Guerra dos mares - Duologia

5° Mergulho - Visita desagradavel


Abri meus olhos vendo Milk na janela do quarto. As cortinas balançavam-se e o sol adentrava o quarto iluminando tudo.

Despreguicei-me, seria meu segundo dia do novo trabalho, precisava dar meu melhor e tirar um pouco esse tritão da minha cabeça.

Dei um pulo, saindo da cama dando bom dia para Milk que me seguiu até a cozinha onde fiz o nosso café da manhã. Como todas as manhãs, Milk tomava leite e roubava minhas maçãs.

— Talvez eu demore em chegar hoje, se comporte. – O avisei colocando bastante comida em sua tigela enfeitada.

Ele miou enquanto se esfregava em minhas pernas.

Voltei para meu quarto pegando alguma roupa, usaria hoje um vestido e uma botinha com um salto pequeno. Escolhendo qual vestido pegaria, optei para um branco florido e minhas botinhas negras.

Encarei-me no espelho decidindo se amarrava meus cabelos castanhos em um rabo de cavalo ou os deixava solto. Desisti deixando-os soltos. Estava quase atrasada precisava correr.

Peguei meus objetos e minha bolsa passando por Milk que miou me esperando na porta. Sorri e a fechei logo atrás.

Corria rumo a meu trabalho que ficava duas quadras dali, não era longe. Daí você se pergunta como alguém poderia se atrasar? Essa era eu. Parei diante das portas de vidro vendo que minha gerente e uma das meninas da cozinha já tinham chego.

Abri as portas fazendo o sininho nela soar e dois pares de olhos caíram sobre mim.

— Bom dia Ameli. – disse Sarah, minha gerente.

Sorri dando bom dia a todos.

Caminhei para os fundos do estabelecimento enquanto Sarah conversava com uma das garotas da cozinha que ainda não sabia o nome. Apenas havia garotas ali, e por causas disso muitos homens vinham ali não para procurar emprego e sim para nos "observar".

Fitei meu armário de madeira e meus pensamentos foram para aquele tritão esquisito. Por que tenho que pensar nele! Bati fortemente a porta do armário furiosa comigo mesma.

Isso estava parecendo um conto de fadas! E contos de fadas não existem! Nem ao menos alguém leu um para mim...

Suspirei, era melhor focar-me no trabalho.

Voltei para meu posto vendo que Sarah lixava as unhas, escorada na bancada. Somos quatro garotas, Sarah e eu ficávamos na bancada servindo os clientes, e outras duas garotas preparando aquelas comidas deliciosas. Era um pequeno estabelecimento, isso facilitava para quatro garotas trabalhar.

— Dormiu bem? – Pisquei vendo Sarah falando comigo enquanto me fitava.

Assenti.

— Estou bem, apenas me acostumando com isso.

— Por que saiu do seu ramo? Você acabou de sair da faculdade não seria algo bom?

Olhei-a de soslaio, pelo que tinha ouvido Sarah não completou a faculdade então veio trabalhar nesse Starbucks novo.

Suspirei.

— Fiz advocacia para contrariar meus pais, eles queriam que eu assumisse a empresa, todos os cursos que queria fazer meus pais poderiam usar em proveito deles, então desisti. – Suspirei novamente. – Mesmo realmente gostando do que me formei, eu ainda sou assombrada por eles...

Sarah piscou.

— Sua família é realmente problemática.

Isso era verdade.

Baixei a cabeça.

— Desculpe-me não queria falar isso... Eu. – Sarah levantou o olhar fitando o teto branco. – Minha família também é complicada assim.

Duas garotas com família complicadas começava uma conversa ali.

Alguém teria uma família perfeita? Problemas existem sempre, todavia queria apenas uma família mais unida.

Sentei-me baixando a cabeça, logo começaria a chegar aqueles surfistas como de costume.

Não queria pensar na minha linda família problemática que faziam uma guerra civil entre eles. Queria estar fora disso.

O sininho da porta tocou avisando que alguém entrava, todavia não levantei a cabeça, seriam aqueles caras que sempre queriam ser atendidos pela Sarah, não era de menos, ela realmente era linda.

Ouvi Sarah resmungar algo e alguém cutucar minhas costas. Levantei a cabeça franzindo o cenho. O que Sarah queria?

Pisquei ao ver que na minha frente não era Sarah que me chamava e sim aquele tritão de belos olhos azuis.

— O que faz aqui! – Exclamei não entendendo o ele fazia ali àquela hora da manhã.

Ele sorriu.

— Vim ver você, ontem precisei ir sem explicar nada.

E por que você precisa me dar explicações? Pensei. Nem éramos amantes ou parentes para dizer aonde ia e por que.

Continuava a fitar Hairu.

— Não posso ficar muito aqui.

Aqui seria o mundo humano? E por que não podia?

— Meu pai não me permite, então precisei partir. – Explicava ele.

Sorriu de leve, realmente aquele cabeça de vento me dava nos nervos. Mas era divertido.

Sinceramente, acho que me irritava com ele por nunca ter tido uma pessoa como ele ao meu lado. Acho que será uma grande experiência.

Voltei a observa-lo de cima a baixo vendo que ele usava roupas completamente diferentes de ontem. Ele não estava com roupas de "clima" de praia, todavia poderia se dizer que se saísse na rua poderia ser contratado para ser modelo.

Ele piscou fitando-me.

E por que? Por que tinha uma doida com um sorriso bobo encarando seu corpo!

Desviei o olhar rapidamente.

— Você está bem?

Inocente! É claro que estou bem!

O sininho da porta tocou novamente fazendo Sarah sorrir vendo um loiro e um ruivo adentrando o local. Os clientes preferidos dela.

— Quer alguma coisa? – perguntei.

Hairu me fitou, eu sabia que ele não tinha dinheiro, dentro do mar dificilmente você iria comprar algo.

— Eu pago para você. – disse mandando ele se sentar.

Ele sorriu agradecendo e deu novamente o mesmo cardápio que ele adorou do outro dia.

— Você realmente é cheio de regras pelo visto. – disse.

Era obvio isso, eles são uma raça completamente diferente dos humanos. Certamente seriam caçados se fossem descobertos.

Hairu assentiu enquanto esperava seu Muffin.

Preparei um café enquanto observava Sarah anotando os pedidos daqueles dois. Sarah parecia aquelas atrizes lindas de Hollywood, enquanto eu... Eu estava bem, não me sentia feia. E quem disse que beleza é tudo?

— Hoje poderemos conversar?

— Se você me dizer onde arranja essas roupas! – falei olhando para sua camiseta branca com estampa de surf, uma calça jeans negras.

Realmente! Onde esse tritão arranjava roupas!

— Segredo, até cumprir o que prometeu. – Sorria ele.

Suspirei.

Depois dessa, cumpriria tudo!

Ele era ou não um tritão? Como ele conseguia roupas?

Assaltava alguém na beira da praia? Isso seria loucura.

Manchetes no jornal.

Homens são alvos de um tritão que quer roupa!

Balancei a cabeça, era melhor eu parar de pensar.

— Apenas saio às 6h. – disse me virando.

O olhei de soslaio vendo sorrir e experimentar o café.

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Assim que eu estava pronta e com minha bolsa na mão, fui ver onde estaria aquele tritão ladrão de roupas e para minha surpresa conversava tranquilamente com Sarah. Estavam sentados em uma mesa próxima a saída, ele sorria enquanto assentia.

Por que não estava gostando de ver aquilo?

Ele não era nada meu!

Bufei indo em direção à porta e para minha surpresa sai furiosa sem olhar para trás. Estava ficando louca, só podia! Não adiantava falar para mim mesma que não cederia para um cara de olhos azuis!

Senti alguém tocando meu braço e logo bati de frente em um corpo bem definido.

— O que aconteceu? – Hairu me fitou franzindo o cenho.

Nada! Eu que estava ficando louca.

— Nada. – Desviei o olhar.

Ele piscou largando meu braço.

— Quer ir à praia? – Ele olhou em direção as ondas altas que fazia hoje, certamente haveria apenas surfista ali agora.

Assenti. Seria melhor que ir para casa ou comer.

O segui rumo à praia tirando meus calçados assim que cheguei do outro lado da rua. Pisei na areia morna pensando onde ele colocaria aquela roupa e o que tinha acontecido com a outra. Certamente não levava elas e colocava para lavar, certo?

— Que acontece com suas roupas?

Ele me olhou.

— Rasgam. – disse sem emoção.

Agora sei por que todo dia tinha uma roupa nova!

Ele sentou-se na areia me convidando para sentar-me ao seu lado. Sem hesitar sentei-me colocando minha bolsa e calçados do outro lado. O sol já começava a se pôr, e uma linda vista começaria.

Adorava ver o pôr-do-sol dessa cidade.

— O mundo humano é tão diferente. – Começou ele. – Tem tantas coisas para serem descobertas, tantas coisas legais.

— Debaixo da água não deve ter muita coisa para se fazer. – Ironizei.

Ele assentiu.

— Não tem muito mesmo. Não como aqui. – disse pensativo. – Gosto daqui, mas adoro meu mundo.

Sorri achando aquilo lindo.

— Quem sabe um dia não a leve lá.

Pisquei.

Como iria para lá?

Ele sorriu.

— Acho que vai gostar de lá.

Voltei a fitar o mar.

— Por que me levaria lá? Não é perigoso?

O vi me olhar brevemente e sorrir logo depois.

— Sinto que posso confiar em você.

Pisquei, virando-me.

Confia? Mesmo me conhecendo fazia dois dias? Isso realmente parecia um conto de fadas.

— Nem todos os humanos aceitariam alguém como eu, você me aceitou. – sussurrou ele. – Obrigado.

O observei enquanto ele falava aquelas palavras focando seus olhos na areia.

Alguém confiava em mim, alguém gostava da minha companhia, alguém realmente queria minha presença...

Sorri.

Podia mal o conhecer, mas não o queria mais longe de mim.

— Obrigada. – sussurrei escorando minha cabeça em seu ombro.

Será que poderiam existir esses romances como nos contos de fadas? Se existia acho que eu era aquelas princesas que acabou de encontrar seu príncipe.

Sorri ao pensar nisso.

Mas meu príncipe era um tritão.

Estranho? Realmente estranho.

Ficamos ali em silencio apenas escutando o mar enquanto o sol sumia no horizonte e as luzes se acendiam iluminando muito pouco aquela parte onde estávamos. Hairu brincava na areia tentando fazer algum castelo ou algo do tipo, desistindo começou a riscar na areia formando algumas palavras que não entendi, seria a língua dele? Mas sereias tinham seu próprio dialeto?

Pisquei, ainda fitando aquelas letras cursivas que não entendia a tradução.

— O que é isso?

— Uma língua própria nossa. – disse. – Achou que falávamos inglês, português ou outra?

— Então como sabe a língua nativa daqui?

— Aprendi. – Riu ele vendo minha expressão. – Faz anos que venho aqui, mas nunca interagi com os humanos, apenas observava seus costumes, língua... Aprendendo tudo. – Ele olhou para mim.

Então eu fui à primeira humana que ele teve contato? Mas como ele poderia aprender a falar cada tipo de língua apenas observando? Sem nenhuma interação ou curso? Isso fazia minhas suspeitas dele ser um ET, crescerem.

Sorri enquanto fitava aqueles olhos, porém a verdade ainda era que pensava sobre ele ser um ET... Ou tritões tem poderes?

— Que lindo.

Apenas vi Hairu arregalar os olhos e se virar rapidamente.