Guardioes de Deus: a Batalha nos Ceus

Capítulo 9 - A Lua de Sangue, Primeira Noite.PIII


Tiror tinha cabelos loiros que chegavam até seus ombros, olhos verdes, de estatura mediana e muito forte. Possuía desenhos em forma de faixas verdes que saiam de seu queixo e contornavam seu maxilar até as orelhas. Os mesmos eram vistos bem pequenos embaixo dos olhos. Suas mãos manuseavam com habilidade o bastão, com certeza ele fazia parte do clã dos guerreiros.

Damira olhou com apreensão para Arão, como se pedisse para ele não aceitar o desafio.

-E por que não?Disse Arão. Bal o segurou pelo braço.

-Está louco? Se você for lutar sabe o que isso significa? Nós também teremos que lutar. Afinal a luta é para três.

Bal se dirigiu aos outros garotos.

-Desculpe amigos, mas não iremos.

Arão parecia decidido.

-Cassi me ajude aqui.

Implorava Bal puxando o braço de Arão que estava retesado.

-Ele tem razão, o que iremos provar com isso, nada! Vamos embora, não vale a pena.

Arão olhou para a garota, entendeu o que ela queria dizer, seu braço amoleceu e caiu ao lado do corpo, Bal soltou um suspiro de alívio.

-Ainda bem que você tomou um pouco de juízo nessa sua cabeça. Vamos Cassi, temos que tirá-lo daqui antes que ele acabe mudando de idéia. Além do mais você nem sabe lutar iria só passar vergonha.

Viraram para se afastar quando Odrin comentou.

-Celestinos covardes! Não merecem realmente estar no Santuário, não são confiáveis, por causa de uma traidora de vocês que estamos assim hoje.

Arão não pode deter o que tinha acabado de ocorrer, sabia os efeitos que estas duras palavras causariam. Elas atingiram Cassi em cheio, a garota puxou o bastão das mãos de Arão e foi ao encontro de Odrin, parando bem a sua frente.

-Não somos traidores, seu grosseiro prepotente, aceitamos seu desafio, venha lutar comigo agora. Bal cochichou no ouvido de Arão. -Acho que não ouvi direito, ela disse nós aceitamos? Foi isso que ouvi?

-Parece que sim. Acho que vamos ter que ficar mais um pouco e participar da brincadeira.Falou Arão puxando Bal com energia.

Odrin ficou impressionado e mais uma vez sem reação, ela o estava enfrentando como das outras vezes. Recompôs-se logo, desta vez não ia ter piedade.

-Não costumo enfrentar uma mulher, mas já que você insisti vou abrir uma exceção.

Quando estava pronto para lutar com Cassi, uma mão tocou em seu braço.

-Espere um pouco Odrin, não pode enfrentá-la, mesmo você tem que seguir as regras é nossa vez de lutar. Comentou Tiror.

-Cassi, eu serei sua oponente. Kitrina sua companheira de quarto, manejava o bastão a sua frente.

-Se o seu grupo vencer, aí sim, poderá desafiar quem você quiser do outro grupo. Explicou Tiror

-Com medo, garotinha.

Odrin falou com desdém na voz.

-Me aguarde machão!

A luta estava para começar entre Cassi e Kitrina, ao centro do círculo as duas se encontravam prontas para iniciar a luta.

-Mas o que foi deu nela? E toda aquela história de: \"Isso é uma bobagem. O que se prova com isso...\" Espero que suas habilidades sejam tão boas como é sua língua afiada.

Bal pronunciava as palavras ainda não acreditando no que acabara de acontecer.

A luta teve início e foi muito dura, tanto Cassi quanto Kitrina lutavam muito bem e tinham habilidades muito parecidas, os bastões se chocavam a todo momento entre ataques e defesas das duas, algumas vezes eles até tocavam os corpos de ambos, tirando-lhes gemidos de dor.

\"Mesmo sendo uma celestina, ela tem muita habilidade com o bastão, não posso me desconcentrar ou irei perder\"Pensou Kitrina.

\"Ela é muito forte, mas tenho que vencer, por meu pai...\". Cassi procurava tirar força de seus pensamentos.

Kitrina via que Cassi não estava apenas treinando, algo mais a motivava. Todos ficaram impressionados com a determinação da garota celestina, ela estava exausta e respirava com dificuldade, mas mesmo assim sua força não diminuía. Ela parecia realmente determinada a vencer. A exaustão foi dominando a ambas, finalmente Cassi conseguiu tirar o bastão das mãos de Kitrina e acabou vencendo. Mas ela viu que seu esforço seria em vão se Arão e Bal não vencessem, somente a união poderia levá-los a vitória.

-Quem será o próximo?Perguntou Odrin.

Bal empurrou Arão de lado e ao passar por Cassi pegou o seu bastão e comentou.

-Você e seu gênio impulsivo! Veja onde nos meteu...

-Calma Bal encare isso como um desafio.

\"É fácil para ela falar, o único tipo de luta que apreciava na outra vida era quando eu brincava com meus jogos nas telas dos computadores\".

Keyllor seria seuadversário, ele tinha cabelos castanhos claros presos por uma fita formando um rabo, seus olhos também eram castanhos emais alongados que o dos outros, sua boca era fina porém larga. Duas faixas azuis cortavam seu pescoço. Bal ao entrar no círculo tropeçou e quase foi ao chão.

-Esse já era Keyllor!

Tiror falava com muito entusiasmo ao companheiro. Nem reparava em Kitrina que estava ao seu lado torcendo também. Quando a luta começou o resultado chegou a ser cômico, Bal não conseguiu manejar muito bem o bastão, era nítido o quando sofria para se manter firme a frente de Keyllor, mesmo assim a luta demorou um pouco para chegar ao desfecho final e o resultado foi o esperado, Bal perdeu. Cassi e Arão foram ajudá-lo a sair do meio do círculo, seu corpo apresentava vários hematomas.

-Esta contente agora! Resmungava Bal para Cassi enquanto era carregado.

Finalmente chegou a vez de Arão ir ao centro do círculo, Tiror já o esperava, empunhando seu bastão.

-Ei! Arão sinto muito.

Bal falava sentado no chão passando a mão em uma mancha enorme em sua perna.

-Sente pelo quê?

-Pelo fato de que quando você cair como eu, não vou poder me levantar para ir ajudá-lo.

-Obrigado pelo apoio. Agradeceu Arão -Bom vamos ver no que dá!

-Bal você devia apoiá-lo e não amedrontá-lo.

-Cassi, ele é o menos preparado de todos nós, está óbvio que daqui a pouco ele estará sentado ao meu lado, contando seus hematomas.

A garota ficou em silêncio, no fundo sabia que Bal tinha razão.

Arão segurou com firmeza seu bastão, olhou para o lado e viu que Damira o observava, sua mente foi divagando ele parecia estar longe, imagens começavam a povoar seus pensamentos, porém ele retornou rápido a realidade, Tiror investia contra ele. Arão conseguiu se desviar do golpe, o próximo foi interceptado pelo bastão. O jeito de pegar no bastão, o modo como se deslocava, seus pés tinham passadas leves e rápidas, era como se tudo aquilo lhe fosse familiar e já estivesse acostumado a esse tipo de situação.

Seu oponente era muito rápido, entretanto Arão não sabia como, mas era fácil desviar-se de seus golpes, em um dos ataques Tiror perdeu o equilíbrio e acabou caindo em cima de Odrin. Arão ficou parado ao centro observando enquanto Odrin levantava o garoto pelas vestimentas, cheio de fúria.

-É melhor você dar cabo dele logo, aquele celestino imprestável não é páreo para você, senão pode ter certeza que não merecerá mais estar entre os garotos da Cidade Superior.

Segurando o bastão em posição de combate, novamente a mente de Arão foi se distanciando enquanto esperava Tiror se recompor, começou a divagar, tudo ao seu redor sumiu...

Estava em uma rua, o lugar não lhe parecia estranho, devia ter voltado no tempo, pois estava com alguns anos a menos, segurando um pedaço de madeira a mão enfrentava um outro menino. Este era um pouco obeso e usava óculos, um grupo de cinco garotos assistia o combate, gritando para que o menino derrotasse Arão.

A luta foi rápida, com apenas alguns simples golpes, Arão derrubou seu oponente. Os meninos ficaram todos quietos e decepcionados com o resultado. Nesse momento surgiu um homem, Arão lembrava vagamente dele, pediu para que os outros se afastassem e estendeu a mão para ajudar o menino que estava caído.

-Malcom você está bem? Não apareceu mais na academia.

-É verdade Tícero, não tem me sobrado muito tempo já que começou o campeonato de xadrez.

-Ótimo, é bom saber que você mesmo não indo à academia está se dedicando a algo bom, mas por que você estava lutando contra Arão?

-Por que eu o desafiei. Respondeu Arão-Consegui ganhar fácil, fácil. Sou o melhor.

-Por que você aceitou Malcom?

-Bom, ele começou a zombar de mim na frente de todos os meus amigos. Eles tiraram sarro de mim, eu não podia recuar.

-O que você ganhou com isso?

-Fora o tombo? Indagou Malcom com uma cara marota. -Acho que muitas caçoadas por ser tão ruim lutando, vou ser o motivo de riso dos meus amigos por semanas.

O menino se sentia encabulado.

-Está vendo Tícero. Sou realmente o melhor.Arão ainda se gabava de sua vitória.

-Malcom o que é aquilo do lado de sua bolsa? Seria um tabuleiro de xadrez?Perguntou Tícero.

-Sim é, por quê?

-Poderia me emprestá-lo um pouco?

-Claro, mas não estou entendendo...

-Vocês dois sentem-se.

Tícero colocou o tabuleiro no meio dos dois.

-Quero ver vocês jogarem uma \"melhor de três\".

Os meninos formaram uma roda interessados em observar as partidas. Malcom que estava meio desanimado mostrou um sorriso no rosto e foi logo arrumando o tabuleiro, Arão ficou espantado com o desafio que Tícero propunha, pois ele sabia que Arão jogava muito pouco xadrez. A cada lance os meninos vibravam, Malcom ganhou as três partidas com muita facilidade, os garotos pegaram e o abraçaramao final da última vitória.

-Puxa, você é o melhor! Gritou um dos meninos

-Detonou ele! Berrou outro.

–Pronto, obrigado Malcom pode ir agora e espero vê-lo na academia o mais rápido possível.

-Pode deixar.

O menino se aproximou de Arão estendeu a mão e o cumprimentou.

-você até que não joga mal, mas tem que melhorar muito para entrar para nosso grupo de xadrez, se precisar é só avisar...

-Obrigado. Respondeu Arão sem jeito.

Sorriu correndo para junto deseus amigos. Arão observava tudo com resignação. Tícero sabia que ele não erabom no xadrez por que tirara o brilho de sua vitória na luta.

-Tícero eu não entendo o ...

-Pegue seu pedaço de madeira, vamos lutar agora...

-O quê?

-Você me ouviu garoto, vamos lá.

Arão obedeceu e pegou o bastão. Mesmo se empenhando ao máximo não conseguiu acertar um golpe sequer em Tícero. O bastão do menino era atirado longe a cada ataque que ele impregnava.

-Pegue logo. Ordenou Tícero.

-Você não é o melhor, como pode deixar que eu tire a madeira de suas mãos com tamanha facilidade.

Por fim Tícero o acertou e o levou ao chão.

-Já está bom para mim Tícero, não vou conseguir vencê-lo. Mas contra Malcom eu dei uma surra nele.

-Aí está seu erro garoto, que mérito tem vencer alguém que não está no seu nível, alguém que nem mesmo sabe lutar direito. Você deveria ficar contente se conseguisse me vencer, pois eu sim sei lutar.

-Mas isso é quase impossível, o senhor é muito bom.

-Então treine mais, dedique-se de corpo e alma até aperfeiçoar mais sua técnica. Ai sim quando me derrotar sua vitória terá um sabor especial. Você tem habilidades espetaculares, luta muito bem e aprende rápido, com certeza um dia poderá vir a ser o melhor, mas se somente usar os seus músculos nunca se tornará bom o suficiente, use isto também.

Apontou para cabeça.

-Lutando com o Malcom a única coisa que conseguiu foi envergonhá-lo na frente seus amigos. Sem contar que no xadrez ele deu um \"coro\" muito feio em você.

-Mas Tícero eu não jogo xadrez.

-Ele não treina luta... Lembre-se às vezes a vitória não é o mais importante, principalmente quando ela não acrescenta nada para você, às vezes perdendo você pode até ganhar.

-Como o quê?

-Ora, você pode ganhar um amigo...

Sua mente regressou para o momento presente, estava em pé com o bastão, pronto para se defender do outro ataque que Tiror ia lhe imprimir. Enquanto Odrin gritava como um doido. A luta recomeçou. Tiror atacava com mais ímpeto que antes.

\"Ele se esquiva muito bem\". Pensou Tiror.

Arão procurava evitar seus golpes, a roda se animava com o combate, a agitação era geral, até as candidatas as deusas, estavam exaltadas, somente uma delas assistia aflita ao combate.

Arão se defendeu mais uma vez até se distrair por um momento, olhou para o rosto lívido de Damira, foi o tempo suficiente para o bastão penetrar por sua guarda e atingir seu abdômen. Ele caiu ao chão com uma dor intensa, sua pele latejava, não conseguia se levantar e sentia dificuldade para respirar.Bal e Cassi entraram no centro do círculo para ajudá-lo.

-O combate acabou. Disse Cassi pegando Arão pelo braço. Ao levantá-lo, Tiror chegou perto de Arão,olhou-o demodo estranho e baixou a cabeça em cumprimento pela luta. Não disse mais nenhuma palavra, pegou o bastão de sua mão e virou-se voltando para seu grupo.

-É Arão, até que você foi bem, mas como eu disse você iria acabar no chão como eu.Brincou Bal.

-Não foi tão divertido assim. Protestou Arão com dificuldade enquanto uma das mãos alisava sua barriga.

-Isso dói.

As candidatas a deusas se movimentaram passando pelos garotos, Damira deu-lhe um olhar assustado, Arão teve vontade de ir falar com ela, mas sabia que não podia.

As lutas prosseguiram com os dois grupos vencedores se enfrentado,Odrin não cumpriu o prometido, ele e Teles lutaram primeiro, massacraram seus adversários e Lissa mais uma vez não precisou lutar. As lutas acabaram no momento em que Milenus estava chegando para continuar com os ensinamentos.

-Bem garotos, vamos continuar...

-Bal, preciso falar com Damira.

-Arão acho que você pirou, ou tomou gosto por apanhar, aposto que foi a luta. Eu sei que ela é bonita e tudo o mais, mas o irmão dela não ia gostar nada disso. Olha, existem muitas mulheres aqui e você vai logo invocar com uma que a família quer ver nossa raça desaparecer.

-Não é isso Bal, hoje quando estava no centro do círculo, imagens vieram à mente, tenho certeza que eram sobre meu passado, acho que Damira pode me ajudar. Preciso saber o que mais ela conhece sobre mim. Ela pode me ajudar a recuperar memória.

-Isso vai ser difícil Arão, se o irmão dela pegar vocês dois juntos, vai fazer picadinho de você.

–Aliás. Intrometeu-se Cassi. -Como sabe que ela ainda quer conversar com você? Depois de tudo o que aconteceu... Tenho lá minhas dúvidas.

-Ai é que está, se eu não tentar nunca vou saber. Concluiu Arão.

Entraram na sala para continuar seu aprendizado. Milenus disse que este seria o último dia à frente dos espelhos de Alfeu. Estava chegando o momento em que iriam aprender sobre as auras e como desenvolver suas habilidades individuais. Depois teriam a grande prova final onde escolheriam os quatro garotos que tentariam se tornar guardiões.

Bal e Arão outra vez sentaram juntos frente ao espelho, vendo muitas coisas interessantes.

-Sabia que podemos ouvir músicas através dos espelhos?

- Música?

-Ora Arão, a música é uma das coisas mais belas que existem, ela estimula, mexe com os sentimentos, seria um pecado ela só existir no mundo dos homens.

-Coloque uma Bal para nós ouvirmos.

-Do firmamento ou lá debaixo?

- Não sei, qualquer uma.

Bal colocou uma música lírica.

-Não, essa não.

Arão procurou entre as músicas do mundo dos Homens.

-Que tal essa?\"Thears of the Dragon\".

-Não conheço. Resmungou Bal.

-Hei! Eu já ouvi esta música.

Imagens vieram a mente de Arão. Um quarto, o rádio-relógio tocando...

-Hã, hã! Não é melhor vocês se concentrarem nas coisas importantes?

Milenus estava parado atrás deles. Bal parou rapidamente a música e Arão despertou de seu transe.

O resto do dia transcorreu tranqüilamente com os jovens sentados em frente aos espelhos colhendo informações, somente Cassi que novamente entrou num bate boca com Odrin, não entendia como Milenus podia colocá-la ao lado dele.