A fazenda vizinha tinha uma cerca viva ao invés da cerca de madeira que predominava nas propriedades por ali. A planta, de longos espinhos entre as folhas verdes, se encarregava de repelir invasores. Maior parte do chão era coberta de pasto, salvo o caminho de pedras que interligava a entrada da fazenda com a casa e um enorme celeiro, de aparência semelhante ao da granja. A madeira das construções era escura, antiga e menos tratada para construção, os nós eram visíveis e as formas naturais; acentuando a aparência rustica.

Aurora seguiu até a casa e abriu a porta, Emma logo atrás.

–Mamãe? - ela chamou, mas não obteve resposta.

O interior da casa era um pouco mais escuro do que o normal. Os moveis eram de madeira semelhante a da construção; as cortinas eram escuras também.

–Ela deve estar no celeiro. - Aurora fechou a porta e se virou, levando Emma para outra direção. - Minha mãe gosta muito de animais. - o sorriso da moça agora revelava certo nervosismo. - Ela é um pouco excêntrica...

Emma se limitou a acompanhá-la com uma expressão neutra, não sabia o que esperar. Aurora empurrou a enorme porta do celeiro e um grito bestial quebrou a paz daquela manhã chuvosa. Alguns metros a frente, ergueu-se a figura de chifres que Emma vira deixando sua fazenda no dia anterior. Ao se virar, o manto negro estava coberto de sangue, e tinha um pequeno animal igualmente ensanguentado nas mãos.

–Bom dia, mamãe! - Aurora cumprimentou se aproximando.

–Bom dia, praguinha. - a figura retribuiu não muito sorridente.

–Essa é a Emma, da fazenda Encantada. - a princesa apresentou.

Depois que o arrepio passou, Emma pode raciocinar que a pessoa a sua frente era apenas uma mulher um pouco mais velhas, com o chapéu mais esquisito que já vira. O celeiro estava cheio de vacas de um lado e ovelhas do outro, incluindo a pequena ovelhinha recém nascida que a mulher tinha nos braços, e a ovelha-mãe deitada no chão logo atrás.

–Oh, sim. Sou Maleficent. Eu planejava devolver suas ovelhas junto com as vacas mas estava esperando isso - ela indicou o filhote em seus braços. - acontecer. Tem mais uma ovelha... deve estar por ali. O útero dela cai as vezes...

–Oi? - Emma interrompeu, de volta a seu estado de choque.

–O útero da ovelha. As vezes sai.

Emma piscou lentamente, processando as palavras.

–Isso é normal...? Dói?

–Como você acha que seria se seu útero caísse?

–Mamãe! - Aurora interferiu. - Ela acabou de chegar, tenha piedade.

Maleficent refletiu por um momento.

–Se isso acontecer, me chame que eu arrumo. - A mulher tentou parecer simpática.

–Sim, obrigada. - Emma falhou em transmitir tranquilidade em suas palavras.

–Vou buscar um copo d'água. - Aurora saiu correndo. - Oi Diavan.

Assim que a moça cruzou a porta, um corvo entrou e pousou no ombro de Maleficent.

–Tem um... - Emma apontou o pássaro.

–Esse é meu corvo, Diavan. - A mulher apresentou, alisando o pássaro.

Emma gostaria muito de se sentar. Sua vida não a preparara para as adversidades que encontrou hoje.

–Se preferir, posso cuidar da ovelha e do filhote até estarem recuperados e depois levo para você. - Maleficent ofereceu.

–Sim... sim, eu gostaria muito... - a situação, apesar de esclarecida, ainda era um tanto nauseante.

–Aqui! - Aurora veio correndo com o copo de água.

Diavan se assustou e saiu voando. Ela entregou o copo à Emma. Provavelmente não melhoraria muito o estado da loira, mas pelo menos estava fazendo alguma coisa.

–O que é isso...? - Emma notou alguma coisa na água do copo.

As duas mulheres se aproximaram para analisar também.

–É titica do corvo. - Maleficent concluiu.

Se afastaram. Aurora tomou o copo das mãos de Emma e jogou a água fora.

–Desculpe. Mamãe, Emma precisa de ração para as vacas. - A moça procurou encerrar logo a visita.

–Tem um saco perto da porta, pode levar. - Maleficent voltou a dar atenção à ovelha no chão e seu filhote.

–Obrigada. - Aurora puxou Emma pelo braço pra fora do celeiro.

–Tenha... um bom dia... - A loira tentou se despedir, todos eram tão educados na cidade...

Do lado de fora, Emma sentiu alivio em respirar ar puro, a tontura estava passando.

–Me desculpe, eu não sabia que... - Aurora trazia o saco de ração.

–Que isso, eu que agradeço por ter vindo comigo...

–Se você precisar de mais alguma coisa, pode falar comigo , okay?

–Sim, claro, muito obrigada...

A moça guiou Emma de volta pela fazenda e logo chegaram ao fusca amarelo. Aurora acomodou a ração dentro do carro.

–Quanto é? - Emma perguntou, já estava se sentindo um pouco melhor, seu café da manhã não revirava mais no estomago.

–Pode levar, você já pagou o suficiente por hoje. - Aurora acariciou o braço da loira gentilmente.

–... Muito obrigada. - Emma entrou no carro.

–De nada, volte sempre. - Ela se despediu.

Emma arrancou com o carro de volta para sua fazenda, a imagem de Aurora acenando diminuindo em seu retrovisor.