Hajimaru

Capítulo 1 - Como Tudo Começou



Era mais uma tarde como outra qualquer no Royal Garden da Academia Seiyo. Enquanto todos deveriam estar decidindo o que fariam para o Festival Escolar daquele ano, que estava se aproximando, na verdade apenas Tadase estava trabalhando, enquanto Amu concordava com cada palavra que ele dizia sem ouvir o garoto realmente, Nagihiko fazia chá com bolinhos, Rima bebia o chá que o garoto fazia, e Yaya berrava e reclamava como um bebê dizendo o quanto aquilo era chato. Tudo muito normal, como um outro dia qualquer.


– Minna-san, querem fazer silêncio e se concentrar, por favor?! - Tadase pediu pela enésima vez - Hinamori-san, não sei porque mas eu tenho a impressão de que você não ouviu nadinha do que eu disse, então preste mais atenção. Yuiki-san, pare de gritar, porque eu não vou te deixar ir pra casa até terminarmos isso. E Fujisaki-kun, pare de fazer chá! A Mashiro-san está bebendo tudo mesmo, assim vai acabar com nosso estoque!
– Tá bem... - Nagihiko sentou-se de volta em seu lugar, estranhando aquela ordem. Geralmente lhe mandavam fazer chá, e não o contrário
– Agora, continuando - Tadase falou depois de soltar um longo suspiro - Já decidimos que nós, os Guardiões, faremos uma peça de teatro no Festival Escolar, mas ainda precisamos decidir qual será a história, para podermos escrever logo o roteiro e começar a ensaiar as falas! Alguém tem alguma idéia?
– A Yaya tem! - a Às pulou de seu lugar, erguendo a mão no alto - Podemos fazer uma história de contos de fadas, como a Cinderela ou a Rapunzel! Assim, Amu-chi poderia ser a Princesa, e o Tadase poderia ser o Prínc....
– Não ouse terminar essa frase Yaya!!! - Amu e Nagihiko, ao memso tempo, tamparam a boca da Às com as mãos, impedindo-a por pouco de pronunciar a "palavra proibida"
– Ela nunca aprende - Rima comentou simplesmente, observando a cena lá do seu lugar, com uma xícara de chá entre as mãos
– Etto... n-não que eu tenha algo contra contos de fadas, mas... não acho uma boa idéia fazermos uma história assim, porque... b-bem, pelo motivo óbvio que acabamos de presenciar - Tadase murmurou, corando um pouco - Alguma outra idéia?
– Eu tenho uma idéia - surgindo aparentemente de um buraco invisível na parede, o Diretor da Academia Seiyo manifestou-se no Royal Garden, caminhando sorridente até eles e parando diante da mesa na qual estavam todos reunidos
– Tsukasa-san! - Tadase exclamou surpreso - O que está fazendo aqui?
– Eu estava curioso sobre o que os meus queridos Guardiões farão durante o Festival Escolar e vim dar uma olhada... mas parece que nem vocês mesmos sabem ainda, não é? - ele comentou como quem fala do tempo, e os cinco calaram-se, abaixando a cabeça envergonhados. Ainda que Tsukasa não fosse o tipo de pessoa que dava bronca em alguém, ele ainda era o Diretor, e poderia surpreendê-los com uma repreensão quando menos se esperava - Ora vamos, não fiquem com essas caras! Se quiserem posso dar algumas sugestões
– Verdade Tsukasa-san? - Tadase ergueu os olhos para o tio, se animando um pouco em ver que alguém finalmente estava colaborando
– Mas não mesmo! - Kiseki bradou antes que Tsukasa pudesse responder - Você não deveria depender de sugestões alheias, Tadase! Um Rei deve governar com força e sabedoria, e não ficar dependendo da opinião dos outros!
– E lá vamos nós de novo - Miki revirou os olhos, se preparando para escutar mais um dos discursos sem sentido do Reizinho
– Ahahahaha! Vai lá, vai lá, Kiseki! - Ran sacudiu seus pompons animada, querendo aumentar a confusão
– Kiseki, não fale assim! -Tadase repreendeu - Primeiro, eu não vou governar nada, é só uma peça escolar! E segundo, não se esqueça de quem o Tsukasa-san é
– Ah, sim... - Kiseki voltou os olhos para o homem, lembrando-se de que um dia ele também já tinha ocupado o mesmo cargo que seu dono entre os Guardiões - Tudo bem então, considerando que ele é um ex-membro da realeza, excepcionalmente hoje ouvirei o que ele tem a dizer. Prossiga
– Obrigado, é uma honra, Kiseki - Tsukasa riu, fingindo uma reverência - Mas então, aproveitando o que o Kiseki acabou de ressaltar... lembrem-se de que houveram outros Guardiões que antecederam vocês. E vocês cinco são os atuais Guardiões de Seiyo... já que querem fazer uma peça de teatro, por que não fazem uma sobre a história de vocês Guardiões, mostrando como tudo começou?
– Essa é uma idéia incrível Diretor! - Amu exclamou, se empolgando com a idéia
– É, admito que não seria nada mal... pelo menos não tem nenhuma palavra com "P" nessa história - Rima comentou no tom de voz monótono de sempre, olhando sugestivamente para Tadase, e tomando um gole de chá logo em seguida
– Mas já faz algum tempo desde que criaram os Guardiões, nós nem tinhamos nascido ainda... não faço a menor idéia de como os Guardiões surgiram - Nagihiko comentou
– Ora, não seja por isso - Tsukasa puxou uma cadeira para perto e sentou-se à mesa com eles, de frente para os cinco estudantes - Eu estava lá, e contribui para que os Guardiões de Seiyo fossem criados, posso lhes contar tudo nos mínimos detalhes. Me lembro como se fosse ontem...



*** Início do Flashback ***




Cerca de vinte anos atrás




A alguns metros de uma pequena escola na zona rural em desenvolvimento, tornando-se lentamente urbana, três garotos do sexto ano escolar cercavam um quarto menino, mais baixo e magro do que eles. O menino tinha grandes olhos arroxeados e cabelos bem alinhados, entre castanho claro e loiro escuro, e era também mais novo que os três grandalhõs, o que tornava aquilo uma corvardia, e possuía algo especial e único que os outros três não tinham e nem eram capazes de ver, e que, no entanto, não ajudava em nada no momento.


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– Vamos lá, baixinho, você sabe o que queremos... por que não facilita as coisas e acaba logo com isso, hein?
– Não me diga que vai tentar resistir de novo? Você se lembra o que aconteceu da última vez, não lembra?
– Um moleque franzino como você nunca vai crescer mesmo, então não precisa almoçar... anda, passa logo a grana pra cá!
– Parem com isso, vocês têm o dinheiro do almoço de vocês! - o quarto menino exclamou, recuando um pouco - Por que ficam tomando o dinheiro do almoço das outras crianças se vocês já têm o de vocês??
– E quem disse que queremos a grana pra comprar comida? - o primeiro grandalhão disse
– Tem umas revistas muito interessantes que queremos comprar, sabe... um pirralho como você não iria entender - o segundo garoto riu-se
– Vocês querem dinheiro pra comprar mangás?! - o mais novo indagou inocentemente
– É, digamos que seja pra comprar mangás - o terceiro delinquente respondeu, rindo mais ainda - Agora chega de papo, e passa logo a grana pra cá, senão já sabe!
– Não! Esse dinheiro é meu, eu não vou dar pra vocês! Vocês tem seu próprio dinheiro do almoço, se querem comprar revistas, fiquem sem comer e compre a tal revista ou o que quer que seja!
– Moleque, você já está me irritando... me dá logo o dinheiro, senão...
– Esquece, esse daí só aprende na base da força mesmo - o primeiro grandalhão falou - Então, já que ele não vai entregar a grana por bem... então vai ser por mal.



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Cerca de meia hora depois, o menino de olhos roxos, que agora estava um trapo depois de ter levado uma surra e ter ficado sem o dinheiro do almoço, caminhava lentamente pelos corredores desertos da escola onde estudava, dirigindo-se até a sala do Diretor, enquanto tentava convencer uma pessoinha que voava ao seu lado de que estava tudo bem
– Tem certeza de que está bem, Tsukasa? Você deveria estar indo pra enfermaria, e não pra sala do Diretor! - o Shugo Chara que rodeava a cabeça do menino, deixando-o tonto, exclamou. Ele usava um terno azul-marinho, coisa que não era comum entre os Shugo Charas, uma gravata-borboleta vermelha bem amarrada em seu pescoço, e um turbante, com uma vistosa pedra vermelha no meio, como o de um adivinho. Tinha cabelos loiros, jogados para o lado, e olhos escarlates e decididos. Atrás, uma capa vermelha esvoaçava, movendo-se conforme ele se mexia - Aquele homem não vai fazer nada mesmo, e ainda é capaz daqueles delinquentes quererem se vingar de você se forem punidos!
– Já disse que estou bem, Mirai, são só alguns arranhões - o menino sorriu tentando tranquilizar seu Chara, embora isso fosse obviamente uma mentira. Ele estava com um grande hematoma roxo em um dos braços, e estava mancando afinal - E eu não estou indo fazer queixa ao Diretor, sei muito bem que isso não vai adiantar de nada.
– Ué? Se não vai dedurar aqueles delinquentes... então o que você vai fazer??
– Vou tomar providências mais drásticas - Tsukasa respondeu, com um olhar mais decidido - Aqueles três garotos... eles são mais velhos que eu, estão mais perto de se tornarem adultos do que eu, eles não deveriam agir assim. Os adultos deveriam proteger e guiar as crianças, e não maltratá-las. E se eles não querem fazer isso... então eu farei
– Mas Tsukasa, você ainda é uma criança...
– Silêncio, Mirai. Chegamos - o menino falou, parando diante de uma porta de madeira e batendo. Ouviu uma voz arrastada dizer lá dentro "entre, está aberta" e ele adentrou a sala.


Era uma sala pequena e simples, com alguns poucos móveis de madeira antiga, e uma grande estante com livros grossos e empoeirados que pareciam não ser tocados há anos. Um homem de meia idade, com os cabelos castanhos começando a ficar grisalhos, com a barba e o bigode já embranquecidos, meio gorducho, trajando um terno marrom puído de tweed, estava sentado atrás de uma mesa grande, examinando uma pilha de documentos com cara de tédio. Quando ergueu os olhos e viu que era Tsukasa, soltou um suspiro, cansado.


– Você de novo, Tsukasa-kun - o homem resmungou, deixando a papelada de lado, aparentemente já muito acostumado com as "visitas" do pequeno Tsukasa - Sente-se. O que foi dessa vez? Espancamento? Roubo? Por favor, não me diga que alguém te molestou
– Na verdade os dois - o garoto falou, sentando-se na cadeira de madeira simples diante da mesa do Diretor - Etto... o que é molest...
– Nada, esqueça o que eu disse - o homem se apressou a dizer - Então, espancamento e roubo, não é? - ele rapidamente mudou de assunto - Quem foi dessa vez?
– Alguns garotos do sexto ano... etto, eu não sei os nomes completos deles, mas... os sobrenomes eram Yamada-kun, Kuno-kun e Tate-kun...
– É claro, tinham que ser aqueles três - o Diretor resmungou, sem dar a devida importância ao assunto - Onde aconteceu?
– No parque que tem aqui perto, em frente ao lag...
– Espera aí - o homem interrompeu - Foi fora da escola? Ahh, eu sinto muito, Tsukasa-kun, mas se é assim então eu não posso interferir
– O que? Mas por que não?! O senhor é o Diretor, e os três são alunos dessa escola!
– Sim, é verdade, mas meu poder como Diretor só se aplica ao que acontece dentro dessa escola. Não posso interferir em algo que aconteceu fora dos terrenos do colégio, isso não é responsabilidade minha - o Diretor explicou, parecendo um tantinho aliviado que não tivesse nada que ele pudesse fazer a respeito dessa vez
– Eu não acredito nisso... os alunos que estavam sob sua responsabilidade cercaram, roubaram e espancaram um estudante do seu colégio, e o senhor não pode fazer nada?! - Tsukasa levantou-se, completamente indignado
– Lamento, garoto, mas como eu já disse, não tem como eu interferir no que aconteceu fora do terreno da escola - o homem deu um sorriso amarelo - Você deveria tomar mais cuidado, sabe... evite andar sozinho, ou em lugares desertos...
– Isso não tem nada a ver! Pra começar, eu não sou a única criança de quem eles tiram proveito! - Tsukasa exclamou, erguendo a voz algumas oitavas - Diretor... se o senhor não vai tomar providências quanto a isso, então eu gostaria de fazê-lo
– Ah, fique a vontade pra se vingar ou o que quer que seja, menino, desde que seja fora dos terrenos da escola. Mas eu não acho que um garotinho mirrado como você poderia...
– Não é disso que estou falando! - Tsukasa interrompeu, ignorando o fato de que um Diretor não deveria estar incentivando um aluno a se vingar dos outros - Não falo desse caso em particular, estou falando de modo geral. Não é a primeria vez que aqueles três causam problemas pra mim, eles já me atormentaram várias vezes, e eu não sou o único. Os outros alunos do terceiro ano, e também os mais novos, são frequentemente maltratados por eles, e por outros alunos do quinto e do sexto ano também. Isso geralmente acontece fora dos limites da escola, e como o senhor diz que não pode fazer nada, então eu gostaria de fazer. Eu gostaria... gostaria que fosse criado um Conselho Estudantil nesse colégio, e também de fazer parte dele. Assim, mesmo se o senhor não puder interferir, o Conselho daria um jeito de resolver esses problemas
– Não me incomodo em criar esse tal conselho, mas... você está apenas no terceiro ano, Tsukasa-kun, é muito jovem para lidar com esse tipo de problemas adultos
– Se os adultos de verdade não podem fazer nada, e vão apenas deixar as crianças serem maltratadas, então eu gostaria de fazer alguma coisa - o garoto falou com determinação, e o Diretor fingiu não entender a indireta - Não importa a minha idade, não posso permitir que as coisas que aconteceram comigo aconteça também com outras crianças. Os mais velhos não deveriam maltratar os mais novos, eles deveriam cuidar e guiar para que as crianças se tornem adultos respeitáveis quando crescerem, como se fossem protetores... como se fossem os Guardiões dos mais novos. Eu quero que seja criado um Conselho Estudantil, e fazer parte dele, para que possa ensinar isso aos meus senpais desmiolados. Mas antes preciso da permissão do senhor para isso
– Bem, eu posso até autorizar a criação de um Conselho Estudantil nesse colégio... mas, mesmo que você fosse do Conselho, o que poderia fazer sozinho? Não iria mudar muita coisa
– Eu não vou estar sozinho. Em um Conselho existem vários membros além do presidente, como o vice-presidente, o tesoureiro, o secretário... se houver um grupo de pessoas capazes para me ajudar, sei que conseguirei dar um jeito nisso, e farei com que os senpais se tornem adultos respeitáveis no futuro
– Entendo... e você já tem alguém em mente?
– Ah, eu tenho sim senhor. Sei exatamente quem deve fazer parte desse Conselho Estudantil.



*** Próximo Capítulo: Reunindo Companheiros ***