Guardioes de Deus: a Batalha nos Ceus

Capítulo 18 - A Seleção. Parte II


Os anjos do castelo partiram para combater o temível dragão. Muitas das pessoas que esperavam os garotos corriam de medo. O monstro avançava em direção ao castelo expelindo fogo por uma boca e um ar gelado pela outra. Medar tentava organizar todos os sábios do conselho.

-Vamos nos juntar.

-Podemos vencê-lo? Perguntou Milenus.

-Acho pouco provável, ele é um Titã.

Por fim um aglomerado se juntou para tentar conter o avanço do dragão. Keyllor pegou seu bastão, correu em direção ao monstro, uma das cabeças expeliu fogo sobre o garoto. Ele levantou o bastão para se defender, quando as chamas se extinguiram, nem keyllor, nem o bastão existiam mais. Milena caíra à frente do monstro. Yalo e Helian foram ajudá-la, a cabeça que expelia gelo os atingiu com um jato de ar frio. Foram congelados instantaneamente. Helian que estava voando caiu sobre Milena e Yalo, o choque fez seus corpos quebrarem em milhares de pedaços menores.

-Concentrem-se. Ordenava Medar apreensivo. -Não podemos vencê-lo, mas vamos tentar fazê-lo perder os sentidos.

Até os esforços dos anjos eram em vão contra o titã enfurecido. Teles pulou para o campo de batalha ia combater também.

-Nossa força de pensamento não vai funcionar enquanto o dragão estiver concentrado na luta, precisamos distraí-lo, tirar sua concentração. Berrou Medar para Milenus.

A cabeça que expelia fogo mirava em Moira e Damira. O fogo saiu veloz, Arão usou as cordas para chegar até elas. Laçou com uma das extremidades a haste de uma das torres e se atirou sobre as garotas segurando a outra extremidade, jogou-as para longe dali. O fogo deixou um buraco na parede.

Damira abraçou Arão com medo. Este só teve tempo de empurrá-la para o lado da varanda. A cabeça que expelia gelo trombara contra a parede onde Arão estava. O garoto acabou dentro da boca do monstro que movia a cabeça de um lado para outro.

Teles pegou a sua espada do sol, a espada do leão. Com ela conseguia atravessar a pele do dragão com seus golpes. Furou-lhe uma pata. Da boca do dragão percebia-se uma luminosidade, enquanto pequenas quantidades de gases gelados saíam das narinas. Ela foi se abrindo aos poucos Arão estava ajoelhado com os braços estendidos.

-Damira! Gritou ele.

Teles atingiu a perna do monstro, a cabeça baixou, batendo no chão, Arão rolou e caiu imóvel. Algumas partes de seu corpo estavam brancas, pareciam congeladas.

Os anjos puxavam as cordas do pescoço do monstro tentando derrubá-lo. Teles furou novamente a pata do monstro. O dragão tirou as duas patas dianteiras do chão, no mesmo instante em que Odrin que pulara da cabeça do animal momentos atrás, corria com uma tora embaixo do braço para acertar-lhe o corpo. Isso, mais a força dos anjos derrubaram o dragão.

Os sábios conseguiram assim, dominar o monstro. Fizeram-no dormir com sua força de pensamento, finalmente a besta estava fora de combate.

Nada se falava sobre o resultado dos grupos. O ocorrido aquela tarde deixara um estrago incomensurável, a destruição estava presente em toda parte.

-Não toquem nele. Pediu Milenus vendo Arão deitado com os jovens Bal e Cassi parados ao seu lado tentando ajudá-lo. -Temo que seja tarde para seu amigo. Mas mesmo assim vamos levá-lo para Zoira.

Milenus se aproximou de Medar.

-Milena, Keyllor, Yalo e Helian estão mortos.

-Teremos que nos virar com o que restou, além do mais fora Milena o grupo vencedor ainda está aqui.

-Mas como explicar Ardrieza?

-O poder dos livros... Disse Medar sombriamente.

Zoira observou os guardas colocarem o garoto sobre a cama. Sua primeira análise não a deixou nada animada. Várias partes de seu corpo estavam esbranquiçadas por causa do gelo. Ele tremia, às vezes mesmo inconsciente.

-Você parece ter gostado daqui. Disse mais para si mesmo do que para alguém, também não ria como antes a cada piada que fazia.

Olhou para porta viu três rostos apreensivos. Cassi e Bal estavam com as cabeças coladas ao batente enquanto Dafne flutuava acima com uma mão na cabeça do garoto e a outra na cabeça da garota. Zoira foi até eles.

-Acho melhor vocês irem descansar.

-Ele vai ficar bom? Cassi perguntou tentando forçar um sorriso.

-Não vou mentir para vocês, a situação dele é muito delicada. Ele não está nada bem. Viu os rostos dos três se contraírem. -Esta noite será crucial para sabermos se ele ficará bem. Vamos, rezem por ele tenho certeza que suas orações vão ajudar.

Tentou ser otimista, mesmo sabendo do estado deplorável que o jovem se encontrava.

Os jovens se retiraram a pedido de Medar e Milenus. Empoly estava ao lado, mas não disse nada. Os dois se reuniram mais tarde com Zoira ao lado da cama de Arão.

-O que você acha? Perguntou Medar.

-Não creio que passe desta noite. Ela fez um sinal de negação com a cabeça. -Esses ferimentos em seu corpo são terríveis.

Neste momento Arão emitiu um gemido na cama. Empoly se aproximou.

-Ele não tem chance. Afirmou.

Zoira ignorou o comentário dele.

-Como os senhores podem ver ele está tendo alucinações. Não posso fazer nada contra isso. Ele deve estar sofrendo muito.

Milenus se adiantou um pouco.

-Não há nada que possamos fazer? Perdemos quatro vidas hoje... Deve haver alguma coisa...

-Passarei a noite fazendo orações para este jovem. Mas não creio que faça diferença. Mesmo que a força interior dele seja fortíssima e ele escape, o que acho pouco provável. Ele nunca estará pronto para partir amanhã com os outros candidatos.

-Então ainda há uma esperança para que ele se salve? Medar olhava assustado, pois via como o jovem parecia debilitado.

-Milagres acontecem. Mas a face de Zoira não fazia jus a suas palavras. Empoly balançou a cabeça em sinal de negação.

A noite corria, a lua avançava para cumprir seu tenro caminho entre os horizontes. Em uma das salas os quatro seres se ajoelharam ao verem a entrada de seu mestre. O ser imponente se postou à frente deles entregando nas mãos do mais próximo um rolo de papel.

-Este é o pergaminho que nos levará a vitória.

Jitar ergueu a cabeça, o brilho da luz refletiu no pedaço de metal em seu rosto. Aceitou o objeto com muito prazer.

-Como estão indo seus planos, mestre?

O ser a quem chamavam de mestre, que não saía das sombras, respondeu com um brilho estranho no olhar.

-Não poderiam estar melhores. Meus inimigos estão caindo todos a meus pés. Esse pergaminho levará vocês direto ao local onde os elementos estão. Enquanto os candidatos terão que passar pelos perigos das Cordilheiras Celestiais, jamais conseguirão... Vocês se tornarão os meus guardiões e ninguém poderá nos deter. Quando ele chegar ficará satisfeito com nossa conquista. Fiquem prontos! Amanhã quando a passagem se abrir para os candidatos vocês deverão passar também.

-Como desejar mestre. Respondeu Jitar.

-Você está vendo Sender, vamos nos tornar guardiões. Sussurrou Molf.

-Cale a boca. Ordenou Sender babando.

-Podem ir. Hoje preciso terminar de eliminar meus inimigos.

Os quatro se levantaram e partiram. O ser ria, seu riso era medonho e invadia os corredores desertos.

Zoira olhou mais uma vez para o garoto, estava nu apenas coberto por um lençol.

-É triste ver um jovem assim nestas condições. Garotos não deveriam morrer.

Acendeu algumas velas para que o aposento ficasse iluminado. Foi até a porta e voltou seu olhar para a cama onde o corpo debilitado repousava.

-Voltarei em breve. Não posso fazer muita coisa, mas se você partir, ao menos quero estar ao seu lado. Jamais abandonei alguém que estivesse sobre meus cuidados.

Fechou a peça de madeira, desaparecendo no corredor. Olhos observavam Zoira partir, esperavam que ela se distanciasse para se aproximar do quarto em segurança.

A porta foi deslocada com cuidado, abriu-se lentamente, a sombra de um corpo penetrou no aposento avançando devagar. As chamas das velas tremulavam enquanto uma brisa entrava pela janela. Arão continuava deitado, as alucinações pioravam, ele gemia mais e em intervalos menores.

O ser olhou-o curiosamente por um tempo, atento a tudo que se passava, o garoto ficou quieto de repente. Das sombras uma mão surgiu, tocando o braço de Arão, ele emitiu um pequeno gemido.

Um sorriso tímido brotou na face tomada pelas sombras. Envolveu o corpo do garoto em um tapete. Como que por mágica seu corpo começou a flutuar. Arão foi levado para fora de seu quarto. A porta se fechou quando a sombra do corpo retirou-se.

O corpo de Arão foi levado para o quarto vizinho e repousou sobre uma cama, os olhos de seu seqüestrador os seguiam. Duas velas foram acesas, a iluminação não era muito forte, mas o suficiente para espalhar luz sobre o tronco de Arão. Um casaco branco e grosso caiu ao chão, na claridade da luz as mãos tiraram o tapete que cobria o garoto. A cena era triste, o jovem estava tão indefeso, tão perto do fim.

Um corpo feminino entrou no raio de iluminação das chamas das velas. Tirou o casaco que a protegia, usava uma finíssima e transparente roupa debaixo, mais parecendo um vestido. Ele mostrava as curvas de uma beldade, o corpo perfeito, de pele suave e aroma agradável. Aproximou-se mais.

-Você me salvou duas vezes. Nesta noite de grande provação para você eu precisava estar ao seu lado. Agora é minha vez...

A voz de Damira saiu como um sussurro doce e suave. Ela deu-lhe um beijo na testa, recebeu uma lamuria inconsciente como reposta, mas logo tudo ficou quieto.

A candidata deitou-se ao seu lado, encostou-se nele aos poucos. Ele gemia quando cada parte de seu corpo era tocado, entretanto ela se ajeitava devagar. Seus braços o envolveram, colocou uma das pernas no meio das dele, seus seios tocaram o peito dele. Ele estava gelado, e as vestimentas dela não lhe forneciam proteção alguma. A pele dela arrepiou-se toda. Aconchegou sua cabeça junto à dele. Uma lágrima rompeu-lhe o rosto, caindo na face do garoto.

Damira adormeceu a seu lado, teve um sonho tranqüilo, sem perceber, o momento em que duas luzes cruzavam o corredor em frente ao aposento em que estavam.

Zoira voltou algum tempo depois, abriu a porta do quarto. As chamas das velas ainda estavam acesas, porém já tinham consumido mais da metade da peça cilíndrica de cera. O colchão da cama estava jogado ao lado, todo arranhado, o corpo do garoto tinha sumido.

Ela entrou em desespero, a porta se fechara atrás de si, um barulho veio de dentro de um grande armário ao fundo do cômodo. A mulher ficou indecisa sobre que decisão tomar. Finalmente se decidiu, passou com cuidado por cima da cama, indo até o móvel.

Abriu-o esperando encontrar algo, mas ele estava vazio. Ao virar-se tropeçou em uma coberta e caiu. As chamas das velas se apagaram. Pode ver por baixo da armação da cama a porta se abrir, Alguma coisa estava parado na abertura que surgira, não conseguia enxergar o que era, mas sabia que se tratava de uma presença maligna.

Seu corpo ficou paralisado, o medo a dominava, esperava não ser notada, passado um tempo conseguiu se controlar. Rastejou por trás da cama, quando olhou outra vez para a porta, não havia nada. Levantou-se, procurou por todos os lados, nada. Deu um suspiro profundo.

\"Já foi embora\". Pensou mais aliviada.

Puxou o colchão para colocá-lo sobre o estrado, tornou a se virar, mas desta vez duas luzes se acenderam, caíram sobre ela numa silhueta rápida e mortal. Seu corpo tombou sobre a armação da cama.

Damira foi acordada por um barulho vindo da parede ao lado. Arão continuava deitado junto dela. Ouviu ruído de passos no corredor, colocou seu casaco, olhou pela fresta da porta e viu Potências correndo. Reconheceu a voz de Milenus.

-O que aconteceu aqui?

-Alguém atacou Zoira. Ouvimos o barulho, viemos o mais rápido que podemos, mas não conseguimos capturar o responsável.

-E o garoto que estava com ela?

-Não há nenhum sinal dele.

-Quero uma busca já. Revistem todos os quartos do corredor. Revistem todo Santuário se necessário, quero que o achem.

-Mas senhor disseram que ele não passaria dessa noite. É provável que já esteja morto. Disse um dos Potências.

-Traga-me o corpo provando isso. Rugiu ele com raiva e partiu corredor adentro.

Damira precisava sair dali urgente. Lembrou-se das palavras de advertência de Arão, onde as candidatas a deusas deveriam ser mortas, ela se arriscara mais uma vez, porém desta vez não se importava.

Olhou uma ultima vez para o garoto deitado, não queria abandoná-lo, mas não podia fazer nada. Com certeza os guardas viriam ao quarto e o encontrariam. Se olhassem esse primeiro, iria ser pega. Um potência vinha em direção a porta onde estava. Ia abri-la, quando outro o chamou.

-Venha ver isto.

Ela segurou a respiração e fechou os olhos, por sorte os guardas foram ao outro cômodo. Isso deu tempo para ela fugir pelo corredor. Saíra assustada, andou pensativa pelas galerias estreitas, lembrava-se da imagem de Arão. Ele não se mexera uma única vez, continuava no mesmo estado.

“Será que todo meu esforço foi em vão?”

Virou o corredor para chegar em seu quarto, alguém a esperava.

-Inimis!

Na manhã seguinte o conselho estava todo reunido tomando decisões importantes.

-Vamos mandar os jovens esta noite. Medar comandava a reunião.

-E quanto a Milena? Milenus confrontara o olhar de Medar. -Ela fazia parte do grupo que venceu a prova, quem irá substituí-la?

-Por sorte, a maior parte do grupo vencedor sobreviveu. Lethan ou Lissa ocupara seu lugar, no momento certo os elementos decidirão. Enviarei com junto com os garotos três sábios. Como estão sem o pergaminho eles serão de grande ajuda.

-Não devíamos mandá-los. É inútil. Empoly se levantara do seu lugar. -Sem o pergaminho, estamos enviando-os para sua própria destruição.

-Me parece que você não quer a proteção dos guardiões.

Todos ouviam as palavras de Medar.

-Ou será que tem uma sugestão melhor?

Empoly sentou-se quieto em seu lugar. Um dos sábios se levantou.

-O conselho sabe que a situação é difícil, não gostaríamos de mandar essas pobres crianças para as Cordilheiras Celestiais, porém não vemos outra alternativa. Espero que todos estejam de acordo.

Todos assentiram. A decisão foi mantida pelo conselho, os jovens partiriam esta noite.

No final da tarde Milenus foi aos aposentos de Medar.

-Entre meu amigo. Milenus entrou receoso. Em seu rosto traços de preocupação se tornavam visíveis. -A decisão do conselho me deixa apreensivo... Aqueles garotos nas Cordilheiras...

-Eu sei... Mas no fundo você sabe que não temos muito o que fazer...

-Isso é loucura. Estamos condenando aqueles garotos à morte..

-Não podemos fazer mais nada. A decisão já foi tomada...

Milenus ficou quieto. Medar estava absorto em seus pensamentos, caminhou a passos lentos até a janela.

\"As Cordilheiras Celestiais, local sombrio do firmamento, nela as batalhas contra as forças do reino inferior foram terríveis. Os primeiros a se converterem para o lado das trevas no firmamento vieram de lá. Da montanha da traição. Tempos em que o Retalhador de Almas ceifava as almas que se converteram para o lado das trevas a mando dos magos da Cidade Superior. Seu perdão no final da guerra veio junto com o voto de fidelidade ao Criador. Épocas obscuras essas que as forças do bem usavam o mal para destruir o próprio mal. Será que a presença das trevas liberou o lado mais sombrio existente nas Cordilheiras novamente? Os sentimentos que sempre estiveram adormecidos retornaram? Teriam os votos sido quebrados?\".

Seus pensamentos foram interrompidos pelas palavras de Milenus.

-O que me intriga nisso tudo, é que me parece que desta vez você concorda com a decisão do conselho.

-Espero não parecer um carrasco a seus olhos, meu amigo. Mas Sekhmet anseia por essência do povo da Cidade Superior, sem o pergaminho com certeza eles irão confrontá-lo.

-Quer dizer que fora os quatro escolhidos, os outros estão indo somente para satisfazer a sede de Sekhmet. Serão \'\'iscas\'\' para que os guardiões escapem.

Medar abaixou a cabeça com vergonha de suas próprias palavras.

-Quem sabe com este pequeno sacrifício, ele não poupe os quatro escolhidos.

-Eu irei com eles.

-Não pode! Medar foi enfático em sua afirmação. –Mais do que nunca precisamos de sua presença no Santuário. Você sabe disso. O filho de Set precisa de seus conhecimentos.

Milenus sabia que era verdade. Virou-se e partiu da sala sem dizer uma palavra sequer. Em seu íntimo ele temia pelo futuro do reino. Os garotos jamais conseguiriam.

A noite chegara, Jitar entrou nos aposentos de seu mestre.

-O que aconteceu meu senhor?

Jitar ajudou seu mestre a se levantar.

-Não tenho mais a pedra. Ele não me obedece, está desenvolvendo vontade própria. Logo nem a pedra ele temerá mais. Ouviu me falar sobre os elementos, a Cordilheiras Celestiais e Sekhmet.

-O que faremos?

-Por enquanto nada. Eu imagino quais são seus planos. Ele deseja mais força, mais poder, nas Cordilheiras ele o encontrará.

-Não quer que o matemos, mestre?

-Matar? Riu ele.

-Vocês seriam mortos facilmente. Já não são mais páreos para ele. Deixem-no, ele ainda poderá nos ser de grande valia. Aposto que ele acompanhara o grupo que partira esta noite.

-Por que pensa assim, mestre?

-Porque na montanha da traição se encontra o poder para torná-lo pleno. Preparem-se para partir.

As gargalhadas do mestre eram medonhas.

\"Maldito seja Ente da Noite\". Pensou Jitar.