apoiando o irmão – Sammy? – Ele chamou mais uma vez, porém não obteve resposta, já que seu irmão estava mais ocupado sentindo todos os seus ossos quebrarem.

—- Dean o que isso? – Perguntou Melissa se aproximando.

—- É bruxaria, ele vai morrer se você não me soltar. – Catarina interferiu e apesar de manter o tom de voz calmo, seu olhar denunciou sua preocupação.

—- Você não vai colocar as mãos no meu irmão de novo! – Dean esbravejou segurando o rosto do irmão entre as mãos, enquanto se revirava os olhos e gritava de dor.

—- Pelo amor de Deus, Dean, não seja orgulhoso. – Melissa correu até ele – me dá a chave que eu solto ela. É a vida do seu irmão. – Ela falou séria e até um pouco assustadora.

Catarina olhava na direção de Dean já com os punhos estendidos.

—- Não seja estúpido, falta pouco para atingirem a coluna dele e pescoço, e aí já era. – Catarina soava como uma cobra – Se seu irmão morrer, Dean, a culpa é toda sua e terá de viver com isso para sempre. – Ela balançava a cabeça em negativa. – Me solta. –

—- Dean, me dá a chave! – Gritou Melissa, desesperada com os gritos de Sam.

Mesmo ainda um pouco relutante, entregou a chave a Melissa e levou seu irmão ao alcance de Catarina.

—- Seja rápida, Mel. – Catarina cantarolava, contando em sua mente o tempo que ainda restava.

—- Calma, só mais um pouco... – Melissa mexia com a chave, que estava meio emperrada – Não abre, essa droga de chave! –

Catarina olhou o mais velho:

—- A culpa será toda sua. --

—- Como assim não abre? – Foi a vez de Dean gritar. – Aguenta, irmãozinho. – Ele pedia com Sam em seu colo.

—- Emanuel... – Disse Catarina – Ele deve ter lacrado isso pra impedir que eu fugisse de alguma forma e conseguir me matar –

—- Filho da... – Dean resmungou – Tudo bem, oficial, sem ressentimentos por você ter matado ele a partir de agora. –

—- Dean, isso não é hora de gracinha! – Melissa repreendeu – Catie, a gente faz o que agora? – Ela olhou perdida para a prima, que ainda tinha os olhos mais assustadores da face da terra.

—- Vamos ver se você tem algum poder ou não. – Comentou, ao estralar o pescoço e se tornando o mais concentrada que conseguiu – E não dê nem um chilique de “eu não vou conseguir", porque nesse caso não irá mesmo. Você é do meu sangue, deve haver nem que seja um mínimo de magia aí dentro e você vai usar ela agora. –

—- Ok, ok. – Melissa ofegava e Dean a olhou dando força – Mas eu não faço a mínima ideia de como fazer isso. – Engoliu em seco.

—- É pra isso que eu estou aqui. – Catarina disse, fazendo com que Melissa segurasse as algemas nas mãos – olhe para a fechadura e se concentre, se concentre Melissa. –

A garota olhava fixamente para o objeto, mas não parava quieta, estava nervosa.

—- Eu disse, se concentra, para de sambar, ficar quieta e se concentra. – Reclamou Catarina, a garota obedeceu, respirando fundo, ficou quieta e se concentrou de verdade – Você vai sentir um formigamento vindo das suas mãos e pernas, em direção ao seu peito, então veja em sua mente, com nitidez, essa fechadura se abrindo. É só isso, é simples. – Apesar da calma, Catarina começava a ficar ansiosa. Odiava depender dos outros. E conhecia aquela bruxaria simples, suja, mas eficaz, Sam logo, logo, estaria morto se Melissa não conseguisse. – Aguenta firme, garotão. -- ela cantarolava.

Melissa tinha medo de não conseguir e tinha medo de conseguir também, tinha medo de várias coisas, mas não tinha tempo para elas. Salvar Sam estava em primeiro lugar.

Por isso, quando o formigamento veio, ela não se permitiu entrar em pânico e começou a imaginar a fechadura abrir.

—- Por favor, Mel. – Ela ouviu Dean suplicar – Meu irmão... – Ele murmurou.

Aquilo pareceu lhe dar mais força, não podia falhar. Por Dean e Catarina, não podia falhar. A imagem da fechadura da algema abrindo se tornou mais nítida em sua mente e um estalado se seguiu. Melissa continuou de olhos fechados, mas não sentir mais as mãos de Catarina lhe fizeram abrir os olhos. Ela havia conseguido.

—- Eu fiz... – Repetiu para si mesma, quando sentiu o abraço de Dean aperta-la.

—- Você conseguiu. – Ele disse.

—- É... eu consegui. – Melissa repetiu olhando as próprias mãos, quando Dean voltou a se ajoelhar perto do irmão nos braços da Feiticeira agora – Eu sou uma feiticeira. – Murmurou para si, sentindo algo que nunca sentira antes, orgulho.

Catarina não conseguiu fazer Sam olhar nos olhos dela, na verdade nem tentou, ele não conseguiria ficar quieto com o tamanho da dor que estava sentindo. Por isso pôs uma das mão em seu coração cochichou algumas coisas inaudíveis no ouvido dele, que parou de se debater em seguida.

—- Acabou, você se saiu bem, garoto. – Ela disse quando ele abriu os olhos novamente.

—- Sammy? – Dean chamou.

—- Aqui. – Ele respondeu um pouco ofegante – Tem certeza que eu ainda não estou quebrado, ainda dói bastante em algumas partes, Catie. – Ele falou olhando para ela do mesmo jeito doce que fazia quando acreditava em Kathe. Catarina balançou a cabeça em negativa, eram mesmo todos iguais.

—- Você deve ter mantido algumas das fraturas, mas não é nada que eu não possa consertar pra você. – Ela respondeu, mexendo nos cabelos dele.

—- O que isso significou? – Dean perguntou a Catarina enquanto ela colocava todos os ossos de Sam de volta aos seus lugares, que não tirava os olhos dela por um segundo.

—- Significa que Lúcifer não estava de brincadeira quando disse que ele ia pagar. Ele está tendo um chilique possessivo e não me quer envolvida com humanos e bla bla bla, também está chateado porque eu o traí no trato e, como sempre, estamos brigando. Às vezes parece uma mãe judia, mas não tem nada de maternal na nossa relação. É só o teatro. – Ela ria contando a Dean.

—- Obrigada por me fazer imaginar o Diabo como uma mãe judia. – Dean Esboçou um sorriso.

—- É impressão minha, ou vocês estão começando a pensar em se dar bem? – Perguntou Sam, que mesmo não tendo mais fraturas, continuava deitado onde estava, era confortável estar perto dela.

—- Não. – Dean disse veemente.

—- É só uma trégua. – Catarina completou – Ela ria, encarando o mais velho – Vamos tirar você daqui, Sam, precisa descansar. –

—- Ei, onde pensa que vai? – Dean perguntou de cenho franzido.

—- Dean, para com isso. Eu também coloquei em cheque muita coisa quando vi tudo o que aconteceu com Emanuel – Catarina revirou os olhos e resmungou alguma coisa em seu idioma natal – Mas ela salvou a minha vida de novo e a sua também de certo modo, então Catarina não merece nossa desconfiança, cara, por isso, não enche. – Sam foi ríspido, colocando um dos braços por cima de Catarina, que lançou um olhar vitorioso para Dean, ela nunca se cansaria de jogar.

—- Tudo bem, mas saia um dedinho fora da linha e eu te algemo de novo! – Ele falou apontando o dedo ela que riu, ajudando o mais novo a caminhar.

—- Mel? – Dean chamou a garota que estava sentada no chão de costas. Ela não respondeu – Mel? – Como não obteve resposta, contornou a garota, que parecia estar em uma espécie de transe, abrindo e fechando as algemas usando magia – Melissa!? – Ele exclamou estralando os dedos em frente ao rosto dela.

A garota voltou a si, deixando o objeto dourado cair no chão.

—- Desculpa, eu fiquei meio distraída aqui. – Ela sorriu para ele ficando de pé e o beijando.

—- Tem certeza que está tudo bem mesmo, não é? – Dean insistiu quando partiram o beijo.

—- Claro que sim... na medida do possível. – Ela maneou a cabeça – Eu só ia lhe pedir para enterrar, ou cremar Emanuel... – Ela disse olhando o corpo – Ninguém merece ficar assim, e de uma forma ou de outra, ele era meu pai. Eu devo isso a ele. – Ela suspirou, olhando as próprias mãos.

—- Tudo bem, então – Dean relaxou um pouco – Vamos fazer uma pira e queima-lo. –

—- Obrigada. – Melissa sorriu – Catarina bem que podia ajudar com o fogo, não é? – A garota ponderou.

—- Eu não acho que ela vá ajudar. – Dean riu de escárnio.

—- Tem razão, acho que vamos ser só nós dois nessa. –

Se beijaram mais uma vez.

Dean gostava dela de verdade e estava preocupado, não havia gostado nem um pouco do jeito como ela parecia obcecada com a abrir e fechar aquela porcaria de algema. Mas não ia se precipitar, só torcia para não ser nada demais.

Xx

—- Tudo bem. – Sam disse deitando-se na cama da barraca – Eu te devo desculpas... – Falou um pouco mais alto, pois Catarina estava do lado de fora da barraca, disse que precisava fazer uma magia, mas que não demorava.

Alguns segundos depois, ela entrou na barraca, de roupa trocada, um cheiro maravilhoso e os cabelos enormes, molhados e um tanto bagunçados.

—- Eu precisava de um banho. Desculpe se demorei um pouco. – Ela ria.

Sam não fez uma cara muito satisfeita.

—- Você estava tomando banho lá fora, onde qualquer um podia ver você nua? – Ele falou pausada.

Catarina pareceu perdida.

—- E daí? É normal de onde eu venho, tem muitas cachoeiras e lagos por lá. Não é nem visto como mensagem sexual. – Ela explicou com certa estranheza.

—- Certo... – Sam não acreditou muito.

Catarina riu alto.

—- Não se comporte como se eu pertencesse a você, não é nada além de um corpo exposto para uma magia. – Ela um tanto superios.

—- Calma! Foi apenas uma preocupação... – Ele comentou, passando as mãos pela pele dela e distribuindo beijos por onde alcançava. Catarina não tinha certeza se precisava continuar alimentando este tipo de sentimento em Sam.

—- Não seja ciumento – Ela brincou, se arrumando onde estava e tirou a camisa dele, adorava sentir a pele dele.

—- Claro que sim. – Ele respondeu num tom mais baixo, com a voz mais rouca – O que eu sinto por você é real. -- Ele suspirou, enquanto ela se levantou de onde estava.

—- Eu sei que é, mas precisa descansar. -- Ela sorriu, não querendo ser rude.

Sam abaixou a cabeça por um tempo.

—- O que vamos fazer agora? -- Indagou voltando a olhá-la.

—- Quanto a Lúcifer e Barreira todas essas coisas tediosas, eu já sei o que fazer – Ela respondeu se esticando bastante onde estava, seu corpo ainda estava um tanto dolorido – Mas essas coisas chatas podem ficar pra amanhã, não podem? –

—- É claro que sim. – Ele respondeu sorrindo

—- Descanse, estarei por perto. -- Ela saiu do interior da barraca, suas vestes esvoaçantes sempre a deixando ainda mais encantadora.

Xx

Do outro lado do galpão, longe das barracas, o fogo da pira já ia alto, não havia quase mais nada para queimar, mas Dean e Melissa continuavam ali, dividindo uma garrafa de vodka, já que a de whiskey já havia acabado, enquanto o fogo consumia tudo.

—- E eu que achava que ele era legal, doido, mas legal. E não é que ele era um filho da puta? – Melissa disse com a voz arrastada e Dean a olhou de maneira engraçada.

—- Mas olha quem está bêbada, e se eu bem me lembro, esta mesma pessoa tinha fígado de aço. – Ele debochou beijando ela várias vezes.

—- Acho que Catarina me mantinha sóbria enquanto estava na minha mente, ou era a pulseira, eu sei lá. – Ela falou com certa dificuldade, devido a língua enrolada por conta do álcool – Falando nela, porra ela é muito gostosa, seu eu fosse gay pegava ela, mas como eu não sou, eu pego você, que é igualmente delicioso. – Ela continuava com a língua solta, afiada e bêbada.

—- Eu sou uma delícia? – Dean se divertia.

—- Maravilhoso. – Ela falou pulando para se sentar entre as pernas dele – Penso muita besteira, o tempo todo, e quando você cruza os braços e engrossa a voz, céus, eu sempre acho que vou desmaiar ou pular em você. – Ela contava sem pudor nenhum. E Dean ria.

—- Ok. Chega disso para você – Ele tirou a garrafa das mãos da moça – Quando o velório acabar, a gente resolve esse problema rapidinho. –

—- Por que não agora? –

—- Porque você vai se arrepender de deixar Emanuel queimar sozinho para ter uma noite louca de sexo bêbado. – Dean explicou e Melissa riu muito alto.

—- Eu vou mesmo, eu sou um saco. – Ela concordou jogando a cabeça para trás.

—- Não é não, você é maravilhosa. – Dean falou no ouvido dela, beijando seu pescoço.

—- Faça isso de novo e nós dois vamos entrar naquele Impala. – Ela o olhou com as sobrancelhas arqueadas.

Dean estava prestes a responder, quando Kevin apareceu correndo e ofegante.

—- Mil perdões por interromper! – Ele falou agitando os braços – Mas o Castiel voltou do céu, finalmente. –

—- E você espera o que, que eu vá dar uma festa? – Dean perguntou irritado pela interrupção.

—- Não, é só que ele não está nada bem, acho que foi esfaqueado, eu não sei. Tem muito sangue. –

Dean ficou de pé e garantiu que Melissa não caísse, já que estava bastante tonta.

—- E onde está meu irmão? – Dean falou já andando com Kevin.

—- Bem, pelo silencio na barraca, acho que está dormindo. – Contou o asiático sem graça.

—- Filho da... – Dean bufou – Hey, Kevin, fica aí pra o morto não queimar sozinho. –

—- Porque eu? – O rapaz ficou irritado.

—- Porque eu vou cuidar do Cas, meu irmão e está dormindo e eu espero que a feiticeira esteja lá ou em algum lugar por aqui... E Melissa – A garota ria a toa – Não está dando pra ficar sozinha. –

—- Que merda. – Reclamou o asiático indo se sentar na frente da pira.

—- Não vale jogar terra no fogo pra apagar! – Dean gritou já no caminho até onde estava Castiel.

—- Eu não ia fazer nada disso. – Mentiu o garoto, xingando mentalmente.

Dean chegou até o anjo, que de fato estava ensanguentado.

—- Cass, o que houve, cara? –

—- A Barreira... Caos. – Foi só o que ele conseguiu dizer, antes de apagar.

Xx

Horas depois, Sam já estava em sono profundo, no entanto, Catarina, sentindo que ele não acordaria mais naquela noite, finalmente pode se afastar mais da barraca, tinha alguns negócios a resolver e não ia demorar nem nada. Só precisava encomendar um serviço.

Então materializando uma capa branca, pegou a pequena réplica da espada de Lúcifer e saiu sorrateira, entrando no bosque apenas o suficiente para não ser vista.

—- Crowley. – Ela chamou e não precisou esperar muito.

—- Espero que já tenha um plano, porque nesse meio tempo eu já quase morri umas oito vezes. – Ele soava mau humorado.

—- É claro que eu tenho um plano e eu tenho urgência. – Ela disse entregando a réplica da espada a ele – Encontre está espada, vá até o Céu se for preciso, mas ache e ache rápido. – Ela tinha a voz firme e um tanto raivosa.

—- E qual o grande benefício nisso tudo pra mim? – Questionou o demônio.

—- Primeiro, manter a sua cabecinha no lugar. – Ela brincou dando um empurrãozinho na cabeça dele – Mas eu tenho outra coisa a oferecer, Crowley. –

—- Sou todo ouvidos, senhorita. – Ele sorriu de escárnio.

—- Você quer ser rei? – Ela perguntou erguendo as sobrancelhas.

—- Rei? Agrada meus ouvidos. – Crowley se interessou.

Catarina riu.

—- Ache a espada, basta me dizer onde está e eu farei de você o Rei do Inferno. – Ela chegou muito perto dele – O que me diz? –

Crowley fechou a mão ao redor da pequena lâmina e desapareceu. Catarina sabia que aquilo era um sim.

Então, com um plano perfeitamente traçado em mente. Fez seu caminho de volta. Lúcifer havia feito uma jogada errada ao insistir em provocá-la e ainda querer matar Sam, Crowley e a própria feiticeira, muito provavelmente. E agora, era a vez de Catarina jogar.