Não havia quem não estivesse animado com o casamento do rei em todo reino e Shuri não era exceção. Apesar de ter torcido o nariz para os trajes cerimoniais e querer até mesmo modificá-lo para algo mais confortável, respirou fundo e decidiu fazer esse sacrificio por seu querido irmão. Pensando no que iria usar na cerimônia, teve a ideia de acrescentar algo ao figurino, a pulseira que tinha ganhado de Namor, era certo que usá-la passaria uma boa mensagem aos visitantes.

Antes que ela se ocupasse com mais alguma coisa, recebeu uma visita inesperada, justamente quem ela menos esperava ver.

—Vocês aqui? Achei que só os veria no dia do casamento - ela brincou com T'Challa e Nakia - é bom ver vocês, principalmente você, Nakia, meus parabéns e obrigada por aceitar se casar com meu irmão, finalmente.

—Está bem, eu mereço isso - Nakis admitiu - é que tudo parecia assustador, ser rainha, sabe? Mas agora mais do que nunca, sinto que Wakanda precisa de mim e eu quero estar com T'Challa mais do que tudo.
—Obrigado por isso, "meu amor" - o rei fez questão de dizer.

—E quem é esse garotinho lindo? - Shuri notou o menino os acompanhando.

—Bom, esse é o Toussaint, queríamos que você o conhecesse - T'Challa disse primeiro.

—Toussaint, essa é sua tia Shuri - Nakia se dirigiu a ele.

—O que? - Shuri se surpreendeu, entendendo tudo de uma vez - vocês... isso é muito bom...

—Nós achamos melhor privá-lo de qualquer pressão - o irmão dela explicou - mas agora que estamos mais resolvidos, me parece seguro que estejamos todos aqui, vou fazer meu melhor pra prepará-lo pro futuro, no momento certo.

—Entendo, bom, é um prazer te conhecer, Toussaint - Shuri ofereceu a mão para que ele batesse, e assim ele fez, dando uma risadinha fofa, que fez sua tia rir também.

—Legal te conhecer também - ele respondeu, dando outro sorriso.

—Gostei do seu nome, é muito bonito - ela elogiou.

—Na verdade, esse é o meu nome francês, em wakandano, meu nome é T'Challa, filho do rei T'Challa - ele respondeu com orgulho.

—Olha só, também gostei desse nome - ela ficou surpresa, mas contente, de alguma forma, a escolha fazia sentido

—Também gostei do seu - Toussaint fez questão de elogiar.

— A mamãe, ela... chegou a conhecê-lo? - Shuri imaginou no momento.

—Sim, houve tempo pra isso - Nakia assentiu, também lamentando a perda - nós nunca vamos esquecê-la, a presença dela vai estar sempre conosco.

—Eu sei - Shuri esboçou um sorriso agridoce, realmente se esforçando para superar a perda da mãe um dia após o outro.

Vendo os olhos de Toussaint curiosos pelo laboratório, sua tia lhe ofereceu um passeio pelo lugar, mostrando tudo que podia e mais histórias que se lembrava. O casal real confiou o filho à companhia de Shuri, enquanto voltavam sua atenção para o casamento.

Três dias depois, o dia do casamento chegou. Dessa vez, a princesa estava sozinha à espera da chegada da comitiva de Talokan. Sentia-se ansiosa, talvez por seu irmão estar se casando, talvez por ter que encarar o líder deles novamente. Apegou-se a ideia de que conseguiria lidar melhor com Namor agora do que antes.

Emergiram da água ele, seus leais guerreiros Namora e Attuma e mais uma meia dúzia como eles, armados com lanças, a pele azul se destacando sobre o sol, e os grandes elmos de escamas de peixe destacando sua silhueta.

—Sejam bem vindos a Wakanda - Shuri disse de imediatamente - espero que aproveitem seu tempo aqui, sigam-me por favor.Tentando quebrar as formalidades, Namor apertou o passo para acompanha=la, caminhando ao lado dela, com seus conterrâneos bem próximos a eles, atentos e, no momento, um tanto desconfiados de tudo.

—Suas guardas não vieram lhe escoltar dessa vez? - ele usou esse fato para iniciar uma conversa, mais por pura curiosidade, inicialmente.

—Elas estão ocupadas com a segurança do reino hoje - Shuri achou melhor dar essa resposta - e eu pedi pra vir sozinha, como um gesto de boa fé.

—Entendo, sua generosidade me impressiona - ele foi sincero - espero retribuir de alguma forma.

—Estar aqui já mostra que busca uma relação pacífica entre nossos reinos, isso é o bastante - ela compartilhou sua opinião sobre eles aceitarem o convite, mas se sentiu estranha com a última palavra que disse, não sentia que apenas uma conversa ou visita seriam garantias de uma paz duradoura, ou talvez, lá no fundo, ela quisesse uma amizade com Namor, não só entre os reinos.

Andando pela rua principal, ele notou os enfeites que caiam pelas janelas, cordões, fitas coloridas com estampas chamativas e os tecidos representam as cinco tribos que formavam Wakanda, sem contar com a alegria contagiante do povo, contentes por estarem celebrando a felicidade de seu rei, e uma nova era para seu país.

—Eu nunca vi nada parecido com esse lugar - Namor admitiu em voz alta - as outras terras, as construções parecem tão rígidas, tão isoladas uma das outras e aqui vocês parecem unidos, vocês são unidos.

—Concordo - Shuri se permitiu dar um sorriso de orgulho - eu confesso que tenho curiosidade quanto à vida na América em geral, mas nada comparado ao nosso lar, apesar de eu não me acostumar com certas coisas.

—Que certas coisas? Pode me dar um exemplo? - ele quis saber mais.

—Talvez as tradições, como eu estar usando esse traje aqui, cheio de estruturas e panos, quando eu preferira algo moderno e confortável - ela riu de si mesma, inspecionando o que vestia, era um vestido longo, de mangas igualmente longas, com armações intrincadas imitando figuras simétricas por todo o torso, que começavam no pescoço e terminavam na cintura.

—Tradições nos tornam quem somos, mas entendo seu apego ao moderno, acho que combina com sua personalidade - ele expressou claramente sua opinião sincera - ainda assim, está elegante com seus trajes.

O elogio a deixou um pouco surpresa, a fazendo se sentir desprevenida, sem uma reação prévia calculada. Estava acostumada a ser elogiada por sua inteligência ou até mesmo chamada atenção por sua sagacidade, quando se exibia sobre suas habilidades. Mas um elogio sobre sua aparência e também sobre sua personalidade, era algo que ela raramente escutava.

Como bom observador, ele percebeu o desconforto dela, o que o deixou intrigado. Esperava não ter ofendido a princesa, e imaginava que ela estivesse acostumada a elogios, já que realmente, ele sabia disso, era uma mulher de grandes atributos.

Engolindo em seco, buscando uma maneira de sair daquela situação, Shuri resolveu usar a menção às tradições ao seu favor.

—Obrigada - Shuri resolveu agradecer primeiro e depois prosseguiu = há algo que queira saber sobre nossa história que eu possa compartilhar?

—Eu sei um pouco, admito, mas não o bastante, sua tradição de guerreiros protetores por exemplo, Wakanda sempre teve o Pantera Negra? - foi a pergunta que Namor fez, procurando entender melhor como o manto funcionava.

—Nosso primeiro rei foi Bashenga, que uniu cinco tribos que eram inimigas, sob a proteção de Bast e surgimos a partir de então - ela deu de ombros, citando o que todo wakandano sabia desde que tinha nascido.

—Bast, sua deusa, correto? - ele quis confirmar.

—Sim - ela confirmou, assentindo.

—E essas tribos permanecem unidas? Imagino que elas tiveram opiniões diferentes ao longo do tempo - Namor deduziu.

—Você não está muito errado - ela admitiu, rindo outra vez - participar de reuniões com os anciãos que são líderes das tribos dá muito dor de cabeça, fico feliz que não tenha que passar por isso, e sim o meu irmão.

—Não é do seu desejo governar, então? - ele arriscou fazer uma pergunta pessoal.

—Não, não é - ela confessou, sentindo-se estranhamente confortável de repente - ter que ser Pantera Negra foi mais doloroso pra mim do que pensa...

—Seu papel nesse reino é servir de outra forma, entendo - ele refletiu - mas não pense que é menos importante por isso.

—Eu não penso - ela disse de prontidão, novamente orgulhosa - sei exatamente onde me encaixo.

Ouvi-la falar com tanta certeza provocou um nível maior de respeito por ela em Namor, o levando a admirá-la mais um pouco. Quando deram por si, haviam chegado ao palácio e ela mostrou o camarote onde ficariam, observando o casamento de uma boa vista. Shuri se despediu deles, se colocando no seu próprio lugar.

Havia um sentimento genuíno de satisfação nela, grata por ter lidado com toda situação de modo mais tranquilo.