Quando eu gritei o nome do Steven, meu coração bateu muito rápido, e ele bateu mais rápido ainda quando Saul virou para mim junto com Steven. Mas o que eu podia fazer? Não podia deixar levarem a minha bicicleta. Quando os dois viraram e me viram, eu estava em pé e estática, do outro lado da rua, atrás da lata de lixo:

– Demi??- perguntou Steven- O que está fazendo aqui?

Saul só ficou olhando, não disse nada:

– Aah... E... Eu?- gaguejei- Ah sim... Eu estava... Estava... É... Procurando por uma... –eu não podia dizer que estava espionando Saul. Usei a coisa que tinha mais perto de mim naquela hora-... Por uma tampa de lixo- peguei a tampa da lixeira e a estendi para frente-... É, isso... Uma tampa de lixo!

– Pra quê você quer uma tampa de lixo, Demi?

– Ah, é simples... É que... - disse eu atravessando a rua para perto dos dois meninos- É que a lixeira que tem perto de minha casa... Está sem uma, sabe?

– Ahn, tudo bem então... Voc...

– Ei, eu já... - disse Saul- eu já a vi antes, não?

“CA-RA-LHO!” Pensei. Quando ouvi Saul dizer aquilo eu nem olhei pra ele, continuei olhando para Steven com a tampa da lixeira na mão, com os olhos arregalados e o coração batendo bem forte:

– AAAH JÁ SEI!- Saul exclamou- Você era a menina que estava no meu caminho quando eu estava andando de bicicleta!

– EI EU NÃO ESTAVA NO SEU CAMINHO- quando dei por mim já estava gritando- VOCÊ QUE ME ATROPELOU, SEU IDIOTA!

Eu fiquei assustada quando processei o que tinha dito. Cobri a minha boca com a mão. Saul olhou pra mim com uma cara de “Mulher, você é doida ou algo do tipo?”. Steven começou a GARAGALHAR:

– Olha... é... desculpe, sério, me desculpe, eu não queria ter gritado, é que eu estava... Estav...

– HAHAHAHAHAHAHAHAHAHA- Steven me intrrompeu- HAHAHAHAHHAHHAA!

– Não- disse Saul- Tudo bem- ele deu um sorriso de lado- Eu dev...

– HAHAHAHAHAHA- Steven interrompeu outra vez- HAHAHAHAHA!

– CALA A BOCA STEVEN!!!- Saul e eu dissemos em uníssono- Caramba!

– HAHAHAHAHAHAHAHAHAHA

Steven continuava rindo, e eu, com a minha “ilimitada” paciência, taquei a tampa da lixeira que estava em minhas mãos na barriga do palhaço que não parava de rir:

– Ouch- Steven deu um gemido abafado- Filha... Da puta!

Saul e eu rimos:

– Você- disse Steven apontando para mim, ainda sem ar- Vai ser ver comigo depois.

Logo, nos três estávamos rindo (Steven ainda estava fazendo caretas de dor, mas como esse palhaço só ria, riu também).

Depois de recuperarmos o fôlego, Steven passou a minha bicicleta para mim e disse:

– Bem, eu ia te chamar pra fazer isso amanhã, mas vem comigo? Saul também vai.

Olhei pra Saul e depois pra Steven. Sorri por fora e gritei por dentro. “Como eu sou idiota!”. Aceitei ir com eles.

Eram 7 horas da noite quando chegamos ao lugar que Steven tinha pedido para irmos, era a casa dele. Entramos e estava tudo escuro, não tinha ninguém em casa:

– Meus pais vão demorar para chegar, por tanto a casa é nossa.- disse Steven sorrindo- Saul, você pode colocar, por enquanto, o seu amiguinho lá na varanda. E Demi, vem comigo.

“Seu amiguinho? Que amiguinho?” Me perguntei. Antes de ir com Steven vi que Saul tirou uma iguana, SIM, uma IGUANA de sua jaqueta. “Então era isso o que eu havia visto em sua jaqueta naquela hora em que ele saiu da loja. Saul... rouba? Oh, meu deus” Abandonei meus pensamentos quando Steven me puxou pelo braço e me levou para seu quarto.

Aquele quarto era simplesmente FANTÁSTICO. Ele era bem bagunçado, assim como o meu. Tinha dezenas, aliás, centenas, não... milhares, corrigindo: DEZENAS DE CENTENAS DE MILHARES de fotos do Aerosmith grudadas em sua parede. Eu boquiaberta, disse:

–CARALHO SETEVEN!! ISSO É FANTÁSTICO!!

– Eu sei!

Steven caminhou até uma escrivaninha que tinha no canto direito do quarto, abriu a gaveta e tirou mais fotos de lá de dentro. Voltou até mim e as estendeu-me. Peguei-as e olhei uma por uma. Steven disse que iria pra cozinha, e eu balbuciei algo como “ahn, é, calro, cla, cra, claro.” Deixei as fotos em cima da cama, e fui vendo as que estavam na parede, passei a mão por cada uma delas, como se fossem obras de arte. Parei em frente de uma, a mais perfeita, em minha opinião:

– Essa é a minha preferida.

Saul disse. Virei-me com um susto. Ele estava ao meu lado, só que um pouco mais atrás:

– É... Eu... Eu gostei- gaguejei- mais dessa também.

Engoli em seco. Saul sorriu de lado:

– Escuta, lembra quando você estava no meu caminh... - riu- Desculpe, quando eu te atropelei?

Só consenti:

– É... - disse Saul- me desculpe, é que eu estava com pressa.

– Ah, aquilo?- disse meio rápido demais- Não, não foi nada, nem machucou... Digo... É, ta tudo bem.

Sorri. Silêncio:

– Ei galera!- Steven quebrou o silêncio com a sua voz alegre- Olha o que eu trouxe- Steven levantou suas mãos, cada uma com uma garrafa de cerveja. Olhei incrédula- Só para nós!!

– Uuuh!- exclamou Saul pegando uma- Valeu Steven!

– Aqui, Demi- Steven estendeu a outra garrafa pra mim- Pode abrir essa.

–Ahn... Eu não acho que seja uma boa idéia sab...

– Nada a ver, Demi- Steven disse- Não... Deixe que eu abro.

Sorri sem graça. Estava nervosa, pois nunca havia bebido cerveja antes. Steven ofereceu-me um gole. Aceitei.

Ficamos bebendo por um tempo, que para mim parecia apenas minutos. Conversamos a valer, foi divertido. Estávamos lúcidos. Tinham umas sete ou nove garrafas no chão. Olhei para o relógio do quarto de Steven e vi que eram 10 horas da noite. Despedi-me. Peguei minha bicicleta e desci ladeira a baixo. Achei a minha casa. Abri a porta. Minha mãe estava em pé me esperando, e pelo que parecia, estava bem zangada...