Heart Beats Harder

O eterno e a herança


Liam demorou a voltar ao seu estado normal. Piscou várias vezes e depois se viu sendo encarado por todos ali.

- Fiquem aqui. O treinamento terminou por hoje, montem acampamento. – Liam passou por todos os homens indo em direção ao lugar onde Kaio tinha adentrado na floresta.

{ ... }

- Todos aqui! – Zayn ouviu Jass gritar. Encontrou a jovem de volta ao centro da vila, vestida com a calça e as botas de couro preto. “Linda”, Zayn espantou esse pensamento.

- Vamos ao treinamento com facas. – Ela continuou.

Jazz tirou do cinto uma faca que deveria ter 20 centímetros. Afiada e brilhante. Começou então a brincar com a ferramenta mortal entre os dedos. Ao olhar de Zayn a faca parecia só um feixe de luz se movendo rapidamente sob o poder de Jass. Era impressionante, ele teve que admitir.

- Facas são precisas, imediatas. Só devem ser usadas por aqueles que têm certeza absoluta do que querem. Se a espada é o prolongamento de nossos braços a faca seria a ponta afiada de nossos olhos.

Todos ouviam a jovem com admiração. Cada palavra tinha neles um efeito de ensinamento, estavam ali para aprender tudo o que podiam. Algumas crianças assistiam a tudo sentados na grama que cobria um morro ali perto.

- Por exemplo. Eu quero muito comer maça. – Jass sorriu e sem olhar para o lado atirou a faca naquela direção. A faca foi de encontro a uma macieira. E como num passe de mágica, a faca se fincou no tronco com uma maça em sua lâmina. Jass caminhou até lá e pegou a fruta e a faca. Jogou a maça para uma das crianças, que vibrou ao pegá-la. – Agora vamos, com muito cuidado, peguem suas facas.

Aquele grupo era formado somente por homens, tinham no máximo 30 anos. Todos obedeciam ao que Jass dizia, faziam perguntas que erram respondidas atenciosamente.

Zayn assistia a tudo e por impulso procurou a faca que deveria ter na cintura. Não estava lá é claro. Nunca tivera uma aula como aquela. O que Jass ensinava mistura teoria, prática e filosofia de vida. Ele queria estar ali aprendendo e se aperfeiçoando como um guerreiro.

{ ... }

Claire estava na biblioteca do castelo. Era uma sala enorme, com livros em estantes altas e escuras. A luz do final de tarde já falhava e por isso a jovem mantinha algumas velas acesas para ler. Estava em um sofá de dois lugares, em frente a uma lareira que não estava acessa ainda. Tinha os pés descalços em cima da mesa, e os cabelos bagunçados de sempre. O vestido era cheio de camadas e tinha uma gola fechada. Era evidentemente demais para ela.

Louis tinha procurando a jovem pelo castelo todo depois do almoço, mas se sentiu um idiota por não tê-la procurado primeiro na biblioteca. Quando abriu a porta e viu as sombras que as luzes das velas faziam, sorriu com o pensamento. Foi até o lado do sofá e observou um pouco a cena. O sorriso crescia.

Então um sorriso apareceu no rosto de Claire, que estava entretida com a história.

- Este livro deve ser bom mesmo. – Louis brincou com as mãos na cintura. Estava vestido com uma das roupas que usava sempre.

Uma camiseta de veludo com mangas longas de cor grafite, no peito listras do veludo em um tom de cinza mais claro eram colocadas entre listras da mesma cor que as mangas. A camiseta não tinha gola, apenas um colarinho elevado de três dedos. A costura, os botões, o fecho do cinto preto que estava por cima da camiseta, e os detalhes bordados eram dourados. A calça era de couro preto e as botas mais baixas do que as de combates, eram de veludo preto.

- Ah, não vi que estava aí Louis... – Claire tirou os pés da mesa e se posicionou do sofá.

- Não precisa se incomodar por minha causa. – Louis se sentou e colocou os pés em cima da mesa, confortável. Claire sorriu e voltou a ocupar a posição em que estava. – E então, a história é boa?

- É um conto de fadas... Eu gostaria de dizer que eu só estava lendo para contar a história a Maria e as crianças depois, mas eu estaria mentindo... – Ela disse sem jeito.

- E por que mentiria? – Louis disse sem entender.

- Eu sei que não deveria mais ler essas histórias de contos de fadas, já passei da idade de acreditar em um “felizes para sempre”...

- Não acho que exista uma idade certa para se deixar de acreditar em amor eterno. – Louis olhou para Claire.

- Mas em um momento as pessoas deixam de acreditar. Você, por exemplo, sei que não acredita em nisso. – Claire o olhou nos olhos. Os dois estavam com a cabeça encostada no assento do sofá e tinham os rostos a dois palmos de distância.

- Acho que nunca pensei sobre isso... O amor sempre foi um assunto bem distante, como algo que eu nunca fosse ter. – Louis disse essas palavras e ficou esperando algo na expressão de Claire.

- Eu entendo. Sempre fomos destinados a nos casar não é? O amor nunca foi uma opção. – Claire disse olhando as próprias mãos com o olhar triste. – Eu acho melhor terminar de ler no meu quarto... – Ela disse se levantando. Louis pode perceber que ela segurava o choro e escondia o rosto dele.

- Espere... – Louis queria dizer algo que a fizesse ficar ali por mais um tempo. Mas nem ele mesmo sabia o que se passava pela cabeça dele.

- Não precisa falar nada. Eu entendo mesmo... – Ela deu um sorriso com os lábios fechados e saiu da biblioteca.

Louis voltou a se sentar, com o rosto dentro das mãos. Tentava colocar os pensamentos em ordem.

{ ... }

Liam ainda estava andando pela floresta, fizera isso quase a tarde inteira. A essa hora, nem procurava por Kaio, estava mais procurando uma maneira de voltar para o acampamento.

Foi quando ouviu o barulho de um galho se quebrando e o barulho ecoou por cada fibra do seu corpo.

- Soldado, vai ter que fazer melhor que isso para me assustar. - Liam disse se virando para o lado de onde o barulho parecia ter vindo.

- Não fui eu. – Kaio disse deitado no gralho de uma árvore acima da cabeça de Liam – Deve ter sido Docga.

- O que? - Liam disse arqueando a sobrancelha.

- Docga, meu cachorro. Ele não gosta de estranhos, não é muito sociável... Não é Doc?

Liam se virou para ver com que Kaio estava falando. O animal devia ter uns dois metros, da cabeça até as patas da frente. Liam não queria nem pensar o quanto deveria ser grande ao ficar em pé sob as duas patas traseiras. Estava soltando um som ameaçador pela garganta.

- Ahm... Seu cachorro? Isso é um lobo gigante! – Liam disse dando alguns passos pra trás.

- É, eu sei. É por isso que eu só o alimento com carne. - Kaio disse com um humor na voz.

- O que? Como você cria esse animal aqui?

- Eu não o crio. Eu estou na casa dele e não o contrário. Ele só me tem como um amigo... Ainda bem.

- Então diga a ele que não vou fazer mal nenhum a ele.

- Ah, eu não precisa dizer isso! É claro que você não vai fazer mal a ele! Nem se quisesse você iria! – Kaio riu. O riso foi estranho, como se quisesse segurar o tom da voz.

- E então o que devo fazer? –Liam olhou para o soldado, suplicando ajuda.

- Doc, pode ir. Esse é o príncipe e a carne dele é estragada... Um nojo. – Kaio disse se colocando de pé em cima do galho.

O lobo rosnou uma última vez e saiu.

- Como você faz isso? – Liam voltava a respirar.

- Eu nasci e fui criado com bichos. Às vezes acho que sou mais animal do que humano. – Kaio disse isso e depois soltou da árvore, caindo de quatro e depois se colocando de pé.

- Eu sei o que quer dizer. – Liam disse depois de ver o salto – E o que faz aqui no meio do nada?

- Como assim no meio do nada? Tenho tudo que preciso aqui. O rio é pra lá, tem uma caverna ali e o acampamento é logo ali. – Kaio disse como se Liam soubesse onde ficava tudo.

- Como você sabe disso?

- Eu gosto de conhecer o lugar onde vou ficar. Muito me espanta que o senhor, que mora aqui desde sempre não conheça nada. Ficou andando em círculos a tarde inteira!

- Estava me vigiando? – Liam colocou as mãos na cintura.

- Não queria que o reino ficasse sem o seu precioso príncipe. – Kaio deu os ombros - Agora vamos, vou te levar até o acampamento.

- Espere. – Liam não se mexeu.

- O que foi? – Kaio se virou para ver o príncipe.

- Desculpe se pareço estar te dando tratamento diferente...

- Sem problemas... Já estou acostumado ser tratado de maneira diferente.

- O que quer dizer? – Liam perguntou.

- Nada. – Kaio achou melhor terminar a conversa por ali. – Vamos. – Ele começou a andar e logo foi seguido pelo príncipe.

{ ... }

Já era hora do jantar quando Lili e Harry chegaram no castelo.

- Boa noite! Gostaria de apresentar a minha convidada, a... – Harry se lembrou de que não sabia o seu nome.

- Podem me chamar de Lili, por favor. – Lili sorriu, meiga.

- Seja bem-vinda minha jovem! – O Rei disse, se levantando da mesa e beijando a mão de Lili.

- Obrigada, é uma honra conhecê-lo.

- Por favor, sente-se e jante conosco. – Disse a rainha.

O jantar seguiu calmo, todos foram hospitaleiros e gentis. Claire ainda tinha o semblante triste, mas de forçava a parecer normal e a não olhar para Louis. Liam havia chegado do acampamento e pedido o jantar no quarto. Quando fazia isso era porque nãoe estava para conversa.

{ ... }

Zayn já estava dormindo quando ouviu passou se aproximando por suas costas.

- Sei que está acordado. – Era a voz de Jass.

Ele se virou e a viu vestida como o Ladrão Negro. Estava segurando uma manta pesada nos braços.

- Roubou muito hoje? – Zayn perguntou pronto para começar uma briga.

- Só o necessário. Como você já deve saber, faço isso para alimentar minha gente. Não é um orgulho. – Ela disse sem alterar o tom da voz – Trouxe isso pra você. Deve fazer frio durante a madrugada. – Ela abriu a manta e o cobriu.

Zayn nunca esperou isso. Não sabia como agir.

- Obrigado. – Ele disse confuso – Deveria mostrar seu lado humano mais frequentemente.

Jass sorriu.

- Ah claro. E liderar todo esse povo com carinho e beijinhos. Não é assim que funciona, você devia saber disso.

- Eu?

- Claro. Você é o chefe da segurança não é? Responda-me: se você pedisse por favor acha que eles iriam te obedecer?

Zayn encontrou a lógica da pergunta.

- Exatamente. Agora se imagine como uma mulher e só então começará a entender o que eu passo.

- Mas eles te chamam de Anjo Negro...

- É... Anjo Negro é minha herança. Mas não sou nenhum anjo... Meu pai sim é que era. O maior e melhor líder de todos os tempos... – Jass dizia pensativa – Todos esperavam que ele tivesse um filho homem que continuaria seu legado. É aí que eu entro.

- Você parece ser uma grande líder.

- Não... Eu deveria fazer esse povo prosperar e melhorar de vida... Não vejo como fazer isso se continuar a roubar. – Jass olhou para Zayn – Espero que você seja uma saída pra isso. Amanhã começaremos a negociar.

- Já?

- Por que? Está gostando da estadia? – Jass riu.

- Não... Eu queria aprender algumas coisas... Como o que você fez hoje com a faca.

- Um homem do Rei está pedindo o treinamento há uma ladra? – Jass ergueu a sobrancelha.

- Sim. – Zayn ergueu a cabeça.

- Está bem. Seu treinamento começa amanhã. Mas se tentar fugir farei de tudo para que não chegue inteiro ao castelo. – Jass terminou em tom de ameaça.

- Não vou fugir.