Guardioes de Deus: a Batalha nos Ceus

Capítulo 8 - Na Cidade. Parte III


Um gramado verde se estendia amplamente, era tão perfeito que ao vê-lo de longe julgava-se ser um enorme tapete. Cortando o verde havia um caminho de duas fileiras de pedras de mármores,com balaústres em toda sua extensão, chegava até a entrada do templo. No gramado alguns jovens trajando vestimentas brancas, estavam divididos em três grupos, ouviam um homem alto de meia idade que usava roupa cinza escura, com seus olhos claros e sua feição que demonstrava muita severidade, proferiapalavras que prendiam a atenção dos jovens. O conteúdo da conversa devia ser muito importante, pois não se ouviu um barulho sequer, sua presença tomava os olhares de todos.

Quando o trenó se aproximou à conversa cessou. A atenção de todos os jovens foi despertada, saíram do transe que o homem lhes impunha.

-Acho que eles não gostaram da gente. Cassi falava observando as expressões sérias nos rostos dos garotos.

-Você acha? Eu tenho certeza disso. Será que é por que nós interrompemos o que eles estavam fazendo?Perguntou Bal.

-Acho que não é isso não Bal, pelas expressões deles, eu diria que não somos bem vindos interrompendo ou não o que quer que estavam fazendo.Completou Arão.

-Saudações meu amigo Abdala. Vejo que cumpriu sua missão, fico contente que tenha corrido tudo bem.

-Saudações!Mestre Amagus. Fazia muito tempo que não o via.

Os dois se abraçaram.

-Pena desta vez você estar em uma missão nada agradável.

Um homem que nenhum deles havia reparado surgira. Cabelos e olhos castanhos, estatura mediana, trajava uma roupa vermelha. Olhou para os três jovens parados ao lado de Abdala.

-Saudações Inimis. Estou sempre pronto a servir de bom grado, e a propósito tenho certeza que vai mudar de opinião quanto a esses três jovens quandoconhecê-los melhor.Respondeu Abdala.

-Não creio nisso. Nenhum deles deveria estar presente entre os candidatos da Cidade Superior. Afinal uma maçã podre pode estragar um cesto todo.

A arrogância esteve presente em cada palavra que Inimis proferiu.

-Meça suas palavras Inimis. Advertiu Amagus. -Bem vamos ver o que temos aqui.

O homem começou a analisá-los com um olhar crítico que ia dos pés à cabeça, sua expressão séria nada dizia, primeiro Cassi , depois Bal e por fim Arão. Parou nele um tempo maior.

-Huuumm parecem perfeitos.

Um dos jovens saiu do grupo e parando a frente de Amagus.

-Mestre! Não entendo por que devemos deixá-los ficar entre nós. Suas palavras expressavam ódio.

-Não precisamos deles, somos muito melhores. Os celestinos envergonham o nosso povo. Mande-os de volta.

-Não fale desse modo Odrin, não se esqueça que foi o grande Deus Set que em sua imensa bondade pediu para acolhermos estes irmãos.

-Irmãos? Não sou irmão de nenhum deles, muito menos quero estar próximo a eles. Virou-se para os três jovens. - Vocês são a escória do reino, como se atreveram a aparecer no Santuário. Eu deveria...

-Odrin! Já chega. Volte para seu lugar.

O garoto obedeceu. Inimis se divertia com a situação.Amagus se dirigiu ao garoto rebelde de forma autoritária.

-Já disse a você que foi a grande vontade de nosso Deus que assim o quis e assim será feito. Alguma objeção?

-Não senhor!

A contra gosto o jovem concordou com as palavras de Amagus.

-Acho que definitivamente eles não gostam da gente.Sussurrou Bal para Arão.

-Aquele rapaz tinha muito ódio da gente, aposto que se pudesse teria nos tirado daqui a ponta pés. Disse Arão.

-Não compreendo como alguém pode acumular tamanho sentimento, sinto nele muito rancor. Comentou Cassi com seus amigos.

Foram interrompidos pela arrogância de Inimis.

-Obrigado Abdala, seus serviços não serão mais necessários. Vamos ver até onde esses garotos resistirão.

-Até mais meus jovens amigos, estou de partida. Sejam fortes.

Montou no trenó que começou a subir devagar...

-O que é isto preso a sua cintura.Perguntou Amagus à Arão.

-Nós pegamos isso na torre de BES, ele pediu para trazermos a Cidade Superior, mas não sei a quem devo entregar.

Arão ofereceu o pergaminho a Amagus. Quando o homem colocou seus olhos no papel sua cor sumiu, o branco prevaleceu em sua pele, parecia que tinha perdido o ar.

-A profecia das Sete Revelações...queRaphael e Tsadkiel procuravam... ela finalmente foi encontrada....Não posso acreditar... Amagus tomou fôlego antes deperguntar.-Você disse que BES o entregou?

Arão fez um sinalafirmativo com a cabeça.

-Como ele está?

Arão não sabia o que responder, por isso Cassi se adiantou, abaixou a cabeça e falou.

-Ele morreu senhor.

-BES morto? Impossível...

Se os três ficaram espantados com a atitude do homem, os outros garotos estavam mais perplexos ainda, nunca tinham visto Amagus daquele jeito.

-A culpa é deles.Inimis apontava o dedo indicador acusando os três recém-chegados. -Esses jovens trazem maus agouros.

Quando Amagus começou a ler o pergaminho, uma sombra começou a descer pelo mesmo, sua expressão se tornou mais sinistra ainda...

Num instante o sol começou a perder seu brilho, um corpo o encobria, a magnitude da grande estrela amarela estava sendo apagada, um eclipse se anunciava, sutil e rápido pegando a todos de surpresa. O queantes era dia estava se tornando uma noite aterrorizante...

Arão se lembrou das palavras sinistras de Nesália: ‘Quando o dia se perder naescuridão a Cidade Superior viverá seus piores tempos ’.

A estátua dourada foi se abaixando mais rápido que o normal, sua chama ia se apagando conforme era engolida pela escuridão, porém as duas mulheres que deveriam se levantar perante o final da claridade não o fizeram, suas semi luas não brilharam. Pela primeira vez desde o início dos tempos as três estátuas se encontravam agachadas, sem brilho algum, fazendo reverência para a escuridão que consumia o reino.

O vento começou a soprar, um barulho imenso se ouviu, o trenó onde estava Abdala veio abaixo, o corpo do homem estirou-se ao chão, a vida que habitava nele se exauriu. O medo se espalhou entre os jovens.

–Rápido! todos para dentro do templo. Ordenou Amagus.

Os jovens seguiram pelo caminho de pedras que refletiam a imagem perfeita dos corpos correndo desgovernados, os rostos desesperados buscandoum abrigo seguro, a cada dois ou três passos deixavam para trás uma pedra. Chamas foram acesas automaticamente nos balaústresquando a escuridão começou a engolir os céus, mesmo assim ela parecia prevalecer.

Os garotos não entendiam o porquê de todo aquele alvoroço, mas a imagem a pouco de Abdala ao chão não fazia ninguém questionar as ordens de Amagus. Muitos garotos tropeçavam nas divisórias do mármore, os companheiros os ajudavam, o importante era não ficar no caminho da sombra que avançava. Um garoto perdeu o equilíbrio caindo àfrente de Arão.

–Rápido! Eu ajudo você a se levantar!Pegou-o pelo braço e o levantou.

-Jamais toque em mim novamente! Entendeu? Eu não preciso de sua ajuda para me levantar.

O Garoto empurrou Arão que perdeu o equilíbrio e só não caiu por que foi seguro por Bal que vinha logo atrás. Arão ficou imóvel, abismado perante a reação de raiva e ódio do garoto , todos iam passando por ele.

Seu braço foi tirado do estado de inércia e seu corpo foi obrigado a acompanhá-lo.

-Vamos. Não está vendo que todos estão indo para o templo, a menos que você queira ter o mesmo destino que Abdala! Gritou Cassi.

Para chegarem no templo tiveram que subir por uma escadaria interminável, passaram sob o pilar que abrigava a estátua dourada. Na entrada do templo um portal sob a forma de uma grande concha se abria rapidamente.

Dentro da estrutura, o vento havia dado uma trégua, passos apressados ecoavam na escuridão do local. Quando estes cessaram um murmúrio de vozes intenso começou. No meio deles sempre um ou outro era mais enérgico, as vezes feminino, outras masculino.

-Mas o que foi que aconteceu lá fora?

-Santos Deus! Nunca vi nada assim, foi horrível.

-Estou com medo!

Não conseguiam identificar ninguém em meio aquele caos, foi uma voz imperativa que soou firme e forte, fazendo todos se calarem.

-Silêncio! Fiquem calmos vocês estão a salvo aqui dentro.

Ao som de palmas chamas se acenderam por todo o templo, o tamanho dos garotos era insignificante naquele recinto. O teto estava a aproximadamente trinta metros de altura, escadas subiam por todos os cantos levando as bancadas superiores. Ao centro da cobertura uma redoma com a imagem do sol e da lua feitos de cristais transparentes exibiam a escuridão.

As atenções dos jovens se voltaram para uma bancada à frente, ela era composta por pessoas de diversos tipos, idades e aparências. Em comum entre eles, somente suas togas douradas com as mangas tão longas que impediam a visão de suas mãos. Do lado da bancada, homens portando armaduras com a cabeça de leão entalhado ao peito e elmos, ambos de cores douradas. Eram cavaleiros da Cidade Superior. Suas ombreiras seguravam uma capa branca. As ombreiras direitas se diferenciam por possuírem detalhes dourados que formavam a garra de um leão.

–Silêncio! Por favor!

Pediu um homem ao centro. Sua toga tinha detalhes brancos e vermelhos. Possuía olhos claros e barba branca rala. Com suafeição paterna e ar severo tentava acalmar os ânimos exaltados dos garotos.

-Olhem é ele! Apontou Arão

-Ele quem? Perguntou Cassi.

-Aquele ali no canto é Nemamiah, eu conversei com ele.

-Você está a apenas alguns dias no firmamento e diz que conhece um dos arcanjos mais poderosos. Está de brincadeira não?Questionou Bal. O jovem observou que alguns anjos que se postavam ao lado dos cavaleiros fitavam-lhes com olhares fixos.

A voz do homem se prolongou por todo o recinto.

-Peço um minuto da vossa atenção, sei que no momento todos estão assustados e confusos. Pois acredito que nenhum de vós nunca presenciou uma cena como a que se passou. Ela nos deixa perplexos e preocupados.

-É Medar! Apontou um garoto

-E não é só ele, mas também todo o conselho, unidos aos anjos e cavaleiros da armada de Set. Completou outro. O grupo se acalmou.

-Quem é Medar? Sussurrou Arão para Bal e Cassi.

-Lembra-se que eu te disse que ele salvou a vida de Osíris?

-Sim, agora me lembrei.

-Ele é um dos grandes conselheiros, mas não entendo o porquê dele aqui. Ou todos os outros. Sabe Arão, a coisa deve ser mais feia do que parece.

- Bal, não brinque com assuntos sérios, você viu o que aconteceu lá fora, fiquem quietos. Ordenou Cassi.- Vamos ouvir o que ele tem a dizer.

-Creio que a maioria já me conhece. Olhou para os três garotos celestinos -Vou poupar as apresentações.

Sua voz era pausada, calma e transmitia tranqüilidade.

-Finalmente estamos todos reunidos, chegou o momento de passar-lhes tudo o que sabemos. Sei que muitos de vocês pensam que conhecem todos os fatos, mas mesmo estes desconhecem nossa real situação. Porque até nós, os grandes sábios e profetas,fechamos-nos em nossa \"ignorância\" e não conseguimos ver o que estava por vir.

Olhou para os lados onde todos faziam silêncio.

-Não poderíamos jamais ter deixado as coisas chegarem a ponto de envolvermos vocêsmeus queridos filhos nisso. Isto que está em minhas mãos agoraprova tudo o que temíamos.

Os três jovens se olharam espantados, era o pergaminho que tinham pego na torre de BES.A voz continuou suave, porém mais firme para chamar novamente todas as atenções para sua pessoa.

-Este pergaminho confirma todos os nossos medos. A profecia das Sete Revelações. Podemos estar chegando a um ponto que não haverá mais volta, todavia ainda podemos mudar os fatos. Se não fizermos algo agora, a cena que vocês acabaram de presenciar minutos atrás, se tornará comum, entretanto isto será apenas o começo.

O ruído das vozes dos garotos voltou a tomar conta do salão, uns discutiam entre eles, outros tentavam em vão se fazer ouvir para que suas perguntas fossem respondidas.

-Por favor, meus filhos!

Todos se calaram.

-Em toda a nossa existência desde o momento da criação, nós tivemos um período de apenas seis dias em que o mal não existiu. Ele tem a idade do próprio homem.A primeira batalha de toda a história não foi travada no mundo dos Homens, mais sim no firmamento. E nenhum de vós ou qualquer homem tem idéia de como ela foi terrível. Dizemos que os homens são maus, mas somospiores. A maldade no coração do pior dos homens não se compara à crueldade do menor dos demônios.

Os olhos de Medar percorreram o recinto.

-As trevas surgiram da luz...O mais belo entre todos, hoje é o mais temido e o mais ardiloso dos seres, ele já fez parte deste nosso mundo, \"O portador da luz \", foi o primeiro a conhecer o desprezo, a dor e o sofrimento. Onde os mais fortes escravizam os mais fracos. Ele governa as regiões inferiores de maneira cruel e tem sobre seu comando legiões de criaturas terríveis e um exército de mensageiros que até os céus tem receio em enfrentar, os temidos anjos negros.

Suas últimas palavras deixaram alguns rostos com expressão de pavor.

-Sua intenção é derrotar o Criador. Ele quer gerar o caos,derrubar o Firmamento e governar os mundos. Imaginem vocês se o firmamento se tornasse outro mundo igual ao dos Homens, não haveria esperança. A cada grande guerra as conseqüências são muito graves para ambos os mundos. A primeira grande guerra ocasionou a expulsão do Homem do paraíso. Na segunda o mal era tanto que o mundo dos Homens se perdeu e teve que ser purificado com água deixando poucos sobreviventes. Agora estamos perto novamente de mais uma grande guerra. O mundo dos Homens já acusa isto, as grandes potências lutam entre si há algum tempo, o egoísmo e ganância predominam, todos querem o poder.

-Os demônios se alimentam desses sentimentos ruins, tornando-se assim mais poderosos. E neste momento eles arranjaram outra fonte de energia, o Firmamento. Não se assustem, mas na balança da vida os lados se equilibram, de um deles a bondade do Firmamento, do outro a maldade do Reino Inferior, mas está balança esta se tornando desigual, esta pendendo para o lado das trevas.E sabem o porquê de nós chegarmos a uma situação desta?

Não houve resposta.

-Porque o Criador quer tanto nos céus como na terra que sejamos felizes, e para isso nos deuo livre arbítrio, liberdade... Para traçarmos nossos próprios caminhos. Isso é que é amor, aceitar os seres como eles são, com suas virtudes e defeitos. Os demônios se aproveitam disso, ludibriam prometendo riqueza e poder com isso conseguindo acesso aos mundos, mas quando entram atacam-nos impiedosamente.

-Temos que nos proteger e também os entes queridos do Criador. Todos os dias batalhas são travadas no mundo dos Homens entre nós e as criaturas do Reino Inferior. Muitas vezes saímos vitoriosos, outras quando a fé não se faz presente acabamos perdendo. Se o mal vencer posso lhes garantir que a palavra holocausto será coisa de criança. No Reino Inferior a dor não dura segundos ela é eterna.

Medar ficou em silêncio um momento antes de continuar.

-Agora eu vos pergunto: Somos melhores que eles?

Medar apontou para baixo, fazendo menção ao mundo dos Homens.

-A única verdade imutável é que o Criador independente de nossas ações continua nos amando e nos deu a chance de vencermos através de vocês.Não sabemos que planos maquiavélicos as trevas possuem e infelizmente também não estamos tão bem preparados como em outros tempos.

-Mas e todo o poder dos anjos? Eles deveriam nos proteger! Um dos jovens interrompeu o discurso de Medar.

-Receio que talvez esse poder não seja suficiente para deter o avanço das trevas.

Continuou Medar.

–Temos que aguardar Set retornar do Reino dos Titãs, se ele conseguir salvar seu irmão Osíris talvez os povos se unam novamente e com isso teremos uma chance. Mas precisamos resistir enquanto isso não ocorre.

-Por que o mal não invade o Reino dos Titãs? Perguntou outro garoto.

-Eles não ousariam!

Respondeu Medar com surpresa e espanto a pergunta como se aquela hipótese fosse impossível de conceber.

-Ninguém em sã consciência enfrentaria um Titã, porém se o mal dominar o Firmamento sua força seria inigualável, deste modo o Reino dos Titãs também correria perigo. Mas as escrituras também nos trazem revelações que nos dão esperança: \"Quando o tempo do caos e da desordem chegar, surgirão jovens que dominarão os elementos da natureza. E junto com os anjos e santos combaterão a escuridão que consome os mundos\". Não sei se o tempo para prepará-los será suficiente. Só pedimos a vocês que façam o melhor, pois se falharem os mundo cairão.

A expressão nos rostos dos garotos era de espanto e medo.

-Sei que nossos erros nos cegaram, mesmo o maior dos sábios pode se tornar cego se deixar à arrogância dominá-lo. Com certeza existe uma movimentação das forças do reino inferior que não entendemos, parecem estar esperando algo, um sinal talvez...Não queríamos que vocês pagassempor nossos erros, entretanto não temos como voltar atrás.Devemos nos unir pois ainda há esperança...

Pela primeira vez Arão olhou para o lado, viu um grupo de moças que pareciam musas saídas de um conto de fadas de tão belas, uma delas se destacou a vista do garoto, olhos claros, cabelos louros, longos e ondulados, com seus lábios carnudos, falava com graça e delicadeza as suas amigas.

A garota olhou-o timidamente e voltou-se para frente.

\"Acho que já vi esta garota\". Pensou Arão. \'\'Mas onde?\'\'

Só estava ali há poucos dias e todos as pessoas que tinha visto estavam marcados em sua memória. Bal deu-lhe um cutucão.

-Malandrinho você hein! Nem bem chegoue já está azarando as moças.

-Não! Eu só estava imaginando...

Não chegou a terminar à frase, ficou desconcertado com a colocação inesperada de Bal.

-Sei... Imaginando ela em seus braços, dando-lhe aquele beijo... Conclui Bal por fim.

-Aquelas devem ser as candidatas a Deusas. As Deusas já não existem mais no firmamento, todas se foram durante as últimas grandes guerras. Além de sua bondade e estarem sempre prontas para proteger os guerreiros Deuses, elas tem o poder curador, tambémsão justas e sinceras.

-Hei Arão de qual você gostou mais? Aliás, besteira a minha perguntar né...

-Eu ora, eu só estava... Tentava se justificar.

-Homens! Não perdem a oportunidade, como é que se diz no mundo dos homens? Ficou pensativa um instante. -Acho que é: Está no sangue! Estamos ouvindo coisas importantes e vocês discutindo sobre mulheres.

Cassi não reparou, mas tinha falado alto demais e em um momento em que todos ficaram quietos. Todos os olhares estavam sobre ela,seu rosto corou de vergonha.

-Desculpe.

Medar olhou de modo paciente para ela e com carinho disse:

-Agora que as conversas paralelas terminaram podemos continuar. Como ia dizendo fomos presenteados no inicio dos tempos quando as grandes batalhas foram travadas, temos alguns trunfos em nossas mãos.Os quatro elementos podem nos proteger formando o grupo dos guardiões. Não sei se eles vão conseguir conter o poder de todo mal, mas são nossas únicas esperanças. Espero que estes nove jovens, Teles, Odrin, Keyllor, Lethan, Tiror, Irian, Yalo, Kitrina, Lissa e Milena junto com os três celestinos, Cassiana, Arão e Balduínotenham a sorte de serem agraciados com a honra de se tornar um guardião.

\'\'Como ele sabe nossos nomes?”Perguntava-se Bal mentalmente.

-Vós tereis que serem aceitos pelos elementos, afinal não é qualquer um que consegue dominar a sua força. Tenham fé e confiança em vós para enfrentar os embates que surgirem. O que havia para ser dito, já o foi.Absorvam com calma cada palavra e apesar de tudo nunca desistão. Agora, vão em paz para seus quartos. Amanhã cedo com a presença de todos começaremos realmente a traçar nosso futuro. Procurem não se perturbar com o que acabaram de ouvir.

-Fácil para ele falar.

-Cale a boca Bal.

Cassi deu um cutucão em Bal. Medar continuou sem prestar à atenção a discussão dos dois.

-Se formos bem sucedidos, talvez esses tempos não cheguem e a profecia das Sete Revelações nunca se realize.

Pronunciou as palavras com tremor na voz.

-O profeta já se encontra entre nós, esta escondido semeandoa discórdia e o medo, os tempos de incertezas chegaram, enquanto não o acharmos e não detivermos a profecia, a paz não voltará a reinar:

O tom de sua voz aumentou.

\"O sol vai escurecer, e a lua não brilhara mais, as estrelas começarão a cair do céu e as forças do céu serão abaladas... e será um tempo de angústia, como nunca houve até então, desde que começaram a existir as nações...

O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não passarão...

Mas nesse tempo teu povo será salvo todos os que se acharem inscritos no livro. Muitos dos que dormem no pó da terra despertarão, uns para a vida eterna, outros para o opróbrio eterno\". Calou-se.

-Mas isto é a passagem do final dos tempos... O garoto não conseguiu terminar a frase.

-Sim! Isto é a passagem do \"Apocalipse\".

Todas as pessoas estavam se retirando do recinto. Os três não sabiam para onde ir ou o que fazer.

-O que faremos? Perguntou Cassi.

-Bom, o homem disse para irmos para nossos quartos, então vamos para os quartos. Bal respondeu a pergunta de Cassi.

-Você não está esquecendo de nada não? Continuou Cassi.

–E o quê seria?

-Nós acabamos de chegar ainda não temos quartos.

-É verdade.

-Vamos esperar que com certeza alguém virá falar conosco. Senão podemos dar uma volta para conhecer o lugar.Disse Arão.

-Pode parar. Já ouvi essa conversa antes na torre de BES e a única coisa que conheci foi uma serpente com asas. Exclamou Bal.

O recinto se encontrava vazio, os três ainda permaneciam calados e sozinhos. Foi quando uma criança apareceu à frente deles.

-Olá amigos! Eu sou um querubim, um guia do Santuário, meu nome é Lalas e tenho que levá-los para os três grandes. Por favor, sigam-me.

A criança seguiu caminho à frente deixando os jovens para trás...

Seus pensamentos divagavam. O perigo realmente existia? Eles conseguiriam impedir? E este profeta que estava entre eles semeando a discórdia, quem seria?Estavam sendo levados para os três grandes. Que eram os três grandes? O que fariam com eles?

Passaram por um corredor escuro com colunas queacompanhavam sua extensão em ambos os lados. Atrás de uma delas, uma mão surgiu e agarrou Arão pelo braço, o susto foi grande. Das sombras emergiu uma linda garota, a mesma que Arão tinha visto entre as candidatas a Deusa.

-Desculpe não queria assustá-lo, mas não posso me arriscar ser vista, principalmente na companhia de vocês.Olhou para os lados para ver se não avistava ninguém. -Meu tempo é curto, entretanto eu precisava vê-lo. Queria agradecê-lo pessoalmente.

-Me ver? Gaguejou Arão confuso.

-Você conhecia essa beldade e nem me avisou? Bal sussurrou no ouvido de Arão.

-Sim, já nos conhecemos. Não se lembra? Eu até fiquei olhando para você no salão.

Arão ficou sem jeito.

-Mas me agradecer por quê?

A garota ficou confusa, buscou apoio nos dois. EntãoCassi adiantou-se sem muita paciência para explicar.

-Ah! Não ligue não, ele está aqui há pouco tempo e sua memória ainda está ruim, não se lembra de muita coisa. Quando se trata de mulher os homens sempre têm memória ruim.Zombou ela.

A garota sorriu aliviada. Seu sorriso era encantador, Bal ficou de queixo caído.

-Isso explica por que todo esse espanto. É que os candidatos e candidatas da Cidade Superior quando chegam ao Santuário recebem um tratamento especial dos sábios para conseguirem se lembrar de tudo mais rápido, pois não podemos perdertempo, estranho você não ter recebido. Mas tudo bem.

Sua voz era doce e suave

-Meu nome é Damira, mesmo não se lembrando,você me salvou de um acidente ou algo muito pior. Eu tinha que vir lhe agradecer se não fosse por você eu não estaria aqui neste momento.

Arão levou as mãos à cabeça, imagens começaram a surgir... Homens trajando roupas pretas, um carro vindo desgovernado, um corpo sem vida embaixo de um lençol...