Eram três horas da manhã. Estava chovendo e o céu em Seoul estava cinza. Todos na casa dormiam, menos eu e o Gaho, meu inseparável amigo de quatro patas que tomava todas as minhas dores durante a madrugada.

Não conseguia me concentrar para escrever o discurso de formatura, a página em branco se tornava um monstro cada vez que eu a encarava. Lembrava-me do tempo em que trabalhei na YG e compunha uma música por dia e me sentia um tanto quanto frustrado por não conseguir escrever dois parágrafos que no mínimo iriam conter alguns elogios à faculdade e aos professores, agradecimentos aos amigos e família e quem sabe um recado implícito para a Dara Park? Não, é melhor não... Fico vermelho e tremendo só de pensar na possibilidade de demosntrar para ela o que eu sinto...

Gaho já estava angustiado com minha quietude e resolveu brincar comigo ou me deixar furioso. Desceu da cama e foi até os fios do computador e fez xixi em cima! Ao vê-lo consumando a cena do crime, dei um grito que provavelmente deve ter acordado meus vizinhos e meus amigos que dormiam nos quartos ao lado do meu e esbravejei com o pequenino cãozinho. Tirei ele imediatamente de perto dos fios e o tranquei na varanda. Não demorou muito para ele começar a latir e a arranhar a porta de vidro da varanda... Eu fingia que não ouvia, lógico.

O tempo foi passando, passando e eu fui me desanimando aos poucos, como vela que se consome em quarto escuro. Olhei para a varanda e a manhã já se anunciava... Gaho estava num sono pregado. Ele é um cachorro tão fofinho e cheio de dobrinhas tão fofinhas que não consegui me conter e tirei ele do lado de fora. Ao abrir a varanda, imediatamente entendi o motivo de tantos latidos e choramingos... O tempo lá fora estava congelante! Peguei o pobre cãozinho e o coloquei em sua caminha confortável e quente e decidi dormir. Não estava mais animado para escrever a respeito de nada.

Depois de alguns minutos, que poderiam no mundo real ser traduzidos em horas, o T.O.P colocou a cara pra dentro do meu quarto e tentou me acordar:

–Ei garoto! Você dormiu o dia inteiro, não vai querer sair para jantar conosco?

Ao ouvir sua voz, acordei de sobressalto esfregando os olhos... Voltando a dura realidade de minha vida. Ao recobrar a memória, vi o meu amigo parado na porta do meu quarto e muito lentamente respondi:

–Podem esperar eu tomar banho?

Ele sorriu convencido e respondeu:

–Pode, mas vê se seus dragões não te afogam na banheira pelo resto da sua vida. A Minzy está me esperando na casa dela e muito provavelmente esse será o nosso primeiro jantar em família. Não quero que nada dê errado.

Lembrei-me que o T.O.P e a Minzy tinham assumido o namoro recentemente e estavam cheios de fricotes e amorsinhos por conta disso. Sentei-me na cama e fiquei parado durante um bom tempo, pensando no sorriso da Dara e sentindo seu perfume desejando que eu estivesse com ela tão feliz quanto o T.O.P estava com a Mnizy, até que o Gaho novamente me trouxe para o mundo real, dando uma mordida no meu pé, como se fosse um lembrete do meu compromisso. Levantei ressentido com o mais novo machucado e me encaminhei para o banheiro.

Liguei a torneira de água quente, enquanto misturava alguns sais de banho em uma vasilha pequena que já era própria para isso. Enquanto a água fumegante enchia a grande banheira cor de marfim, eu despejava lentamente os sais na água. Sentindo o cheiro agradável de jasmin e sândalo, um sorriso se abriu em meu rosto ao lembrar que tinha sido ela que me indicara a mistura para um banho relaxante.

Seria ótimo se ela estivesse comigo naquele momento para ajudar no relaxamento... Se é que vocês entendem o que quero dizer. Enquanto os pensamentos impróprios se desfaziam como fumaça em minha frente, deixei que o meu roupão deslizasse pelo meu corpo enquanto caminhava em direção a banheira. Ao entrar, pude sentir todos os músculos do meu corpo ficarem moles. Como se eu estivesse precisando daquele banho há anos. O sorriso não havia sumido do meu rosto, só estava mais largo.

Enquanto pensava na vida, agradecia baixinho a Dara por ter me apresentado aquela mistura tão deliciosamente relaxante. Passei alguns minutos imerso na água quente, quando comecei a ouvir passos pela casa. Muito provavelmente seria o T.O.P surtando por conta da minha possível demora.

Com muito custo me levantei e imediatamente catei a toalha branca que estava estendida logo a minha frente. Enquanto destampava o ralo da banheira e via a água descer rapidamente pelo cano, algo muito estranho aconteceu. Meu celular começou a tocar de maneira insistente. Naquele momento meu coração gelou, pois era ela. Reconheci a ligação pelo toque especial que tinha adicionado a seu contato. Ainda com a banheira escorregadia, sai desembestado em busca do pequeno aparelho. Quase escorreguei duas vezes, até que finalmente achei o celular, tocando de maneira desesperada. Ao atender, meu coração estava aos pulos:

GD: Alô?

DARA: GD! Que bom que você antendeu! Então, queria saber se você vai a casa da Minzy hoje com os meninos?

GD: Irei sim! Algum motivo especial para a pergunta tão óbvia? -risadinha sem graça-

DARA: Sim! -Gargalhada perfeita- Eu estou indo pra lá e tenho uma coisa urgente pra conversar contigo. Sei que anda ocupado com o discurso de sua formatura, mas preciso de sua ajuda para resolver um probleminha.

GD: [Confuso] Ah sim... Não, o discurso foi adiado para no máximo semana que vem. Ultimamente não tenho conseguido pensar em nada. Estou indo na casa da Minzy para relaxar e para ver se alguma ideia melhor do que as que eu ando tendo, aparecem como que por milagre.

DARA: -Rindo- Ah sim, tudo bem. Então a gente se vê lá tudo bem?

GD: [LOGICAMENTE BABANDO POR CONTA DA LIGAÇÃO] Ah sim, claro! Até mais tarde!

DARA: Até!

Fim da ligação.

Estava absolutamente eufórico que nem percebi que minha pequena borboleta estava com um tom meio entristecido na voz... Coisa que não era normal. Comecei a me preocupar com a situação e pensei até em ligar para ela novamente para saber o que estava acontecendo de fato, porém, a vergonha e o medo de ser algo grave tomaram conta de mim... TINHA QUE ME CONTROLAAAR!

Fui até o closet e me deparei com diversos ternos, diversas calças e camisas e uma grande, enorme e pesada interrogação caiu sobre meus ombros. O QUE EU IRIA VESTIR PARA OCASIÃO TÃO ESPECIAL? Ela estaria lá e eu não poderia aparecer vestido com qualquer roupa. Com a toalha amarrada na cintura e os cabelos praticamente secos, comecei a experimentar desesperadamente todos os ternos que via pela frente. Não queria usar algo muito chamativo, pois ela era a pessoa mais discreta de todo o grupo e também não queria ser muito formal... Depois de quase colocar o meu closet no chão, achei a combinação perfeita: Meu blazer preto, mocassin preto, camisa preta e calça preta. Para não perder o costume, coloquei um chápeu coco vermelho e um único anel no dedo direito. Estava pronto! Penteei o cabelo e parti para o lado de fora do meu quarto.

Ao chegar na sala, encontrei o Seung Ri e o Taeyang jogando playstation. Ambos se assustaram com a minha total produção e perguntaram em uníssono:

–PARA ONDE VOCÊ VAAI?

Eu corei imediatamente, entregando a eles todo o meu jogo. O primeiro a perceber que eu encontraria a Dara na casa da Minzy foi o Taeyang, meu amigo de infância, que nunca perdia a oportunidade de tirar sarro da minha cara...

–Seung Ri, você não tá vendo que ele vai encontrar com a borboletinha dele?

Rindo alto, Taeyang começou a me imitar quando falava da Dara. Enquanto ele ria, eu ficava cada vez mais envergonhado e ria para disfarçar a total vergonha que eu sentia naquele momento. Até que o Seung Ri, depois de uma crise incessante de risadas, também entrou para o time da zoeira e falou:

– Eu até ia te chamar pra jogar um joguinho com a gente, mas tenho certeza de que você não irá querer amassar seu terno!

Tentei me defender, mas a risada dos dois sufocavam qualquer palavra que tentava escapar dos meus lábios. Alguns longos minutos depois do momento de pertubação, perguntei pelo T.O.P e os meninos disseram que ele estava no jardim de inverno no telefone. -Provavelmente com a Minzy- Acrescentou Daesung, que havia acabado de sair do banho, fazendo cara de enjoo. Todos nós rimos e eu sentei no sofá, desejando que o T.O.P ficasse lá fora para sempre.

Estava tão eufórico que ao sair de casa tomei uma decisão importante: Naquela noite eu iria me declarar para a Dara Park e a pediria em namoro. Porém, eu não tinha ideia do que aconteceria naquela noite...

[CONTINUA NO PRÓXIMO CAPÍTULO]

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.