Fazia muito tempo que Tony não embalava sua filha no colo e a sensação foi ótima. Embora ela estivesse chorando, saber que ele a confortava, dava a ele o prazer em ter escolhido ser pai. Uma das escolhas mais difíceis que ele fez, por achar que não seria capaz e por achar que não poderia amar e ser um bom exemplo para outras pessoas.

—Shiuuu... Tá tudo bem Selene!

—Não, não está... O Senhor viveu tudo isso e... Eu... –ela se encolheu mais no peito dele. –Desculpa pai... –Tony suspirou.

—Ei, ruiva! Duas coisas me deixam sem saber o que fazer: sua mãe quando chora e vocês. –Selene riu. –Minha vontade sempre foi de desaparecer com a dor de cada um de vocês, mas com o tempo eu aprendi que não podia fazer isso. E ter ver assim está me quebrando aos pedaços. –ele ergueu a cabeça dela, olhando-a nos olhos vermelhos de chorar. –Pronto! Agora você sabe a verdade.

Ela passou as mãos nos olhos molhados, ainda de cabeça baixa. Tony passou a mão no rosto dela.

—Você não precisa me prometer nada. Eu sei bem o que está passando na sua cabeça. –ele disse a levantando e andando. –Não posso impedir de você e Rogers saírem ou serem amigos ou... –ele passou a mão na cabeça nervoso. –O destino é mesmo um filho da puta safado. –Selene riu para ele.

—Mamãe ia te xingar muito, se te ouvisse falando esses palavrões. –Tony riu. -Pai, eu... –Tony colocou um dedo na boca dela.

—Não diga nada. Isso é entre mim e ele. Não fique se remoendo por isso, deixa essa parte pra mim. Sei também que você irá perguntar a versão dessa história para ele. –Tony foi em direção ao carro que estava mexendo. –Quando fizer isso, você volta a conversar comigo. Toda história tem os dois lados, não é? –ele sorriu para ela, arrancando a camiseta e voltando a mexer no motor do carro. –Depois pede pra sua mãe descer aqui? –ela aquiesceu e foi indo em direção ao elevador. Observou seu pai, que estava com olhar distante.

—Pai? –ele levantou a cabeça, olhando para ela.

—Eu lhe amo demais! –Tony sorriu e respondeu.

—Não mais do que eu a você, minha Pimentinha! –Selene sorriu, virou-se para entrar no elevador, mas parou. –Pai? –Tony levantou a cabeça novamente. –Posso te pedir uma coisa?

—Claro, não sendo para eu conversar com o Rogers, qualquer coisa... –Selene virou os olhos para ele. –Você poderia tocar o piano da vovó para mim? –Tony arregalou os olhos para ela, abaixou a cabeça olhando para o motor do carro, deu um sorriso tímido e disse.

—Rogers te contou né... –ela apenas aquiesceu. –Agora?

—Agora Senhor Stark, vem?! –Selene disse no mesmo tom que Pepper dizia para ele, o quebrando.

—Detesto o fato de você ser tão parecida com sua mãe, até nos gestos e no tom da voz. –ele disse pondo sua camiseta, abraçando-a e entrando no elevador com ela. –Tirando o fato de você adorar festas e farras como eu... –Selene olhou feio para ele que riu para ela.

Pepper estava na sala, aguardando. Estava mais aliviada, pois os dois com certeza tinham se acertado. Só não sabia o porquê dela estar daquele jeito com Tony. Quando Selene apareceu na sala, ela perguntou ansiosa:

—Se entenderam?

—Sim Senhora Stark! Sempre vamos nos entender... –Tony disse se sentando do lado de Pepper a beijando e Selene sentou-se do outro lado. Pepper sorriu.

—Pai, para de enrolar... –Pepper olhou para Tony que sorriu para ela e depois olhou para sua filha.

—Tá bem, está bem madame! Mas faz muito tempo que eu não faço isso, por tanto, pode não ficar perfeito.

—O que vocês estão tramando? –Pepper perguntou curiosa vendo Tony se levantar e ir em direção ao piano.

Pepper segurou o braço de Selene, tinha um sorriso que não cabia no seu rosto. Falou baixo para a filha:

—Vo-você fez o que para ele fazer isso? –Selene riu.

—Apenas, pedi... Com o jeitinho Potts de ser. –Pepper riu e beijou a bochecha de sua filha, falando baixo para ela, “obrigada”.

Tony sentou-se ao piano, levantou a tampa, olhou para as teclas, passou a mão nelas, deu um fundo suspiro, apertou algumas teclas, como se quisesse encontrar algo ali. Olhou para as duas que estavam sentadas no sofá e com seu sorriso maroto ele disse:

—Essa vai para a ruiva da minha vida! –as duas se olharam. –Que em nenhum momento desistiu de mim, mesmo com os meus defeitos. –olhou para Pepper que já estava ficando ruborizada. Selene ria.

Tony entoou uma melodia no piano, fazendo com que Pepper enchesse os olhos de lágrimas. Disse um tanto baixo por conta do choro.

—Eu odeio você, Anthony Stark. –Tony riu e continuou a tocar. Selene ficou admirada com mais esse dom de seu pai. Ela nunca imaginaria isso dele. Realmente ela ficou deslumbrada e pensou em algo que sua mãe havia lhe dito há uns dias, que apenas ela conhecia Tony Stark como ele era.

(...)

Mesmo triste com a história que seu pai tinha lhe mostrado, ela decidiu ir ao jantar. Ia questionar Steve sobre o mesmo fato. Queria entender de vez tanta raiva que um sentia pelo outro. Queria saber o que ela mesmo estava sentindo sobre Steve. Sobre toda a história.

—O que você tem Srta. Stark? Está meio distante... –Steve questionou percebendo no seu olhar que algo a incomodava.

—Por favor, me chame de Selene. Não tenho nada. Só não estou legal. –Steve olhou nos olhos delas e como um tiro certeiro ele jogou a pergunta.

—Você perguntou para o Tony não foi? O porquê ele me odeia tanto... –Selene apenas fez sim com a cabeça. –Minha presença aqui te incomoda, depois disso? –Ela o olhou e com uma convicção que ela nem imaginou da onde saiu ela disse:

—Eu... Eu deveria te odiar, deveria nem ter vindo aqui, deveria... Gostar menos de você como eu estou gostando. –Ele sorriu para ela. –Poxa vida, você imagina o que eu tô sentindo agora, nesse exato momento, sabendo tudo o que houve entre vocês? –ele a deixava falar, extravasava toda sua angústia. –Eu não pedi pra gostar de ninguém, e de repente você me aparece, e faz da minha vida esse furacão. Por que Steve? Por que você me fez gostar de você, sabendo que eu poderia nunca mais olhar para a sua cara? –ele abriu a boca para falar, mas a fechou.

Steve a deixou em silêncio por um tempo, mas aquilo o deixou muito angustiado. Quando ela estava se acalmando ele começou.

—Eu sabia o que Bucky havia feito, cada detalhe. Eu escondi de Tony porque ele era um garoto. Um garoto! E eu não podia contar o modo como os pais dele haviam morrido, então, foi mais fácil inventar o acidente. Eu não sabia que ele iria colocar toda a culpa em Howard, sabia que Howard tinha problema com bebidas, mas não a esse ponto. Quando eu percebi o erro que eu tinha cometido, já era tarde. Eu tentei protegê-lo na época de sofrer e acabei causando um sofrimento maior. Tony julgou o que eu fiz como traição, como se eu quisesse ter protegido meu amigo, talvez tenha sido por isso também. Bucky nem sabia o que estava fazendo, tinha sofrido lavagem cerebral. Como já estávamos nos estranhando por convicções diferentes na época, isso foi a gota d’água.

—Que convicções diferentes eram essas? –Steve suspirou.

—Seu pai queria expor todos os heróis que se escondiam atrás de uma máscara, ou fantasia ou codinome e eu não achava isso justo. Seria como deixar um alvo na testa deles ou dos seus entes queridos. Mas Tony estava transtornado, por causa de um efeito colateral, que ocasionou na morte de um jovem, e ele se culpava. Eu disse que uma vida em pró a humanidade não era nada, porem ele dizia que uma vida é uma vida.

Selene mexeu a cabeça em dúvida.

—É... Acho que eu concordo com meu pai. Sou médica. –Steve sorriu e depois abaixou a cabeça.

—Num certo tempo eu odiei Stark por tentar impor aquela lei absurda, mas cada vez que nós brigávamos envolvíamos mais pessoas, mais amigos que gostávamos e alguém sempre se feria. Então, eu resolvi sumir. Sai de cena e deixei as coisas caminharem como o governo queria.

—E por que raios você teve que voltar justo na minha vida? –ela disse bebendo um gole de suco. Steve riu.

—Não sei... Acho que o destino resolveu nos dar um golpe.

—Meu pai disse a mesma coisa, não nessas palavras. –ela disse e riu.

—Você... Contou para o Tony?

—Steve... Internet lembra? Não tinha como eu esconder um vídeo com mais de 02 milhões de visualizações... –Ele riu dela.

—Dois milhões? –ele questionou curioso.

—Sim, e cada dia aumentando, agora os comentários são os melhores... –Selene fez a mesma cara sarcástica que Tony fazia.

Terminaram a refeição, dividiram a conta como ela mesmo havia insistido, Steve não discutiu. Ele a acompanhava até seu carro.

—Steve eu... –ele colocou a mão na boca dela.

— “Talvez não seja assim tão fácil. Talvez assim seja melhor. Talvez cada um reme pra um lado, mas os mares que te cercam, talvez sejam iguais aos meus. E a gente segue em frente”. –ele cantarolou para ela a fazendo sorrir. Steve não se conteve e a beijou.

Selene no primeiro momento entrou em choque, mas foi questão de segundos, aquele calafrio bom percorreu o seu corpo e ela se rendeu ao que estava sentindo. Ao se separarem ofegantes ela passou a mão no rosto dele e falou:

—Obrigada por isso... Tenho que ir. –ele aquiesceu apoiando na porta dela. Ela abaixou o vidro e ele disse.

—Boa noite Srta. Stark! Ainda somos amigos?

—Pode me chamar de Selene, Capitão. Acho que somos amigos... Diria que uma amizade colorida. –ela arrancou o carro piscando para ele, deixando Steve com um sorriso bobo no rosto.

Steve deu um grito de alegria. A única coisa que o deixava um tanto incomodado era saber que logo ele e Tony iriam se encontrar. Isso era um fato consumado. Ele não sabia qual seria sua reação e a de Tony Stark, mas uma coisa ele tinha a certeza, sempre que eles se encontravam ou acabam com os olhos roxos ou alguém que eles amavam se feria. E ele não queria que essa última coisa acontecesse...

(...)

—Quando você vai voltar pra casa do Senhor Stark? –Theo disse entrando pela porta do seu apartamento arrastando sua pequena mala. Selene respondeu deitada no sofá.

—Não sei... Mas garanto que logo. Estou te incomodando aqui? –ela disse se sentando no sofá.

—Você nunca me incomoda, minha irmãzinha! –ele deu um beijo na sua testa. Selene sorriu para ele.

Theo a olhou nos olhos entortando a cabeça e falou:

—O que você tem? –ela bufou.

—Por que você sempre percebe quando eu não estou legal? –ele sentou ao lado dela e falou.

—Não sei, talvez seja genética, assim como papai faz com mamãe. –os dois riram.

O celular de Theo tocou, era Tony.

—Theo, como foi lá em Nova York? Deu tudo certo?

—Senhor Stark! Tá me rastreando de novo? Achei que só fazia isso com Selene.

—Nã-não... É que o avião pousou faz uns 40 minutos e... –Theo ria da cara do seu pai. –Não me olha com essa cara de Tony Stark Júnior, me vejo num espelho, exceto por esses olhos que me lembram de sua mãe, e... –Theo escutou Pepper brigar com ele e tomar o celular.

—Filho, seu pai rastreia todo mundo que ele pode. As coisas deram certo? –Theo ria da cara do seu pai em reprovação por ela ter pegado o celular.

—Podem ficar tranquilos, que esse Stark aqui, tem o dom de fazer negócios! –Pepper sorriu. –Aceitaram as condições e ainda pagaram mais do que combinamos. –quem sorria agora era Tony. Theo fingia reverência a ele, Selene ria.

—Você é tão parecido com seu pai por essa empáfia que chega a me irritar. –Pepper disse e Tony riu. –Mas ficamos felizes que tenha conseguido o negócio. Um beijo nos dois.

—Que dois Senhora Stark? –Theo tentou fingir que Selene não estava lá.

—Theo Edward Potts Stark! Você acha que eu não sei que sua irmã está aí? Boa noite e durmam bem! –Pepper deu um beijo na tela, desligando a chamada.

—Esses dois são umas figuras. –ele disse rindo pondo seu celular em cima da mesa de centro. –Agora desembucha o que houve?

Selene disse que seu pai tinha contado sobre a morte dos avós, do por que ele odiar Steve e que Steve tinha contado a sua versão da história. Theo só a ouvia. E ela estava começando realmente se sentir atraída por ele, e talvez até estar gostando de Rogers.

—Eu... Em quem você acredita Theo? Quem está mentindo? –ele suspirou e virou a cabeça para frente.

—Nenhum dos dois Selene. Eu lembro bem quando isso aconteceu. Mamãe ficou extremamente fora de si. Nesse dia ela tomou o primeiro voo para Nova York para ver papai, pois ela sabia que ele não viria pra casa e ela me deixou nas mãos da tia Nat. E você sabe que ela não é uma babá muito zelosa. –Selene riu e ele também. –Eu já sabia mexer nos computadores do papai, e pedi a JARVIS para saber o que estava acontecendo, ele era o primeiro AI que papai tinha criado. Num primeiro momento eu tive vontade de matar Steve. –ele disse olhando para ela. –Primeiro pelo vovô e pela vovó, depois por fazer papai sofrer, mas depois eu procurei mais sobre o Bucky e vi que ele não tinha culpa. Ele foi apenas uma arma usada por outros. Mamãe ainda conseguiu fazer com que papai perdoasse Steve. Mas certo dia, ele foi em casa, e papai queria que ele assinasse um tratado do governo e ele se recusou. Só me lembro da oficina ficar totalmente destruída e ver Steve sair com os olhos roxos e todo ensanguentando, assim como papai. Depois eles tiveram mais alguns desentendimentos e nunca mais se falaram.

Ela o olhava em silêncio, Theo percebeu que ela estava em conflito, o mesmo conflito que ele passou quando soube do motivo da briga.

—Você quer saber realmente a verdade? De uma pessoa neutra? –ela fez sim com a cabeça. –Vá falar com Nicky Fury. –disse levantando-se do sofá. –E se Steve vai ser meu cunhado, não escolheria pessoa melhor! Um dos únicos que conseguiu erguer o martelo do Thor pode ser considerado uma pessoa digna... que pode cometer erros.

Selene levantou do sofá.

—Como assim ele levantou o martelo do Thor? Theo? –ela saiu atrás do seu irmão.