Na casa dos irmãos esqueleto, Papyrus estava preparando o almoço calmamente até terminá-lo. Ele olhou satisfatoriamente para sua comida pronta e deixou suas luvas e seu avental na cozinha, indo até o quarto de Sans para chamá-lo. Chegando perto, ele bateu na porta.

Papyrus: Sans? Venha que o almoço está pronto.

Sans: Ok.

De repente, ele se lembrou do acontecimento anterior e em como viu Sans furioso ao ouvir Gaster entre várias telas de computador. Ele sabia que não era prudente falar desse assunto, mas em seu interior, Papyrus sentia que o conhecia tanto quanto seu irmão, porém, quanto mais ele tentava se lembrar, pior ele se sentia. Intrigado com o que estava passando na sua cabeça, ele decidiu bater na porta mais uma vez.

Papyrus: Sans? ... Posso entrar?

Sans usou sua magia para destrancar a porta e ele viu Papyrus abrí-la, entrando em seu quarto, apreensivo. Por outro lado, Papyrus estava vendo Sans sentado na cama, pensativo e sério. Papyrus fechou a porta e surgiu um clima estranho no local, deixando-os em silêncio por alguns segundos até que um deles começou a falar.

Papyrus: Eu... Não quero te forçar a falar sobre isso, mas...

Sans suspirou fundo e imaginou que seu irmão queria que ele explicasse tudo. Honestamente Sans nunca desejou ter que contar a verdade a ele sobre seu passado. Mas agora, ele sabia que não podia esconder mais nada, inclusive, ele esperava que seu irmão respeitasse sua decisão. Antes mesmo de abrir seu maxilar, Papyrus o interrompeu, falando o que ele pensava.

Papyrus: ... Sans, você é meu irmão e eu te conheço mais do que qualquer um. Eu posso não me lembrar desse Gaster, mas quer saber? Eu não me importo com o que você fez no passado, Sans! Eu sei que você não é mau! E tenho certeza que a humana pensa o mesmo de você!

Sans olhou para seu irmão repentinamente, assustado com as palavras dele. Ele não conseguia descrever o imenso alívio que sentiu naquele momento. Sans deixou de olhar para seu irmão enquanto sorria levemente.

Sans: Heh... Obrigado Paps. ...Eu posso não ser mais quem eu fui, mas ele continua sendo o mesmo... Ele vai ir atrás dela sem hesitar e se ele conseguir o que quer... Tudo estará acabado.

Papyrus: O que está dizendo, irmão?

Sans: Se ele conseguir o artefato, tudo o que construímos até agora será destruído, nem mesmo o que Frisk fez teria sentido algum...

“... Até mesmo deixaríamos de existir...”

Papyrus: Está dizendo que isso tudo nunca teria acontecido?

Sans: Sim...

Papyrus: E... Você acha que podemos fazer ele voltar ao normal?

Após ouvir a pergunta, Sans suspirou novamente. Não era mais como antigamente quando Frisk expulsava as trevas dos monstros, ele conhecia Gaster e sabia que ele não estava possuído, ele ERA assim. Falar a verdade provavelmente iria desapontar seu irmão, mas ele tinha que aceitar.

Sans: ... Não Paps, ele não está possuído, ele sempre foi assim... Obcecado por poder. Só há um jeito de parar ele...

... Exterminando-o.

Ouvindo aquilo, Papyrus ficou chocado. Ele não esperava que agora eles devessem matar alguém para garantir a segurança de todos. Naquele momento, Papyrus sentiu seu peito arder de frustração, ele simplesmente não conseguia aceitar isso vindo dele.

Papyrus: Sans... Eu não acho que matar seria o certo...

Sans: Bem... Não posso te obrigar a pensar como eu, Paps. Você é ingênuo demais pra entender.

Papyrus: Mas, Sans...

Sans: O almoço está pronto? Melhor descer, se não, pode esfriar.

Logo após interrompê-lo, ele se levantou e saiu do quarto para descer e Papyrus o seguiu, chateado. Ele não sabia como fazer Sans mudar de ideia e esperava que houvesse um meio de impedí-lo. Enquanto isso, na casa da família real, Frisk estava almoçando com seus pais na mesa. Estando pensativa, ela mal tocava no prato enquanto refletia sobre o acontecimento no laboratório. Tanto Asgore quanto Toriel a viram agir estranho e se perguntaram se ela ainda estava pensando no acontecido. Por um momento, Frisk ouviu Toriel a interromper.

Toriel: ... Está gostando do almoço?

Frisk: ... Sim, está ótimo.

Asgore: Se não comer logo pode esfriar.

Ela sorriu e voltou a olhar o prato que ainda estava intacto. Ela não conseguia deixar de pensar no que Gaster falou. O que ele havia mencionado sobre Sans a incomodava muito. Frisk suspirou alto e seu sorriso caiu, ela deixou os talheres no prato e ficou de cabeça abaixada.

Frisk: Desculpe... Não estou com muita fome.

Toriel: ... Ainda está pensando no que viu antes?

Frisk: Eu... Não consigo acreditar no que ouvi. Depois de tudo que ele fez... Por quê?

Seus pais não sabiam o que falar naquele momento e se entreolharam preocupados. Frisk não esperava uma resposta e logo entendeu que não poderia dizer tais coisas sem saber a verdade.

Frisk: O que eu estou falando... Eu não posso dizer que conheço vocês de verdade, eu não sei o passado de ninguém.

Asgore: Frisk, não pense que deveria ser sua obrigação saber. Infelizmente não temos controle sobre as consequências que vêm do passado.

Frisk: Mas eu achei que o passado não importava mais...

Asgore: Eu gostaria de concordar, mas infelizmente eu não posso dizer isso...

Frisk parou quando Asgore havia a interrompido e viu seu olhar de tristeza, ela o olhou, assustada e logo entendeu o que ele tinha falado. Ele e Toriel tiveram um passado trágico da mesma forma e eles não sabiam que Frisk conhecia a história deles.

Frisk: Me desculpe, eu não quis...

Toriel: Está tudo bem, Frisk.

Após se desculparem, eles continuaram almoçando em silêncio. Frisk não parava de olhar seu prato, se perguntando por que Gaster disse aquelas coisas. Ela realmente queria saber o que Sans fez no passado e ela tinha que achar um jeito de convencê-lo a contar. Frisk não se conformava em ter que ser sempre a protegida nessa situação, logo, ela se sentiu determinada.

Depois de terminarem de almoçar, Toriel recolheu os pratos para ir até a cozinha e Asgore e Frisk ficaram sentados na mesa, tentando encontrar coragem para olhar para o outro. Frisk não fazia ideia de quem foi Gaster e porque saber de sua existência causou temor não somente aos irmãos esqueleto, mas a seus amigos também. Ela queria conhece-lo, ou melhor dizendo, ela sentia que deveria saber quem ele era.

Frisk: ... Você conhece Gaster, certo?

Ouvindo a pergunta, Asgore suspirou levemente, sentindo um pesar em seu coração, por algum motivo, relembrá-lo deixava-o triste.

Asgore: Sim... Gaster era o Cientista Real antes de Alphys, nos fomos amigos por muitos anos. Ele era o gênio da ciência, foi ele quem construiu o núcleo e fez descobertas que melhoraram ainda mais a vida dos monstros... Mas infelizmente, suas escolhas levaram-o a um caminho destruidor.

Frisk: ... Como assim?

Asgore: Gaster se esforçou muito para descobrir a origem do artefato e trazê-lo até nós. Como cientista, ele estava disposto a quebrar a profecia da lenda e conseguir um meio no qual os monstros sejam libertados por suas mãos. Ele usou todos os meios que ele pôde usar... Até mesmo sua vida.

A partir dali, Frisk começou a entender porque Gaster ficou tão obcecado em conseguir o artefato. Ele foi capaz de morrer sem conseguir descobrí-lo e isso era um motivo a mais para ir atrás dela. Mas ainda havia mais uma dúvida, ela queria entender porque Sans havia agido com tanta raiva ao ouvir a voz dele.

Frisk: ... E porque ele agiu daquele jeito? Por que Sans disse...

Asgore: Me desculpe Frisk, não posso falar sobre isso.

Frisk ficou intrigada ao ouvir a resposta dele enquanto começou a vê-lo agir com nervosismo e suando frio. Asgore começou a evitar olhá-la com mais frequência.

Frisk: ... Por que não?

Asgore: Entenda, nós... fizemos um acordo sobre isso.

Ele ficou mais nervoso ainda e não queria contar a verdade para Frisk. Já bastava Toriel ser insistente com ele e agora ela. Enquanto isso, ela fechou os punhos e começou a olhá-lo mostrando insistência, ela não ia desistir de tentar convencê-lo.

Frisk: ... Gaster está atrás de mim, eu preciso saber quem ele é e o que ele fez... Por favor...

Ao ver o olhar dela de ternura, Asgore acabou cedendo, mesmo relutantemente.

Asgore: ... E-está bem... Isso vai ficar entre nós, ok?

Frisk concordou imediatamente e ambos se viraram para olhar a cozinha, ouvindo Toriel lavar os pratos e murmurando uma musica. Eles se viraram novamente e Asgore respirou fundo antes de contar.

Asgore: Sans foi seu assistente enquanto Gaster estava vivo. O que me surpreende é que ninguém o conhecia, exceto alguns de seus estudantes...

Frisk: “Por isso Alphys o conhecia?”.

Asgore: ... Enfim... O único que o conheceu de verdade foi ele. Quando Sans veio até a mim, ele disse que houve um acidente no laboratório e Gaster havia caído na sua criação. Ele me contou todas as coisas que fizeram até mesmo o que causou sua morte. Ele esteve disposto a renunciar o cargo e a trabalhar para mim em outro posto, e eu prometi que não revelaria seu passado em troca.

Ouvindo isso, Frisk percebeu que Sans tinha alguma razão para ter abandonado seu cargo. Ela queria saber por que ele tinha ódio do seu passado e o que Gaster fez com ele e, provavelmente, com Papyrus também. Ela decidiu saber a verdade, novamente, ela se sentiu determinada.

Frisk: Eu preciso saber...

Asgore: Desculpe, não posso falar mais do que isso.

Frisk: Então eu vou falar com ele.

Depois disso, Frisk se levantou e se dirigiu até seu quarto, decidida. Asgore se levantou perplexo, e ele apressadamente a seguiu.

Asgore: Frisk, não acho que ele vai contar a você. A ultima coisa que ele quer é contar seu passado a alguém.

Frisk: Mas eu preciso saber quem Gaster foi. Eu posso achar um jeito de impedí-lo. Por favor, pai...

Asgore não queria mais cair nas insistências dela, ele queria que Frisk estivesse segura e sabia que estava indo longe demais, era muito arriscado deixá-la sair. Ele fechou seu punho e olhou para ela, relutantemente.

Asgore: Me desculpe Frisk, não posso deixar você sair. Você está mais segura aqui com sua mãe e eu. Entenda... Eu estou fazendo isso para o seu bem.

Frisk: Mas...

Asgore deu as costas para ela e não queria discutir mais sobre esse assunto. Frisk não estava acreditando no que ouviu, ela o olhou assustada por um momento e não queria ter que discutir com ele. Era realmente arriscado sair sendo que Gaster estava atrás dela e Frisk não tinha como se defender. Ela se virou, chateada, e foi até seu quarto, batendo a porta. Asgore ouviu-a entrando em seu quarto e se sentiu triste por ter proibido-a de sair, mas sabia que era pro seu bem naquele momento. Enquanto não houvesse uma solução que traria seus poderes de volta, ela tinha que estar segura. Enquanto isso, Toriel encontrou Asgore sozinho no corredor e foi até ele, perguntando o que havia acontecido. Depois que Asgore contou a ela o ocorrido,Toriel entendeu, olhando tristemente.

Toriel: Bom... Eu vou fazer uma torta.

Enquanto isso, Frisk estava em seu quarto, depois de algumas horas, inconformada consigo mesma. Ela não queria ficar ali igual um pássaro na gaiola, Frisk tinha que dar um jeito de sair dali, mesmo se tivesse que “fugir”. Seguindo sua estratégia, Frisk foi até a sua janela e vendo que o sol estava se pondo e o vento soprando levemente, ela começou a medir a altura de onde estava com seu próprio olho e estimava a altura da janela até o chão.

Frisk: Que bom... Agora pareço uma princesa fugindo do castelo...

Antes de pular, Frisk pensou que não queria magoar seus pais por estar desobedecendo, mas ela sentia que se ela não fizesse nada, isso não iria se resolver tão cedo. Ela estava determinada a pular dali e então, ela se segurou pelas batentes da janela e colocou suas pernas para fora sem fazer barulho. Frisk ficou se segurando entre a batente da janela e o relevo da parede da casa e estava a um metro de distância do chão. Tentando não olhar para baixo, ela contou até três e se soltou, caindo no chão.

Frisk podia dizer que machucou suas pernas na queda, mas sua preocupação estava mais em não ter sido descoberta, fazendo a dor desaparecer. Ela se levantou rapidamente e correu da sua casa, pegando sua bicicleta e pedalando pela rua, indo até a casa dos irmãos esqueleto. Ela tinha que fazer isso rápido antes que Asgore e Toriel descobrissem que ela havia fugido temporariamente.