Guardioes de Deus: a Batalha nos Ceus

Capítulo 12 - A Lua de Sangue, Quarta Noite. PII


Arão corria a frente, Bal vinha logo atrás, Dafne voava rápido para alcançá-los. Não havia ninguém nos corredores. A névoa dificultava o senso de orientação dos jovens, mesmo assim eles prosseguiam.
-Arão! Chamou Bal.
-Você sabe como chegar onde estão as Candidatas? Tenho a impressão de que já passamos por aqui.
-Essa névoa está atrapalhando, estamos perdendo muito tempo. Respondeu Arão.
-Acho que posso dar uma ajuda. Disse Dafne.
-Como? Perguntou Arão.
-Concentre-se Bal. Ordenou ela.

Bal fechou os olhos, se concentrando junto com a ninfa. O garoto começou a ouvir uma voz em sua mente que dizia-lhe palavras estranhas. Ele não soube o porquê, mas começou a recitá-las em voz alta a sua frente uma pequena bola de luz surgiu. Bal abriu os olhos.
-Eu fiz isso?
-Nós fizemos.
-Como vocês conseguem? Perguntou Arão.
-Na verdade, Bal ainda não tem o poder suficiente para fazer os encantamentos sozinhos, por isso precisa de mim. Conheço muitas magias todas armazenadas aqui.
Dafne apontou para sua própria cabeça.
-Eu o ajudo a fazê-las. Ele se utiliza de minha força para que o encanto seja mais forte, mas quando ele estiver pronto, não vai mais precisar de mim. Sua memória e força cuidarão de tudo sozinho.
-Você não quer tentar Arão é divertido. Disse Bal.
-Infelizmente não dá, somente os que têm a essência de mago dentro de si é que conseguem utilizar a magia. Explicou Dafne.
- É Arão, parece que nem vai dar.
-Não temos mesmo tempo para isso, Bal, vamos prosseguir.
A Pequena bola de luz seguia a frente de Bal, enquanto avançavam...

Cassi e Kitrina andavam de mãos dadas avançando pelo meio da névoa.
-Cassi, eu conheço bem estes corredores, mas com esta névoa fica difícil saber se estamos indo na direção certa.
-Se pra você já é ruim imagine para mim. Completou Cassi.
As duas continuaram andando, de repente Cassi parou, colocando uma das mãos no ombro de Kitrina como se buscasse apoio.
-Cassi! Você está bem?
-Tive um mal-estar passageiro. Mas passou, já estou melhor.
-Tem certeza?
Cassi confirmou com a cabeça, foi continuar a andar, seus joelhos dobraram e se não fosse pelo abraço que Kitrina lhe dera ela teria tombado ao chão.
-Cassi o que está acontecendo?
Ela tremia olhava para frente em direção a um ponto imaginário. Kitrina a sacudía.
-Fale comigo!
-Eu... Eu sinto... Eu posso sentir...
-O quê?
-A sensação de ter o domínio da situação... maldade e crueldade... Ao mesmo tempo prazer e excitação...
-Isto é muito confuso para mim. Quem nutriria tais sentimentos?
Cassi olhou para Kitrina antes de responder.
-Um predador diante de sua vítima.
Kitrina não entendia bem o significado das palavras da amiga.
\'\'O que ela está querendo dizer?\'\'
-Me ajude... Vamos sair daqui o mais rápido que pudermos.
As duas começaram a correr, usavam todas as suas forças, quando olhavam para trás viam a névoa se movendo, algo estava em seus encalços. Chegaram a um corredor que terminava em uma porta trancada.
-Droga! Gritou Cassi.
-Estamos encurraladas neste corredor.
A névoa começava a se abrir, estava chegando rápido perto delas.
-Estamos perdidas. Murmurou Kitrina. Cassi pegou a mão da amiga, podia sentir o medo. Nesse momento Kitrina acalmou-se e virou-se para a amiga.
-Espere um pouco.
Ela se concentrou, colocou as mãos na porta. Seu corpo foi desaparecendo. Cassi olhava para a abertura na névoa que se aproximava mais e mais...
\"Pelo menos uma de nós se salvou.\"
Pensou se conformando um pouco com o que iria acontecer. Não havia mais jeito... Fechou os olhos esperando pelo pior. Sentiu uma forca segurar sua mão, foi puxada para trás. Perdeu o equilíbrio e caiu no chão. Quando abriu os olhos, viu Kitrina fechando a porta.
-Desculpe deixá-la só. Kitrina estava com as costas na porta.
-Mas somente assim poderia abrir esta porta por dentro.
-Ainda bem que você conseguiu, não gostaria nem de pensar se você tivesse demorado um pouco mais... Onde estamos?
-Devemos estar dentro de uma das sinagogas do castelo. Respondeu Kitrina sem muita confiança.
O salão onde estavam, era composto por pilares que faziam o contorno todo do recinto, enormes candelabros acompanhavam os pilares. Havia três lustres no teto e fileiras de bancos que estavam quase submersos pela névoa.
-Precisamos sair deste local. Temos que encontrar Arão, Bal e Dafne. Cassi acabara de se levantar. -Só não podemos voltar pelo mesmo caminho que viemos.
- Não se preocupe, as sinagogas sempre tem no mínimo duas saídas. Kitrina apontou para frente, as duas começaram a andar em direção a uma porta do outro lado da sala.
Um rumor súbito fez as duas pararem imediatamente. Um arrepio percorreu as costas de Kitrina. Ao olharem para trás a porta se abrira um pouco, tornando a se fechar logo em seguida. Ambas ficaram tensas, a névoa começou a ser movimentada ao redor delas, como se algo corresse em círculos, cercando-as. Os candelabros ao lado do pilar iam caindo um a um. As duas estavam de costas uma para outra, respirações ofegantes. De repente tudo se acalmou. A névoa se aquietou...
-Será que foi embora? Perguntou Kitrina após alguns segundos.
-Não. Está nos observando. Vai nos atacar a qualquer momento.
Cassi mal tinha acabado de falar e duas luzes se acenderam ao seu lado. Pularam sobre elas. Cassi empurrou Kitrina e tombou no chão. As luzes passaram sobre elas, caindo sobre os bancos provocando grande alvoroço. Cassi levantou-se e pegou Kitrina pelo braço.
-Vamos fugir.
Ambas correram para a porta, para onde se dirigiam antes daquela confusão. Por sorte esta não estava trancada, saíram rápido. Ouviram um estouro atrás de si, estilhaços de madeira voaram para todo lado, as luzes as perseguiam.
Estavam sendo alcançadas, logo a frente havia uma passagem que levava a outra câmara. Ao entrarem, Kitrina tropeçou, caindo sobre Cassi. Levantaram rápido olhando para os lados.
-Este lugar me parece familiar. Disse Cassi.
Kitrina ficou um pouco sem jeito ao falar, pois o assunto poderia ser doloroso a Cassi.
-É o local onde a primeira candidata à deusa foi morta. Você estava aqui...
Cassi percebeu por que Kitrina hesitava em continuar
-Sim! Me lembrei...
A sala possuía oito entradas, elas não sabiam por qual haviam vindo.
-E agora? Perguntou Kitrina.
-Ele está brincando com a gente. Pode nos pegar no momento em que quiser. Vamos enfrentá-lo.
-Mas e se não formos páreos para essa coisa?
-Não somos! Cassi foi incisiva. -Mas temos que arriscar. Pensaremos em alguma coisa.
Kitrina não tinha muita certeza, mas acreditava em sua companheira.
-Procure algo para se defender. Ordenou Cassi.
-Olhe tem uns pedaços de madeira neste canto. Kitrina estava ao lado de um monte de tábuas.
Uma luz estava começando a aparecer em um das entradas.
-Não temos mais tempo terá que ser com isso mesmo. Disse Cassi.
-Vou esperar ao lado da entrada, quando ele passar, apareço de repente. Acerto essa coisa, você vem depois e me ajuda. Sugeriu Kitrina.
Estavam em posição, Kitrina ao lado da parede e Cassi um pouco mais distante. A luz ia ficando mais forte. Cassi podia sentir a ansiedade em Kitrina crescer a cada momento que passava.
\"Só mais um pouco\" Pensava ela.
-Agora! Gritou Kitrina pulando a frente da luz, queria pegá-lo de surpresa. Acertou seu oponente com força. Um grito abafado foi ouvido, a luz se apagou. Um corpo estava estendido no chão. Cassi pulou para ajudar Kitrina, mas um par de mãos a impedia. Ela lutava com todas as forças para se desvencilhar, até ouvir uma voz.
-Cassi, sou eu Arão!
Ela parou, olhou e viu Kitrina desconcertada com a madeira na mão. Bal estava caído gemendo.
-O que você pensa que está fazendo? Gritou Dafne para Kitrina enquanto ajudava Bal a se levantar.
-Bem... É que eu pensei que fosse...
-O que vocês estão fazendo aqui? Perguntou Arão.
-Nós vimos que as candidatas a deusas corriam perigos e decidimos vir ajudá-las também. Respondeu Cassi
-Arão, não saio mais à noite com você, por que toda vez que tento acompanhá-lo, sempre acabo apanhando. Resmungou Bal, já em pé.
-Doeu muito? Kitrina se aproximou de Bal.
-Bate e ainda quer ver se está bem? Dafne estava sendo provocante.
-Eu já disse que foi sem querer.
-Hei, vamos parar de discutir. Interveio Arão.
-Você fala isso por que não foi você quem levou a paulada. Para uma mulher até que ela é bem forte.
-Eu sei Bal, mas não podemos ficar aqui. Cada minuto é precioso. Todos se calaram, concordando com Arão. -Vamos prosseguir.

Seguiam os cinco pelos corredores tentando encontrar o caminho que levasse aos aposentos das Candidatas. Cassi entre eles era a única que não pensava nas garotas que estavam indo salvar. Ela estava mais preocupada com o que a sensação de estar sendo espreitada. Sentia-se como a alguns momentos atrás, antes de encontrar seus amigos. A névoa continuava.
Enquanto caminhavam Kitrina tomou a frente do grupo.
-Eu já sei onde estamos. Falta pouco para chegarmos à ala das candidatas. Porém, temos duas opções.
-Quais? Perguntou Bal.
-A frente reside o salão nobre onde os conselheiros costumavam se reuniam para refletir sobre assuntos importantes. Hoje em dia ele não é mais usado. Nós podemos contorná-lo, mas teremos que descer e subir inúmeros lances de escadas para chegarmos até as candidatas. Isso nos tomará um pouco de tempo.
-Que é justamente o que não temos. Observou Arão.
-Ou, podemos atravessar o salão por uma pequena sacada que fica na parte superior do mesmo.
-Por que tem que ser pela sacada? A ninfa saiu de trás do ombro de Bal. -Se ele não é mais ocupado, por que simplesmente não o atravessamos.
-Eu a ensinei. Disse Bal de forma zombeteira.
Quase todos concordaram com a colocação de Dafne.
-O salão se comunica com várias partes do Santuário. Qualquer um pode chegar de qualquer parte. Seria muito fácil nos pegarem desprevenidos. No salão seremos alvos fáceis.
Kitrina olhou para Cassi buscando seu apoio.
-É melhor seguirmos pela sacada do salão. Sugeriu Cassi.
-Está bem, vamos pelo salão. Pronunciou Arão, a decisão estava tomada.
Os jovens chegaram a entrada do grande salão pensando em encontrá-lo vazio. Entretanto ao contrário disto, algumas velas estavam acessas. Iluminavam três pessoas que conversavam aos sussurros, mesmo assim podiam ser ouvidos. A névoa não havia entrado no recinto.
-Você não disse que o salão não era mais utilizado. Cochichou Bal para Kitrina.
-E Não é. Não sei o que pode estar acontecendo. Respondeu a jovem.
-Teremos que voltar. Disse Dafne.
-Não podemos.
Arão sabia que Cassi tinha razão, não poderiam voltar do ponto em que se encontravam. Observou bem o local.
-Se formos em silêncio poderemos atravessar até a sacada sem que eles nos notem. Disse Arão.
-Não sei não... Interveio Bal.
-Fiquei quieto e ande logo. Murmurou Cassi impaciente.
-Cassi eu sei que no fundo, lá no fundo você me adora.
Kitrina foi à primeira, desviou-se de alguns objetos no chão, conseguiu chegar a base da sacada sem ser notada. Logo em seguida foi Cassi quem conseguiu realizar a proeza com sucesso. Por fim chegou à vez de Bal, ele ia devagar com Dafne voando ao seu lado. Arão seria o último. Olhava para Bal que já estava no meio do caminho, se preparava para partir, quando notou um objeto ao chão no caminho de Bal.
Como este olhava para Cassi e Kitrina, nem parecia notá-lo. Não haveria tempo, nem como avisá-lo. O garoto tropeçou ia emitir um grito de susto e cair ao chão. Mas Dafne tapou-lhe a boca com uma mão e segurou seu corpo. O objeto, porém rolou para frente chamando a atenção das três pessoas do salão.
-Vocês ouviram alguma coisa? Perguntou um deles.
Cassi e Kitrina se esconderam na base da varanda, Arão não se moveu, pois ali estaria seguro. Mas Bal e Dafne não tinham para aonde ir, seriam descobertos, pois os três seguiam para onde eles estavam. Os dois fecharam os olhos e segundos antes dos três chegarem seus corpos desapareceram.
-Eu podia jurar que ouvi algo. Murmurou um deles.
Olharam em volta, mas não havia sinal de ninguém.
-Você esta muito nervoso. Acalme-se ninguém vai aparecer neste salão eu já disse que há muito tempo ele não mais utilizado.Vamos terminar isso logo.
Kitrina reconheceu quem acabara de falar, era Empoly, o conselheiro de Osíris.
Os três corpos voltaram para a iluminação das velas, segundos depois Bal e Dafne reapareceram. O garoto parecia ter feito um esforço descomunal, pois estava muito ofegante. Finalizaram a passagem pela sacada rastejando, estavam exatamente sobre os três que finalizam sua discussão.
-Eles são uns tolos, nem percebem o que está se passando. Dizia Empoly.-Logo todos sucumbirão. A cada sinal da profecia o reino se enfraquece. No primeiro, o mal entrou...
Ficou quieto por alguns momentos, pensativo com os olhos fechados. Abriu-os novamente e prosseguiu.
-Estamos quase chegando no final do segundo sinal, eles não tem como proteger a todos. O grande Medar tentou... Mas ele cometeu um grave erro.
Ficou novamente pensativo.
-Com suas medidas ele até conseguiu proteger todas as comunidades, mas deixou exposta a Cidade Superior e o próprio Santuário. Ela sofrerá as conseqüências. Esse é o momento que tanto esperamos, temos que tomar o poder. No final do segundo sinal mesmo as forças do firmamento não poderão evitar o que esta por acontecer...
-Mas o que vai acontecer. Perguntou um deles.
-A queda de uma das comunidades.
Os jovens conseguiram passar sem serem notados. Ouviram as palavras finais de Empoly.
-Uma conspiração é isso! Kitrina ficou indignada. - Como eles são capazes de tal coisa.
Cassi a pegou pelos ombros.
-Sei que você está revoltada. Mas a única coisa que podemos fazer no momento contra isso é ajudar as candidatas.
Arão chegou próximo das duas.

-Vamos continuar, temos a vantagem de ninguém saber o que estamos fazendo. Se alguém descobrir estamos enrolados.
-O mínimo que irá acontecer é sermos expulsos da Cidade Superior. Comentou Bal em tom de deboche.
Seguiram em frente por uma longa galeria até chegarem onde ficavam os aposentos das candidatas. Verificaram que com exceção de uma, todas as demais portas estavam fechadas. Aproximaram-se com cuidado. O quarto estava todo revirado.
-Aposto que este é o aposento de Damira. Exclamou Arão olhando em volta com visíveis sinais de preocupação no rosto.
-Parece que um furacão passou por aqui. Comentou Bal, se afastando em direção a porta. -Acho que chegamos tarde demais.
Dafne pegou um pedaço de pano que estava molhado.
-É essência...
Uma mão caiu sobre o ombro esquerdo de Bal. O garoto não agüentou deu um grito que veio junto com um pulo.