Eu cheguei em casa e me joguei na cama. Eu apertei os olhos. Eu desejava que aquilo nunca tivesse acontecido. Apesar de não saber muito sobre essa doença, eu comecei a criar monstrinhos, que seriam a minha doença. E uma heroína chamada Rust, e ela me livraria da doença. No mínimo aguentaria a dor por mim. Mas ai eu me lembrei que algumas doenças são combatidas com a própria doença. Então cada vez que a Rust servia de escudo pra mim, seu disfarce caia, ela virava um deles.

Acordei dos meus devaneios porque ouvi meus “pais” conversando com alguém olhei pelo buraco na minha parede (eu fiz ele pra poder espiar) e tinha um homem com cara de repórter sentado no sofá. Eles conversaram um pouco, não entendi direito. Mas ai eles entregaram o envelope pro repórter. O envelope do hospital. Eu corri desajeitada até a porta e tentei abrir. Estava trancada. Eu comecei a empurrar, depois me jogar contra a porta. Eu pensei eu usar o meu cano, mas só ia arruinar a minha porta. Então eu parei e me deitei de novo. Eu tinha consciência de que minha vida ia piorar e que eu estava acabada e tudo mais, mas ficar desesperada só ia piorar. Ouvi o clique da minha porta. Logo depois eles continuaram com a encenação “precisamos chamar um exorcista e blá blá blá”.

Eu fui pro computador. Só fiquei vendo bobagens, curiosidades, essas coisas. Quando olhei pro relógio, era 1 da manhã. Me enrolei no cobertor e fui pra varanda. Me sentei e olhei pra baixo, meu rosto entre as grades enferrujadas. Já estava quase tudo escuro. A luz vinha da lâmpada na parede. Aquela lâmpada era um pouco estranha. Sempre achei. Como uma espinha. Uma lâmpada saindo da parede. O lugar das lâmpadas não é dentro de um abajur ou no teto?

Idiota. Eu sempre pensava nessas bobagens pra me livrar dos pensamentos importantes. Eu deveria ter nascido? Eu sou um fardo pra maid e pro Smile? Todos que me veem se sentem incomodados? Eu sou um erro?Um experimento falho da mãe natureza?

Algum dia eu serei... feliz?