~ le Bruno

Chegou a hora de Alícia vir ao mundo. Antes de ir me vestir, liguei pra minha mãe, Rita e Phill, avisando. Me vesti e fui para a sala de parto. Amy estava muito nervosa, as mãos geladas, e seus belos olhos azuis brilhando. Depois de 15 minutos de puro nervosismo, Amy avisa

— Bruno - sussurrou ela

— Sim, meu amor

— Ela está chegando, eu estou sentindo - sorri

— É? Logo ela estará aí… - apertei sua mão

— Eu senti tudo, todos os cortes, eles estão puxando ela… - sorri, quase chorando, e apertei sua mão de novo

— PRONTO. OLHA SÓ QUEM ESTÁ AQUI! - disse Dr Edward. Segundos depois ouço aquela melodia esperada por tanto tempo, ansiava por aquele som desde que soube da gravidez da Amy, era o chorinho da minha pequena. De repente os aparelhos ligados a Amy dispararam, ela começou a sentir muita falta de ar e respirava com muita dificuldade. Fiquei desesperado, o que estava acontecendo? Ela apertou a minha mão e disse em quase um sussurro

— Protege …. a nossa ….. princesa

— Não, Amy, Não me deixa - supliquei

— Eu … te … amo - e fechou seus olhos

— NÃO! AMY !!! - segurei seu rosto - VOLTA PRA MIM, POR FAVOR - eu chorava, desesperado, isso não poderia estar acontecendo. Mas já era tarde, só se ouvia o aparelho que media seus batimentos parado, aquele som ecoando pela sala. Amy havia partido.

— Sr. Hernandez, por favor, se retire da sala e reze bastante - não consegui dizer nada, apenas me retirei daquele lugar sem olhar pra trás. Parei de costas para a porta olhando pro nada e dei meia volta, observei tudo da abertura de vidro. As lágrimas desciam sem esforço vendo aquela cena: Amy em uma cama de hospital, médicos tentando ressuscitá-la com choques, seu corpo saltava da cama voltava e nada dela voltar. Me escorei na parede ao lado da porta, e minhas pernas pareciam não aguentar o peso do meu corpo, e acabei desabando no chão. Por que a vida está sendo tão injusta comigo? Estaria eu pagando por todos os meus pecados? Só conseguia chorar, mais nada. Meus pensamentos só iam nela, por que a tiraram de mim?

— Sr Hernandez? - Olhei pra cima, e Dr Edward me olhava com uma expressão séria - o senhor terá que ser forte - me levantei do chão, e olhei pra ele - Infelizmente ela teve uma parada cardíaca após o parto e não conseguimos salvá- la, fizemos o possível, eu sinto muito. - Aquilo me quebrou por dentro. - Com licença

Andei por aqueles corredores do hospital parecendo um zumbi, perdi a pessoa que eu mais amava no mundo por um deslize meu. Cheguei a recepção e Rita estava sentada com um olhar triste. Assim que me viu, levantou-se de onde estava e veio até mim

— E então Bruno, nasceu? - disse sorrindo

— Sim - disse os olhos marejados

— O que aconteceu? - disse passando as mãos no meu rosto limpando as lágrimas

— O que eu mais temia - o semblante de Rita mudou totalmente, de uma expressão assustada, foi para uma de tristeza sem fim

— Ai meu Deus .. não me diga que … ai não dá pra acreditar

— Imagina pra mim? - disse e não consegui conter as lágrimas

— Calma Bru - disse ela e me abraçou. Ficamos um tempo abraçados e ela me soltou

— Você viu a sua filha? Ela precisa de você!

— Não, eu ainda não a vi

— Então vamos vê-la pra você se acalmar, ok? - Rita me pegou pelo braço e saiu andando pelos corredores do hospital, até que ela parou em frente a uma sala, parecia a maior de todas, tinha uma pequena porta e uma grande “janela” de vidro. Era o berçário. Rita conversou um tempo com a enfermeira, que logo me chamou pra entrar na sala. Caminhamos até uma incubadora

— Amy Ferráz. Sim, essa é sua filha - disse sussurrando. Olhei atentamente para a incubadora e a vi: era muito pequena, branca, mas ainda estava vermelhinha, cabelos negros com pequenas falhas. Mexia os bracinhos, na maioria das vezes colocava em seu rostinho, suas perninhas chutavam o ar, uma criança normal, bem agitada. Até que ela percebe a minha presença e vira a cabeça para me olhar e … fico totalmente hipnotizado por aquela menina, ela tinha toda a fisionomia da Amy: olhos azuis profundos, nariz bem desenhado, e sua boca bem pequena e bem avermelhada

— Ela é perfeita .. - sussurrei - igual a Amy. Te amo princesa, serei seu guardião daqui por diante, irei te proteger de tudo e de todos - passei a mão pelo vidro da incubadora de leve. Saí da sala correndo, eu precisava de um tempo pra processar tudo aquilo: Eu não tinha mais a Amy, mas agora tinha uma vida que necessitava de 100% de mim

— Bruno, onde você vai? - disse Rita. Parei, me virei e disse andando de costas

— Eu preciso de ar - me virei e saí do hospital.

~ le Rita

Bruno saiu correndo daquele jeito, dizendo que precisava de ar, fiquei sem entender

— Oi! Aquele homem é o pai da bebê? - disse a enfermeira

— É sim, ele precisou sair

— É que a menina vai sair da incubadora agora, ela precisa mamar. Mas me informaram que a mãe faleceu no parto, não é?

— Sim, é por isso que ele está desse jeito

— Então a senhorita pode dar a primeira mamadeira dela. Olhe, entre na 3° sala a direita e aguarde que vou levá-la, ok?

— Sim, tudo bem. - Me encaminhei pra sala que ela dissera, e lá havia mães, pais, avós alimentando seus bebês. Sentei em uma poltrona grande e preta que lá havia, deixei minha bolsa no braço da poltrona e aguardei. Logo a enfermeira veio com um embrulho cor-de rosa nos braços

— Aqui está ela - e me entregou. Ela era tão pequena, e tão gostosa de segurar. Parecia uma boneca - Segure ela nesta posição e dê a mamadeira aos poucos, senão ela engasga

— Mas ela está dormindo .. - disse ajeitando sua pequena franja

— Não, só está quietinha. Logo ela reclama de fome. Volto já - e saiu. Fiquei a observando, ela era tão perfeita, a menina mais encantadora do mundo. Ela abriu os olhinhos …. e me hipnotizou. Aquele azul profundo dos seus olhos, me despertou um sentimento de protegê-la de qualquer coisa. Era amor a primeira vista. Ela bocejou e começou a chorar, foi quando despertei do transe

— Está com fome amor? - Peguei a mamadeira e dei como a enfermeira me ensinara. Enquanto ela tomava seu primeiro leite, eu refletia: Eu já a amava como se fosse minha filha, como se ela tivesse saído de dentro de mim. Era o meu bebê que não tive a oportunidade de conhecer. Prometi a Amy que cuidaria dela e vou cumprir. - Serei seu anjo da guarda, a protegerei de tudo e de todos. Acompanharei cada passo seu. Serei a sua guardiã, Alícia - e dei um beijo em sua testa.