Guardioes de Deus: a Batalha nos Ceus

Capítulo 11 - A Lua de Sangue, Terceira Noite. PI


A Lua de Sangue, 3ª Noite...

Bal estava no quarto brincando com o espelho, enquanto Arão passeava inquieto pelo cômodo.

-Cinco noites, cinco...

-Calma Arão, você ouviu o que Medar disse, não ocorrerá nada no final das cinco noites. Temos que nos concentrar no terceiro sinal.

Arão foi até a porta e a abriu, havia um cavaleiro de armadura dourada vigiando o corredor.

-Droga! Urrou.

-No que você está pensando? Sabe que não podemos sair...

-Você não entende. Eu ouvi o que Medar disse. Mas primeiro foi Ingrid, e depois como explicar o que aconteceu com Jenya.

-Realmente foi muito sinistro.

Foi uma das poucas vezes que Bal tirara os olhos do espelho para responder.

-Mas Medar está tomando todas as providências para garantir a segurança de todos.

-Será que vai ser suficiente? Questionou Arão. -Acredito que este período das cinco noites será muito pior do que imaginamos.

-Vire essa boca para lá Arão. Você é muito pessimista.

-Não. Sou realista.

-Mas o que...Balchacoalhava o espelho. - Essa coisa deve estar com defeito. As imagens estão ficando turvas.

-Você fica muito preso a este espelho. Concordo que ele é muito útil, mas vocêestá viciado nele. Acho melhor parar um pouco.

- Olhe, Damira me mandou uma mensagem.

- É? O que diz? Arão aproximou-se entusiasmado.

-Agora se interessou pelo espelho!

-Não seja bobo Bal! Repreendeu Arão dando as costas para Bal.

- Arão!

Ele não respondeu ao chamado de Bal.

-Arão!

-O que você quer?Respondeu Arão a contra gosto.

Bal apontava para o espelho.

- O que foi agora?

-Nosso amigo misterioso mandou outra mensagem.

Arão sentou-se ao lado de Bal.

Então não seguiram meu conselho e decidiram ficar na Cidade Superior.

-Só pode ser o sujeito com quem conversamos na taberna. É ele com certeza, temos que avisar Medar.

-Espere Bal, vamos ver o que ele tem a nos dizer.

-Mas Medar disse...

-Eu sei o que ele disse, mas vamos só esperar mais um pouco. Deixe me mandar uma mensagem para ele.

Você tentou nos enganar hoje.

A resposta veio rápida.

Não! Agora é tarde demais. Os destinos de vocês já estão selados. Não conseguirão mais sair da cidade.

-Arão ele está nos ameaçando! Com certeza vai mandar aqueles seres novamente atrás de nós.

Outra mensagem.

Nossas últimas esperanças estão se esvaecendo. Mesmo o futuro dos guardiões está ameaçado. O mal é maior que imaginávamos. Infiltrou-se por todos os lugares, ninguém está seguro. A morte vaga pela Cidade Superior, o Santuário é seu alvo, falta pouco para o caos reinar.

Quem é você? E como sabe de tudo isso?

Hoje é a terceira noite, não menosprezem o segundo sinal. As cinco noites lhes trarão muitas surpresas. A verdade logo será conhecida.

As imagens do espelho voltaram ao normal.

-Ele se foi. Disse Bal.

Arão foi mais uma vez até a porta.

-Medar cuidará de tudo. Acho que este sujeito seja lá quem for está tentando nos confundir. Vamos descansar Arão, amanhã será um longo dia.

-Acho que você tem razão.

Eles foram deitar, Bal dormiu e teve um sono pesado e tranqüilo. Arão acordou no meio da noite assustado. Tinha sonhado novamente com a invasão da cidade, a luta com a besta negra, o cavaleiro da luz e a morte da garota com símbolo da lua. Estava suando quando se levantou para tomar um pouco de água.

\"Preciso dormir, deixe de ser tonto, foi apenas um sonho.\"

Deitou e fechou os olhos, teve o resto da noite sem sonhos. O que ele não sabia é que naquela mesma noite outro garoto teve o mesmo sonho que ele.

O dia amanheceu nublado. Arão e Bal se encontraram com Cassi bem cedo. Os garotos estavam reunidos no jardim central para mais um dia de treinamento.

- Agora estamos tranqüilos. Foi mais uma noite sem incidentes. Disse Cassi exibindo um belo sorriso.

-Não houve morte alguma.

-Está vendo Arão e você preocupado com as cinco noites. Bal tocou o ombro de Arão. -Não vai mais haver catástrofe do segundo sinal e o resto do período da Lua de Sangue será tranqüilo.

As nuvens foram se abrindo.

-Olhem! Gritou Bal apontando para cima.

-Mas como isso é possível. Exclamou Cassi.

-O santuário estava sendo vigiado. Ninguém poderia passar pelos guardas. Não foi dado nenhum sinal de alarme.

Ainda era possível ver o sol e a lua juntos no céu, o astro brilhava com uma coloração avermelhada, nesse momento Damira apareceu correndo desesperada na direção onde Odrin e Teles conversavam.Caiu nos braçosdo irmão e começou a chorar.

-O que aconteceu? Perguntou Odrin preocupado.

-Ela... Ela...

Os soluços emitidos pela garota impediam que as palavras saíssem. Odrin a segurou pelos ombros.

-Acalme-se e me conte o que aconteceu.

-Jenya... Ela não resistiu e morreu esta noite.

-Agora sabemos por que ninguém deu alarme algum. Disse Arão.

O som de uma trombeta ecoou forte. Várias pessoas se movimentavam de um lado para outro. Milenus vinha a passadas largas, ao seu lado uma mulher o acompanhava. Eram seguidos por um homem que aparentava idade mais avançada, mas nem por isso diminuía seu ritmo. Pararam na frente dos jovens. Milenus tomou fôlego antes de falar.

-Sei que os acontecimentos recentes e a perda de mais uma vida causam muita dor. Só que não podemos ficar parados lamentando, simplesmente por que não temos como mudar o que já aconteceu.Precisamos continuar a nos aperfeiçoarmos e tomar medidas mais enérgicas para que o que aconteceu com Jenya não volte a se repetir. Não vou explicar tudo o que foi decidido pelo conselho esta manhã. Mas vamos precisar da colaboração de todos, temos que correr para proteger a cidade e o Santuário. Não questionem minhas ordens apenas às cumpram.

-Lissa, kitrina, Milena e Cassiana vocês acompanharão a sacerdotisa Evelyn na região das cavernas.

Kitrina segurou a mão de Cassi e deu um pequeno sorriso.

-Yalo, Irian e Balduíno, vocês acompanharão o mago Salum pelo labirinto. Odrin, Teles, Keyllor, Tiror, Lethan e Arão me seguirão ao templo Sagrado. Cada um de vocês pegue um bastão de energia, os outros dois grupos não precisarão.

Milenus entregou um bastão para cada jovem.

-Nosso objetivo é: acender as chamas dos três grandes pilares da cidade. Cada pilar representa um Deus. Evelyn e as sacerdotisas irão para o pilar de Khnum. Salum e seu grupo se dirigirão parao pilar de Neith. Por fim eu e meu grupo iremos para o de Nekhebet. Os pilares se encontrão em regiões distintas e quando suas chamas forem acesas formarão um plano místico sobre a cidade. Isto nos dará uma proteçãocontra o avanço das trevas nas Luas de Sangue. Foi assim no passado, será assim no presente. As chamas precisam ser acesas simultaneamente e antes do cair da noite. Se falharmos não teremos uma segunda chance. Cada grupo levará uma ampulheta, ao final do escorrer da areia é que os fogos dos pilares deverão ganhar vida. Nem um minuto a mais ou a menos.

-Mais um dia agitado!Cochichou Bal para Arão.

-Kitrina, Tiror e Yalo.Chamou Milenus.

-Peguem uma ampulheta cada e voltem para seus lugares.

-Milenus, não temos mais tempo. Disse Salum.

-A próxima noite não tardará a chegar, tenho medo de não retornemos a tempo.

-Vamos.Ordenou Milenus.

Cada grupo partiu em uma direção diferente.

As garotas seguiam Evelyn por um longo corredor. O chão foi se tornando mais áspero e irregular, com muitas ondulações e buracos.

-Garotas procurem ficar juntas. Falou Evelyn. -Estamos entrando na região das cavernas, é um local muito misterioso e teremos que passar por ele rapidamente. Não podemos nos deter por nada nem por ninguém.

Evelyn nem tinha terminado suas palavras quando uma névoa invadiu o local.

-Não consigo enxergar nada!Reclamou Milena.

Um ruído veio da frente, como se alguma coisa houvesse atingido alguém.

-Kitrina onde você está? Perguntou Cassi.

-Aqui.

Cassi não conseguia vê-la, mas pela intensidade do som parecia estar muito próxima.

-Precisamos ficar juntas. Gritou Cassi.

-Você precisa disso, não eu. A voz de Lissa também vinha de muito perto.

A névoa se dissipou lentamente, as quatro já conseguiam enxergar.

-Onde está Evelyn? Perguntou Milena.

Fizeram uma rápida busca no local, masnão obtiveram sucesso.

-Para onde poderá ter ido? Perguntou Cassi.

-Será que aconteceu alguma coisa com ela? MurmurouKitrina com certo temor.

-Não seja tola Kitrina. Criticou Lissa.

-Ela deve estar por aqui. Talvez tenha ido à frente para verificar se o caminho é seguro.

Apesar de que mesmo Lissa duvidava de sua ultima colocação.

-Precisamos encontrá-la. Mas por onde começar?Questionou Milena.

-Que tal começarmos por ali? Sugeriu Cassi.

Logo à frente o túnel ganhava um pouco de iluminação. O vento estava mais fresco e sua intensidade era maior.

-Esperem não podemos prosseguir. Disse Kitrina.

-E se ela ainda estiver dentro do túnel.

-Eu vou voltar. Milena parou subitamente. Precisamos achá-la.

-Não podemos! Cassi se interpôs entre elas. -Temos que seguir adiante. O tempo está correndo.

Disse apontando para ampulheta que estava presa a cintura de Kitrina.

-O que você está dizendo?

Lissa empurrou Cassi para o lado.

-Quer abandonar Evelyn?

-Não é isso. Ela não está dentro do túnel e se não obtivermos êxito em nossa missão, muitos poderão vir a sofrer.

-Como você sabe que ela não está? Desafiou Lissa.

-Você está com medo de voltar Celestina! Ou será que pra você tanto faz morrer mais alguém?

Lissa se referia à candidata Ingrid.

-Eu não sinto a presença dela. Indagou Cassi sem ligar para a provocação.

-Você não sente. Oras! Explodiu Lissa.

Elas sentiram um tremor repentino, o teto começou a desmoronar.

-Vai desabar! Corram! Ordenou Cassi.

As jovens agiram com velocidade e ao saíram do túnel, este já havia deixado de existir.

-Bem, parece que não temos opção. Disse Kitrina. -Teremos que seguir adiante.

-Satisfeita agora, celestina. As palavras de Lissa saíram com raiva.

-Evelyn, não! Resmungou Milena vendo o caminho bloqueado. Caiu de joelhos ao chão.

Cassi ajoelhou-se segurando os braços de Milena, estes estavam trêmulos. A garota celestina sentiu um grande vazio por dentro.

-Milena, me ouça. Cassi deu um chacoalhão para conseguir a atenção dela. -Eu sei o que você está sentindo, entretanto Evelyn não estava lá. Precisamos continuar.

-Sabe nada! Você nem imagina...

Milena se recompôs, as quatro estavam prontas para prosseguir. Mas ficaram estarrecidas por um momento e foi Kitrina quem quebrou o silêncio.

-Nós vamos ter que passar por aquilo ali?

À frente delas erguia-se uma ponte de uns duzentos metros de comprimento, formada por pequenas tábuas de madeira e sustentada por cordas. Ela dançava ao som do vento que soprava. Atrás da passarela ficava uma cachoeira que terminava depois de percorrer uma grande distância em grandes pedras pontiagudas. Uma queda daquela altura seria fatal.

-Pela aparência dessa ponte eu diria que ela é muito antiga. Disse Cassi. -Parece estar toda podre.

-Se está com medo pode ficar aqui mesmo celestina. Lissa avançou à frente.

Cassi foi acompanhá-la, mas Kitrina a pegou pelo braço. Ela pode ver o medo estampado no rosto da companheira.

-Cassi eu não vou passar por essa ponte.

-Acalme-se amiga, não vai acontecer nada conosco. Nós precisamos passar para o outro lado é o único caminho que temos para seguir.

-É melhor as duas pararem de reclamar.Milena apressava as ambas.

Lissa seguia a frente sem olhar para as companheiras. A segunda era Cassi que ia um pouco mais devagar. Apesar do medo Kitrina era a que se dava melhor, poucos eram os rangidos ouvidos de seus passos. Por fim vinha Milena quecaminhava com maior dificuldade de todas. Elas pisavam com cuidado para que as tábuas não quebrassem. O ranger da madeira a cada passo causava calafrios em cada uma delas. Muitas vezes quando o equilíbrio se perdia buscavam uma nas outras o apoio. A ponte continuava a balançar muito, as dificuldades aumentavam a cada metro avançado.

Cassi pisou em uma tábua que se estilhaçou com seu peso. Suas mãos se agarram com mais força as cordas, uma perna sua ficara suspensa no ar. Lissa olhou para trás, mas não esboçou nenhuma ação para ajudá-la. Foi Kitrina quem a socorreu levantando-a pelo braço.

O vento continuava a aumentar de intensidade, as cordas começavam a arrebentar, a ponte não sobreviveria por muito tempo. Outro estalo de madeira se rompendo, seguido de um grito agonizante. A tábua não suportara o peso de Milena, seu corpo estava suspenso no ar. Suasmãos seguravam ascordas com muita vitalidade, porém esta não duraria muito tempo. Kitrina tentou ajudá-la. Mas suas mãos escorregavam ao tentar puxar a Milena.

-Ela não vai agüentar muito. Gritou Kitrina.

-Precisamos erguê-la rápido.Cassi se dirigiu a Lissa.

As cordas da ponte continuavam a se romper. Uma das mãos de Milena escapou, A garota gritava desesperada com a possibilidade de cair sobre as pedras. Cassi deu um pulo ao lado de Kitrina e segurou-lhea mão.

\"Não vamos conseguir.\" Pensava Cassi. \"Não vou conseguir puxá-la.\".

O medo começava a invadi-la.

-Não fique aí parada, venha nos ajudar.

Ordenou Cassi a Lissa. A garota hesitou, parecia zangada ao receber ordens. Por fimsegurou Cassi e Kitrina pela cintura e puxou-as para trás.

Cassi sentiu uma força percorrer seu corpo, isso a ajudou a se livrar do medo e trazer Milena para cima. Ela ficou alivia. Cassi deixou Milena passar e seguiu por ultimo, ainda tinham que prosseguir até o final da ponte.

Elas estavam quase chegando quando as cordas do lado direito se partiram. A ponte ficou presa somente por um dos lados. Todas as garotas estavam se segurando nela, com seus corpos suspensos no ar.

-Mais rápido. Ordenou mais uma vez Cassi. -A outra corda não agüentará nosso peso por muito tempo.

Lissa, Kitrina e Milena conseguiram atravessar. Faltando poucos metros para Cassi chegar à corda se rompeu. Ela segurou a corda e veio num movimento brusco,se chocando contra a parede. Com o impacto ela se soltou por uns instantes caindo alguns metros abaixo, antes de se agarrar novamente à ponte. Ela segurava nas cordas e usava as tábuas como apoio para os pés, subia lentamente. A ponte estava preste a cair.

-Precisamos ajudá-la! Gritou Kitrina.

-Precisamos? Respondeu Lissa.

-Ela nem merecia estar entre nós. Que se vire sozinha.

Kitrina olhou para Milena, esta estava indecisa se ajudava ou não. Era como seprecisasse da permissão de Lissa para fazer qualquer coisa.

-Mas ela acabou de te ajudar. Implorou Kitrina.

-Ela não vai ajudar. Lissa respondeu por Milena.

Cassi prosseguia lutando para subir, as cordas continuavam a se romper. Kitrina ficou inconformada enquanto gritava por ajuda. Ela viu que não adiantaria ficar discutindo com as duas. Voltou-se para Cassi e tentava desesperadamente lhe estender a mão, faltava pouco para alcançá-la quando finalmentetodas as cordascederam. Num ultimo esforço ela conseguiu segurar a mão de Cassi. Com o que restava de suas forças puxou-a para cima. Kitrina levantou-se para tomar satisfações com Lissa, mas Cassi lhe deu um abraço antes.

-Esqueça. Disse ela.

-O importante é que estamos todas bem. Vamos continuar precisamos encontrar Evelyn.

Lissa deu as costas para Cassi avançando para longe da ponte, Milena apenas abaixou a cabeça e a seguiu. Ambas, porém, antes de partirem olharam para ampulheta presa à cintura de Kitrina... A areia escorria rápido...