Hajimaru

Capítulo 11 - A Outra Face da Yui-chan



Desde o encontro com a misteriosa garota que intitulava a si mesma como "Yui-chan" (e que agora eles sabiam que era na verdade um garoto) os Guardiões simplesmente não sabiam o que pensar. De início, parecia ser uma pessoa muito legal e gentil, apesar do temperamento forte, mas depois de ter lhes revelado que não passava de um garoto usando roupas de menina, sua atitude para com eles se tornou bastante fria. Fora isso ainda havia a pergunta sem resposta sobre o que poderia ter levado um rapaz a usar roupas femininas e sair na rua daquele jeito mesmo sabendo que a maioria das pessoas não gostariam daquela atitude.


Naquela tarde, eles tinham ido ao mesmo parque onde conheceram Yui-chan, coisa que estavam fazendo há três dias seguidos numa esperança inútil de vê-la novamente, só que dessa vez acompanhados de seus Charas.


– Vamos, desista de uma vez, Tsukasa... já faz três dias desde que encontramos aquela garota, e foi só uma vez, duvido que ela apareça aqui de novo! - Aruto resmungou, cansado de procurar por uma pessoa que eles mal conheciam
– Isso não é verdade. Eu, por exemplo, moro há três quarteirões daqui mas mesmo assim venho até esse parque todos os dias, não sei porque ela não poderia fazer o mesmo - Tsukasa rebateu, embrenhando-se cada vez mais entre as árvores pelas quais eles tinham visto Yui desaparecer há três dias
– Mas e se ela não morar nessas redondezas? E se morar em outro bairro ou em outra cidade por exemplo? E por que continuo me referindo à Yui-chan como "ela" se ele é um garoto?! - Mikoto exclamou, cansada de ter dúvidas demais e nenhuma resposta
– Você não está ajudando, Mikoto-chan - Midori resmungou - E tente não ser tão pessimista, Aruto-kun! Tente ver o lado bom da coisa! - ela acrescentou, cansada de ouvir o amigo reclamar
– E qual é o lado bom de se embrenhar no meio do mato procurando um travesti, posso saber? - ele perguntou mal-humorado
– Desde que encontramos essa tal Yui-chan que o Tsukasa-kun parece estar mais animado! - Midori cochichou, puxando o mais alto para perto para que apenas ele pudesse ouvi-la - Lembra como ele ficou depressivo com aquela história do Nikaidou-kun? Mas agora ele parece mais motivado, mais otimista... acho que está querendo compensar o erro ajudando aquela garota, ou garoto, ou o que quer que seja...
– Ah... agora que você falou, tem razão - Mikoto intrometeu-se, só percebendo isso agora - Nem tinha reparado, mas ele parece mais animado mesmo...
– Mas temos que admitir que encontrar uma única pessoa nessa cidade enorme é meio complicado - Aruto deixou escapar
– Se continuar pensando assim, jamais conseguirá realizar o seu sonho, Aruto-kun - Mirai falou para ele - Nós só precisamos continuar tentando até conseguir. Enquanto não desistirmos, sempre haverá esperança!
– E eu também estou curiosa pra conhecer essa tal de Yui-chan, então não podemos parar de procurar! - a Chara de Mikoto exclamou animadamente
– Demo nee Haa-san... desde que entramos nesse bosque que eu estou sentindo uma aura estranha - Hime contou com uma expressão séria no rosto - E fica cada vez mais forte enquanto avançamos
– Ahh, então você também sentiu? - Jiyuu perguntou, e ela confirmou com um aceno de cabeça
– Que tipo de aura? É algo ruim? - Tsukasa indagou
– Não, não é ruim, mas...
– Olhem aquilo! - Aruto interrompeu o que seu Chara ia falar, apontando escandalosamente para uma área descampada mais à frente.


Lá, havia uma pessoa com cabelos avermelhados presos numa longa trança, trajando uma calça cinza e uma blusa simples, lilás e com mangas compridas. Estava abaixada no chão, perto de um arbusto, aparentemente procurando alguma coisa.


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– O que aquela pessoa está fazendo sozinha no meio do mato?! - Aruto indagou
– Ou melhor, o que raios é aquela pessoa?! "Aquilo" é um homem ou uma mulher?? - Mikoto exclamou e, vendo que tinha ganhado um olhar de repreensão de Midori, acrescentou - Que foi?! As roupas dela parecem ser masculinas, mas a pessoa tem cabelo comprido e uma carinha de menina, então não dá pra saber! Sem falar que, depois do que aconteceu três dias atrás, eu não duvido de mais nada!
– Seja lá o que for, aquela pessoa parece estar com problemas... andem, vamos falar com ela - Tsukasa correu até a pessoa, aparentemente sem se importar muito com o gênero dela, e os outros o seguiram. A pessoa estava tão concentrada com o que quer que ela estivesse fazendo ali de joelhos no meio do mato que só notou a presença deles quando Tsukasa a chamou - Ano... você precisa de ajuda?


A pessoa ergueu os olhos para ele, e piscou surpresa. Pareceu surpreender-se mais ainda ao notar que Tsukasa estava acompanhado. Agora que ela tinha erguido o rosto, eles confirmaram que a pessoa era de fato um garoto, embora Mikoto ainda tivesse suas dúvidas. Depois de alguns instantes, sua expressão de surpresa mudou para mal-humorado ou aborrecido, e ele pôs-se de pé. Era bem maior que Tsukasa, devia ter a mesma altura que Aruto ou talvez alguns milímetros a mais.


– O que vocês estão fazendo aqui? Essa é uma área privada, não sabiam? - a pessoa perguntou de cara amarrada. A voz ainda era meio infantil, mas era grave demais para pertencer a uma menina
"Sim, definitivamente é um garoto!" - Mikoto pensou, feliz em finalmente conseguir identificar o gênero da pessoa misteriosa
– Ahn... d-desculpe, eu não sabia... eu só... tem certeza de que é uma área privada?? - Tsukasa indagou por fim, surpreso com a reação do garoto - Quero dizer, eu sempre passo por aqui e ninguém nunca falou nada...
– Se você se refere ao parque, ele sim é público, mas esse bosque está nos limites do terreno onde fica o Templo Yuiki, há alguns metros daqui - o garoto explicou, apontando para a direção contrária da qual Tsukasa e os outros tinham vindo - O que vieram fazer aqui?
– Nee, você teve alguma sorte? - antes que Tsukasa pudesse responder, uma criaturinha veio voando ao encontro do garoto de trança. Era um Shugo Chara de olhos e cabelos arroxeados, sendo que a franja lhe cobria um dos olhos, assim como o seu dono. Usava uma roupa larga de monge, roxa e marrom-claro, e calçava sandálias simples de bambu - Procurei por toda parte, mas nem sinal dele... a Loli ainda está procurando, talvez ela tenha tido alguma sorte, e.... quem são eles?! - o Chara exclamou, finalmente notando que havia outras crianças ali
– Acheeei!! Foi dele que eu senti a presença! Sabia que havia outro Shugo Chara por aqui!! - Jiyuu apontou escandalosamente para o Chara do garoto
– Não dá, não aguento maaais!! - Uma voz feminina exclamou num tom manhoso, e instantes depois, uma Shugo Chara fêmea veio voando também ao encontro do garoto de trança. Esta tinha olhos e cabelos avermelhados, mais do que o de seu dono, mas assim como ele, a franja lhe cobria um dos olhos. Estava preso em duas maria-chiquinhas altas com um laço roxo. Usava um vestido longo todo rosa, com vários babados rendas no estilo lolita e calçava sapatilhas pretas - Não dá mais, eu não fui feita pra isso... por favor, não me mande procurar de novo, deixa só o Junjou procurar!
– Não seja preguiçosa Loli! Por que só você deveria ficar sem ajudar?! - o Chara a repreendeu antes mesmo que o dono pudesse falar alguma coisa
– Mas é que se eu ficar me embrenhando no mato desse jeito vou sujar o meu vestido... - ela resmungou chorosa
– Você acabou de cometer dois pecados capitais de uma só vez, sabia? A preguiça e a vaidade - o Chara acusou - Vê se toma jeito e ajude a procurar o...
– Parem de discutir vocês dois!!! - o garoto gritou cansado, e os dois Charas se calaram - Junjou, pare de repreender sua irmã, você não é o pai dela. E Loli, não quero nem saber se o seu vestido vai ficar um trapo depois, posso te arranjar um novo mais tarde, mas você vai me ajudar a procurá-lo sim, eu preciso de toda ajuda que puder obter, você sabe! - ele bradou, com uma cara de quem não aguentava mais repetir a mesma coisa várias vezes, e os dois Charas assentiram, temerosos. O garoto suspirou e se voltou para os outras crianças - Esses são meus Shugo Charas, Junjou e Loli. Como podem ver, eles... são bem energéticos
– Você tem dois Shugo Charas?! - Tsukasa exclamou incrédulo, fazendo a pergunta que todos ali estavam se fazendo mentalmente. Tinha estranhado o fato do garoto apresentar primeiro seus Shugo Charas e não a si próprio, mas no momento isso não era o mais importante desde que os Charas entraram em cena - Isso é impossível.... cada criança tem apenas um único Shugo Chara que representa o seu sonho, seu objetivo de vida... como você pode ter dois???
– Acho que isso acaba acontecendo com as crianças indecisas que não tem um sonho ou objetivo definido ainda... o que infelizmente é o meu caso - o garoto respondeu simplesmente, sem dar importância ao assunto
– Mas... você tem uma Chara menina - Tsukasa observou - Isso não é meio incomum? Quero dizer, geralmente os garotos têm Charas meninos e as garotas têm Charas meninas, não deveria ser assim? Eu nunca ouvi falar de que pudesse acontecer o contrário...
– É mesmo? Bom, então acho que sou uma exceção à regra... até porque, isso não é nada impossível. Tanto que aconteceu comigo - o garoto falou o óbvio - Mesmo eu sendo um garoto, a Loli acabou nascendo menina... bem, por motivos óbvios, eu acho... - ele acrescentou mais para si mesmo, e Tsukasa se perguntou por raios isso deveria ser óbvio pra ele
– Nee, nee, quem são vocês? São amigos do meu dono? - Loli adiantou-se, olhando curiosa para as crianças
– Ah, não.... quero dizer, nós estávamos procurando alguém, só topamos com seu dono por acaso - Mirai respondeu, meio tonto com a mudança repentina de assunto - Eu sou Mirai, esses são Jiyuu, Haa-san e Hime-chan - ele apresentou-se, e apontou para os outros Charas enquanto dizia seus nomes
– Que coincidência! Nós também estamos procurando uma coisa! - Loli exclamou, parecendo muito empolgada, não dando a mínima importância para como eles se chamavam - Nós podíamos procurar juntos! Podem nos ajudar? Por favoooor!! - ela pediu com os olhinhos grandes brilhando, parecendo saber exatamente como usar o rostinho adorável que tinha
– Não seja descarada Loli, você nem conhece eles... você só quer se livrar da tarefa de procurar! - Junjou acusou
Eeeeeu? Imagina! - a Chara exclamou, fingindo-se de ofendida, sem convencer ninguém - Só estou fazendo o que o nosso dono mandou... afinal, como ele mesmo disse, quanto mais ajuda, melhor!
– Realmente estou precisando de ajuda, já que vocês dois são uns inúteis que só sabem discutir - o garoto resmungou
– Viu?! Ele precisa de ajuda! - Loli exclamou, apontando escandalosamente para o dono, aparentemente sem se importar em ter sido chamada de inútil
– Bom... eu não me importo em ajudar - Tsukasa falou, meio desconfortável, sentindo-se um intruso naquela conversa - O que você perdeu?
– Um cadeado... ele é bem grande e dourado, e tem o desenho de um trevo brilhante nele - o garoto explicou
– Você perdeu um cadeado?! - Aruto surpreendeu-se - Que estranho, geralmente as pessoas perdem a chave, mas nunca o cadeado
– Não, eu... eu não tenho a chave....
– Então pra quê você quer um cadeado sem chave?! - Mikoto exclamou sem entender
– É que aquilo foi me dado pelo meu pai... ele deixou sob minha responsabilidade, e se ele descobrir que eu o perdi... nossa, não quero nem pensar no que ele faria comigo... e, se minha mãe souber, vai ser por ainda... - o garoto estremeceu, agindo como se tivesse perdido algo de extrema importância, como uma maleta cheia de dinheiro, e não um simples cadeado sem chave
– Não se preocupe, nós vamos te ajudar! - Tsukasa exclamou, rapidamente se empolgando - Vamos encontrar esse cadeado, nem que leve a tarde toda! Certo, pessoal?
– Bem, se você está dizendo... - Midori resmungou, parecendo tão ansiosa quanto Loli para começar a procurar uma coisa minúscula no meio de um bosque. Aruto e Mikoto assentiram, um pouco menos desmotivados do que a amiga, e eles começaram a procurar.


Os cinco reviraram o bosque de cabeça pra baixo, procurando em todos os lugares possíveis, e nos impossíveis também. Os Charas também ajudaram, procurando nos lugares menores onde eles não conseguiam olhar, ou em lugares mais altos (embora fosse meio improvável que o cadeado tivesse ido parar no alto de uma árvore por exemplo) exceto por Hime e Loli, que não paravam de tagarelar e rir, esquecendo-se completamente da busca, e ao que parecia, tinham virado de repente melhores amigas. As crianças procuraram com tanto afinco que nem tinham notado o tempo passar, e quando o sol estava se pondo, eles já estavam imundos dos pés à cabeça, os joelhos esfolados e sujos de terra, com galhos e folhas presos nos cabelos embaraçados. E quando todos já tinham desistido e dado a busca por impossível, Tsukasa exclamou triunfante:


– Acho que encontrei!!!


Os outros correram até ele, o garoto de trança chegando primeiro. Tsukasa lhe mostrou um cadeado grande sujo de terra, mas com um inconfundível brilho dourado, com um desenho de trevo que mais parecia quatro coraçõezinhos grudados um no outro.


– É ele mesmo... não acredito que você encontrou! Ai, graças aos céus, não é hoje que eu vou morrer esfolado até os ossos!! - o garoto exclamou, parecendo tão aliviado que tinha ficado de bom-humor de repente - Onde ele estava?
– Dentro desse tronco oco - Tsukasa apontou para um tronco vazio cortado ao meio, em cima do qual Hime e Loli estavam sentadas conversando alegremente, completamente esquecidas do motivo de estarem ali
– Como raios isso foi parar ali?! - o garoto exclamou, como se estivesse perguntando isso ao próprio cadeado - Bem, não importa... fico devendo essa. Essa é a segunda vez que você me salva... arigatou Tsukasa-kun
– Imagina, não foi... espera, segunda vez? - ele interrompeu a frase ao perceber o que o garoto tinha falado - E eu não me lembro de ter dito meu nome pra você.... como sabia que eu me chamo Tsukasa??
– Como assim, você me disse o seu nome três dias atrás, esqueceu? - o mais alto falou, parecendo mais confuso ainda - Os outros também... Yamato Midori-chan, Tsukiyomi Aruto-kun e Senou Mikoto-chan, não é? Eu não sabia que vocês também tinham Shugo Charas
– O que? Sim, mas... quando... o que... como raios você sabe quem nós somos??? - Mikoto exclamou, completamente confusa. Loli, que estava escutando parte da conversa, adiantou-se sorrateiramente por trás do dono e puxou o elástico branco na ponta da trança, soltando seus cabelos
– Yui... chan?! - Midori indagou duvidosa quando a trança do garoto se desfez
– Eu mesma. Mas tecnicamente está errado, eu sou o Daisuke agora - o garoto respondeu - E me dá isso aqui, Loli, você sabe que eu não gosto de ficar de cabelo solto quando estou usando esse tipo de roupas! - ele acrescentou, um tanto embaraçado, arrancando o elástico das mãozinhas da Chara
– Só estava ajudando eles a perceberem quem você era mais rápido! - a Chara defendeu-se, sem conseguir conter um sorrisinho
– Fala sério... de verdade que vocês não perceberam que era eu?! - Daisuke indagou enquanto refazia sua trança
– Bem, sim... quero dizer, você está completamente diferente agora - Aruto observou. Mikoto ainda olhava abobalhada para o garoto, custando a acreditar que ele e Yui-chan fossem a mesma pessoa
– Eu não acredito... nós viemos aqui justamente pra procurar você, há três dias que estamos fazendo isso! - Tsukasa exclamou, parecendo radiante - E quando finalmente encontramos.... não acredito que não te reconheci, me desculpe, mas você realmente parece outra pessoa com essas roupas... Yui-chan, por que você...
– Daisuke - ele corrigiu - Não estou nem um pouco adorável e atraente agora, não mereço ser chamado por um nome tão fofo
– Ahn... certo... - o mais novo murmurou, sem realmente entender a explicação dele - Bem, então.... Daisuke-kun, o que você disse da primeira vez que nos vimos... bem, você estava enganado. Nós não te ajudamos apenas porque pensamos que você era uma menina, nós ajudaríamos você independente do seu gênero. Prova disso é que nós te ajudamos hoje também, nem saber quem você era!
– Na verdade eu estava mesmo pensando nisso - Daisuke falou - Por que me ajudaram se nem tinham percebido que eu sou a Yui-chan?!
– Porque não importa se você é um menino ou uma menina, nós realmente queríamos te ajudar, faríamos isso por qualquer um! - Tsukasa exclamou como se falasse o óbvio
– Sabe, aqueles garotos que estavam prestes a me espancar... eles tinham razão numa coisa: Você é mesmo um bom samaritano que adora ajudar o próximo - ele falou para Tsukasa - Não que isso seja ruim, não mesmo... é só... estranho. Quero dizer, você é pequeno e não é atlético, alguém poderia se aproveitar dessa sua bondade exagerada, sabe? E mais estranho ainda, é você ter ajudado alguém como eu
– Que bom que chegamos nesse ponto da conversa, eu estava mesmo querendo perguntar isso - Aruto adiantou-se - Por que você se veste como menina afinal? Se sabe que as pessoas vão te desprezar por isso, então porque você se traveste? Alguém te ameaça ou te obriga a fazer isso por acaso??
– Não... não mesmo - Daisuke pareceu surpreso com a pergunta - Eu apenas gosto de fazer isso. Eu não sou bom em esportes, não sou forte, não tenho nada de atrativo... mas quando me transformo na Yui-chan... eu fico tão adorável e deslumbrante! Continuo sendo eu, mas ao mesmo tempo, viro uma pessoa completamente diferente, corajosa, confiante, linda... alguém completamente graciosa. Sem falar que roupas femininas são bem mais bonitas do que as masculinas... olhem só pras minhas roupas agora! Não é nada fofo!
– Aham, sei... agora já vi porque a Loli nasceu - Aruto cochichou com Tsukasa, que balançou a cabeça concordando
– Bem, tenho que admitir que você fica... m-muito kawaii quando é a Yui-chan, mas... se isso te causa tantos problemas, então por que você não pára? - Midori indagou
– Porque ser a Yui-chan é a única coisa que me faz feliz... sem isso, eu não teria mais nada - ele respondeu simplesmente - Mas vocês não precisam se envolver nisso. Entendo perfeitamente que as pessoas que sabem da minha dupla-identidade não gostam de mim, então não precisam fingir que não se importam...
– Nós não nos importamos - Tsukasa interrompeu - De verdade, não ligamos pra isso
– O que... c-como podem não se importar?! - Daisuke exclamou incrédulo
– Olhe bem pra nós - Midori pediu - Um delinquente disfarçado de músico com língua afiada - ela apontou para Aruto enquanto falava - Um menino franzino com alto potencial para ser vítima de algum filme de terror de quinta, com uma carinha fofa que parece dizer "eu sou frágil, abuse de mim!" - ela apontou para Tsukasa, que corou um pouco com a descrição - E uma jogadora de vôlei forte e musculosa que eu aposto que é mais masculina até do que você! - ela apontou para Mikoto, que riu sem graça, coçando atrás da cabeça - E, eu.... segundo a descrição do Aruto-kun aqui, não passo de uma garota metida e petulante, que acha que é a perfeição em pessoa... mas também sou muito graciosa e refinada! - ela acrescentou rapidamente
– Ou seja, o que a Midori está tentando dizer é que, entre um grupo de deslocados sem jeito como nós, um travesti é algo completamente normal e aceitável - Aruto concluiu
– Vocês... não existem mesmo - Daisuke passou a mão pelos cabelos, rindo sem jeito, e sem saber o que dizer. A vida inteira ele não teve muitos amigos, e desde que começou a se travestir, sentiu-se mais feliz, porém ainda mais solitário. Sua única companhia eram seus Charas e o tempo todo as pessoas o criticavam, era difícil de acreditar que existia alguém capaz de aceitar seus dois lados, e mais difícil ainda acreditar que quatro pessoas estavam dispostas a fazê-lo de uma só vez - Bem, acho que... não vai fazer mal conversar com vocês de vez em quando - ele concluiu, e ao ver que os outros sorriam para ele, acabou alargando um pouco seu sorriso. Era difícil acreditar que haviam pessoas que não se importavam com isso, ainda mais quando passava todos os dias ouvindo o quanto era errado e vergonhoso o que ele fazia, mas uma parte dele estava cansada de ficar o tempo todo sozinha, e ele concluiu que talvez não fizesse mal dar uma chance àquelas pessoas estranhas e curiosamente gentis.



*** Próximo Capítulo: Apostas no Ano Novo ***