Depois de algum tempo, finalmente estava liberado para começar o teste de perícia. Mesmo não sabendo dos resultados das provas, não podia desanimar, precisava pensar positivo pelo meu próprio bem dentro da guilda.

Saindo da sala de provas no Forte Dyron, trilhei meu caminho até aos pavilhões onde ocorreriam os testes de perícias com armas. Encontrei o caminho facilmente, pois eram no mesmo local onde eu realizara os treinos. Localizados bem no centro da base da Guilda Do Alvorecer, eram quatro grandes construções, preparadas para cada tipo de treino, e meu teste seria no Pavilhão 3. Eu estava animado, pois já fazia muito tempo desde a última vez que eu havia entrado em um combate, mesmo que controlado.

Chegando lá, me sentei em um dos bancos na lateral do pavilhão e aguardei como os demais. Pouco tempo depois, dois líderes de Alianças apareceram e um deles disse:

— Sejam bem vindos ao teste de perícias de armas pesadas. Sou a guardiã Shannon e esse é meu colega Rach’Nir. Nós somos líderes da nossa Aliança e mestres em armas pesadas. - Ela era uma mulher muito simpática de cabelos loiro-escuros, olhos bem verdes, pele bronzeada, físico atlético e de altura mediana, vestindo uma armadura de couro. Já Rach’Nir, era um homem sério e de postura rígida, de físico forte, de pele negra e cabelo preto trançado e vestia uma armadura de couro e usava um colar de presas de Wyvern no pescoço. Dando continuidade ao que Shannon dizia, falou com a voz grave:

— Lembrando as regras do teste: Vocês lutarão com um orientador usando uma das armas do nosso mostruário. O segundo orientador irá observar o combate e fará anotações sobre a técnica de vocês. Não deverão ser usado golpes letais e são estritamente proibidos o uso de itens mágicos e poções para aprimorar as habilidades. Qualquer coisa estranha que nós percebermos, acarretará em desclassificação. Iremos chamar um por um, então fiquem atentos às chamadas. Se chegar a vez de vocês e não responderem, serão desclassificados. - Alguma dúvida? - Todos responderam “não” em uníssono, então ele prosseguiu. - Então, Shannon, por favor, diga o primeiro candidato.

— Zenith Myöujin! - Chamou Shannon. - Você será a primeira, aproxime-se.

A garota chamada, Zenith, era uma mulher baixa que usava roupas leves vermelhas, e um chapéu de palha sobre a sua cabeça. Seu cabelo era um loiro tão claro que era quase branco, estava preso por uma fita prateada, e sua pele era extremamente pálida. Após algum tempo escolhendo no mostruário, ela pegou uma arma que me parecia ser uma odachi de madeira, algo surpreendente por si só apenas de ver uma, quanto mais alguém utilizando uma. A odachi é um tipo de espada de lâmina e cabo maiores que o convencional, muito utilizada por guerreiros do leste e conhecida pelo seu difícil manuseio, então fiquei me perguntando se uma garota como ela seria capaz de usar aquela monstruosidade com maestria.

Após alguns segundos, a garota jogou o chapéu para a frente, na direção de Shannon, que desviou para a esquerda com uma velocidade assustadoramente alta, sendo surpreendida pela odachi da garota. Incrivelmente, Zenith tinha uma habilidade notável com a arma, além de ser quase tão rápida quanto a Shannon, que bloqueou rapidamente o ataque. Apesar de Shannon ter aparentemente mais experiência em combate, a garota era bem determinada e bem habilidosa com a sua arma, então me perguntei sobre o tipo de treinamento que ela deve ter passado.

Shannon avançou em sua direção, mas Zenith manejou a odachi de forma que ela conseguiu não apenas bloquear o ataque, como se colocar atrás de Shannon, que desviou de seus golpes subsequentes e avançou mais uma vez. Fazia tempo que eu não via um combate assim. Mesmo sendo apenas um exame, as duas lutaram com grande ferocidade. Após alguns minutos das duas trocando golpes, Rach’Nir levanta sua mão e diz:

— Ok, eu já vi o suficiente, podemos chamar o próximo.

— É uma pena. Eu estava me divertindo. - Falou ela, saindo do campo de treinamento decepcionada.

— Goro Mokhar. - Chamou Shannon. - Boa sorte, senhor Mokhar. - Ela se virou para Rach’Nir e disse. - Agora é a sua vez.

Então, após pegar os machados do mostruário, me aproximei do homem chamado Rach’Nir. Ficamos alguns segundos nos encarando, até o momento em que eu avancei em sua direção atacando com golpes de machado. Ele era incrivelmente hábil e se esquivou de todos os meus golpes com facilidade, mesmo estando portando uma alabarda bem pesada.

Logo em seguida, ele começou a me atacar, e não pude deixar de me impressionar com sua enorme força quando a lâmina de sua alabarda se chocou contra a do meu machado menor. Sua força era quase tão grande quanto a de um gigante criança, então decidi mudar um pouco minha estratégia e parti para o machado grande, uma arma mais lenta mas que poderia acompanhar o ritmo da alabarda de Rach’Nir. Mesmo com bastante pressão, ele ainda conseguia defender meus golpes com maestria e contra-atacar ferozmente. Após algum tempo, Shannon levanta sua mão e diz:

— BASTA! Já vi o suficiente! Obrigada Goro! Se quiser, já pode se retirar do pavilhão. PRÓXIMO!

—___________________________________________________

Então, após finalmente o dia estar chegando ao fim, comecei a voltar para meu quarto. O dia lindo e movimentado, deu lugar a uma noite escura e solitária dentro das cercanias da Guilda Do Alvorecer, e quanto mais o tempo passava, mais bonito esse lugar parecia para mim. No entanto, antes que eu pudesse chegar no meu local de descanso, me deparo com a mesma garota da odachi mais cedo nos exames, ela estava parada na minha frente, me observando, como se estivesse me esperando ali mesmo, então tentei aproximar-me, mas ela rapidamente sacou sua odachi das costas e assumiu uma postura de combate, então lhe olhando nos olhos eu disse:

— Me desculpe, é contra a minha política lutar contra uma dama. - Falei tentando fazê-la desistir e mover-se.

— Eu não estou satisfeita… Lute comigo, já! - Respondeu Zenith avançando contra mim ferozmente me fazendo bloquear com meus machados de batalha.

— Escute garota, eu não tenho a intenção de lutar com você. - Falei repelindo ela para longe de mim. - Agora seja uma boa menina e saia da minha frente.

— Você me subestima por eu ser mulher. Todos os homens são iguais, mas eu vou mostrar para todos eles o quão errados estão! - Resmungou Zenith, me atacando impiedosamente.

— Tudo bem, já basta disso. - Falei pulando para longe do alcance da sua Odachi, em seguida avançando com a parte sem lâmina dos machados.

Mas antes que Zenith pudesse tentar revidar, a senhorita Shannon passa por ali e segura a Odachi de Zenith com apenas uma das mãos e disse com uma expressão séria:

— Já basta! Senhorita Myöujin, a menos que queira ser banida, é melhor parar de arrumar confusão. Duelos, apenas nos pavilhões ou com supervisão de algum mentor. Entendido?

— Tsc. Que seja, vou ter outras oportunidades, e esse bárbaro nem me parece tão forte. - Falou Zenith dando as costas e se retirando zangada por ter sido interrompida mais uma vez.

— Zenith não é uma garota má, mas tem um péssimo temperamento e está sempre tentando competir com alguém. - Explicou Shannon, assim que Zenith ficou fora de vista.

— Eu percebi, ela tem um desejo intenso pelo combate, dá para sentir nos olhos dela. Você parece já conhecê-la a algum tempo, senhorita Shannon, estou certo? - Indaguei.

— Ela chegou aqui na guilda faz alguns anos. Ela ficou órfã muito cedo e foi adotada por um mestre samurai de Sunaria. Por um longo tempo viveram felizes, mas um dia ela o encontrou morto ao chegar em casa. Por conta disso, ela jurou se tornar forte e passou a desafiar todos os guerreiros fortes que encontrava no caminho, a fim de aprimorar suas habilidades e conseguir se vingar. Ela chegou na guilda acreditando que talvez pudéssemos ajudá-la a descobrir algo sobre o assassino, mas não conseguimos fazer nada por ela. Então seu objetivo passou a ser entrar numa Aliança, mas ela nunca foi aprovada nos testes por sua má conduta.

— Compreendo, isso explica muita coisa a respeito dela. - Falei pensativo. - Entendo bem esse sentimento de perder algo valioso e buscar a vingança, mas eu já não alimento isso há muito tempo. De qualquer forma, lhe agradeço por ter me tirado dessa luta desnecessária senhora Shannon.

— Não foi nada. - Respondeu ela, sorrindo. - Tenha uma boa noite Goro.

—___________________________________________________

No dia seguinte, segui para o mural de avisos da guilda, em busca de ver os resultados dos meus testes, ao chegar no mural, me deparo com Will.

— Olá Goro! Veio ver os resultados também? - Perguntou-me alegremente.

— Você sabe ler o que eu penso do mesmo jeito que eu sei preparar uma cerveja garoto. - Falei sorrindo. - Como você se saiu?

— Fui o único a gabaritar a prova teórica, mas minha nota na parte prática foi apenas boa o bastante para passar. 10/10 e 7/10. E você?

— Até que fui bem, a prova teórica eu tirei 7,5/10, apenas o suficiente, já na prova prática eu me saí bem melhor, 10/10, mas não fui o único a gabaritar essa prova então não estou tão surpreso assim.

— Pra não morrer de tédio enquanto eu estava na clínica, fiquei estudando, por isso consegui ir tão bem.

— É bem o seu estilo fazer isso. - Falei enquanto olhava o mural e via outro papel, com alguns nomes e traçados, muito similares a chaves de combate. - Will, o que será esta chave aqui? - Perguntei apontando para o papel.

Equipe 1

— Kyurem Kenshi

— William Wood

— Zenith Myöujin

— Allyria Riverwall

— Sinariel Lorhalien

Equipe 2

— Lily Reyes

— Alathar Evenwind

— Azura Targana

— Prismeus Vrago

— Gryphero Moonridge

Equipe 3

— Goro Mokhar

— Nerissa Mir

— Bram Vrye

— Corby Angler

— Daichi Sasaki

Equipe 4

— Rozag Fenryl

— Corynax Shadowhorn

— Piper Yellowcrane

— Arya Van Hyden

— Wolvar Garkalan


Após ler as chaves do terceiro exame, percebi o nome de Zenith na mesma equipe de Will, então lhe olhei e disse:

— Ora, quem diria... você deu um azar e tanto por ter a Zenith em sua equipe. - Falei.

— Azar? Por que? Ela é fraca? - Perguntou-me, confuso.

— Uma coisa eu te garanto, de fraca ela não tem nada, eu diria até que ela é um monstro lutando, literalmente.

— Então qual é o problema com ela?

— Esse é exatamente o problema, ela AMA lutar, com qualquer pessoa, tome cuidado com ela.

— Não se metendo no meu caminho, eu não me importo. - Falou uma voz feminina um pouco rouca, vindo de trás de nós. A voz pertencia a uma bela elfa de pele negra, olhos azul escuro e longos cabelos prateados, vestindo trajes pretos e uma capa branca, que estava de braços cruzados e com o rosto inexpressivo.

— Quem é você, elfa negra? - Perguntou o garoto.

— Allyria Riverwall, clériga sacerdotisa da deusa da noite e dos mortos, Lunalia. Farei parte do time 1. E por favor, chame-nos de Drow. Nossa ligação com esses seres patéticos da superfície a quem geralmente chamam de “elfos” se rompeu a muito tempo desde decidimos servir a grande mãe da escuridão.

— Sou William Wood. - Falou Will, estendendo a mão para cumprimentá-la, mas foi ignorado.

— Olá, sou Goro, não somos da mesma equipe, mas espero que passemos nos testes, muito prazer senhorita Riverwall. - Falei.

— Humpf. Apenas espere para não acabar no meu caminho, pois eu não hesitarei em acabar com você, se necessário. - E ela se virou para ir embora.

Quando ela já estava distante, Will me disse:

— Mocinha simpática, hein…

— Não estou tão surpreso, os Drows costumam ter esse comportamento hostil com as pessoas. Nem todos são pessoas más como dizem, uma parte é apenas incompreendida por conta de suas crenças. - Expliquei.

— Bem, de qualquer forma, vou torcer para não ser trucidado pelo meu próprio time. Fui colocado numa equipe de loucos, aparentemente.

— Boa sorte, garoto.

— Boa sorte, Goro.


FIM DO CAPÍTULO 14