Beatriz POV:

Sábado foi tudo normal. Saímos para tomar café da manhã. Fizemos qualquer coisa durante a tarde. Eu tentei manter a cabeça longe dos problemas. À noite, quando ninguém estava vendo procurei por um teste de gravidez, no banheiro finalmente achei aquele pacotinho abençoado (ou não).

Adrianna bateu na porta da cabana e eu escondi o pacote rapidamente dentro da minha mala. Adrianna carregava uma caixa nas mãos, a qual colocou na minha cama. Depois de pegar as outras duas caixas e colocar também na minha cama eu perguntei:

- Oque é isso?

- Oque é isso? – ela repetiu incrédula – Isso são as fantasias – ah, como eu tinha me esquecido disso?

Sem esperar Carol começamos a nós arrumar. Minha fantasia era de bailarina e a de Adrianna era de domadora. Como estávamos muito curiosas resolvemos dar uma espiada na de Carol. Era uma fantasia de palhaço. Não entendemos muito bem o tema da festa. Pois até onde eu saiba, bailarinas, domadoras e palhaços não tem nenhum tema em comum. Pelo menos não para ser o tema de uma festa, não é?

Seguimos pela trilha até o Salão de Festas. Vimos das mais diversas fantasias e ficamos cada vez mais confusas. Ao entrar na festa tudo se encaixou. As paredes estavam pintadas de varias cores em linhas retas. No palco havia contorcionistas na frente e um DJ atrás. Num dos cantos da festa havia um gradeado com um leão e sua domadora dentro. Pendurados no teto dois arcos pegavam fogo, propositalmente. Era um circo.

Tentei agir normalmente, como se nada tivesse acontecido, como se eu não estivesse grávida. Dancei, conversei porem não bebi.

Domingo, como teve a festa ontem tive uma desculpa para dormir até tarde. Mas o motivo não era a festa. Essa semana tinha passado se arrastando pra mim. E sinceramente, eu não via a hora dos Hawaii Games acabarem. Fé. Só mais duas semanas e esse pesadelo acabaria. Não é como se nada tivesse valido a pena. Pelo contrario, tive muitas experiências boas, mas também tive muitas experiências ruins. Eu deveria ter ficado no Brasil. Arranjado uns problemas brasileiros (porque os havaianos estão difíceis de aturar) e um namorado normal e não internacionalmente e famoso, bem, não tão famoso, afinal, não é todo mundo do Brasil conhece Harry Styles.

2011 tinha valido a pena. Menos os Hawaii Games. Passava de meio dia quando Carol veio me arrancar da cama. Arrancar no sentido literal. Fomos até a cozinha da Vila, já que nós não tínhamos nossas próprias cozinhas nas cabanas pequenas. Comemos comida congelada, pois nenhuma das duas estava a fim de colocar a mão na massa.

- Cadê Adrianna? – perguntei.

- Saiu com Austin – ela deu uma garfada na comida – Derek brigou com Thayer ontem – isso tinha chamado minha atenção.

- Por quê?

- Por causa daquela garota... Qual o nome dela? Vee, eu acho.

- Vee? – arqueei uma sobrancelha.

- Sim, parece que Derek gosta dela e Thayer estava pegando ela – eu não tinha gostado do temor pegando, mas não repreendi Carol por causa disso.

[...]

Segunda-Feira, quinta semana:

Pelo visto essa semana também iria se arrastar. Sábado eu iria fazer o teste de gravidez. Fui tomar café da manhã, mas não participei do jogo, eu não queria sofrer mais nas mãos dos coordenadores e diretores e quem quer que fosse que fez todas as crueldades comigo.

- Você não vai? – Carol perguntou durante o café.

- Não.

- Por quê? – perguntou Naomi.

- Não estou me sentindo bem... – fiz uma voz de enjoo.

- Não quer que a gente te leve pra enfermaria? – Derek perguntou, ele agora tinha uma marca roxa na face esquerda do rosto.

- Não, estou bem, é só uma dor de cabeça, um enjoo... – Peter fez um som de nojo só para me provocar – Cala a boca – falei rindo.

- Ok, então. Você vai ficar na cabana não é? – Adrianna me olhava com preocupação.

- Sim – sorri de canto.

Eu não participaria de outro jogo, grávida ou não. Já não bastam as cenas na TV e todo o vexame que eu passei. Graças a deus eu não havia conhecido nenhum Gossiper, pelo menos, eu esperava que não. Eu acho que não iria aguentar uma coisa dessas. Seria demais pra mim.

Voltei o mais rápido possível para a minha cabana. Eu nunca tive tanta vontade de me esconder debaixo das colchas. Nunca tive tanta vergonha na minha vida, embora ninguém soubesse da minha suposta gravidez. Ainda bem, eu não ia aguentar todos me julgando. Já bastam os chifres. Sim, os chifres.

Dormi até a chegada de Ade e Carol. Nenhum conhecido havia ganhado, ou seja, cabana pequena, menos luxuosa e sem cozinha. Eu estava satisfeita. Alias satisfeitíssima, porque aquela cabana pequena era mais aconchegante e por alguma razão minha vergonha parecia ficar menor toda vez que eu entrava nela. Isso era um alivio.

Terça-feira, quinta semana:

Nada de interessante aconteceu hoje. Levantei cedo, tomei café da manhã com todos, conversamos sentados no pátio grande de grama junto com outros players. Esse dia além de cansativo foi chato. Pelo menos Thayer não veio atrás de mim me encher o saco, oque eu tinha achado extremamente estranho. Acho que todos estão começando a notar meu comportamento diferente. Estou mais quieta, mais evasiva. Peter foi oque mais achou estranho. Hoje no café da manhã ele se aproximou de mim e perguntou se estava tudo bem e eu respondi:

- Ahn sim, por quê? – tentei disfarçar meu total desespero.

- Porque você está mais quieta...

- Ér... Deve ser impressão sua – ri nervosa.

- Deve ser – ele sorriu de canto. Ele não estava conformado, mas Peter não era do tipo que insistia muito. Coisa que eu tinha passado a admirar nas pessoas. Eu não tinha visto Harry ultimamente, me passou pela cabeça que talvez ele tivesse fugido, mas era só minha imaginação fértil falando mais alto.

Quarta-feira, quinta semana:

As garotas estavam empolgadíssimas para a festa, eu disse que não iria e elas começaram a me mandar enxurradas de perguntas e para todas eu disse que estava passando mal e etc. Ao chegar à cabana enquanto Adrianna tomava banho Carol me pressionava:

- Oque foi Bia?

- Estou passando mal – menti.

- Não minta! Eu sei que não está!

- Estou sim!

- Não está não! Eu conheço você! Sei quando esta mentindo e quando esta falando a verdade! Pelo amor de Deus confie em mim! Oque aconteceu? – Carol estava agitada.

- Carol, não é... – eu estava pronta para mentir novamente quando ela me interrompeu.

- Bia – ela falou séria – Vou perguntar pela ultima vez, oque aconteceu?

Não consegui aguentar, contei tudo a ela.

- Eu e Harry fizemos sexo sem camisinha – era estranho dizer a sua melhor amiga que tinha feito sexo (explicitamente) com alguém e que tinha esquecido a camisinha.

- Oque?

- É isso! É por isso que eu não quero participar de Jogos! Nem ir pra festas! Não estou com a mínima vontade de fazer alguma coisa! Eu só quero voltar pra casa – baixei o olhar – Quero que tudo isso acabe.

- Bia – Carol sentou-se do meu lado e me abraçou. Cai no choro – Tudo vai ficar bem, calma.

- Não vai – nada vai ficar bem.

- Só faltam mais alguns dias...

- Mais de 10 dias! – falei entre soluços.

- Você já fez o teste? – de repente eu tinha parado de chorar. O teste. Eu ainda não tinha feito. Pode dar negativo.

- Não – falei me levantando, eu já estava mais calma.

- Então? Porque não faz?

- Farei amanhã, quando completar uma semana.

- Espera – Carol me largou – Uma semana? Vocês... Fizeram semana passada?

- É – arqueei uma sobrancelha.

- Quando?

- No jo... – me proibi de terminar a palavra.

- Meu deus! – Carol gritou.

- Shh! Faça menos barulho!

- No meio do jogo? – Carol sussurrou com uma expressão meio surpresa meio bem humorada.

- Sim, não é engraçado Carol.

- Eu não acredito – e foi oque bastou pra ela cair na risada.

Expliquei a ela toda a história da tenda e tudo o mais. Quando Adrianna saiu do banho eu provavelmente estava toda vermelha porque Adrianna correu para me abraçar e perguntar oque aconteceu. Olhei para Carol pedindo socorro.

- Ela só está com muita saudade da família...

- Daqui a pouco acaba, só mais dez dias.

- Onze – corrigi.

- Dez, pois hoje está quase acabando – finalmente uma noticia boa.

Quarta-feira, quinta semana:

Adrianna admitiu hoje enquanto estávamos no quarto ficando prontas para ir tomar café da manhã que tinha escutado minha conversa com Carol e que sabia da minha provável gravidez.

- Desculpe – ela falou – eu ouvi sem querer, estava tirando a maquiagem quando escutei...

- Tudo bem – eu me sentia bem mais leve, pois agora eu podia conversar com Adrianna e com Carol. E eu sabia que elas não contariam a ninguém.

Sexta-feira, quinta semana:

Eu estava no pátio de grama esperando Adrianna e Carol terminarem o jogo. Thayer se aproximou de mim e em pouco tempo já estávamos discutindo, pelo mesmo motivo das outras discussões. Isso já estava se tornando cansativo para mim. Eu não sabia quanto tempo mais iria aguentar.

- Pelo menos não sou eu que vendo drogas! – falei rebatendo um dos desaforos que ele tinha me dito.

- Por que toda vez você fala isso? Não tem outra coisa pra falar não é?

- Você acha que vender drogas não é o suficiente?

- Eu devia ir embora daqui! – ele vociferou.

- Deveria mesmo – Thayer olhou para mim como se eu tivesse pegado uma espingarda e atirado perto do pé dele.

Sábado, quinta semana:

Hoje de tarde descobri que Thayer foi embora. Não sei oque senti ao certo. Mas Harry parecia ter ficado muito contente, pois foi o próprio que com um sorriso na cara veio me contar a noticia. Hoje haveria a festa temática. A quinta semana estava acabando, agora, só me restava mais uma. Adrianna e Carol pediram que eu fizesse o teste enquanto elas ainda estivessem lá, mas dei um jeito delas irem embora, garanti que ficaria bem.

Minutos depois que elas foram embora procurei nas profundezas da mala o pacote. Respirei fundo e entrei no banheiro. Depois de ler as instruções fiz o teste. Hoje eu dormiria em paz.

Domingo, sexta semana:

Depois de tomar café da manhã arrastei Harry para um lugar reservado e contei a ele as boas novas. Eu deveria ter lhe contado ontem, mas eu estava tão aliviada que tive vontade de dormir, nós últimos dias eu não dormira nem um pouco aliviada. Pelo contrario.

- Ah! Que noticia boa! – ele falou enquanto me abraçava – Não que eu não quisesse ter um filho com você, é que agora não.

- Tudo bem Harry – ri dele.

- Vamos comemorar!

- Não vou beber!

- Porque não? – falou não parecendo menos empolgado.

- Porque não, você sabe oque aconteceu da ultima vez.

- Danças em cima do balcão e quase uma gastrite?

- É – ri do “quase uma gastrite” eu fiquei morrendo de fome aquele dia, e tudo que eu tinha no estomago era uísque e outras bebidas que eu tinha bebido.

[...]

Dormi melhor do que na noite passada, eu estava tão aliviada.

Segunda-feira, sexta semana:

Hoje de manhã, depois do café, estávamos saindo do Salão de Refeições quando Peter tentou me beijar. Acho que ele não sabia do meu caso com Harry. Mas ele ficou muito decepcionado. Expliquei a ele que não queria me envolver com ele, que eu tinha tido problemas demais com garotos, até contei da minha quase gravidez. Ele foi muito compreensivo. E eu até disse a ele que Danielle tinha uma queda por ele, Danielle me mataria. Não participei do jogo novamente.

Pois eu havia prometido que não participaria de mais nenhum jogo. Já bastava tudo que tinha acontecido. Eu não ganharia mesmo. E nem tinha interesse em ganhar os Hawaii Games, porque assim como Peter, eu só estava aqui por experiência. E eu já tinha muitas, boas e ruins. Eu já nem me preocupava que essa semana passasse rápido, já que era a última e eu não estava mais “grávida”.