Guerra dos mares - Duologia

9° Mergulho - Hairu, o tritão.


Hairu.

Seguia pelas ruas daquela pequena cidade em busca de um lugar especifico. Queria mostrar meu mundo para Ameli, enquanto meu pai estivesse fora em uma caçada. Ele odiava humanos, não sabia por que já que casou com uma, todavia, queria que ele conhecesse Ameli.

Ela me seguia observando em volta, talvez para descobrir meus planos, sorri vendo-a analisar cada detalhe, até meus passos.

— Esta curiosa? — Sorri.

Ela voltou seus olhos para mim.

— Não. — Pela sua voz mentira.

Mesmo não a conhecendo tão bem, sabia que estava mentindo. Seus movimentos a traiam. Voltei a olhar as placas de cada rua que passávamos, sabia agora por que os humanos davam nomes a tudo. Isso era um labirinto! Parei diante da esquina olhando para os dois lados.

— Para onde está nos levando? Para alguma casa chique? — Ela apontou para a casa enorme na esquina em especifico.

Realmente também não entendia esses tamanhos de casas. Não era tudo para abrigar humanos? Por que algumas eram pequenas, outras grandes e outras como aquela de esquina, muito grande!

Queria nos levar até um certo local, mas vindo pelas ruas dos humanos era mais difícil. Por fim segui adiante vendo alguns carros pararem no que me falaram ser sinaleiras. Isso servia para que? E por que tinha três cores?

Parar os carros? Apenas?

Estranho, o pior eram placas dizendo pare, por que deveria parar? Que tinha feito?

Fitei Ameli, queria perguntar isso, porém desisti ao avistar a casa que queria. Teria sigo melhor vir pela praia!

Paramos diante de grandes portões brancos e toquei em um botão, sempre vinha pelo outro lado onde era uma pequena portinha branca. Esse botão chamaria alguém? Abriria a porta?

Fitei a porta que estava imóvel.

Semicerrei os olhos não sabendo o que fazer! Para que servia um botão naquele lugar? Não sabia nem se deveria ter tocado nele!

— O que viemos fazer aqui? — Ameli olhava os muros altos da casa. — É um belo casarão.

Casarão? Era assim que chamavam as casas grandes?

Desistindo daquela porta, e principalmente, do maldito botão de enfeite, um estralo soou e as portas se abriram revelando um homem mais velho, todo de negro. Seus cabelos grisalhos estavam para trás o que não era de costume.

O conhecia bem, fazia um delicioso suco laranja, que por sinal era feito com essa fruta! Muito interessante, nada igual aos sucos de algas que tomava. Esses costumes humanos estranhos, mas ao mesmo tempo deliciosos.

O homem se curvou e seguiu pela entradinha de pedra que já tinha visto. Ameli me seguia olhando tudo a volta até arquear a sobrancelha em ouvir alguns gritinhos. O que estaria acontecendo?

Contornando a casa, chegamos rapidamente na piscina onde havia três garotas sobre alguns colchões flutuadores na água e a pessoa que queria ver.

O que eram aquelas coisas? Elas flutuam sobre a água! Como? E por que estavam sobre aquilo! Um tinha formato de tubarão? Humanos são estranhos...

— O que é aquilo. — sussurrei apontando para aqueles objetos.

Ameli piscou olhando em direção a meu dedo.

Ela sorriu fitando-me.

— Aquilo se chamam boia, mas especifico, aquela garota morena esta sobre um colchão inflável.

Pisquei voltando a observar as diferenças daquelas coisas flutuadoras. Realmente eram diferentes, até mesmo as cores.

O homem dentro da piscina sorriu ao me ver, saindo rapidamente vindo em nossa direção, todavia não gostei do jeito como ele tirou os óculos e analisou Ameli de cima a baixo.

Por que ele analisava assim? Ela era minha!

— E quem é você, senhorita...? — Ele pegava sua mão depositando um beijo.

Ameli rosnou puxando o braço e virando a cara, antes de notar o sorriso malicioso deles. Sorrisos entendia muito bem, principalmente aquele onde meu primo lançava para toda garota que via. Então sabia que não era um belo sorriso.

— Quem é esse idiota? — perguntou para mim. — Já podemos ir embora?

Sorri, balançando a cabeça em negativa mesmo odiando aquela atenção mutua que Ameli ganhava.

— Sua namorada? — O homem perguntou.

Balancei em negativa.

— Preciso de sua ajuda Bob.

Bob era o único humano que sabia o que eu era e me ajudava. Claro, por trás disso o ajudei em muitas coisas que estavam em meu alcance. Ele tinha 30 anos, um homem gorducho que adorava ficar em volta de mulheres.

Uma já não bastava? Por que mais?

Ele olhou novamente Ameli que cruzou os braços.

— Quer uma roupa de banho para ela?

Assenti.

— Imaginei que era humano. — disse bebericando mais daquele suco de laranja que adorava.

Ele estralou os dedos fazendo seu mordomo vir até seu encontro e lá pediu para organizar tudo. Pediu licença se retirando por alguns minutos, enquanto aquelas mulheres começavam a me fitar.

Por que me olhavam com um jeito pior que um tubarão faminto? Desviei meus olhos, concentrando-me em Ameli. Adorava aquele jeito dela, ela não baixava a guarda para nada, não sorria para qualquer um, nem mesmo tinha se agradado com Bob, todas as mulheres corriam atrás dele!

Isso a tornava tão especial para mim, uma humana diferente.

Ela virou a cabeça encarando-me sem sorrir. Sim, tinha momentos que ela me assustava, porém, aquela expressão sumiu e a senti escorar em mim.

— Ele é o humano que me consegue roupas. — disse, lembrando-me da nossas "troca".

Ela fitou-me rapidamente piscando.

— Pelo menos tem bom gosto. — Não entendi sua frase, todavia, não perguntei mais nada.

Bob logo voltou com uma nova taça, mas dessa vez uma amarelada, algo que ele dizia ser champanhe.

— Sentem-se. — Ofereceu dizendo que a roupa iria demorar um pouco.

Ameli sentou-se longe dele, e daquelas garotas, porém, eu estava com mais medo daqueles olhares de tubarão. Já tinha enfrentado um tubarão, mas aquilo era pior. Sentando-me ao lado da minha humana, fiquei calado enquanto observava Bob "agradar", aquelas garotas.

— Ele é sempre assim com as mulheres? — Sussurrou ela para mim.

Dei de ombros, nunca tinha ficado muito tempo aqui, sempre tinha apenas uma garota muito gentil com ele. Onde ela estaria? A humana ao meu lado suspirou apoiando a cabeça em meu ombro.

Sorri de leve a fitando de soslaio. Adorava-a perto de mim.

O que eu faria no futuro? Estava comprometido com a mulher errada. Se eu não aceitasse os clãs entrariam em guerra. Como foi por séculos...

— Você vai gostar. — Tentei faze-la distrair-se um pouco. — Minha mãe é gentil e vai querer conversar muito. — Sorri.

Senti Ameli sorrir também em meu ombro.

— Ela vai querer mostrar sua sala preferida, falar de quando eu era um bebê... — Enumerei mesmo não gostando de algumas coisas...

A mesma gargalhou com minhas últimas palavras. Uma reação que já esperava. Sorri de leve.

— Essa parte quero saber. — Provocou.

O que poderia fazer? Ela iria falar mesmo!

Continuamos a conversar quando Bob se aproximou ainda com aqueles olhos estranhos sobre minha humana.

— Está pronta. — disse. — Por irem muito ao fundo tive que pegar uma roupa especial.

Terminando seu champanhe, mandou acompanha-lo. Já conhecia a casa por dentro, era realmente grande também, todavia, o mais curioso era os olhos de Ameli sobre todo o lugar.

Ela não estava familiarizada com o tamanho? Ou o que seria?

Não perguntei, apenas prossegui ao seu lado.

Chegamos ao quarto que Bob chamava de "aquário". Talvez por ter um aquário do tamanho da parede e ter apenas roupas e outros objetos de mergulho e pesca. Ele apresentou a roupa de Ameli.

— Basta colocar. — disse. — Vou preparar o barquinho, estou precisando sair para passear mesmo.

Ele sorria enquanto tocava em meu ombro.

— Deixa-a se vestir. — Piscou para mim.

Não entendo esse ato, entretanto, o segui deixando Ameli sozinha.

Uma daquelas garotas de Bob veio em auxilio a humana enquanto fiquei perto da piscina conversando com Bob. Ele ainda perguntava se ela era minha namorada. Como gostaria de dizer sim...

Quem sabe se ela pudesse ser? Poderia ser rápido demais, porém teria que enfrentar meu pai e o clã primeiramente.

— Ela realmente é linda. — disse ele falando dos cabelos compridos dela e de seus...

Seios?!

Era isso que ele tanto observava Ameli? Tinha ouvido falar que muitos homens humanos adoravam ficar analisando os seios das mulheres, algo que minha raça não fazia. Era apenas uma parte do corpo, o que teria de tão especial? Até os tamanhos mesmo variados, eram iguais!

Seus cabelos realmente adorados. Uma cor normal, todavia, sentia atraído em toca-los. Sempre.

Bob continuou a tagarelar ao meu lado, ou melhor, a falar de Ameli, enquanto fitava a água daquela piscina tão clarinha. O que eu poderia fazer? Logo seria o novo rei. Como impediria uma guerra pelo puro desejo?

Meu pai estava cansado, não aguentaria mais ficar no trono, teria que assumi-lo assim que me casasse com Shaunne. Não tinha saída nenhuma!

Ameli poucos minutos depois apareceu resmungando com aquela roupa, Bob foi em sua direção falando para que a roupa servia, e sobre ela ser especial. Suspirei, agradecido por ele ter parado de falar em meus ouvidos, mas com raiva ao ver suas mãos tocando em Meli que parecia ter uma expressão fria e seria para ele.

Suas orbitas claras foram até mim, porém, não a analisava mais, pensava em saídas... Não queria Shaunne, não queria meu pai morto ou se sacrificando também... Precisava...

— Se você não tem saída, faça você mesmo uma. — ouvi a voz de Ameli forte ao se aproximar.

Com a mesma expressão que lançara para Bob. Ela parou diante de mim e analisei. Uma roupa de banho justa, negra e pelo visto ela não se sentia confortável, todavia, o humano logo atrás parecia babar.

— Vamos agora. — Bob sorriu para a garota que tinha ajudado, despertando-se. — Quer dar um passeio?

A mulher aceitou a oferta e seguimos o casal até o pequeno barco de Bob. Realmente acho que era a único objeto dele pequeno!

Apoie-me nas grades de segurança enquanto o vento brincava com meus cabelos negros. Ameli ainda não estava confortável com aquela roupa.

— Ainda terá que colocar mais coisas.

Sentando-se ao lado dos objetos que teria que colocar, fitou o mar sem emoção. Ela estaria insatisfeita? Depositei meu corpo ao seu lado, a analisando pelo canto do olho.

— Será divertido. — Sorri para anima-la.

Ela sorriu de leve.

— Vamos, vamos. — Bob gritou e logo o barco começou a andar.

O humano sabia onde precisaria me largar. Confiava nele, todavia, não em suas humanas. Voltei a observar Ameli que agora fitava o céu azul.

As gritarias de Bob com as garotas eram altas, ainda não entedia quanto divertimento era aquele.

Sorri vendo as montanhas que indicavam que estávamos perto, Ameli viu minha empolgação fitando em direção de onde observava. As montanhas.

Tuneis secretos que levava ao meu lar.

O lado sul governado pelos Kaiō, meu clã.

O lado norte governado pelos Umi.

O barco desacelerou e Bob deu o sinal. Ameli se arrumava enquanto o barco parava perto das pequenas montanhas que faziam uma espécie de arco. Onde musgo e plantas começavam a decora-la.

— Pronta? — Sorri.

Ela assentiu.

Tirei minhas roupas jogando no barco, a mesma corou olhando para trás onde viu Bob gargalhando com as humanas. Qual era o problema dos humanos com as roupas? Por que o motivo da risada? Deu de ombros me jogando no mar e assim sentindo minhas pernas mudarem.

Meu corpo mudar.

Não era doloroso, rápido.

E logo estava com minha verdadeira forma.

Esperei Ameli que se jogou logo em seguida, a segurei enquanto ela agarrava firmemente em mim. A ajudei até que se acostumasse, tinha explicado sobre os tubarões para ela ficar mais tranquila.

Nadei rapidamente dando voltas enquanto alguns peixes fugiam de mim, era divertido. Um enorme tubarão apareceu fazendo Ameli se esforçar para me alcançar. Ri daquilo. Aquele ali não era ameaça.

Um tubarão branco que percorria perto da entrada da minha cidade. Era nosso "guarda". E o que vinha era meu amigo.

Por ser um tritão tinha seus benefícios, como controlar os animais. Nem todos conseguiam fazer isso, como nem todos deixavam ser controlados.

Um tubarão tigre se aproximou rapidamente de nós e como os animais dos humanos, ele rodeava-me pedindo atenção. Passei as mãos em seu corpo enquanto o mesmo parecia estranhar Ameli.

— Calma, calma. — dizia. — Ela é minha amiga.

Ameli se agarrava nas minhas costas, sorte que não precisava nadar agora por que alguém tinha grudado as pernas na minha cauda! Sorri vendo o medo dela. Não era para menos. Humanos temiam tubarões, e talvez outros seres marinhos.

— Ele vai nos levar pelo túnel.

— Túnel? — falou com dificuldade.

Ela usava algo que não sabia o que era na boca, apenas sei que isso dava oxigênio que ela necessitava com isso ficava difícil dela falar debaixo da água. Apontei para o túnel escuro. Consegui enxergar e sabia direitinho o caminho, mas não queria perder Ameli no meio do caminho.

A fiz agarrar na nadadeira dorsal do tubarão de porte médio, para assim ele a levar pelo túnel enquanto seguia atrás. Conseguia a ver tentar enxergar-me naquela escuridão, estava com medo. Tocando em seu corpo para dizer que estava junto com ela, Ameli relaxou um pouco.

Conseguia ver o final do túnel e assim o pequeno tubarão tigre desacelerar deixando-a se soltar dele, espantada com o que via. Realmente meu mundo era bem diferente, talvez mais diferente do que ela tivesse imaginado...