Guardioes de Deus: a Batalha nos Ceus

Capítulo 5 - A Jornada. Parte II


Cassi ficou quieta por um momento.

-O que é que você está olhando? A garota inquiriu de forma grosseira

-Te olhando assim você parece tão delicada... E ainda quer ser guardiã... Parece ser demais para uma garota.

Apesar de ser sincero, Arão arrependeu-se de dizer estas palavras. Cassi foi tomada pela raiva e as palavras dela se atropelavam.

–Frágil! Isso é o que você quer dizer...

Apontou-lhe o dedo indicador.

-Não se esqueça que essa garota frágil, o atirou ao chão e poderia muito bem ter lhe dado uma surra.

-Ora, isso só aconteceu por que me distrai quando te vi, jamais esperava ver uma garota tão bo...

-Bonita? É isso que pretende dizer, obrigada pelo elogio, mas foi seu primeiro erro.Disse tocando-lhe o peito com o dedo de modo inquisidor.

-Vamos me ajude aqui, precisamos acender este fogo, ou você vai ficar só olhando, cadê o cavalheirismo?Abaixou-se para pegar gravetos de modo mais descontraído.

-Tudo bem vamos acendê-lo novamente, mas se você não tivesse chegadode surpresa a chama ainda estaria acesa.

Arão protestouenquanto se juntava a ela para recolher a madeira.

-Homens sempre reclamando.

-Lá vem você implicar comigo. Acho que não estamos fazendo muitos progressos, não é mesmo senhorita Cassiana?

-Acho que tem razão.

Ela esboçou um pequeno sorriso com o último comentário dele, de certa forma o garoto à sua frente fazia-lhe sentir-se bem, mesmo conhecendo-o tão pouco.

-Eu ia perguntar mais sobre você, mas aposto que não vai se lembrar de muita coisa, pelo menos por enquanto. Alias não sei como pode ser um dos escolhidos sem ter passado por nenhuma prova.

-Prova? Espere um pouco, agora que você comentou tenho uma vaga lembrança de uma prova que ia fazer... Mas não tenho certeza se fiz ou não. Recordo-me de um acidente depois tudo se torna muito vago, só sei que quando acordei ontem estava no firmamento.

-Quando as pessoas passam do mundo dos Homens para cá...

Cassi ia começar a explicar, mas Arão a interrompeu lembrando-se da conversa que tivera com seus anfitriões e o anjo.

-Isso você não precisa me explicar, eu já conheço essa história. Gostaria de poder me lembrar de mais coisas, minha partida foi tão repentina que não tive tempo para conhecer muito sobre meus anfitriões.

A voz de Arão mostrava uma certa tristeza.

-Não se preocupe quando tudo isto terminar vocês terão muito tempo para ficarem juntos. Mas uma coisa pode lhe ajudar a recuperar sua memória.Comentou Cassi. - Os ensinamentos e as habilidades que tínhamos na outra vida são preservadas e temos a chance de aperfeiçoá-las mais. Talvez através delas você consiga mais pistas sobre seu passado.

-Ainda não consigo me lembrar do que gostava... Como poderei me aperfeiçoar?

–Não se exija demais ainda é muito cedo, acho que você fez progressos maravilhosos recordando-se de um acidente. Eu por exemplo adorava música, tocava piano e violão, tudo que emitisse algum tipo de som merecia minha admiração. Minha mãe era médica cuidava das pessoas, acho que peguei este dom dela. Eu adoro cuidar das pessoas.

Cassi pegou a lenha e colocou na fogueira, Arão pode notar uma marca que estava um pouco abaixo de sua mão.

-O que é isto em seu pulso?

-A isto é uma marca de nascença, uma lua. Bonitinha não?

Algumas imagens vieram novamente à mente de Arão. Ele levou as mãos à cabeça.

-Você está bem? Perguntou Cassi.

-Sim estou, apenas algumas imagens um pouco embaralhadas vieram-me à mente. Mas quero te fazer outra pergunta, se vamos a essa tal Cidade Superior ajudar, por que as pessoas dela e os celestinos se hostilizam?

A pergunta intrigava Arão. A expressão de Cassiana fechou-se.

-Existem dois fatos que contribuíram muito para isso: Como te disse antes, depois que Osíris ficou gravemente ferido com o fogo Negro, e estava sobre os cuidados dos grandes sábios. Houve um atentado contra sua vida. Alguns celestinos passaram pelos guardas de vigília de Set, e tentaram matá-lo... Por sorte Medar o grande conselheiro chegou antes e impediu que uma desgraça maior acontecesse. Ninguém sabe qual foi o destino destes celestinos, eles simplesmente desapareceram.

-Nunca os encontraram?

-Não, mas a partir deste acontecimento o povo superior passou a não confiar mais no povo celestino. Osíris sempre foi o mais popular entre os deuses, não fazia distinções entre as nações,tratando a todos com igualdade e justiça.

Cassi engoliu a seco as palavras, parecia ter dificuldade em continuar.

-Não entendo por que alguém iria querer matá-lo. É isso, o grande defensor do povo celestino traído por um dos que ele protegia.

Ela ficou quieta por um longo período até Arão quebrar este silêncio.

-Não esta faltando algo não? Você disse que eram dois os fatos. Qual o segundo?

A garota parecia relutante em continuar, mas por fim falou.

-Foi a morte de um dos grandes sábios do conselho da Cidade Superior. A voz de Cassi soou um pouco mais baixa e recatada. -Uma mulher celestina matou o grande Sábio.

-Umamulher celestina?Perguntou Arão.

Cassiana prosseguiu sem ouvir a pergunta do garoto.

-Mas ela não estava só, dizem que essa mulher tinha tamanho poder que conseguiu persuadir um homem da Cidade Superior a colaborar com seus planos, como se o tivesse enfeitiçado. O homem da Cidade Superior foi encontrado morto no salão do santuário com marcas horríveis pelo corpo. Alguns acham que após ter executado seu plano, ela voltou sua ira contra ele matando-o sem piedade.

-E o que aconteceu com essa mulher?

-Ai esta outro mistério. Ninguém sabe ao certo seu paradeiro, uns dizem que morreu, outros que fugiu, seu corpo nunca foi encontrado. Também que diferença isso poderia fazer?

Cassi cortou o assunto ficando muda.

-Muita! Pois se conseguissem prendê-la, poderiam fazer justiça, acalmando assim o ódio que povo superior sente em relação aos celestinos.

O silêncio voltou.

-Por que uma garota como você querse tornar uma guardiã? Arão perguntou com muita curiosidade.

-Eu não quero, eu vou me tornar uma guardiã. Respondeu Cassi com muita raiva, as lágrimas começaram a escorrer pelo seu rosto. -Quero mostrar meu valor, provar que posso ser alguém de quem as pessoas tenham orgulho e consertar os erros passados.

-Você parece ter muito ressentimento quando fala do passado.

-Não interessa o que sinto,isto é um problema somente meu.

-Desculpe Cassi não queria ser intrometido.

Fez um momento de silêncio antes dela falar novamente.

-Eu é que te devo desculpas pelo jeito rude de como o tratei, mas carrego um fardo muito grande. Tempos atrás, alguns homens do povo celestino decidiram invadir a Cidade Superior quando houvesse uma assembléia do grande conselho, pretendiam expor suas intenções de reatar a aliança entre os povos.Nem todos sabem, mas muitos no grande conselho partilham no seu íntimo essa vontade.

Arão ia fazer uma pergunta, mas achou melhor não interromper.

-Uma noite eles partiam, minha irmã se juntou ao grupo,lembro-me dela dizendo que tinha algo muito importante a revelar, que poderia mudar nossa história. Eu a amava, acreditava nela, ela era tudo o que eu queria ser.

Cassi ficou um tempo perdida em seus pensamentos antes de prosseguir.

-Porém antes deles chegarem ao conselho, alguém desertou o grupo e os traiu entregando a intenção dos homens celestinos ao povo da Cidade Superior. Com exceção de um que conseguiu voltar terrivelmente ferido a comunidade Oriental, todos foram mortos. Infelizmente este também não viveu muito tempo devido aos seus ferimentos.

-Mas ele disse o nome do traidor? Questionou o garoto.

-Sim ele disse.

O pesar na voz de Cassi era enorme.

-Mas não foi um traidor, e sim uma traidora, a mesma que matara o grande Sábio, minha irmã! Ela abandonou o grupo com um jovem da Cidade Superior. A partir daquele dia eu fiquei conhecida como a irmã da traidora, e todos começaram a me evitar, tudo o que eu fazia, as pessoas a quem eu ajudava,... Tudo me foi tirado... Eu passei a odiar minha irmã.

Ela já não conseguia mais conter o choro na voz.

-Mas será verdade isso que ele disse? Perguntou Arão

-As pessoas a quem eu amava estavam naquele grupo, muitos amigos queridos, inclusive meu pai, que não aprovava a idéia, mas foi somente para protegê-la. Disse a garota sem prestar atenção à pergunta de Arão.

-Ela arruinou tudo, a partir deste dia mesmo ignorada por todos eu comecei a treinar muito e jurei me tornar uma guardiã. Passei por todos ostestes que me impuseram, derrotei vários garotos. E agora aqui estou. Quero limpar meu nome e de meu pai. Finalizou enxugando as lágrimas.

-Você ainda odeia sua irmã?

-Michaela!!! Espero que estejas morta, pela traição que cometeu e pela morte do grande Sábio Jacó. Seria mais que merecido...

Cassi tinha um estranho brilho em seu olhar.

-Acho melhor irmos dormir.

Virou-se de lado finalizando a discussão.

A noite passou rápido, mas Arão sonhou... O sonho, o mesmo de antes, a torre, as criaturas, a grande besta negra e o guerreiro emitindo sua forte luz, tudo idêntico, porém mais real... A garota, o pergaminho,a morte...

Acordou com Cassiana sacudindo-o.

-Nossa finalmente acordou, não vou nem perguntar se era um sonho bom, pois do jeito que você se debatia, acredito que era um pesadelo horrível, me deu o maior trabalho acordá-lo. Só espero que seja o que for nunca se torne real.

Riu descontraída.

-Vamos ainda temos um longo caminho pela frente

Estendeu a mão para Arão como apoio para ele se levantar.

-Desculpe pelo meu modo grosseiro de ontem, mas é que não gosto de tocar naquele assunto. Arão, Arão você esta me ouvindo?

Ele parecia distante, voando em seus pensamentos...

-Hã. O quê!?

-Você está bem?

Ela o sacudiu.

-Acorda Arão! É o sonho? Aposto que sim, parece que viu o fim do mundo, seu rosto está todo suado, foi só um sonho...

Cassi tentava amenizar um pouco a situação.

\"É o que espero\". Pensou, porém não tinha certeza, guardou seus pensamentos para si.

Partiram com uma linda manhã ensolarada, não importava quanto faltava para chegar a Cidade Superior sentia-se bem ao lado de Cassi e isso era o que importava. Entretanto em seu intimo rezava em silêncio para que nada do que sonhara se tornasse realidade, que fosse apenas mais uma noite de sonhos ruins, como muitas outras...