Saí correndo do escritório de Dumbledore. Não parei nem por um segundo. Se eu parasse de correr, não alcançaria Harry. Se eu parasse de correr, eu começaria a chorar.

Cheguei no saguão e vi Rony e Hermione sentados na escada, abraçados, encarando a enorme porta de Hogwarts.

- Onde ele está? - perguntei

Os dois se viraram para mim, com rostos inchados e bochechas molhadas.

- Ele já foi, não foi? - perguntei, começando a chorar

Rony se levantou.

- Ele disse que já havia conversado com você. - disse Rony - Eu não entendo...

- Ele me mostrou as malditas lembranças e partiu antes que eu saísse da Penseira. - respondi

- Lizzie, deve haver alguma explicação para isso. - disse Rony - Harry não faria isso.

- MAS ELE FEZ E NÓS NUNCA SABEREMOS O PORQUÊ, NÃO É RONALD? - gritei - A EXPLICAÇÃO ESTÁ TÃO MORTA QUANTO ELE.

Comecei a chorar com mais intensidade e Rony me abraçou. Fechei os olhos e enterrei meu rosto em seu peito.

- Eu sinto muito. - disse Rony

- Eu sinto muito também, Ron. - murmurei

Me desvencilhei de Rony e sentei ao lado de Hermione, que chorava silenciosamente.

- Eu sinto muito, Lizzie. - disse Mione - Sobre a verdade. Não era para você descobrir desse jeito.

Assenti.

- Ele é uma mula teimosa. - eu disse - Ele nunca deveria ter dado atenção a aquele sonho.

Hermione assentiu.

Fui até uma pedra que estava no chão e a chutei. Não foi uma boa ideia. Senti uma dor lancinante nos dedos e comecei a chorar mais. Senti minha meia ficar molhada. A pedra quase nem se mexeu, no entanto.

- Oh, Lizzie. - disse Mione me puxando para junto dela novamente - Precisamos ficar fortes.

Ela tirou meu sapato e lançou um feitiço nos meu dedos, que pararam de doer. Com outro feitiço, ela limpou o sangue do meu pé e da minha meia.

Me aninhei no abraço dela e Rony sentou ao meu lado.

- Você é um cara esperto, Rony Weasley. - murmurei - Você sabe como se declarar, em uma guerra.

Rony soltou um riso e segurou minha mão.

Ele não respondeu. Apenas ficou segurando minha mão, com ternura.

As lágrimas ainda corriam pelo meu rosto, mas ali, entre os dois, eu me sentia segura.

- Lizzie, Ron, Mione! - escutei alguém dizer

Me virei e vi Neville vindo em nossa direção.

- As mandrágoras foram um sucesso. A explosão da ponte também. - ele disse contente - Vocês viram Harry?

Ele se ajoelhou na minha frente.

- Vocês estão chorando. -ele murmurou - Sinto muito, não percebi.

- Tudo bem, Nev. - eu disse - Harry... Harry.... Ele foi...

Mordi meu lábio para não chorar e conseguir terminar a frase, mas Neville já havia entendido e lágrimas saíram de seus olhos.

Olhei para o horizonte novamente e vi várias figuras se aproximando. Consegui reconhecer algumas, da distância em que eu estava. Voldemort, Bellatrix, Narcisa, Lúcio e Hagrid, que carregava o corpo sem vida de Harry.

- Oh não. -murmurei, me levantando

Neville me segurou, com firmeza.

- Não os deixem ver suas lágrimas, Lizzie. - disse ele - É o que eles querem. Limpe seu rosto, vá lá e seja a Alice que eu conheço. Sarcástica e inconveniente, quando se trata de conversar com Comensais da Morte.

Assenti.

Ele limpou minhas lágrimas com os dedos e beijou minha testa.

- Vem comigo. - ele disse, segurando minha mão.

Fomos andando para o pátio. Ao olhar para trás, vi que muitos nos acompanhavam. Neville e eu paramos no meio e cruzei meus braços.

Eu estava absolutamente furiosa. Se eu já estava muito brava com Harry, eu não conseguia nem imaginar como a raiva de Voldemort cabia no meu corpo.

Lá estava ele. Parecendo muito contente consigo mesmo. Se Voldemort tivesse sobrancelhas, elas estariam franzidas para mim.

- Harry Potter está morto. - disse Voldemort e sua voz ecoou para todo o castelo

Voldemort riu e os comensais o seguiram.

- O Eleito! O Menino-Que-Sobreviveu! - disse Voldemort. - Morto.

- NÃO - escutei McGonagall gritar

Eu nunca havia escutado a professora fazer um som parecido com aquele. Ouvir tal som quebrou meu coração.

- Entenderam agora, seus iludidos? - continuou Voldemort - Harry Potter sempre foi um garoto. Uma criança nunca seria páreo para mim.

Ouvi Hagrid soluçar mas não o olhei. Se eu me virasse para Hagrid e Harry meu autocontrole se esvairia.

Como se pudesse ler meus pensamentos, Voldemort sorriu.

- Coloque-o aos meus pés, Hagrid. - disse Voldemort - Que é o lugar dele.

Hagrid colocou o corpo inerte no chão e me arrisquei a olhar para ele. Desviei o olhar logo. Eu não conseguia encará-lo. Me foquei em encarar Voldemort.

- Quem resistir a mim será exterminado. Quem se curvar a mim será poupado, assim como o resto de sua família. Não há mais motivos para lutarmos.

- É claro que há. - eu disse

Voldemort sorriu para mim.

- Você estava demorando para abrir essa sua adorável boquinha, hoje. - disse ele - Não nos conhecemos muito bem, querida, mas sei muito sobre você.

Ele riu.

- Olhe ao seu redor, Alice. - ele continuou - Seus amigos estão machucados, estão cansados. Seu amor está morto aos meus pés. Você lutaria pelo que?

- Eu lutarei porque meus amigos estão machucados e cansados. - eu disse - Eu lutarei porque meu amor está morto aos seus pés.

Ele soltou um muxoxo.

- Você não conhece o amor, não é, Tom? - ri - Você não poderia entender.

— Sua nojenta… - começou Bellatrix, mas se conteve ao olhar para Voldemort

Ele assumiu uma expressão furiosa, ao escutar seu nome, mas pareceu se controlar.

- Amor é para fracos, Alice. Olha o que o amor fez a Harry Potter. - ele disse - Mas eu conheço a clemência. Se aproxime, Alice.

Neguei.

- Eu disse, se aproxime.— ele disse lançando um Crucio em mim.

Ainda assim não fui.

Ele lançou outro Crucio em mim e eu deixei escapar um gritinho. Depois, ele apelou para a Maldição Imperius. Tentei resistir, mas sucumbi depois de algum segundos.

Ele me obrigou a andar até ele e me sentar no chão. Voldemort levitou o corpo de Harry e colocou sua cabeça em meu colo.

- Pronto. - disse Voldemort - Uma prova de minha misericórdia. Você pode ficar um pouco com ele, até eu decidir como matá-la.

- Posso, milorde? - perguntou Bellatrix - Me daria uma enorme alegria matar essa fedelha.

- Também te amo, Bella. - sorri

Voldemort chutou minhas costas.

- Ah, a propósito. - ele disse - Harry pediu para que lhe dizer uma coisa.

Mordi a parte interior da minha boca.

"Harry Potter, se você tiver dito que me ama, eu vou te matar uma segunda vez." pensei

- Leite, mel, canela e um pouco de baunilha. - disse Voldemort

Ouvir aquilo foi pior que ouvir qualquer declaração de amor.

Agora eu tinha a receita que tanto queria, mas eu também sabia que nunca iria usá-la.

Olhei para baixo para esconder minhas lágrimas. Infelizmente, olhar para baixo significava encarar Harry.

Vi uma lágrima minha escapar e cair em sua bochecha. Limpei-a rapidamente com a ponta dos dedos. Harry ainda estava quente. Seu rosto ainda tinha a cor e a vivacidade de sempre. Enterrei minhas mãos em seus cabelos. Como eram pretos os cabelos de Harry Potter. Eu sabia que ele não conseguia sentir, mas comecei a fazer carinho no seu couro cabeludo.

- Draco! - disse Voldemort - Junte-se a nós.

Olhei para cima e vi Draco, no meio da multidão. Ele parecia não querer juntar-se a ninguém. Narcisa e Lucio, ao meu lado, estenderam a mão para o filho.

Draco se dirigiu até o grupo de comensais, lentamente.

- Bom garoto. - disse Voldemort dando um abraço desajeitado nele, com tapinhas nas costas.

Meu olhar encontrou o de Draco e ele fez uma expressão conhecida por mim. A expressão de quando ele pedia desculpas.

Ouvi um estampido, seguido de um gemido de dor, e Neville caiu no chão próximo a mim.

- Quem é esse? - perguntou Voldemort

- É Neville Longbottom. - disse Bellatrix - O garoto que andou dando trabalho esse ano.

Voldemort o encarou.

- Você é corajoso, rapaz. Estúpido, mas corajoso. - disse ele - Você tem sangue puro, não tem?

- E se eu tiver? - disse Neville, se levantando com dificuldade

- Você é corajoso e vem de uma linhagem nobre. - Voldemort deu de ombros - Você daria um ótimo Comensal da Morte.

Neville franziu a testa.

- Me juntarei a você quando o inferno congelar. - ele disse

Voldemort riu.

- Harry Potter está morto, rapaz. - disse Voldemort - Não adianta mais resistir.

- Isso é muito maior que Harry. - disse Neville - Por cause de você, eu perdi muitos entes queridos. Meus pais estão no hospital e ficarão lá para sempre. Eu não vou deixar de lutar porque Harry está morto. Lutarei com mais força, para vinga-lo.

Voldemort o encarou.

- Neville servirá de exemplo para quem ainda quiser se opor a mim. - disse Voldemort, levantando sua varinha

Arfei e apertei com força os cabelos de Harry.

- Isso está doendo, meu amor. - ouvi uma vozinha conhecida dizer

Olhei para baixo e vi Harry sorrindo parar mim.