Emma acordou ainda com o gosto de chocolate na boca, agora um pouco menos agradável do que antes. Levantou-se e foi à cozinha baber água. Encheu o copo e olhou pela janela, o céu estava vermelho do sol poente. Se fosse sair para jantar, era melhor ir logo. Lavou a boca e deixou o copo na pia. Espreguiçou, endireitou a roupa, passou a mão no cabelo e conferiu a carteira no bolço. A casa logo estava escura o suficiente para dificultar a localização dos interruptores. Emma acendeu luzes o suficiente para fechar as janelas direito, insetos não eram bem-vindos. Ao abrir a porta da frente, viu as luzes da cidade acompanhando as estrelas do céu... a uma distancia considerável. Do outro lado da fazenda só se via estrelas e a escuridão do mato. Resolveu deixar a luz da varanda acesa ou não acharia a casa na volta. Trancou a porta, clocou a chave no bolso e atravessou a grama alta até a estrada de pedrinhas. A cidade não foi feita para carros. Atravessou a ponte de madeira e sentiu alívio em poder enxergar novamente onde pisava.

Os postes eram simples, sua iluminação era complementada pela das casas e próximas. Um pouco à frente Emma encontrou o único estabelecimento aberto, o bar. Do lado de fora podia-se ouvir a música e as risadas, e sentir o cheiro de comida quente. Pizza. De forno. Seu estomago foi imediatamente laçado. Não se lembrava da ultima vez que comera uma pizza feita na hora. Entrou.

–Emma!!!

Ela viu a prefeita se levantar lá no fundo; o rosto mais corado que algumas horas atrás, um largo sorriso e uma caneca na mão, vindo em sua direção. Algumas pessoas observaram a prefeita cumprimentar a forasteira, mas sem interromper suas atividades, turistas não eram incomuns. Regina passou um braço volta do pescoço da loira e a puxou para o balcão. Sentaram-se.

–Pois não? - Uma senhorinha muito simpática se prontificou a atende-las.

Emma observou uma garçonete alta, pele clara, longos cabelos lisos e escuros, num vestido tão vermelho quanto seu batom, levar um par de pedaços de pizza para a moça de cabelo castanho e ondulado que tocava piano animadamente.

–Um pedaço de pizza e o que mais? - A senhorinha se adiantou anotando num bloquinho.

–Isso! Hm... - Emma encarou a variedade de bebidas nas prateleiras atrás do balcão.

–Me acompanha! - Regina convidou, oferecendo uma caneca cheia que Emma nem viu ela pegar.

–Okay. - E pegou a caneca.

–RUBY!!! - A senhorinha chamou e a garçonete desencostou do piano, onde observava a moça de cabelo castanho tocar.

Boa parte dos adultos da cidade estavam ali. Alguns cantando perto do piano, jogando cartas nas mesas, ou apenas comendo e conversando. Todos pareciam se conhecer e se dar bem. A prefeita estava contando para a senhorinha do bar que Emma havia herdado a fazenda Encantada, mas isso não importa porque havia chegado o momento. A garçonete deslizou o prato sobre o balcão e Emma se viu diante de um lindo pedaço de pizza.

–Obrigada. - Ela disse sem desviar os olhos do prato.

–Bom apetite! - A garçonete respondeu e se retirou.

Emma pegou o pedaço e mordeu. Fechou os olhos sentindo o queijo derreter em sua boca deliciosamente.

–Um brinde! - Regina propôs virando-se para ela.

Emma não pensou duas vezes. Pegou a caneca, brindou e com um sorriso no rosto, deu um gole generoso.

–Ah, deixa eu te apresentar... - Regina se virou para chamar alguém.

E era só até aí que Emma se lembrava do dia anterior.

***

Emma acordou com um barulho lá fora. Não tinha a menor ideia do quê poderia ser mas parecia alguém andando sobre a grama, não apenas o vento. A cabeça pesava sobre o travesseiro, e não tinha vontade de abrir os olhos. Mas era melhor se levantar e ver o que estava acontecendo.

Com mais esforço do que de costume, sentou-se na cama sentindo o corpo dolorido. Notou que estava com a roupa do dia anterior, calça jeans e camiseta branca, menos a jaqueta vermelha que estava numa cadeira ali perto, e as botas que estavam ao lado da cama. Calçou-as e se dirigiu à janela da sala. Puxou a cortina para o lado, a claridade machucando seus olhos. Viu duas vacas gordas pastando do lado de fora, e uma figura sinistra envolta numa longa capa preta, ostentando... um par de chifres na cabeça... deixando a fazenda.

Emma esfregou os olhos e achou melhor voltar pra cama. Não estava em condições de lidar com isso agora. Largou a cortina e se virou para o interior da casa.

–Com licença, Ms. Swan?

Alguém chamou lá fora. Emma apertou os olhos e encolheu os ombros. Relaxou e resolveu ver quem era. Olhou pela janela novamente e Regina estava lá, de volta ao seu estado sóbrio, elegantemente montada em seu cavalo e trazendo um segundo cavalo consigo. Emma olhou para baixo, verificando se estava em condições de ir cumprimentar a prefeita. Estava usando calças. Suficiente. Esfregou o rosto, passou a mão pelo cabelo, e abriu a porta.

–Pois não? - Respondeu tentando não parecer incomodada pela claridade.

–Bom dia! - A morena se aproximou com os cavalos.

–Bom dia...

–Vim trazer seu cavalo! - Desceu da cela. - Esse é o Tornado.

Regina entregou as rédeas do outro animal à Emma, que o encarou por alguns segundos como se ele pudesse lhe explicar o que estava acontecendo. O cavalo limitou-se a abaixar para mastigar o capim crescente da fazenda, ignorando a presença de todos.

–Eles são gêmeos. - Regina informou.

–Oi? - Emma ainda estava um pouco confusa.

–Nossos cavalos. O seu é o Tornado e o meu é o Relâmpago, só essa mancha na cabeça que é um pouco diferente... - Ela acariciou a marca entre os olhos do animal.

Emma piscou os olhos lentamente.

–E já que você decidiu ficar, eu trouxe outro presente.

A prefeita sacou um boné azul do bolço de trás da calça e colocou na cabeça de ressaca da loira.

–Bem-vinda a Storybrooke!