Guilda Do Alvorecer: O Reino Caído

Capítulo 18 - Bem-vindo À Guilda Do Alvorecer - Serena


Os últimos dias haviam sido bastante agitados. Marian precisou realizar algum trabalho fora de Dyron, e como eu estava sendo treinada para ser sua sucessora na liderança dos Engendradores, eu assumi todas as suas responsabilidades: Eu ia nas reuniões semanais com o Comandante Volken e os demais líderes, designava as missões para os nossos membros, dividia os pagamentos por missão, ajudava a pôr ordem no dormitório, e por aí vai.

Antes de assumir essa posição, eu achava que a liderança era fácil, mas eu agora via o quanto Marian trabalhava duro. Mesmo dividindo boa parte das atividades com Bear, que me orientava em tudo o que eu não sabia fazer e que pegara a maior parte das atividades para si, eu me sentia extremamente sobrecarregada.

— Você não precisa fazer tudo isso já. Você terá bastante tempo para aprender quando Marian voltar. - Dissera-me ele certa vez. - Você tem uma nova aprendiz agora. Por que não foca no treinamento dela e deixa isso comigo?

— Você vai se sobrecarregar se fizer tudo sozinho, e você também tem sua aprendiz, a Camille. - Respondi. Não queria me tornar um fardo, além de que ele já estava assumindo boa parte das coisas sozinho.

— Camille está quase pronta, não precisa mais de tanto tempo de treinamento. Ela deve poder participar da iniciação na próxima semana. Mas Lily ainda é nova aqui, precisa de sua atenção redobrada.

— Entendo. - Ponderei por algum tempo e então disse. - Façamos o seguinte: Eu irei continuar com a parte administrativa e você fica responsável por pôr Marian a par das reuniões. Assim terei mais tempo para treinar a Lily e você não ficará sobrecarregado.

Ele concordou com a cabeça e disse:

— Marian tem razão.

— Sobre o que? - Perguntei, confusa.

— Você é bem dedicada e possui bastante senso de dever. No dia que ela nos deixar, você será uma grande substituta.

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Eu me sentia um pouco estranha por ser instrutora de alguém que tinha quase a minha idade, sendo dois anos mais nova do que eu, tendo assim 16 anos. Durante a manhã, no refeitório, combinei de encontrá-la numa clareira ao leste da guilda, onde muitos costumavam treinar.

No nosso primeiro dia ela se mostrara uma surpresa e tanto. Marian me apresentou ela em frente ao dormitório uma semana atrás e disse:

— Lily Reyes, essa será sua mentora, Serena. Ela é especializada em necromancia, embora tenha conhecimento sobre outros tipos de magia.

A garota era uns 10cm mais alta do que eu, tinha cabelo curto castanho, pele clara, olhos grandes e azuis e usava uma túnica negra. Ela abriu um grande sorriso, segurou minhas mãos e perguntou de forma animada.

— Então você é a marcada? - Marian se mexeu desconfortavelmente e me olhou, esperando minha reação. Achei que seria melhor deixar as coisas claras, não é como se fosse adiantar eu esconder isso de Lily, já que toda a guilda sabe.

— Sim, eu sou. - Respondi, séria.

— Incrível! É a primeira vez que eu vejo uma! Seus poderes de artes ocultas devem ser incríveis! Mal posso esperar para aprender tudo o que puder com você!

— Ãhn, quê!?

Ela não está com medo? Pelo contrário, ela está animada! É isso mesmo? Toda a minha vida as pessoas correram de mim quando descobriam que eu era uma marcada por Lunalia, mas ela estava feliz com isso. Será que ela é louca? Devo me preocupar?

— Espero que sejamos grandes amigas um dia! - Disse ela, empolgada.

— Eu também espero… - Respondi, mas sem muitas expectativas.

— O que você vai me ensinar? Invocar os mortos? Explodir bombas feitas de cadáveres humanos? Criar uma nuvem de enxofre? - Falou ela rapidamente, e eu mal conseguia acompanhar sua fala.

— Er, eu…

— Ah, seja lá o que for, eu mal posso esperar. Tem tantos feitiços que eu quero praticar! - Falou ela de forma sonhadora.

— Serena, conto com você - Falou Marian, segurando o riso. Voltando-se para Lily, disse - Boa sorte Lily. E mais uma vez, seja bem-vinda aos Engendradores!

“Serena, conto com você”. As palavras de Marian ecoavam na minha cabeça enquanto eu esperava Lily. Voltei ao mundo real quando Lily passou a mão na frente do meu rosto perguntando:

— Mestra Serena? Mestra Serena? Acorde!

— Ah, desculpa, me perdi em pensamentos. Vamos começar. - Falei, enquanto me levantava.

— O que você vai me ensinar hoje? Aquele feitiço de levitação da aula anterior foi incrível! - Ela ficou toda empolgada com isso, quando não era grande coisa, era só um feitiço de nível básico.

— Magia de controle mental. Você não conhecia essa magia, conhecia?

— Uau! Não, mas parece ainda mais legal que a da aula anterior.

— Ela possui uma duração limitada, mas podemos trabalhar aumentar a duração. Durante certo período, você pode controlar as ações de um ser vivo de acordo com a sua vontade.

— Oh! Parece legal!

— Vamos praticar. Vê aquele coelho? - Perguntei, apontando para um pequeno coelho branco que saltitava por ali.

— Vejo. - Respondeu ela.

— Foque nele e comece a canalizar energia mágica na sua mão e diga as palavras “Mizur-rin”.

— Isso é Ísalo?

— Sim.

— Aprendi isso na Academia de Magia de Tellus. - Explicou ela. - “Controle Menor”, certo?

— Isso mesmo!

— Eu vou tentar. Vamos lá Lily Reyes, você consegue! - Disse para si mesma, de forma enérgica. - MIZUR-RIN!

A magia dela funcionou de primeira. Lily fez o coelho ficar dando pulinhos no mesmo lugar e depois ficar andando em círculos por um tempo.

— Eu consegui! - Disse ela animada, voltando-se para mim.

— Conseguiu mesmo, parabéns! Mas agora a questão é fazer isso por mais tempo em alvos maiores.

— Como o que?

— Eu pedi ajuda para alguns amigos… - Comecei, mas fui interrompida por Bear, que veio correndo até nós.

— Você está aí Serena! Te procurei por toda parte!

— O que houve? - Indaguei alarmada.

— Chegou um pedido de missão válido para todas as Alianças, e como todas estavam ocupadas, Volken passou para nós.

— Ah, sim.

— Precisamos de um time de pelo menos cinco, então precisamos de vocês duas.

— Eu irei numa missão? É isso mesmo que eu ouvi? - Perguntou minha aprendiz, animada como sempre. - Isso vai ser tão divertido!

— Você deve levar isso a sério, se não quiser se meter em problemas. - Comentou Bear, sério.

— Ah, sim, claro, claro. O que é? O que eu preciso fazer? Onde vamos? Envolve combate? Combate mágico é a minha especialidade! Vou com traje de combate ou algo discreto? É algo de infiltração? Ouvi dizer que vocês fazem bastante isso nos engendradores!

Lily começou a disparar perguntas, deixando Bear claramente atordoado. “Eu te entendo Bear, eu te entendo” pensei enquanto observava sua expressão. Contendo o riso, falei.

— Lily, foco.

— Sim, mestra. - Disse ela, arrumando a postura e cruzando os braços, tentando parecer séria.

— Iremos eu, vocês, Henry e minha aprendiz Camille. Um grupo de bandidos tem causado problemas na estrada que leva a Yazeul, cidade localizada no entorno de Yarzeth. Nessa época do ano muitos camponeses passam por ali para vender suas colheitas da estação em Yarzeth, mas esses homens têm roubado o pouco que eles têm.

— Coitados! - Exclamou Lily.

— Temos que dar um jeito neles e liberar a estrada.

— Entendido Bear. - Falei.

— E quanto a você, mocinha. - Disse ele para Lily. - Mantenha o foco e siga tudo o que a Serena disser.

— Certo!

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Ao longo do caminho até a estrada bloqueada, Lily e Henry tagarelavam de forma animada sobre seus interesses, enquanto Camille ficava completamente perdida tentando acompanhar o assunto dois e eu e Bear discutimos sobre a missão. Nos escondemos no meio das árvores e moitas dos arredores a uma distância segura para observar e chamamos a atenção de nossos companheiros para passar o plano de ação.

— Henry, Lily, vocês conseguem usar algum feitiço de contenção?

— Eu sei, mestra Serena!

— E eu aprendi com a Marian quando voltávamos de Ignikor. Ela achou que poderia ser útil para mim.

— Certo, então a ideia que eu e o Bear tivemos é a seguinte: Usaremos uma magia de contenção nos ladrões, e daí ele e a Camille entrarão em ação.

— Se tudo correr bem, eu e Camille prenderemos eles enquanto estão sobre efeito da magia de contenção e os levaremos até o posto mais próximo da Guarda Real, que fica em Yarzeth.

— Certo. Mas eu me pergunto se os Corvos não ficarão irritados com isso? - Perguntou Henry, pensativo. - Quero dizer, a Guilda Do Alvorecer compra muita informação deles.

— Essa operação é um pedido direto do rei de Mytra, que é quem nos permite operar legalmente aqui e ocasionalmente nos ajuda. A Guarda Real está sem gente para enviar para cá, uma vez que o rei mandou alguns soldados para as fronteiras com Sunaria e Vorsêris depois do que reportamos a ele. E de qualquer forma, os Corvos não irão fazer nada contra nós, pois tem mais a perder do que a ganhar comprando briga conosco. - Respondeu Bear.

— Entendo. Então vamos nessa!

Na estrada haviam duas carroças cobertas bloqueando o caminho. Contei uns oito homens andando por ali, mas poderia ter mais alguém dentro das carroças. Eram mais pessoas do que haviam nos dito. Olhei para Bear, que estava apoiado numa árvore e sussurrei:

— Posso até conseguir conter eles, mas não será por muito tempo. Você e Camille precisarão ser muito rápidos.

— Não se preocupe, Sesê. Daremos um jeito. - Disse Camille, confiante. - Não é mesmo, mestre Bear?

— Sim, daremos. - Mas sua expressão não transmitia otimismo. Marian e Anette faziam uma grande falta aqui. - De qualquer jeito, não baixem a guarda e ajam de forma rápida.

— Certo. - Dito isso, saí de nosso esconderijo e pronunciei uma palavra de poder canalizando minha mana em minha mão direita - Vienlys!

Minha magia foi capaz de conter quatro dos ladrões, mas um dos que estavam livres gritou para alertar os demais. Lily e Henry usaram o feitiço de contenção nos demais e gritamos para Bear e Camille agirem, mas antes que eles conseguissem fazer alguma coisa, senti uma forte pancada na cabeça. Minha visão se tornou turva e eu caí de joelhos no chão. Coloquei a mão na cabeça e senti algo quente e úmido: sangue. Ouvi alguém gritar meu nome...Henry? Eu não tinha certeza. Retomei a noção do que acontecia quando alguém me fez engolir uma poção de cura. “Eca, que gosto horrível.” Camille, me olhou preocupada e nervosa.

— Ai meus deuses, Serena, diga alguma coisa.

— Ãh… que? - Enquanto seu rosto se tornava nítido pra mim.

— Os outros estão com problemas. Consegue se levantar?

— Sim… eu acho. - Me coloquei de pé, me apoiando em Camille.

O cenário não era muito animador. Bear e Henry estavam lutando em combate corpo a corpo contra seis dos oito, enquanto Lily usava bruxaria para drenar a energia do oponente para deixá-los cansados e lentos. Bear por melhor guerreiro que fosse, não daria conta de tantos, e Henry definitivamente não era um bom guerreiro, e tanto ele quanto Lily pareciam cansados por causa do feitiço de contenção maior. Um corpo encontrava-se estirado ao meu lado provavelmente abatido por Camille, mas faltava um ainda. Olhei para ela, alarmada.

— Falta um. Onde ele está?

— Na verdade dois, eles eram nove. Esse aí do seu lado estava escondido entre as árvores, e nos pegou com a guarda baixa. Eu não faço ideia para que lado esses dois foram.

— Ajude Bear e Henry e eu darei um jeito nisso.

— Você está bem?

— Sim, não se preocupe. - E ela partiu para ajudá-los.

Enquanto a luta era travada ali, me lembrei da primeira aula de minha mentora, Lenora, logo quando cheguei na Guilda Do Alvorecer. Ela me dissera que cada ser vivo possuí uma alma feita de mana. Qualquer usuário de magia era capaz de sentir a mana no ambiente, pois é da mana que tiramos a nossa magia. Essa capacidade também nos permitia detectar a presença dos seres vivos.

Me senti um pouco boba por não ter feito isso antes, mas não adiantava eu reclamar disso agora. Me concentrei e pude sentir a presença dos sumidos emanando de dentro da carroça mais próxima. Corri até lá e vi dois adolescentes tentando pegar alguns sacos com ouro e prata para fugir dali. Eles se assustaram quando me viram e um deles, o mais baixo, deixou cair os sacos no chão. O outro praguejou enquanto ele sacava uma adaga, mas antes que ele chegasse perto de mim, gritei a palavra de poder do sono:

— SHIÔ! - Fazendo com que ambos caíssem em sono profundo.

Corri para meus companheiros que estavam lutando contra os outros seis. Eles haviam nocauteado dois, mas um dos outros quatro, um homem alto e forte, causava problemas para minha aprendiz. Lily recuava para fora da estrada e caiu ao pisar em falso e rolou até quase se chocar contra a árvore. Ela gritou e instintivamente colocou a mão no tornozelo, fazendo uma expressão de dor e olhou para o sujeito enorme tremendo de medo. Bear tentou abrir uma brecha para ir ajudá-la, mas um inimigo se colocou diante dele, impedindo-o, e Henry, tentou criar uma distração, mas acabou levando uma cotovelada forte e que o levou ao chão, enquanto Camille tentava lidar com os outros dois sozinha.

Em desespero, Lily gritou o feitiço que eu lhe ensinara:

— MIZAR-RIN! - Mas não teve efeito. - MIZAR-RIN! Por que isso não funciona!? - Perguntou ela em desespero, enquanto o sujeito desferia um golpe com sua espada contra ela.

Antes que ela fosse atingida, usei minha energia restante para mais um feitiço:

— Mizar-lys! - O sujeito parou com a lâmina a poucos centímetro do pescoço de Lily e recuou a meu comando, largou a espada no chão e se sentou de pernas cruzadas.

— Mestra Serena! - Gritou ela, começando a chorar.

— Pelos deuses, se recomponha! A equipe precisa da sua ajuda!

— Sim, mestra. - Disse ela, limpando as lágrimas com a manga e tentando conter as lágrimas.

— Amarre-o rápido, não poderei manter a magia por muito tempo.

— Certo! - Ela engatinhou e se colocou atrás dele, rasgou a barra da túnica de mago, e usou o tecido para amarrar os pulsos do sujeito.

— Tem alguma mana ainda?

— Eu absorvi deles, então tenho sim.

— Então use esse pergaminho. - Falei e retirei um pergaminho da minha bolsinha presa no cinto e joguei para ela.

— Certo. - Ela tentou se levantar mas fez uma careta de dor ao pôr o peso todo na perna direita.

— Você está bem!?

— Não é nada. - Disse ela, colocando o peso sobre a outra perna. - Vejamos… SHIÔ! - Gritou ela, fazendo todos os inimigos restantes apagarem. - Não devíamos ter usado isso antes?

— Eu guardo os pergaminhos para emergências, e não achei que isso fosse se tornar uma.

Pergaminhos de magia são pequenos rolos de pergaminho com palavras de poder escritas com uma tinta especial. Quando seu feitiço é lido por um mago, ele pode usar uma magia sem ter o domínio do encantamento e consumindo muito menos mana que o normal. Eles costumam ser caros e difíceis de fazer, então magos só costumam usá-los quando a situação é desesperadora.

— Vocês estão todos bem? - Perguntei, preocupada.

— Estamos. - Respondeu Bear. - Bom trabalho Lily e Serena! - Adicionou ele.

— EU QUE PERGUNTO! - Disse Henry, um pouco alto demais. Ele me virou de lado para ver o local onde eu havia levado uma pancada. - Você está bem? Bem mesmo? Eu fiquei morrendo de preocupação. Se algo acontecesse com você eu…

— Eu estou bem, Henry, não se preocupe. - Respondi, tentando acalmá-lo.

— Lily, você foi ótima para a sua primeira missão. - Parabenizou Henry, de forma animada. Na minha primeira missão eu quase explodi por acidente o que eu deveria proteger. - Acrescentou um pouco sem graça.

Rindo, relembrei:

— Você estava totalmente seguro acerca da sua invenção, mas no fim ela explodiu. Por sorte, a Lenora colocou um feitiço de proteção em torno de nós e do tomo sagrado.

— Eu evoluí bastante desde aquela época.

— Antes elas explodiam num total de 100% das vezes, agora só em 50%. - Provoquei.

— Que mentira! - Respondeu ultrajado. - Minhas estatísticas não são tão ruins! Diz pra ela, Bear!

— Essas crianças. - E todos riram juntos.

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Enquanto nos dirigíamos ao posto da Guarda Real, o garoto que me atacou com a adaga recobrou a consciência. Ele devia ter uns dezesseis anos, seu corpo era praticamente pele e osso e suas vestes verdes e brancas ficavam largas em seu corpo. Sua pele era negra como a minha, seu cabelo tinha um corte baixo e estava parcialmente coberto pelo chapéu verde musgo, os olhos eram grandes castanhos, e seu nariz era grande e largo. Ele nos perguntou:

— Vocês...vocês me levarão para a Guarda Real?

— Sim, levaremos. - Respondeu Bear.

— Por… por favor, não me levem. Eu devo ao Vlad, e se eu não pagar, eu e minha família morreremos.

— Você não devia ter se metido com os Corvos, garoto. - Falei, séria.

— Você não entende, você nasceu livre e em um país sem guerras. Mas nós não tínhamos opção. Meu país, Olgurunk, é colônia de Vorsêris, e caras como eu éramos escravos lá. Minha família conseguiu fugir e se abrigar em Barukai, mas não era seguro por causa das guerras com Lumurkh. Juntamos tudo o que tinhamos, atravessamos o oceano e viemos para Mytra esperando termos uma vida melhor, mas nada saiu como esperado. Meu pai contraiu uma doença letal e faleceu e minha mãe ganhava muito pouco para sustentar quatro crianças. Eu comecei a roubar pois era isso, ou meus irmãos mais novos morreriam de fome! Cometi o erro de pegar parte do que eu deveria entregar a Vlad pelas operações para pagar um remédio para minha irmã mais nova e comida para a família, e a Elanil me disse que eu teria apenas uma semana para repor o que eu peguei ou me entregaria.

— Quanto você pegou, garoto? - Perguntou Bear.

— BEAR! - Protestei. - Vai confiar em um dos Corvos? Nós já sabemos como isso vai terminar!

— 3 peças de ouro e 400 de prata. - Respondeu o garoto, para Bear.

— Eu pagarei o que deve com uma condição. - Falou Bear.

— Qual? Eu farei o que você quiser!

— Nunca mais irá voltar a roubar e cortará ligações com os Corvos. Está me entendendo?

— Eu…- Ele hesitou por um momento. - Eu quero fazer isso, mas… o que eu farei se não for trabalhar para eles. Não é como se fossem empregar um ex-criminoso após a Guarda Real me soltar, o que só os deuses sabem quando vai ser.

— Por isso que você vai comigo para a Guilda Do Alvorecer.

— O quê!? - Exclamamos eu e o garoto em uníssono.

— Os líderes das Alianças da Guilda tem poder concedido pelo rei de recrutar qualquer pessoa, incluindo criminosos. Eu exercerei meu poder como líder dos Engendradores.

— Mas por que você faria isso? - Indagou o garoto, perguntando a mesma coisa que passava pela minha cabeça.

— Sabe garoto, eu também era um garoto preto de Olgurunk como você, e fui escravo também. Eu fugi quando tinha doze anos, escondido em um barril em um barco que ia até Hered’In. Minha família não teve a mesma sorte que eu.

Bear tinha uma tristeza profunda no olhar enquanto lembrava do passado. Ele raramente falava do passado, e o pouco que eu sabia é que ele serviu como militar em Hered’In por quase dez anos.

— Eu quero poder fazer alguma coisa por aqueles que sentiram na pele o que eu passei. - Explicou ele. - Conseguirei uma autorização para você e sua família residirem em Dyron. Ficarão seguros, terão comida e devem conseguir trabalhos, já que estamos com defasagem de pessoal.

— Muito obrigada, senhor. - Disse o garoto, desatando a chorar. - Eu não te decepcionarei.

— É bom mesmo não me decepcionar. Qual o seu nome?

— Me chamo Ghali, senhor.

— Meu nome é Mpumelele, mas me chamam de Bear, já que pra eles é um pouco difícil de falar.

— Garoto de sorte. Ainda bem que era o Bear aqui e não outro líder. Ele parece durão por fora, mas é a pessoa mais coração mole que eu conheço. Me chamo Serena. Seja bem-vindo à Guilda Do Alvorecer!

FIM DO CAPÍTULO 18