Heartbeat

Capítulo 17


Estava sentada lendo em voz alta na pequena sala enquanto o tempo passava, Tiffany estava ainda inconsciente, o “alguns dias” do médico passou a ser duas semanas e três dias eu não sabia se isso era normal ou não mas eu não sairia desse hospital sem levar Tiffany comigo.

- O que você quer que eu leia hoje, hein? Nós já terminamos quase todos os pequenos livros que eu trouxe. – perguntei a desacordada garota em minha frente. Me levantei e dei um breve beijo em sua testa. – Acho que podemos ler algumas poesias, faz muito tempo que não leio uma. – disse e sorri.

Havia ouvido algumas senhoras no hospital dizerem que quando as pessoas entram em coma elas continuam podendo nos ouvir, então passei a ler todos os dias para Tiffany e conversava com ela a todo o momento. Era de certa forma reconfortante.

- “Quero que todos os dias do ano todos os dias da vida de meia em meia hora de 5 em 5 minutos me digas: Eu te amo. Ouvindo-te dizer: Eu te amo, creio, no momento, que sou amado. No momento anterior e no seguinte, como sabê-lo? Quero que me repitas até a exaustão que me amas que me amas que me amas. Do contrário evapora-se a amação
pois ao não dizer: Eu te amo, desmentes apagas teu amor por mim...” – lia sorridente o poema de Carlos Drummond que gostava tanto e a muito tempo não o lia quando ouvi uma pequena batida na porta. Cessei minha leitura e direcionei a minha atenção a Sunny que entrava devagar e com uma sacola em uma das mãos.

- Belo poema – ela disse sorrindo preocupadamente e depois olhando tristemente para Tiffany.

- É Drummond – respondi e também olhei para Tiffany. – Dizem que quando estão em coma ainda podem nos ouvir. – falei para Sunny enquanto fechava meu pequeno livrinho de poesias, o qual eu mesma havia montado com apenas as minhas favoritas.

- Você deve estar com fome. – Sunny disse ignorando o que eu havia dito e levando a sacola até a pequena mesa próxima a poltrona onde eu estava.

- “A esperança não murcha, ela não cansa, também como ela não sucumbe a crença. Vão-se sonhos nas asas da descrença, voltam sonhos nas asas da esperança.” – disse baixo após ter aberto mais uma vez o pequeno livro e ela parou o que estava fazendo para me olhar. – Augusto dos Anjos. – eu disse e sorri abertamente para ela enquanto me levantava.

- Tae... – Sunny tentou dizer algo mas eu apenas baguncei um pouco seu cabelo curto e sorri mais uma vez.

- Está tudo bem danshin. O que trouxe aí? – perguntei agora direcionando meu olhar para a sacola branca.

- Kimbap – ela respondeu – Você deve estar com fome e também deveria tentar sair daqui um pouco, você quase não vai para casa descansar. – ela continuou. Era verdade, desde que eu pude entrar nesse quarto eu o deixei no máximo umas três ou quatro vezes mas voltava meia hora depois. Eu não queria deixar Tiffany sozinha, queria que ela me visse quando acordasse.

- Quero que ela me veja aqui quando acordar, eu sei que ela logo logo vai acordar. – eu disse abrindo minha comida e Sunny não disse nada.

Enquanto comia Sunny me contara tudo o que estava acontecendo, me contou sobre Leeteuk estar sendo acusado de estar no meio do acidente, mas então ela me disse que ele fora corajoso o suficiente de entregar Siwon a polícia, mas que também não tivera mais notícias sobre isso tudo. Quem deveria saber era Yuri. Fiz uma nota mental de ligar para Yuri mais tarde.

- É sério Sunny, o resto do pessoal precisa vir aqui visitar a Fany – fiz bico. – Só a Seobaby, o Donghae, a Yoona e a Jessica vieram visitar – suspirei. Eu sabia que era difícil para todo mundo vir, também já estava sabendo que Hyo e Eunhyuk haviam viajado com a companhia de dança e não sabiam quando iriam voltar, mas eles ao menos ligavam quase todos os dias.

- Tudo bem Tae, eu vou falar para a Soo vir assim que ela tiver uma folga no restaurante e vou pedir para ela vir com o Leeteuk e com a Yuri – ela disse e me abraçou fortemente – Qualquer coisa me liga, ok? – ela respirou fundo e olhou para Tiffany, caminhou até a porta e olhou novamente para trás – E... Fany-ah! Se você estiver mesmo ouvindo... Acorde logo, todo mundo sente falta do seu sorriso – ela terminou de dizer e saiu do quarto.

- Viu mushroom... Eu não sou a única a sentir falta do seu sorriso – sorri pegando em sua mão e voltei me sentei na cadeira ao lado da cama.

Fiquei algum tempo acariciando sua mão e velando seu “sono”. Perguntava-me de hora em hora porque é que a beleza de Tiffany tinha que ser tão exuberante, mesmo ali naquela cama de hospital ela estava deslumbrante, ri mentalmente ao me sentir como o príncipe da Bela Adormecida.

- Será que se eu beijá-la ela acordará? – perguntei para mim mesma em voz alta.

- Acredito que não Taeyeon, mas não custa nada tentar – uma voz masculina e mais velha disse e eu olhei rapidamente e assustada para trás.

- S-Senhor Hwang! Quando foi que o senhor chegou? Poderia ter me avisado, eu o buscaria no aeroporto! – exclamei e corri para abraçá-lo. Senhor Hwang agora já era um homem de mais idade e estava com a aparência cansada, obviamente devido à longa viagem que fizera.

- Não queria incomodá-la, tomei um taxi para apenas descarregar minhas malas no hotel e logo vim para cá... Leo e Michelle já devem estar a caminho também – ele disse sorrindo e me abraçando mais uma vez. – E então Taeyeon, para que a pergunta retórica que você fizera a pouco? Comparando a vida com livros? – ele perguntou divertidamente me fazendo corar um pouco.

- Não faz mal a ninguém deixar a imaginação agir de vez em quando – eu disse sorrindo e ele riu batendo levemente sua mão em meu ombro.

- Sabe que eu esperava encontrar Siwon com você agora? – ele disse enquanto caminhava até onde a filha estava deitada e passou a observar a garota “dormindo”.

- Ele não teria coragem de vir aqui... – eu disse baixo mas ele acabou me ouvindo.

- Não teria coragem? Como assim? – Senhor Hwang me olhou com uma cara de confusão.

- Na verdade Senhor Hwang... Eu e Tiffany estamos juntas, ela terminou com Siwon para ficar comigo. Ela percebeu o quanto Siwon era um desgraçado que não merecia nem um terço do amor dela ou o amor de qualquer outra pessoa do mundo... E agora muito menos... – disse a ultima parte inaudivelmente, fitei o rosto do meu agora sogro para ver se ele havia ouvido a ultima parte do que eu havia dito e por sorte ele parecia não ter ouvido.

- Então quer dizer que você finalmente teve coragem de tirar minha pequena Stephanie dos braços daquele engomadinho? – Senhor Hwang perguntou e começou a rir.

- Eu planejei parte disso mas no fim das contas quem fez todo o trabalho fora sua filha – disse corando um pouco. – O senhor parece bem mesmo com a situação atual... – eu disse tentando não soar idiota ou estúpida. Não era normal um pai ver a filha em coma e agir tão normalmente assim.

- Eu encontrei o médico no caminho Taeyeon-ssi, ele me disse que Tiffany pode acordar entre hoje ou amanhã. Ela perderá temporariamente a memória do dia do acidente, pelo o que ele disse. Tiffany ficará bem e eu verei vocês duas juntas e conversaremos com Leo já que ele é o único da família que não ficaria confortável com a irmã sendo gay... Mas isso não é preocupante. – ele disse e sentou-se na cadeira onde eu estava antes e passou a acariciar a cabeça da filha.

As horas se passaram e eu fiquei conversando com o pai de Tiffany até tarde da noite já que ambos decidiram não ir para casa. Tivemos a breve visita de Leo e de Michelle durante a noite mas logo foram embora devido ao cansaço da viagem e a insistência do pai para que ambos fossem descansar.

Havia amanhecido e eu já estava acordada, olhando mais uma vez a minha “Bela Adormecida”, estava visivelmente nervosa sabendo que ela poderia acordar hoje a qualquer momento. Queria ficar ao lado dela o dia inteiro, até que ela acordasse mas fui obrigada a me levantar da poltrona e ir buscar café para o senhor Hwang que dormia desconfortavelmente na cadeira e com o braço estendido até a mão de Tiffany. Ele com toda certeza teria uma dor muscular pelo dia todo por ter dormido dessa forma.

Saí do quarto silenciosamente e chequei minha carteira para ver se eu tive ao menos decência de ter pegado dinheiro o bastante da ultima vez que eu fui para casa, e ver se ainda havia dinheiro ali. Caminhei até o pequeno café do hospital e comprei dois grandes, no caminho de volta senti meu celular vibrar em meu bolso, parei no corredor e olhei quem era.

Taengoo, Leeteuk vai para o tribunal por causa da história do acidente, você precisa prestar queixa contra o Siwon e dizer o que você sabe. Quando Siwon foi entregue por Leeteuk, Siwon alegou que você e Leeteuk estavam armando o acidente juntos, se a polícia aparecer por aí os deixe ouvir suas ligações, sabe aquela coisa de quebra de sigilo telefônico? Não sei como isso funciona muito bem, mas eles ouvirão e lerão suas mensagens eu acho. Shindong, o advogado do Leeteuk, disse que eles perguntarão sobre ligações e mensagens de texto. Não esconda nada, precisamos por Siwon atrás das grades. – Yuri” Corri para o quarto de Tiffany novamente e comecei a pensar sobre o que eu diria para o Senhor Hwang caso a polícia me procurasse agora para me perguntar sobre o acidente e que eles suspeitavam de mim como mandante disso tudo.

Eu estava ferrada sem nem mesmo ter feito nada.