Após os dois tapas Sergio respira fundo para controlar sua raiva, sentiu ciúmes ao vê-la defendendo e implorando pela vida de Lucas. Luiza havia se levantado e os dois se encaravam sem nem piscar, Luiza esperava o próximo passo de Sergio, não iria baixar a cabeça para ele. Sergio por sua vez já estava arrependido do que vez, a ideia era provar pra Luiza que ele poderia ser um homem bom, carinhoso, e ele falhou de novo, ele então se aproxima dela e acaricia o rosto vermelho dela.

Sergio: Me perdoa amor, por não ter conseguido me conter.

Luiza: Eu não te perdoo por nada Sergio, eu vou te odiar para sempre, dia após dia.

Sergio respira fundo, não queria ser agressivo de novo, achou melhor nem responder, ele apenas deu as costas e saiu do quarto. Ele foi até a cozinha, onde Zuleide preparava o almoço.

Sergio: Faça uma sobremesa para minha mulher Zuleide. Qualquer coisa que tenha brigadeiro, ela adora brigadeiro.

Zuleide: Sim senhor.

O telefone de Sergio toca enquanto ele voltava para sala.

Sergio: E ai, o serviço foi executado?

Capanga: Chefe, fizemos tudo conforme planejado, o carro explodiu, porém, quando nos aproximamos o corpo de Lucas não estava lá.

Sergio: Como assim não estava? Ele caiu do carro na hora do acidente?

Capanga: Quando posicionamos ele, nós colocamos o cinto de segurança, se ele não está no carro foi porque ele saiu.

Sergio: E vocês foram atrás dele não é.

Capanga: A gente ia mas… apareceu outro carro lá, viram o acidente e chamaram a polícia, então inventamos uma história qualquer e saímos de lá entes dos policiais chegar.

Sergio: Eu quero que voltem lá depois que a polícia sair para procurar ele. Eu vou ver meu filho, para aguardar informações sobre esse acidente.

Capanga: Ok chefe.

Sergio sai de casa praguejando tudo, o plano não podia ter falhado daquele jeito.

No quarto Luiza deitou em sua cama e chorava copiosamente, não pelos tapas de Sergio, mas pelo fato de que Lucas estaria morto naquele momento, e ela não conseguia evitar pensar que era sua culpa.

****

Otavio chegava cedo na delegacia, já fazia alguns dias desde que Luiza sumiu, ele estava desleixado, barba por fazer e muito abatido, não se alimentava direito pois não sentia fome então só comia quando suas filhas o obrigavam, outros que também ia todos os dias na delegacia eram Luiz Henrique e Marina, que estavam apavorados com a possibilidade de Luiza não voltar para casa. Fernanda, Natalia e Daniel se revezavam para manter as coisas menos ruim, cuidavam da Victoria, e tinham a tarefe de dar apoio a Otavio, Luiz Henrique e Marina, eram eles que conseguiam convence-los a comer e dormir, mas também estavam aflitos, com medo do pior.

Naquela manhã Otavio e Luiz Henrique chegaram juntos na delegacia, Marina tinha ficado em casa para descansar após muita insistência de Daniel, eles foram direto a sala aonde estava montado o comando de investigação do caso Luiza.

Otavio e Luiz Henrique: Bom dia.

Os dois vão até Fabian, e o cumprimenta com apertos de mãos.

Luiz Henrique: E ai cara, alguma novidade.

Fabian: Não muitas, o rastreio do carro do Lucas não vingou, mas descobrimos uma coisa. Ele deixou uma mensagem de voz para sua mãe.

Otavio: O que dizia a mensagem?

Fabian: Venham ouvir.

Os três vão até a sala de áudio e vídeo, e colocam cada um o fone.

*Começo da Mensagem*

Oi Luiza, eu imagino que estranhe eu estar ligando mas hoje aconteceu uma coisa estranha e eu acho que você deve saber para poder tomar cuidado. Me ligue assim que ouvir esse recado ok.

Um beijo.

*Fim da mensagem*

Luiz Henrique: Você acha que essa foi a emboscada.

Fabian: Não sei, a companhia de telefone informou que sua mãe ouviu a mensagem e ligou para Lucas logo em seguida, mas ele não atendeu.

Otavio: Deve ser por isso que ela procurou por ele no hospital.

Fabian: É possível, e isso é tudo que temos até agora.

Luiz Henrique: Não vi você por aqui ontem Fabian.

Fabian: A capitã me deu folga, bom na verdade ela me obrigou a tirar folga, me proibiu de vir até aqui, disse que me prenderia.

Nesse momento a capitã Hanna entrava na sala e ouviu parte do relato de Fabian e completou.

Capitã Hanna: E se não se alimentar detetive eu também vou mandar te prender.

Ela entrega a ele um saco com um lanche e um suco dentro.

Capitã Hanna: Bom dia a todos. Por favor me atualizem.

A capitã já sabia da gravação do telefone, então ficou todos em silencio pois não havia novos fatos para reportar.

Capitã Hanna: Ficaram todos mudos?

Fabian: Capitã, não temos nada a reportar.

Capitã Hanna: Isso é inadmissível, João eu quero que reveja os vídeos de segurança da rua, Fabian volte aquela cafeteria em frente ao escritório e veja se consegue mais alguma testemunha que possa nos dar algum coisa nova, eu quero todos se mexendo. Bora gente, bora.

Todos começam a se mexer, estavam revendo o que já tinham buscando extrair daquilo mais informações. Ficam para trás apenas Otavio e Luiz Henrique, Hanna não tratava muito com os parentes da vítima então se sentia um pouco desconfortável com essa situação.

Capitã Hanna: E vocês, como estão?

Otavio: Nada bem, essa falta de noticia me irrita.

Capitã Hanna: Irrita a mim também.

Fica um silencio constrangedor entre os três, que logo é quebrado, para alivio de Hanna.

Policial: Capitã, telefone para você na sua sala.

Capitã Hanna: Obrigada… Se me dão licença eu preciso atender.

Luiz Henrique: Tem toda.

Hanna sai.

Otavio: Essa senhorita é bem na dela não é.

Luiz Henrique: É sim, parece não saber o que falar com a gente.

Otavio: Pois é. Pelo menos ela lidera bem a equipe dela, estão todos se esforçando bastante.

Luiz Henrique: Eu não vejo a hora desse pesadelo acabar, de ter minha mãe de volta.

Otavio: Eu também aguardo ansiosamente por isso.

Luiz Henrique: Que tal um café?

Otavio: Claro, vamos.

***

Hanna vai até sua mesa e atende o telefone do seu jeito habitual, direto no assunto, ela não gostava de enrolação.

Hanna: Capitã Hanna Falando.

Detetive ao telefone: Olá capitã, ligo para reportar que o carro para qual passou alerta foi encontrado, ele estava envolvido em um acidente e pegou fogo. Ehh… não encontramos ninguém no banco do motorista, mas no banco de trás há um corpo carbonizado, parece ser de uma mulher jovem, os pés e mãos estão amarrados, acredito que pode se tratar do seu caso de sequestro.

A Capitã ouviu todo o relato sem interromper, ouvir que havia um corpo carbonizado abalou ela, sempre era muito difícil pra ela casos de sequestros que acabavam mal, traumas da sua infância, quando perdeu uma amiga para um assino em série, e todo vez que havia casos de sequestros ela se empenhava mais, mas nem sempre trazia as vítimas sã e salvas para suas casas.

Capitã Hanna: Obrigada detetive, minha equipe e eu chegamos ai em meia hora.

A Capitã reúne parte de sua equipe e segue até o local do acidente, ela fica aliviada de não ter encontrado com Otavio e Luiz Henrique no caminho, mas não conseguiu se esconder de Fabian, que ouviu o alerta e correu atrás dela para ir junto.

Fabian: Capitã… eu vou com vocês.

Capitã Hanna: Acho melhor você não vir junto Fabian, não sei o que vamos encontrar lá.

Fabian: Eu estou bem, vai ser pior se eu ficar aqui.

Capitã Hanna: Ok, mas por favor, vai obedecer as minhas ordens, eu não quero você perto do carro… me entendeu?

Fabian: Sim capitã

E todos seguem até o local do acidente, chegando lá o local já estava sendo periciado, o detetive responsável daquela cena se aproxima da capitã e de Fabian.

Capitã Hanna: O que temos aqui detetive?

Detetive: Bom, o carro saiu da pista e caiu ribanceira abaixo, mas esta estranho, não a marca de pneus no solo, o que indica que o motorista não tentou frear, e não conseguimos identificar o que causou o fogo, o tanque estava furado mas a perícia não identificou o que causouesse furo, não a pedras nem galhos por perto que poderia ter causado isso. É um acidente que não parece acidente.

Capitã Hanna: Tem alguma testemunha?

Detetive: Não, essa via é muito vazia. O casal que nos ligou disse que o carro já estava com as chamas fracas, então o acidente deve ter ocorrido a uns 40 minutos antes deles passarem por aqui.

Fabian: E o corpo encontrado?

Detetive: Está irreconhecível, acreditamos ser mesmo de uma mulher, como informei para a capitã por telefone. Mas só um exame mais detalhado para saber.

Capitã Hanna: Fabian, providencia a arcada dentaria com o dentista de Luiza.

Fabian: Sim capitã.

Hanna vai até o carro e observar os estragos, ao ver o corpo sente um arrepio, já viu vários corpos desde que entrou na polícia, mas sempre era desagradável pra ela.

***

Há alguns quilômetros do local do acidente se encontrava Lucas, ele conseguiu sair do carro e correr pela mata sem ser visto pelos capangas de Sergio, ele estava fraco pois lhe aplicaram um calmante, precisou se esforçar muito para correr e escapar daquela situação. Em certo momento ele chegou a margem de uma fazenda, lá havia um estaleiro que estava desativado, então ele decidiu se esconder ali para descansar e esperar o efeito do calmante passar, depois iria atrás de ajuda, precisava salvar Luiza, ele preparou um lugar para deitar de forma que se alguém entrasse no estaleiro não o visse, praticamente caiu ali, e dormiu.

***

Sergio chegava na delegacia com a cara mais calma do mundo, mas por dentro estava nervoso, com raiva, já tinha se certificado que Lucas não tinha ido atrás da polícia ainda então provavelmente estava perdido, então tratou de ordenar seus homens a buscar por ele, enquanto isso ele tinha outro serviço para fazer, ele se dirige até o necrotério. E lá ele encontra quem procurava, entra e fecha a porta.

Sergio: Você é o legista carniceiro.

Legista: Meu nome é Juan senhor, eu não sei por me chamou disso.

Sergio: Calma rapaz, um amigo seu que me indicou, tenho um serviço para você.

Juan: Que amigo?

Sergio: Cartel Lopez, lembra? Você atestou como morte acidental certas mortes que não foram acidental, lembra-se?

Juan: O que você quer?

Sergio: Logo chegará aqui um corpo carbonizada, quero que você ateste que o corpo é de Luiza Maldonatto. Em troca, claro, eu pagarei pelo seu serviço, pagarei o mesmo que o cartel paga.

Juan: Fechado.

Sergio nada mais fala, ele sai da sala do legista e avista seu filho no fim do corredor, então ele caminha a seu encontro.

Luiz Henrique: Papai, não sabia que estava aqui.

Sergio: Acabei de chegar filho.

Luiz Henrique: Te vi saindo da sala do legista.

Sergio: Estava perguntando pela capitã, mais ele não soube me dizer. Queria saber o andamento do caso.

Otavio apontou no fim do corredor também, viu Luiz Henrique acompanhado do Sergio, como sempre se incomodou com a presencia dele, mas não podia impedir, afinal ele era o pai de Luiz e Marina, então se limitava a compartimentar Sergio rápida e friamente.

Otavio: Olá Sergio.

Sergio: Otavio.

Otavio: A Capitã recebeu um chamado mas não souberam me responder sobre o que seria. Estou com mau pressentimento.

Luiz Henrique: Vou tentar falar com o Fabian.

***Local do Acidente***

O telefone de Fabian tocou, era Luiz Henrique, Fabian não atendeu de propósito, não conseguiria falar com o amigo naquela hora.

Capitã Hanna: Luiz Henrique?

Fabian: Sim. Quero confirmar se é ela primeiro.

Capitã Hanna: Claro, teremos essa informação em uma hora. O corpo já está a caminho do necrotério. As buscas pelo Lucas vão continuar sem nós, acho melhor estarmos na delegacia quando sair o resultado.

Fabian: Então vamos pra lá.

Capitã Hanna: Vamos.

****Delegacia****

O corpo retirado do carro estava sendo posicionado na maca.

Legista Clara: Boa tarde a todos. Juan, cheguei se quiser pode ir, eu assumo daqui.

Juan: Não, ahnn eu já estou pronto, pode deixar que eu faço esse e depois vou embora.

Legista Clara: Não precisa se incomodar, eu me apronto rapidinho.

Juan: Ah Clarita pode deixar que eu faço, estou precisando de hora extra.

Legista Clara: Ok, se faz tanta questão, então faça. Imagino que não vá querer ajuda?

Juan: Prefiro trabalhar sozinho, você sabe.

Legista Clara: É eu sei, vou tomar um café se é assim.

Juan: Vai lá. Tchau!

Legista Clara: Bye.

Juan esperou Clara fechar a porta para começar o a fazer a perícia, em poucos minutos encontrou traços deque aquele corpo não era de Luiza Maldonatto, mas fez todo o trabalho como sempre, seguiu todos os procedimentos, não podia deixar margem para questionarem sua perícia, e após 40 minutos ele finalizou, preencheu o formulário, e atestou que aquele corpo era de Luiza. Ele encaminhou o laudo para a capitã e se preparava para ir embora, fazer aquela fraude o deixava levemente nervoso, então quando a Legista Clara entrou ele se assustou e deixou a pasta com as informações e material de comparação cair no chão.

Legista Clara: Opa, cuidado Juanzito.

Clara abaixou para ajudar ele a juntar, e ela juntou justamente o raio x da arcada dentaria de Luiza, e da vítima ela olhou por poucos segundos quando sentiu os documento ser puxados da sua mão.

Juan: deixa eu arquivar isso logo, estou atrasado para um compromisso que tinha me esquecido, tchau Clarita.

Clara só respondeu tchau, ela ia perguntar algo sobre os raios x que viu mas nesse momento chegavam dois corpos para ela examinar, e eram urgentes então ela se aprontou para trabalhar.

****

Na sala da capitã se encontrava Hanna e Fabian atrás da mesa, e na frente estava Otavio, Luiz Henrique e Sergio.

Otavio: O chamado que receberam, era sobre o caso de Luiza?

Capitã Hanna: Sim Otavio, e eu trago notícias tristes.

Luiz Henrique: Como assim, o que aconteceu.

Fabian: Eu sinto muito cara, sua mãe não resistiu.

Luiz Henrique: Não… não pode ser. A minha mãe não.

Sergio ampara Luiz Henrique, que chorava desesperado com o que acabou de ouvir. Otavio estava paralisado, algumas lagrimas saíram dos seus olhos.

Otavio: Você disse que a chance de encontrá-la viva era alta.

Capitã Hanna: E eram. Mas não contava com um acidente de carro.

Luiz Henrique: Eu quero vê-la.

Otavio: Eu também.

Capitã Hanna: O corpo está carbonizado, não acho bom verem algo assim.

Otavio: (Grita) EU QUERO VÊ-LA AGORA.

Todos se assustaram com a reação de Otavio, ele parecia tão calmo segundos antes, mas ele não estava calma, ele sofria, sentia uma dor dilacerante, sentia-se como se ele tivesse morrido também.

Capitã Hanna: Vou leva-los para vê-la, se assim desejam.

Todos presente na sala da capitã se direcionam até o local onde o corpo se encontrava, mas só Luiz Henrique, Otavio e a Capitã entram, Clara tira o pano que cobria o cadáver até a altura do colo e se afasta um pouco do corpo, mas antes de se afastar vê uma coisa que a deixa intrigada, Luiz ao vê-la encosta na parede e cai sentado no chão, não conseguiu se aproximar mesa, Otavio ao contrário, foi até a mesa olhou aquele corpo, não reconhecia, estava irreconhecível.

Otavio: Você tem certeza que é ela?

Capitã: O legista confirmou.

Otavio nada mais diz, ele apenas sai da sala, sai da delegacia, precisava de ar fresco, sentia que seu coração ia parar de bater. Era como se ele deixasse de viver naquele momento.

***Apartamento Luiza***

Marina descia as escadas com Daniel logo atrás.

Daniel: Mari me espera, deixa eu preparar um café para você.

Marina: Não Daniel, desde de manhã que o Luiz Henrique não me dá noticia, eu quero estar lá.

Daniel: Mas pode comer antes de ir não acha.

Antes de Marina poder responder o seu celular toca, era Luiz Henrique, Marina atende apressada ao telefone. Ela ouve o que Luiz Henrique fala e cai no chão, como se suas pernas já não sustentasse seu corpo, Daniel a ampara.

Daniel: Amor o que foi?

Marina: Ela morreu Daniel. Morreu.

***Apartamento Otavio***

Fernanda e Natalia já haviam recebido a notícia, Fernanda saia correndo ao prantos, ia encontrar Luiz Henrique, Natalia chorava com o bebê no colo, Felipe estava com ela.

Continua…