Guiada até o amor

Capítulo único


JIHYO

Se alguma pessoa me perguntasse o quanto amava a minha profissão, não iria pensar duas vezes antes de responder que não poderia estar mais satisfeita.

Até chegar naquele momento.

Após 6 meses sem que o jardim de infância tivesse uma excursão, a diretora achou que seria legal irmos para o zoológico. Não me leve a mal, eu amava a liberdade de ensiná-los fora da sala de aula, isso sem contar a felicidade que todos demonstravam com seus sorrisos e conversas que duravam várias e várias semanas, como se aquela viagem fosse a melhor coisa que poderia acontecer naquele ano. Contudo, ninguém estava lá para ajudar quando as crianças ficaram tão, mas tão felizes e ansiosas em ir para o zoológico que levaram aproximadamente 20 minutos para se acalmar. Esses minutos pareceram 5 horas de completo caos.

Depois de muita luta e de eu ter implorado para as crianças sentarem e não baterem nos amiguinhos, finalmente estávamos olhando para o grande portão do zoológico antes da aventura e do longo dia começarem.

Não demorou muito para um guia aparecer, pelo que lembrava se chamava Kang Daniel. Eu não tinha mais nenhuma informação sobre ele — somente seu nome —, então quando chegou vestindo colete verde, chapéu e calça da mesma cor e um lenço claro em seu pescoço, puta que pariu, meu coração falhou algumas batidas, pois não tinha ideia de que fosse tão bonito. Para completar, sua roupa o deixava extremamente fofo.

— Crianças, por favor, façis duas filas. Se alguém ficar para trás, não irá ver a família por 24 horas. Conseguem imaginar como um zoológico deve ser de noite? Existem milhões de barulhos desconhecidos e assustadores! — sussurrei aquela última informação com um tom de voz ameaçador, o que deu certo, pois pouco tempo depois todos estavam em fila, quietinhos.

— Bom dia para vocês! Sou o Kang Daniel, mas podem me chamar como acharem melhor. Sou um guia, o que quer dizer que vou apresentar a vocês os animais e posso responder todas as perguntas que tiverem, certo? — Mesmo que seu sorriso fosse para as crianças, fiquei imaginando se ele poderia ser ainda mais perfeito, se é que isso seria possível, caso estivesse direcionado para a minha pessoa.

Okay, talvez eu tenha tido uma pequena queda por ele.

— Tio, tenho uma pergunta. — Hyuna colocou sua mão para o alto e foi impossível não dar um sorriso. Geralmente, sempre que minha classe chamava alguém de “tio” ou “tia” significava que estavam completamente confortáveis com a pessoa e fiquei feliz por isso. Foi bastante rápido.

— Sim? — Enquanto respondia, fez um gesto com a mão para começarmos a andar para a primeira parada.

— Você é casado ou tem namorada? — Algumas crianças ao lado dela começaram a rir por quão cara de pau foi, já eu só queria me enfiar na terra de tanta vergonha. O que o homem iria pensar de mim? Simples: que não conseguia sequer ensinar um bando de crianças a não fazerem perguntas pessoais.

— No momento não, mas estou aberto a sugestões. Quem sabe quando crescer você não seja minha futura esposa? — A loira ficou tão envergonhada com a resposta que suas bochechas gordinhas se pintaram de vermelho.

Eu tinha certeza de que a ouvi sussurrar um “Espero esse dia com minha vida” antes de continuarmos a andar. Logo vimos uma caverna onde os pinguins e animais árticos moravam.

— Nossa sociedade possui o costume de estar em um relacionamento somente com uma pessoa. Sabem quem mais tem esse costume? Os pinguins! Sabiam que somente se acasalam uma vez até morrerem? — A minha sala ficou tão chocada que vi alguns olhinhos brilhando enquanto escutavam com atenção a explicação. — Podem se aproximar, mas assim como vocês não gostam de ser acordados enquanto estão dormindo os animais também não, então mantenham suas vozes baixas e nunca batam no vidro, tudo bem? — Foi somente ele terminar de dizer suas últimas palavras que as crianças começaram a correr para chegar o mais perto possível dos animais. Algumas até colaram seus rostos no vidro como se fosse caso de vida ou morte.

— Peço desculpas pelo comportamento da Hyuna. Sabe como são as crianças hoje em dia, todas curiosas! — Fiz uma referência para demonstrar o quão arrependida realmente me encontrava.

— Relaxa, depois de anos trabalhando com elas as perguntas se tornam quase que uma rotina. Não foi a primeira e com certeza não será a última. — Deu um riso tão verdadeiro que ficou claro que realmente não tinha se incomodado.

Meu Deus, que som maravilhoso o daquela risada... Minha vontade era dizer para as crianças irem para fora para que eu pudesse conversar com Daniel e conhecê-lo mais.

— Senhorita Park, poderia pedir o seu número de telefone? — O jeito envergonhado com que ele passou as mãos no cabelo, junto de suas orelhas vermelhas, fez com que eu caísse de amores por aquele homem ainda mais e, sinceramente, não sabia que aquilo era possível.

Entretanto, meu cérebro parou de prestar atenção exclusivamente nele e começou a processar a informação em um todo.

Okay, o cara que você achou atrativo para porra pediu a porra do seu telefone. Sem surto, por favor, Park Jihyo.

— Não desse jeito! — Sua voz subiu alguns tons, o que fez algumas crianças nos olharem desconfiadas, mas logo esqueceram o assunto. Obviamente os animais aquáticos eram muito mais interessantes do que a conversa de dois adultos. — Preciso do seu número para ter para quem ligar se alguma coisa acontecer com seus alunos. Você sabe bem como as crianças são curiosas e adoram ver coisas novas sem avisar a professora... — Assim que esclareceu que não estava pedindo meu celular com segundas intenções o pânico em sua expressão sumiu. Era realmente uma pena, uma vez que todo o mal entendido poderia me dar uma chance.

Bem, com certeza não iria achar ruim dar meu telefone a ele.

— Tia Jihyo, podemos brincar de esconde-esconde? — Jackson veio correndo tão rápido que precisei reagir e colocar minha mão para baixo, suavizando o impacto que ele produziu em meu corpo.

— Minha vez de me esconder e depois será a sua, tudo bem? — Jackson meneou a cabeça, concordando com o que eu havia dito, antes de se virar e começar a contar. Escondi-me atrás de Daniel, uma vez que era uns 10 centímetros mais alto que eu.

A criança gritou que estava pronta antes de abrir seus olhos e segundos depois correr para todos os lados. Senti que o homem à minha frente deu algumas risadinhas bem suaves, tentando fazer o máximo para não revelar minha localização, mas perdeu a compostura com o passar dos minutos e seus ombros começaram a chacoalhar do tanto que ria.

— Achei! — Wang gritou depois de me tocar e começou a bater palminhas.

— Achou mesmo! — disse antes de colocá-lo em meu colo e dar um monte de beijos.

— Galera, temos que continuar em frente! — Daniel instruiu as crianças a pararem de ver os animais aquáticos para dar continuidade à visita.

Uma tarde inteira no zoológico se passou e não houve nem um momento que não tenha sido maravilhoso para mim; não pelo fato de Daniel ser extremamente bom com crianças e um homem super educado, mas porque eu aprendi muitas coisas novas e meus alunos também. Isso não tinha preço, saber que a informação poderia vir de qualquer lugar, não somente dos livros ou da escola.

Tentei contar todas as vinte crianças, porém algumas estavam correndo e brincando com as coisas que compraram na lojinha de souvenir, dificultando a tarefa. Meu corpo estava um bagaço por ter gasto toda a minha energia na caminhada… A primeira coisa que faria ao chegar em casa definitivamente seria tomar um banho de espuma.

— Por favor, subam todos no ônibus para voltar para a escola. — Alguns alunos colaboraram com o meu pedido, indo na primeira vez que mandei, outros demoraram um pouquinho mais e em 5 minutos estavam sentados em seus devidos lugares, mas o que dizer dos piores casos? Porra, aquelas crianças não me ouviam! Eu tinha que correr atrás delas e carregá-las até seus assentos no ônibus.

Depois de uns 30 minutos de luta, finalmente fiz a contagem final das crianças e quase tive um ataque cardíaco quando percebi que uma delas estava sentada sozinha, sendo que quando fizemos o trajeto de ida, todas as duplas estavam completas. Ninguém estava sobrando ou faltando.

Estava prestes a começar a arrancar os cabelos quando Daniel — digno do título de super herói — mandou uma mensagem dizendo que tinha encontrado Jackson na área dos leões. Antes de deixar o ônibus, implorei para um funcionário vigiar as crianças e corri até lá em tempo recorde.

Se antes estava sentindo uma queda por Kang Daniel, naquele momento me apaixonei. Seu visual era consistido de uma camisa branca e uma calça jeans, provavelmente porque estava indo embora antes de avistar Jackson perambulando pelo zoológico sozinho. Se já o achava bonito antes, puta que pariu, diante de mim estava um deus. Eu não conseguia nem enxergar direito diante de tanta beleza. Jackson estava no colo dele e ria de alguma coisa que havia dito.

— Tia Jiyho, você me encontrou! — Wang disse afobado e graças a Deus o guia pensou rápido, colocando-o de pé no chão antes que algo acontecesse. Eu tinha a sensação de que Jackson teria se jogado em direção aos meus braços se Daniel não o tivesse soltado a tempo, não tendo a noção de que poderia cair e se machucar.

Quase bati em minha testa quando lembrei que era a sua vez de se esconder.

O pequeno agarrou meu vestido entre os dedos de suas mãos, parecia que nada no mundo iria fazê-lo soltar. Kang Daniel deu um sorriso antes de se aproximar de mim, passando a mão no cabelo de Jackson.

— Obrigada mesmo por falar onde estava… De todos os alunos, ele sempre foi o que mais se meteu em problemas. Para ser sincera, não sei nem como agradecer, então se precisar de algum favor, pode pedir que farei o possível para realizar! — O que eu disse era verdade, ele tinha me poupado uma grande dor de cabeça na procura por Jackson e somente palavras nunca deixariam claro o quão agradecida me sentia.

— Na verdade, tenho algo para pedir. Adoraria te levar em um restaurante e te conhecer melhor… Está livre este sábado? — Automaticamente o meu queixo caiu e os meus olhos se esbugalharam pela surpresa, em contrapartida ele somente deu um sorriso e sussurrou um “Que fofa” antes de continuar me olhando com uma expectativa enorme nos olhos. Sentia no fundo de minha alma que estava interessado em mim, mas depois do incidente constrangedor ao pegar o número do meu celular… não tinha certeza de mais nada.

— Claro! — Na real, era tamanho o meu choque que não conseguia pensar em mais do que aquela simples palavra para responder, no entanto, seu sorriso alegre antes de dar um beijo em minha bochecha e ir embora não poderiam ter sido melhores. — Meu Deus, Jackson, eu te amo! — Minha entonação saiu um pouco mais alta do que o previsto pela felicidade que emanava de mim.

Peguei Jackson em meu colo e beijei todas as áreas visíveis de seu rostinho. Ele não entendeu muito bem o que estava acontecendo, mas mesmo assim recebeu as carícias rindo alto.

Quem diria que um ano depois do ocorrido eu estaria namorando, tudo isso porque um dos meus alunos decidiu brincar de esconde-esconde, levando-me até Kang Daniel?

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.