Beatriz POV:

- Se eu jugasse você por aparência – ele tinha parado de andar e agora me olhava nos olhos – Eu diria que você é só mais uma garota mimada, narcisista e egocêntrica.

Essa doeu. Fitei-o surpresa.

- Mas, como eu não julgo ninguém por aparência. – ele deu de ombros.

- Ouch.

- Qual o seu nome garota mimada? – ele brincou.

- Beatriz.

- Beatriz – ele repetiu com dificuldade.

- E você?

- Peter.

- Você não é americano ou britânico não é Peter?

- É, sou alemão – sabia que ele era nórdico.

[...]

Ao longo do almoço percebi o quanto Peter é legal, e quanto eu havia sido idiota com ele. Saindo do Salão de Refeições, percebi que Thayer estava esperando por alguém encostado numa palmeira. Abaixei a cabeça para que ele não me visse, aparentemente, não funcionou.

- Bia – ele chamou correndo em minha direção.

- Oque? – bufei.

- Eu só quero conversar – ele me olhou com cara de cachorro que fez xixi no tapete.

- Só conversar ou quer me vender algumas drogas também? – vociferei em voz baixa.

- Não seja assim – ele segurou meu pulso delicadamente e me puxou.

- Pra onde vamos?

- Pra caverna – meu corpo travou.

- Não, de jeito nenhum. – não é que eu achasse que ele fosse me espancar lá nem nada é só que, eu ia prevenir que ele me empurrasse na cachoeira de lá de cima e fizesse parecer que foi acidente.

- Porque não?

- Fale aqui, ninguém vai escutar você.

- Hm – ele analisou o lugar e finalmente disse – Ok. É só que, eu não faço mais isso. Eu estava com problemas na época e eu realmente precisava de um bico. Eu nunca... como é que eu posso dizer, consumi. Alguém me disse que muitas pessoas compravam daquela droga. E como a droga é proibida aqui dentro de qualquer maneira, eu achei que podia me dar bem. Mas, deu tudo errado e eu percebi que devia parar e eu parei, eu desisti dos jogos na quarta semana.

Precisei de um tempo para absorver todas as palavras. Ele havia me contado sobre sua vida difícil, porém isso não justifica sair vendendo drogas por ai, não é? Uma coisa importante que ele havia dito: que nunca havia consumido. Pra mim isso significava muito.

- Como Harry descobriu?

- Não sei, ele deve ter escutado eu conversando sobre isso com Tyler...

- Espera. Tyler?

- Tyler era um dos meus “clientes” – a palavra clientes tinha soado estranha.

- Oque, afinal, a anfetamina faz?

- Estimula a atividade do cérebro. Ele as usava para ganhar as provas – Thayer ficou cabisbaixo.

- Quer dizer que ele trapaceava? E você também?

- Já disse que eu não consumia.

- Mas... Quer saber, eu vou embora, eu acho que já foi o bastante por hoje.

Fui andando até a cabana, Thayer não fez nada, apenas observou. E eu que pensava no começo que iria fugir dos problemas do Brasil e iria apenas relaxar, tirar férias, mas na verdade a única coisa que eu havia conseguido era ainda mais problemas. Mas, pra minha sorte, amanhã ia ter festa. Com isso eu queria dizer, bebedeira. Chegando á minha cabana, esbarrei com Derek.

- Ah. Oi – cumprimentei.

- Oi, é que Thayer queria falar com você, ele disse que queria conversar com você sobre algo importante.

- Ah! Eu já conversei com ele.

- Ahn, será que eu posso saber? – ele perguntou envergonhado – É que eu fiquei curioso quando ele falou e...

- Derek, eu acho que você deveria perguntar a Thayer.

- Ok – ele fingiu entender.

- Ahn, quer entrar? – apontei para a porta da cabana.

- Não, obrigada. Combinei com uns amigos que iria pra praia, você quer ir? Chame as garotas também.

- É, pode ser. Tchau – falei entrando na cabana vagarosamente.

- Ok, tchau.

Todo mundo em “casa”. Inclusive Austin e Scott. Chegando ao topo da escada gritei:

- Vamos para a praia.

Adrianna logo abriu a porta do quarto dela.

- Agora?

- Sim, Derek e os amigos deles vão estar lá.

- Ok, só um minuto – Adrianna colocou a cabeça dentro do quarto e começou a conversar com Austin – Vamos?

- Sim – ouvi Austin confirmar dentro do quarto.

Entrei no meu quarto e peguei o primeiro biquíni que vi. Troquei-me rápido, peguei um vestido de praia e um chapéu e desci. Fiquei esperando sentada no sofá. Scott foi o primeiro a descer.

- Olá – ele cumprimentou enquanto se sentava no mesmo sofá que eu.

- Olá.

- Olha, eu sei que você tem tentado evitar isso, mas, oque aconteceu entre você e Thayer?

- Scott, eu briguei com ele...

- Por quê?

- Eu não posso contar... – tentei explicar, mas Scott não parecia satisfeito.

- Thayer disse que você descobriu algo sobre ele... Algo que você nunca deveria ter descoberto – balancei a cabeça em concordância – Oque foi?

- Acho que você deve perguntar isso a Thayer, não a mim, afinal, eu descobri algo sobre ele.

- Certo – Scott parecia desapontado.

- Desculpe, se eu pudesse, eu contaria.

[...]

Chegamos da praia à noite. Tomei um banho e comi alguma coisa na cozinha pra enganar a fome. Eu não estava nem um pouco a fim de fazer algo para comer. Deitei na cama e graças a Deus dormi quase que instantaneamente. Acordei quarta de manhã sem a mínima vontade de sair da cama. Mas a minha fome falava mais alto, acompanhei os outros até o Salão de Refeições onde comi o mais rápido que pude. Só quando estava terminando percebi que Peter também estava na mesa sentando conosco. Ele, pelo visto, já tinha acabado de comer também.

- Vou voltar para a cabana, eu quero dormir mais um pouco – levantei-me da mesa e sai andando, do lado de fora do Salão deixei o ritmo do passo diminuir.

- Ei, Beatriz – escutei alguém chamar atrás de mim.

- Sim? – falei me virando.

- Eu te acompanho – Peter parou do meu lado.

- Obrigada – sorri – Ah! Me chame de Bia.

- Bia, bem mais fácil do que Beatriz.

- É – ri.

- Você está triste? – ele perguntou olhando desconfiado.

- Eu? Não – menti.

- Mentirosa.

- Oque? Você nem me conhece.

- Não te conheço, mas sei quando alguém está triste – fitei-o desconfiada. Olhando, assim de perto, ele era muito bonito. Tinha as feições do rosto delicadas como nariz, olhos e bocas. Tinha o queixo formado numa linha perfeitamente reta, algo invejável. Ele caminhava com as mãos dentro dos bolsos da bermuda. Usava uma camisa polo vermelha.

- Porque veio pro Hawaii Games? – perguntei tentando mudar o assunto. Ele não me parecia pobre, e muito menos alguém que precisava fugir dos problemas.

- Por experiência.

- Experiência?

- Sim. Na Alemanha quando você termina o colégio você tem a opção de servir no exercito de algum país ou servir o exercito da Alemanha. Então, eu decidi ao invés de fazer isso vir pro Hawaii Games. E próximo ano vou servir no Brasil.

- No Brasil? – perguntei surpresa.

- Sim, todos dizem que é ótimo e...

- Eu sou brasileira.

- Sério? – ele perguntou surpreso.

- Sim – falei animada.

[...]

Fomos o caminho inteiro conversando, Peter era muito legal e descente. Ele me deixou na porta da minha cabana e depois foi embora. Ele era maravilhoso. Mas eu não pensava em me envolver com ele, eu já tinha problemas demais. Ele era um bom amigo. Não ligava quando eu mudava de assunto. Perfeito. Bem, como havia dito eu iria dormir. Mas tudo que consegui foi rolar na cama. Sai dela umas horas antes da festa começar. Todo mundo estava na cabana, pelo visto ninguém tinha cogitado a ideia de ir pra festa e provavelmente não iriam deixar que eu fosse sozinha. Então, esperei todos entrarem nos quartos pra sair escondida cautelosamente. Abri uma fresta da porta do meu quarto e observei o lugar. Nada. Abri o resto lentamente e sai nas pontas dos pés. Fechei a porta com o máximo de cuidado. Estava ventando, decidi que a porta da frente não seria a melhor opção. Andando sorrateiramente até a cozinha carregando minha bolsa e meus sapatos, esbarrei numa cadeira.

- Droga – sussurrei passando a mão no joelho. Fiquei parada sem fazer nenhum barulho. Esperei que alguém notasse. Pelo visto se um ladrão resolvesse entrar ninguém iria perceber. Ótimo. Assim ninguém perceberia quando eu voltasse. Continuei andando, mas dessa vez tateando pelas paredes e balcões para me certificar que não esbarraria em nada. Quando finalmente consegui sair da cabana. Calcei os sapatos e corri até o começo da vila.

Ninguém tinha me visto fugindo da cabana. Eu poderia beber em paz por hoje. Chegando a festa andei como se nada jamais tivesse acontecido da última vez, aliás, das ultimas vezes. Entrei na festa e procurei desesperadamente por um bar. Comecei a beber sem cerimonia. Dei até cabimento para os barmans que davam em cima de mim. Acho que já estava começando a segunda garrafa de uísque quando perdi totalmente a noção do que estava fazendo.

Micos? Com certeza eu devo ter pagado alguns antes de apagar totalmente.

Harry POV:

Cheguei à festa e fiquei conversando com algumas garotas. Algumas delas até davam em cima de mim, mas eu não estava interessado. Dei um jeito de fugir dali antes que elas percebessem meu total desinteresse. Pelo visto todos os meninos já estavam curtindo a festa, até Liam, quer dizer, ele estava conversando com um grupo de amigos, mas se isso era curtir uma festa pra ele, por mim tudo bem. Fui até o bar e sentei num dos bancos do final. Pedi um copo de uísque enquanto esperava percebi que no meio do bar havia uma garota que estava bebendo sem parar, pulei algumas cadeiras para ficar mais perto. Talvez eu a abordasse, chegando mais perto percebi quem era. Bia.

O barman colocou o copo na minha frente.

- Não, obrigada, eu não quero mais – recusei.

Me levantei do banco e andei devagar até Bia. Não queria assusta-la, ou surpreende-la. Ela parecia não se importar com minha proximidade. Ela se levando do banco e tentou andar quando desmaiou. Corri em sua direção.

- Bia? – balancei-a delicadamente. Ela não respondia. Com dificuldade a ergui e segurei-a no colo. Eu iria leva-la para a cabana. Sei que ela não gostaria, mas, eu não ia deixar ela aqui.

Cheguei à cabana dela quase desmaiando também. Não é que eu fosse fraco. Mas fazer todo esse trajeto já era cansativo e com alguém nos braços mais ainda. Bati na porta. Esperei um tempo do lado de fora.

- Olá? – Naomi atendeu a porta só de pijama.

- Olá, Naomi, vi deixar sua amiga.

- Ai meu deus! Oque aconteceu com ela?

- Ela desmaiou, licença. – entrei na cabana e subi as escadas. Naomi me seguiu – Qual o quarto dela? – Naomi apontou e eu entrei sem titubear no quarto dela. Deixei-a na cama. Meus braços agradecem. Virei para Naomi que já estava ao lado da cama – Você deveria dar um banho nela, ou deixar ela dormir – sugeri.

- Vou deixar ela dormir.

- Ok.

[...]

Saí dali, embora não quisesse, acho que seria o máximo que eu chegaria perto de Bia. Eu não voltaria pra festa, eu iria para a minha cabana dormir também.

Beatriz POV:

Acordei com uma tremenda dor de cabeça. Sibilei alguns palavrões e me levantei. Eu estava no meu quarto. Eu não sabia como tinha chegado aqui, mas estava muito grata que tinha conseguido chegar. Já tinha passado o horário do café da manhã, tomei banho vesti uma roupa normal e desci até a cozinha esperando não encontrar ninguém. Pensei errado. Naomi estava acordada comendo um sanduiche e tomando café.

- Bom dia – tentei disfarçar.

- Bom dia – ela sorriu.

Estava preparando algo para comer quando Naomi perguntou:

- Oque fez ontem à noite?

- Ahn, nada.

- Nada é?

- É – menti com firmeza.

- Você está com uma cara de ressaca – ela comentou.

- Hm.

- Está com resto de maquiagem no rosto...

- Ok, eu saí ontem – cedi.

- Pra onde?

- Pra festa.

- Sozinha?

- Sim, mas eu cheguei à cabana sozinha. Estou inteira – Naomi começou a rir.

- Sozinha? – ela perguntou entre risos. Eu não me lembrava de como tinha chegado, mas a risada de Naomi indicava que eu não tinha chegado sozinha.

- Não foi?

- Não.

- E quem foi?

- Harry te trouxe de volta.