Hayate No País Das Maravilhas!

Capítulo 12 - A Escolha de Hayate



Hayate via-se diante do maior dilema enfrentado em todos os seu breves dezesseis anos de vida. Muitos fatos perigosos, confusos e constrangedores aconteceram desde que ele chegou à esse lugar chamado País das Maravilhas. Mas o mais difícil estava acontecendo agora. Durante muitos anos, ele rezou aos céus para ter uma chance de reencontrar Athena ao menos mais uma única vez em sua vida, para poder explicar-lhe apropriadamente a história do anel, confessar que estava errado e se desculpar com ela. Bom, agora Athena estava diante dele. Mas surpreendentemente ele tinha a chance de fazer muito mais do que isso. Porém, mesmo que tivesse a chance de voltar para o Royal Garden e viver junto de Athena pelo resto de seus dias, ele não se sentia nem um pouco feliz. Talvez pelo fato de ela tê-lo acusado de tantos erros ao mesmo tempo, mostrando claramente que ainda tinha raiva dele. Mas era mais do que isso. Athena foi muito importante para ele, mas ela agora não passava de uma forte lembrança do passado. E Hayate não poderia voltar ao passado depois dos dez longos anos em que passaram sem se ver. Ele tinha uma tarefa mais importante para cumprir. Alguém no presente que precisava proteger. Mesmo que alguém no País das Maravilhas pudesse transformá-lo de volta em uma criança de seis anos (o que ele não duvidava nada), Hayate cresceu e amadureceu interiormente, ele não era mais aquela criança chorona e dependente que foi salva por Athena uma vez. Ele precisava fazer uma escolha... e tinha que ser agora.


- Antes de eu dar minha resposta, gostaria de dizer uma coisa. Me permite, Majestade? - pediu o acusado
- Hunf... está bem, mas seja breve - Nagi respondeu mal-humorada como sempre
- Obrigado - ele fez uma breve reverência - A-tan, desde aquele dia em que você me expulsou do seu Castelo, eu sempre quis te dizer uma coisa: Você estava completamente certa sobre o que disse antes. Um pai e uma mãe que são capazes de vender o próprio filho para pagar uma dívida de jogo realmente não passam de lixo humano. Hoje eu percebo que meus pais são mesmo a escória da humanidade. Mas naquela época, eu era uma criança tola e fraca, que acreditava que meus pais tinham salvação... você se lembra do quanto eu era bobo, não é? Por isso, eu não pude perceber o quanto eles foram cruéis comigo durante toda a minha existência... porque eles fingiam se importar comigo, me dando falsos sorrisos, quando na verdade tudo o que eles queriam era explorar meu dinheiro e meu trabalho. Aquele anel que você me deu era realmente muito importante pra mim, como um tesouro valioso... não pelo fato dele ser extremamente caro, mas sim porque foi você quem me deu. Eu tive medo de algum ladrão entrar em casa e roubá-lo, então meus pais sugeriram que eu o guardasse em um banco. Eu deveria tê-lo deixado em casa comigo... era uma criança tola, e não percebi que o "banco" no qual eles me levaram pra deixar o anel era na verdade uma casa de penhores. Eu sinto muito por ter perdido o seu precioso anel daquela forma tão estúpida, e por ter ferido seus sentimentos. Você estava certa em me expulsar do seu Castelo no fim das contas. Eu sempre... quis me desculpar por isso. Desde que percebi o quão aproveitadores meus pais eram, eu... sempre quis me desculpar com você. Mas sabe, A-tan... eu realmente sofri muito quando você me deixou. E desde então, trabalhei como um condenado fazendo todo o tipo de coisa que se possa imaginar, pra me tornar um homem de valor. Acho que ainda estou longe de me tornar alguém assim tão importante, mas... acho que hoje estou um pouco mais forte do que era naquela época. Isso porque... porque encontrei uma linda Ojousama que me aceitou ao lado dela. Eu fui abandonado por você e pelos meus pais, mas... mesmo eu sendo essa pessoa com cara de pobre e sem valor nenhum, a Ojousama quis me manter ao lado dela até hoje. E para honrar a confiança que ela depositou em mim, eu quero me tornar cada vez mais forte, para protegê-la de tudo e de todos... até mesmo desse lugar de sonhos. Isso porque... no presente momento, a Ojousama é a pessoa mais importante na minha vida.


Hayate se virou de frente para Nagi, respirou fundo, e disse:


- Nagi-Ojousama... ou melhor, Rainha Nagi. Sinto-me honrado em você me oferecer sua mão em casamento como uma "punição" pelo que eu fiz... mas, para alguém como eu, isso não seria uma punição, e sim uma bênção. Seria como um presente dos céus que alguém tão comum como eu pudesse se casar com a única herdeira dos Sanzenin. Mas uma pessoa tão humilde, que não tem nem onde cair morta como eu não pode aceitar tal honra. Então, ao invés de me casar com você, Ojou... quero dizer, Majestade, eu gostaria de lhe pedir que me aceitasse como seu mordomo. Quero continuar vivendo ao seu lado, a partir de hoje, e pelo dos dias da minha vida, como mordomo da Rainha, protegendo e cuidando de Sanzenin Nagi... seria uma grande honra se me permitisse fazer isso.


Hayate ajoelhou-se diante da Rainha e inclinou um pouco a cabeça, rezando para obter uma resposta positiva. Em seguida ele ouviu passos em sua direção, e quando ergueu um pouco o rosto, viu que Nagi estava diante dele.


- Antes de eu anunciar um veredicto, quero que me responda uma coisa - falou a Rainha séria - Por que você me fez a mesma promessa que fez para ela?
- A mesma... promessa?
- Sim - confirmou Nagi - Há dez anos atrás, você prometeu para Tennousu Athena que ficaria ao lado dela para sempre, protegendo-a como seu mordomo. E agora, você me faz exatamente a mesma promessa, dizendo que quer passar o resto da sua vida ao meu lado, me protegendo como meu mordomo. Como posso acreditar em alguém que promete exatamente a mesma coisa para duas garotas diferentes? Como vou saber se, daqui há alguns anos, você não vai me deixar e jurar proteção à alguma outra garota rica?
- Bem... é verdade que prometi o mesmo tipo de coisa para duas pessoas diferentes. Eu realmente não deveria ter feito isso... falando assim, parece muito irresponsável de minha parte - Hayate admitiu com um sorriso sem graça - Mas Ojousama, parece que você se esqueceu de uma coisa: Eu não passava de uma criança ingênua quando jurei proteger A-tan... e convenhamos que uma criança de seis anos não pode proteger nem a si mesma, quanto mais proteger outra pessoa. Além do mais, no dia em que meus pais me enganaram e venderam aquele anel, A-tan me expulsou do Royal Garden. Não digo que ela estivesse errada, pelo contrário, ela estava coberta de razão quando me expulsou do Castelo... mas o fato é que minha relação com A-tan terminou naquele dia. Pode-se dizer que ela terminou comigo no dia em que me expulsou. Eu realmetne queria encontrá-la uma última vez... mas era apenas para pedir perdão por tê-la magoado, e nada mais do que isso. Nunca tive a intenção de voltar a viver com ela, nem nada do tipo. A-tan foi sim uma pessoa importante na minha vida... mas "foi" no passado. Não é bom vivermos de lembranças, o que passou, passou. Devemos viver o presente.. e você é o meu presente, Nagi-Ojousama. Você salvou minha vida quando meus pais me abandonaram com aquela dívida absurda que eu não tinha como pagar... o mínimo que posso fazer é salvá-la também. E pra isso, gostaria de passar o resto dos meus dias ao seu lado, protegendo e cuidando de você... se me permitir fazer isso, é claro.


Hayate tornou a abaixar a cabeça, ainda ajoelhado diante da Rainha, esperando pela resposta que decidiria sua vida. E para a surpresa de todos ali presentes e não só de Hayate, Nagi também se ajoelhou, ficando na mesma altura que ele.


- Ano nee Hayate... suas palavras foram mesmo muito bonitas, e realmente tocaram meu coração de pedra... mas você está se esquecendo de uma coisa: A garota que você quer proteger é Sanzenin Nagi-Ojousama. Eu sou a Rainha Nagi de Copas. Então, acho que você está se declarando pra pessoa errada, mas... se me acha tão parecida assim com sua Ojousama, por que você não fica aqui de uma vez? Fique ao meu lado, e me proteja sempre... mas não como meu mordomo. Eu amo você, Hayate... sempre amei, e sempre acreditei que você também me amava. Não me importa se você é pobre ou se tem essa cara de menina, eu não me apaixonei por você por causa da sua aparência ou da sua conta bancária. Então, fique comigo.. e vamos governar juntos o País das Maravilhas.


Hayate estava pasmo em ouvir aquelas palavras. Claro que ele sabia que essa declaração era fruto de sua imaginação, ou sonho, ou ilusão, ou o que quer que o estivesse fazendo acreditar que ele estava no País das Maravilhas, mas ainda assim era bastante embaraçoso ouvir sua Ojousama dizendo que estava apaixonada por ele. Não, não era apenas embaraçoso, era bem mais do que isso... lhe causava uma sensação estranha no estômago, como se um bando de borboletas estivessem voando dentro dele e o quisessem fazer voar junto. Seu coração batia desconfortavelmente, como se quisesse sair pela boca, e ele sentia suas mãos suarem e tremerem ao mesmo tempo. Hayate nunca sentira isso antes, nem mesmo por Athena, então não sabia dizer que sensação era aquela, tão boa e tão ruim ao mesmo tempo.
Ele respirou fundo, tentando se acalmar, ficou de pé, e Nagi se levantou junto, ainda encarando-o.


- Sabe, você tem razão... você não é a minha Nagi-Ojousama, e sim a Rainha Nagi de Copas - ele admitiu, sorrindo sem graça - E embora eu precise voltar para a Mansão Sanzenin o quanto antes, apesar de não saber como fazer isso... tem uma coisa que eu venho querendo fazer já tem algum tempo. Eu espero... não perder a minha cabeça por isso.


Hayate se inclinou até que seu rosto ficasse na mesma altura do rosto de Nagi e, abraçando-a pela cintura, Hayate selou seus lábios nos dela, roubando o primeiro beijo da garota. Nagi corou furiosamente com a repentina ação do rapaz, e apenas deixou-se ser beijada pelo garoto que amava há tanto tempo. Ainda tremendo, e muito lentamente, ela conseguiu jogar seus braços em volta do pescoço dele, abraçando-o com força. Era uma sensação maravilhosa estar beijando aquela menina de quem tanto gostava, quase que uma mágica. Lentamente Hayate sentiu como se pudesse flutuar, talvez um tipo de "efeito especial" das borboletas em seu estômago. Ele a abraçava cada vez com mais força, com medo de que ela fugisse. Já não importava mais se ela mandaria cortar sua cabeça depois disso, ele poderia morrer feliz de tão boa que era a sensação de beijar a pessoa mais especial para ele.


- Eu te amo... minha Rainha...


E então, lentamente, ele sentiu seus corpos se afastando, mas não como se Nagi tivesse se afastado dele, e sim como se seus corpos estivessem se dissolvendo, ficando transparentes, como o de um fantasma. Ele tentou abraçá-la com mais força, para não deixá-la escapar, mas só conseguiu abraçar o vento.

E então ele ouviu:


- Acorda Hayate!!!


Uma forte pancada na cabeça o fez abrir os olhos bruscamente. Ele estava deitado à sombra de uma grande árvore do jardim dos Sanzenin. Não usava mais o vestido de Alice, e sim seu uniforme de mordomo. E Sanzenin Nagi estava de pé de frente para ele, aparentmente furiosa.


- Rainha... n-não, quero dizer... Nagi-Ojousama...?
- Estou te chamando há horas, seu idiota surdo!! Não me ouviu não, é?! - a loirinha gritou irritada
- Ouvi... estava indo te procurar, mas... de repente a Maria-san passou correndo na minha frente com uma roupa de coelho, daí eu caí num buraco, e encontrei a Hinagiku-san e a irmã gêmea dela, e depois a...
- Como é que é?! - Nagi o interrompeu - Que história absurda é essa?! A Maria, vestida de coelho?! Ela nunca se vestiu assim! Bom, pelo menos não que eu saiba... e não tem nenhum buraco no jardim, nem a Hinagiku não tem nenhuma irmã gêmea! Só aquela irmã mais velha inútil dela, nossa sensei na escola, você sabe!
- Parece que o Hayate-kun teve um sonho muito interessante - Maria se aproximou, forçando um sorriso - E que história é essa de sonhar comigo vestida de coelha, hein Hayate-kun??!
- Hein?! Ahh e-eu não fiz por mal, Maria-san, é só que... - ele parou de falar, finalmente percebendo o que a maid falara - Espera aí, um sonho? Então... foi tudo um sonho...?
- Bem, você passou um bom tempo dormindo debaixo dessa árvore, então eu creio que sim - respondeu Maria
- Mais importante que isso, Hayate! - exclamou Nagi - Quem é essa Rainha que você disse que amava no seu sonho, hein?! Quem é ela???
- Sim... então foi tudo um sonho mesmo... - Hayate murmurava para si mesmo, sem ouvir a pergunta da garota - Mas é claro... claro que era um sonho. Aquele monte de absurdos, não poderia ser outra coisa... a Hinagiku-san não tem irmã gêmea, a Isumi-san não tem asas de borboleta, o Wataru-kun e a Saki-san não têm um relacionamento amoroso, embora isso não me pareça tão fantasioso assim... é claro, nem a Yukiji-sensei tem orelhas e cauda de gato, nem a Nagi-Ojousama poderia ser uma Rainha tão cruel à ponto de mandar cortar a cabeça das pessoas só porque plantaram uma roseira errada no seu jardim... então foi um sonho mesmo. Apesar de que aquela última parte... parecia ser tão real...
- O que foi que você acabou e falar, Hayate?! - Nagi interrompeu seus devaneios - Você... enquanto você sonhava, você disse que amava uma "Rainha"... e agora v-você está dizendo que... q-q-que eu era essa Rainha...?
- Ehh? Ahh não!! N-Não é o que está pensando, Ojousama, por favor, não me entenda mal!! - Hayate apressou-se a dizer, sentindo seu rosto esquentar numa velocidade alarmante - É só que... bem... e-eu realmente sonhei que você era uma Rainha, mas... e-eu nunca quis... q-quero dizer, sei muito bem que uma pessoa importante como a Ojousama jamais ligaria pra um cara pobre feito eu, então... n-não é como se eu não soubesse qual é o meu lugar, sabe... err... i-isto é...


Hayate se atrapalhou tanto com as palavras que achou melhor ficar calado. Ele sentia seu rosto queimar como se estivesse em chamas, suas mãos tremiam tanto que ele às escondeu nas costas, e ele rezava para que Nagi não o mandasse embora depois desse atrevimento.


Nagi também sentiu seu rosto esquentar diante da repentina declaração de seu mordomo. Ela abaixou um pouco a cabeça, tentando esconder o rubor de seu rosto, e tentava pensar em alguma coisa legal pra dizer em resposta, só não sabia bem o quê.


- Ora, ora... parece que esse seu sonho foi bem inspirador, hein Hayate-kun? - Maria quebrou aquele silêncio constrangedor - Nagi, você não acha que precisa dar uma resposta à ele?
- C-Cala a boca, Maria, eu sei disso!! - gritou a menina, tão nervosa quanto Hayate. Ela segurou uma das mãos dele entre as suas, e murmurou envergonhada - A-Ano nee Hayate... não me parece que você saiba mesmo qual é o seu lugar, então eu vou te dizer qual é: O seu lugar é... ao lado de Sanzenin Nagi, para todo o sempre. Quero... quero ter você ao meu lado hoje, amanhã, semana que vem, ano que vem... quero estar sempre, sempre com você. Mas sabe... não precisa ser... exatamente como meu mordomo, entende? Q-Quero dizer, independente da sua origem ou do seu passado, você... err... é uma pessoa muito importante pra mim. Então, mesmo se algum dia, você deixar de ser meu mordomo, eu gostaria... que você continuasse ao meu lado. E você pode... err... e-eu quero dizer que... b-bem, eu não me importo de você ter esse tipo de sonhos comigo de vez em quanto, é isso! Porque isso mostra... que eu sou importante pra você também.


Nagi fez um esforço pra erguer a cabeça e o encarou receosa, e viu que o garoto a mirava surpreso, mas feliz. Ele segurou a outra mão dela e respondeu:


- Hai... arigatou, Ojousama. Eu não tenho nenhuma intenção de deixar de ser seu mordomo, mas se isso acontecer algum dia, pode ter certeza de que Ayasaki Hayate continuará sempre ao seu lado, te protegendo. Seja como um mordomo, como um amigo, ou como qualquer outra coisa, eu... estarei com você pra sempre
- Hai! É uma promessa, Hayate! - ela estendeu o dedo mindinho, e Hayate o entrelaçou no seu, e os dois cantaram juntos:
- Yubikiri genman tsuitara hari senbon nomasu. Yubi kitta!¹
- Agora, Ojouama, por que você estava me gritando tanto afinal? - Hayate perguntou
- Ah, é por que... hãn... era por que mesmo, hein Maria??
- Não se lembra, Nagi? Aquele robô construído pela Makimura-san, uma versão atualizada do "Oito", invadiu seu quarto e estava destruindo a Mansão, lembra? - respondeu a maid com uma calma impressionante
- Ihh caramba é mesmo!! Tinha esquecido completamente!! - Nagi gritou - Hayate, você precisa deter aquele robô o mais rápido possível!
- Entendido, Ojousama!


Hayate foi correndo para dentro da Mansão, seguido pelas duas garotas. Tudo o que aconteceu no País das Maravilhas realmente parecia um um sonho agora, exceto pela última parte. Graças àquele sonho, Hayate estava um pouco mais consciente de seus sentimentos, e mais convencido de que fizera a escolha certa. Mesmo que fosse apenas como seu mordomo, e mesmo se um dia ele não pudesse mais viver na Mansão Sanzenin, Hayate não se arrependia nem um pouco de sua escolha. Ele continuaria protegendo Sanzenin Nagi com todas as suas forças para sempre... e jamais deixaria que algo de ruim acontecesse à garota que realmente amava.


¹ Antiga cantiga japonesa usada ao se fazer promessas. Na tradução seria algo como "Eu prometo, eu prometo. Se quebrar meu juramento, terei que engolir mil agulhas*.

~*~THE END ~*~

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.