Guertena

Dissolução Anônima


Leo estava extremamente aborrecido. No dia anterior, não pudera chegar a tempo na Galeria de Artes e agora tinha que retornar, em um dia ensolarado como aquele, onde ele poderia estar fazendo absolutamente qualquer coisa, para poder fazer seu trabalho. Ele já estava por aqui com a professora e não queria mais problemas, portanto, com grande pesar e ignorando o máximo possível o calor que fazia, o garoto galgou a escada e entrou no imponente edifício.

Naquele dia não havia ninguém. Claro. Era de manhã ainda e todos iriam aproveitar o tempo que tinham em qualquer lugar que não fosse aquele museu chato. Com a cara emburrada, Leo foi até o recepcionista e assinou seu nome no grande e mofado livro de visitar, logo abaixo de uma tal de Iza.

Terminada essa tarefa, o garoto apanhou um panfleto da exposição e, ignorando completamente o recepcionista que lhe desejava uma visita proveitosa, começou a perambular pelo lugar enquanto folheava o panfleto, procurando por alguma obra interessante. Haviam muitas obras, de fato, mas nenhuma que realmente despertasse o seu interesse.

Haviam coisas decididamente bizarras, como manequins sem cabeça, uma árvore colorida ou um peixe pintado no chão. Outras idiotamente sem graça, como quadros de frutas, o que parecia o retrato de um gato preto e uma mulher sem graça de vestido vermelho.

Não pela primeira vez Leo se perguntou como diabos aquele tal Guertena ficara tão famoso.

Enquanto divagava sem rumo, acabou esbarrando em alguém.

— Foi mal — disse ainda distraído.

— Tudo bem — uma voz feminina e baixa o respondeu de volta.

A mulher em quem trombara não parecia chateada. Apenas ajeitou sua saia vermelha e, sacudindo os longos cabelos castanhos, deu-lhe as costas e foi embora. Leo a encarou apenas por mais uns instantes antes de voltar para o seu próprio caminho.

Então, finalmente, deparou-se com algo que valia a pena estudar. Um quadro.

Ele retratava uma menina, com seus cabelos cacheados caindo desalinhadamente sobre seu busto. As cores escuras e pinceladas insistentes davam a impressão de que ela se encontrava no mais profundo oceano, os lábios grossos apenas ligeiramente entreabertos, como se tentassem recuperar uma fração de seu fôlego. Ela parecia estar olhando para cima, mas o que estava pensando, ou o que poderia estar sentindo, isso era um completo mistério, uma vez que a parte superior de sua cabeça, incluindo seus olhos, parecia estar se liquefazendo eternamente dentro do abismo onde se encontrava.

Como se estivesse se tornando lentamente a tinta com a qual fora inicialmente pintada, como se, para dizer a verdade, nem sempre ela tivesse se encontrado naquele estado. Como se, há muito tempo atrás, seu rosto fora ainda visível e seus sentimentos, bem expostos contra a tela outrora branca, para todos verem.

Ainda sem saber direito dizer o motivo da pintura ter causado tamanha impressão, Leo sentou-se no banco defronte o quadro e, apanhando seu caderno e estojo dentro de sua mochila, escreveu o título da obra sobre a qual decidira pesquisar para seu trabalho de escola, não sem o auxílio das informações do panfleto que levava consigo.

Sua letra não era particularmente bela, mas ainda assim, era possível ler: "A última obra de Weiss Guertena: Dissolução Anônima".

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.