Harry Potter e...

Capítulo 10 - O Começo do Fim


CAPÍTULO 10

Amy não chorou no banho naquela noite. Seus olhos inchados não aguentavam mais derramar lágrimas, estavam secos. Ela se sentou no chão e deixou que a água quente escorresse pelo corpo, arrastando seus cabelos para o rosto.

Ela não sabia mais o que pensar, o que sentir, apenas encarava a água desaparecendo pelo ralo. Ela encostou na parede e ficou ali por um longo tempo, sem fazer nada, como se seu cérebro estivesse carregado de muita informação e não conseguisse processar mais nada. O que era verdade.

Harry era uma horcrux. Harry tinha que morrer. Harry era o motivo de Voldemort ter matado sua mãe. Harry a amava. Harry a odiava no momento. Dumbledore sabia esse tempo todo do plano de Malfoy. Malfoy estava com medo. Snape era de total confiança de Dumbledore…

Ela não sabia como reagir à tudo aquilo. Não sabia como encarar os amigos no dia seguinte com tudo aquilo nas suas costas, sem poder contar à eles, sem poder contar à Harry.

Mas na verdade, ela não queria ver Harry. Não naquela noite, ou na próxima, ou nas outras… Ela sentia um forte enjoo só de pensar na possibilidade de falar com Harry naquele momento.

Depois de muito tempo, ela desligou o chuveiro e foi deitar, rezando para que esse sentimento passasse no dia anterior.

Não aconteceu.

No dia seguinte, quando desceu ao salão comunal, onde Harry, Hermione e Rony a esperavam para tomar café, Amy sentiu um enorme desconforto ao estar na presença deles, de Harry principalmente.

—Podem ir. Eu estou sem fome, vou adiantar alguma tarefa da biblioteca. - Amy disse com a voz meio seca e saiu do salão, deixando Hermione e Rony com um olhar triste e meio confuso, e Harry com um olhar desolado.

E nada mudou na semana que se seguiu. Amy não consegui falar com os amigos, não conseguia encarar Harry, e se afastou dos três.

—Amy, por favor. Me fala o que aconteceu. -Hermione insistiu com ela uma certa noite, quando as duas estavam sozinhas no dormitório.

A dor nos olhos da amiga era tão sufocante quanto a dor que Amy sentia no peito. Pensou em afastá-la mais uma vez, mas ao invés disso, apenas deitou a cabeça no colo da amiga e chorou silenciosamente.

—Não se preocupe, Hermione. Não há nada que você possa fazer. Não há nada que eu possa fazer.

Hermione não sabia como reagir àquilo, apenas passou os dedos nos cabelos da amiga.

Amy já não ia mais nas aulas de oclumência, apesar de praticar todos os dias antes de dormir. Também não tinha o mesmo apetite de sempre, o que a fez perder três quilos na semana que se passou, apesar das exaustivas tentativas de Hermione tentar fazer ela comer.

Amy e Malfoy não trocaram nenhuma palavra nessas semanas, mas seus olhares sempre se mantinham quando passavam um pelo outro, o que fez Pansy olhar feio para a menina. Amy não dava a mínima.

Era sábado e ela estava voltando dos jardins para o dormitório. Quando entrou no salão comunal da Grifinória, Rony e Hermione estavam encostados no sofá, o rostos brancos como se tivessem visto algo horroroso.

—O que houve? Qual o problema? -Amy perguntou assim que se aproximou deles.

—Harry está saindo com Dumbledore atrás de uma horcrux. - Rony disse meio assombrado.

—O que?! - Amy exclamou surpresa, mas os amigos não tiveram tempo de responder, pois Harry descia apressado as escadas do dormitório com a capa da invisibilidade, o mapa do maroto e o frasco da felix com ele.

Assim que avistou Amy, ele parou. Os dois se encaram por alguns segundos.

—Eu vou com você. - foi o que ela disse para a surpresa de todos, contudo, Harry pareceu o menos surpreso.

—Não. Você precisa fazer outra coisa.

Amy apenas o olhou aflita enquanto ele se aproximava e entregava o pergaminho e o frasco com a poção para ela.

—Malfoy conseguiu. Ele estava aos pulos e gritos de comemoração na Sala Precisa. Tenho certeza que ele vai tentar alguma coisa enquanto Dumbledore estiver fora, é a chance perfeita! -ele disse com pressa.

—Mas… -Amy tentou falar.

—Fiquem de olho nele. E no Snape. Reúnam quem puderem da Armada de Dumbledore e dividam a sorte líquida entre vocês. -ele entregou tudo nas mãos de Amy, menos a capa. - Eu preciso correr, Dumbledore está me esperando. Vejo vocês depois. -ele disse, passou o olhar pelos amigos, mantendo por alguns segundos em Amy, e saiu correndo pelo buraco na parede.

Amy olhou atônita para os objetos em suas mãos, entregou tudo para Hermione e saiu correndo pelo buraco.

Não demorou muito para ela alcançar Harry e ele perceber que ela vinha correndo atrás dele. Ela parou a um metro dele, a respiração um pouco ofegante e os olhos cheios de medo e preocupação.

—Eu quero ir com você. -ela disse.

Ele a olhava com preocupação, mas também um certo alívio, pois era a primeira vez que eles se falavam em semanas.

—Dumbledore nunca vai deixar. -ele disse por fim.

—Então não vá. -ela disse.

—Eu tenho que ir. -ele disse, não tirando os olhos dela por um momento.

Amy ficou quieta por alguns segundos, não sabendo o que falar ou como agir. Como se tivesse sido combinado, os dois avançaram e se abraçaram.

—Não morra. - ela disse por fim, a voz um pouco chorosa.

—Eu volto. Prometo. - ele disse e beijou a testa dela, olhando-a pela última vez e correndo em direção à sala de Dumbledore.

Amy ficou alguns segundos parada, o coração na mão.

Ela sempre esteve junto com Harry nos momentos de risco, fora no primeiro ano que não se conheciam e na terceira tarefa no Torneio Tribruxo. Vê-lo partir, ainda mais estando tanto tempo sem se falar, era mais difícil para ela do que gostaria de admitir.

Por fim, ela subiu correndo para o salão comunal, onde Hermione tinha acabado de separar o que sobrou da sorte líquida em três pequenos frascos.

—Acho que dará para nós três. -Hermione disse.

—Quanto tempo vai durar? - Amy perguntou, analisando o frasco.

—Não sei dizer. É uma quantidade bem pouca. Talvez uma hora.

—Melhor esperar um pouco pra beber, não? -Rony perguntou.

—Talvez. Fiquem com o frasco em mãos, cuidado para não quebrar. Chamem quem conseguirem da Armada de Dumbledore e nos encontramos em frente à Sala Precisa.

—Onde você vai? -Rony perguntou.

—Achar Malfoy. -Amy disse decidida, pegou o pergaminho das mãos do amigo e saiu do salão comunal.

Amy não achou Malfoy no mapa, então deduziu que ele ainda estaria na Sala Precisa. Assim como Harry, ela não teve muito sucesso em entrar na sala. Amy tentou de tudo, mas nada aconteceu. Enquanto tentava, ela acompanhava os amigos correrem por todo o castelo, atrás dos antigos membros da Armada de Dumbledore. Quarenta minutos tinham se passado e Amy já tinha lágrimas de frustração nos olhos. Com raiva, ela jogou o mapa no chão e encostou a testa na parede, onde ficava a entrada para a sala. Ela já não sabia mais o que fazer, não sabia o que dizer.

—Eu preciso ver o Draco. -ela disse num sussurro, de forma mais verdadeira que pôde, e para a sua surpresa, a enorme porta começou a aparecer na sua frente. Amy sorriu aliviada e entrou na sala.

Ela se sentiu entrar em outra dimensão, numa sala totalmente desconhecida. Era a sala mais alta e com mais entulhos que ela já tinha visto na vida, sequer imaginado. Pilhas e pilhas de diversos objetos, que chegavam à quinze metros de altura. Demorou uns cinco minutos para ela achar Draco naquela bagunça.

Ela viu seus cabelos claros, encostado numa velha mesa, observando aflito um enorme armário de madeira, como se esperasse que ele fizesse algum milagre. Antes de se anunciar, Amy observou bem o rosto angular do menino, que expressava um pouco de alívio, mas muito medo e aflição.

—Draco. -ela disse por fim, a varinha pronta em mãos para qualquer reação do garoto.

Ele se virou espantado para ela.

—O que faz aqui?

—O que você faz aqui. -ela disse, os olhos fixos nele.

Ele estava prestes a falar, mas então o armário ao seu lado começou a fazer um estranho barulho, como uma máquina sendo iniciada. Amy olhou curiosa para o objeto, ao mesmo tempo que ele olhou alarmado para ela.

—Você tem que sair daqui. Agora. -ele disse urgentemente.

Amy levantou a varinha para ele.

—O que é isso?

—Foge daqui agora, Green! -ele disse com raiva na voz.

Mas Amy não se mexeu, continuou a encarar o armário, até finalmente perceber o que aquilo era. Ela olhou chocada para ele, não conseguindo acreditar no que tinha feito.

—Você não fez isso. -ela disse num tom baixo, a voz quase sumindo por causa do barulho do armário.

O olhar dele não tinha mais raiva. Ele parecia tão incrédulo quanto ela.

—Como pode? - ela disse, os olhos se enchendo de urgência e raiva.

Nesse momento, o armário deu um clique, e a trava da porta destrancou. Olhando horrorizada uma última vez para Malfoy, ela saiu correndo na mesma direção que veio. Quando estava perto da porta, um som que ecoou por toda a sala fez seu coração falhar, e Amy sentiu uma forte fisgada na perna. A risada de Bellatrix Lestrange.

Apertando a varinha nas mãos, Amy chegou à porta da sala e a atravessou correndo. No corredor, Hermione, Rony, Gina, Neville, Luna, Cho e mais cinco alunos apontaram a varinha para ela.

—Amy! O que foi? -Rony percebeu o olhar urgente dela.

—Comensais da Morte. Estão em Hogwarts!