Greycity- Elementis Magi

Tyler propõe um desafio


POV’S THALIA

Eram oito horas da manhã. Remexi-me na cama percebendo que o acastanhado já não estava mais lá, então senti-me livre para colocar um roupão, sem nem arrumar o cabelo ou passar uma água no rosto. Céus, há quanto tempo não como nada? Dirigi-me para a cozinha faminta, sentindo um delicioso cheiro de mel e deparei-me com Isaac.

— Senhor, que cabelo é esse? Estou preparando panquecas, seu pai chegou a uma hora e meia, quando ele acordar estará morrendo de fome, e já que você dorme pra caramba, me encarreguei de fazer. – murmurou o castanho jogando a panqueca para cima que acabou grudando no teto. Clássico.

— Você está acordado desde quando? Meu pai comentou alguma coisa... Argh, sobre o velório... Isaac não importa quando vai ser, eu não vou querer ir, eu não vou conseguir dar adeus novamente com a certeza de que jamais irei vê-la. Faça essas panquecas direito, homem! – murmurei coçando os olhos. — Sabe, ainda dói... Talvez mais do que ontem porque nós damos conta de tudo que aconteceu não é um simples pesadelo.

— Nós não iremos, o enterro é meio-dia e nessa hora teremos compromisso. Hoje nosso destino é o PARQUE DE DIVERSÕES!– murmurou sorrindo e colocando o prato em minha frente.

— Nem pensar! Eu num parque de diversão rindo enquanto minha melhor amiga é enterrada? Céus, Isaac. O quê passa pela sua cabeça? – disse mordiscando a panqueca, tirando pedacinhos com os dedos.

— Ela iria querer te ver sorrindo, não chorando. Nós vamos e pronto, nem que eu arraste-lhe. O quê passa na sua cabeça, sua mal-educada, coma com o garfo. – murmurou balançando a cabeça negativamente.

Decidi não argumentar. Eu precisava tirar Lizabel da minha cabeça antes que eu perdesse o controle. Tomei um banho rápido e coloquei um vestido branco com bolinhas negras, junto de uma sapatilha. Deixei meu cabelo solto, passei um pouco de blush para disfarçar minha palidez e rímel, então anotei um recado para meu pai avisando que iria sair. Isaac que estava dando um último retoque em suas panquecas, colocou sua jaqueta e ao sair, subimos na moto e esperamos a viagem longa acabar. Talvez eu deveria aproveitar este tempo com Isaac o quanto pudesse. Acabei pensando na viagem que precisava de ajuda para derrotar o clã e sabia bem como conseguir: pediria ajuda ao casal problema.

Enfim chegamos ao parque de diversões, pedimos duas entradas que o castanho acabou pagando e assim vendo aquilo, senti uma nostalgia gostosa. No carrinho de bate-bate, Liz e eu combinamos de encurralar Chris, o que foi maldoso... Mas muito engraçado. Na montanha-russa, prometemos que quando crescêssemos, iriamos lá e veríamos a cidade iluminada... Mas ela partiu. Isaac me puxou pela mão me levando ao tiro ao alvo. Pedimos três fichas, na primeira vez a flecha acabou pairando ao chão; na segunda quase acertei o dono da barraca e ganhei um medalhão de consolação e na terceira, o castanho jogou e acabou acertando, me dando um coelho branco com orelhas pomposas de cor salmão. Em seguida fomos na seguinte ordem: Carrossel, splash e carrinho de bate-bate. Entreguei o medalhão que havia ganhado para o castanho. Na hora da montanha-russa acabei tendo um mal súbito. Na roda-gigante, senti-me a vontade, mais próxima de Liz, como se escrevesse o nome dela no céu, como se voasse a muitos pés do chão; então o acastanhado me interrompeu.

— Se eu te contar uma coisa... Você não vai me jogar daqui de cima? Digamos que é bem sério e que você não irá me perdoar tão cedo. Mas eu não posso mais mentir... Pessoas estão morrendo por causa dessas mentiras e percebo isto agora. Eu não sou quem você acha que sou, Thalia. – murmurou mordendo o lábio.

— Você está me assustando! Conte logo. Não pode ser algo tão sério que eu não te perdoaria... Você sabe o quão importante é para mim, ainda mais nesses tempos difíceis. – abracei o meu coelho temendo a resposta do outro.

— Thalia eu sei o que você é. Só que eu sou o mesmo que você, porém dez vezes pior. Você é um mago elementar e eu, um manipulador. Eu sou o fruto proibido de um mago branco com um mago negro. Minha mãe não foi atropelada, ela tem uma maldição que a impede de ser uma pessoa normal e meu pai é perseguido pelo clã dos magos negros há anos por tê-los abandonado. A seita sabe quem sou e eu trabalho para eles, pois prometeram-me quando tudo isso acabar, ajudarão minha mãe a voltar ao normal. Eles mandaram-me para cá, verificar se a filha do grande Edmund era uma luminosa só que eu cometi um grande erro: apaixonei-me por ela. Eles ligam-me todo dia, pressionando-me a contar algo e eu sempre nego, mas eles perceberam que algo estava errado então disse-lhes que Lizabel era uma luminosa. Então, se for para culpar alguém sobre a morte dela, culpe a mim. Não vou pedir que perdoe-me porque sei que não vai. Só que eles chegaram a Greycity, Thalia. Você tem que fugir! Prefiro que viva longe de mim do que morra ao meu lado. Então quando descermos dessa roda-gigante, você sairá de Greycity, e eu, encontrarei-os. Só não... esqueça de mim.

— Todos mentem para mim. Talvez eu confie demais nas pessoas, eu não conheço-nas suficiente para confiar nelas. Afinal, quem é você? É como se fosse um estranho. Eu não quero fugir! Por que ao invés de juntar-se a seita e matar vários inocentes você não os confrontou? Medo... Sente medo. Mas eu ainda acredito nos atos de bravura. E mesmo que morra em batalha, salvarei todos os jovens que não tem culpa por controlar mais de um elemento ou aqueles que só por serem adolescentes tens de se matar enquanto a platéia aplaude e trocam kunys por uma morte, adolescentes igual a você, igual a sua mãe foi um dia. Ela não teve medo de viver seu verdadeiro amor e mesmo estando nesse estado, ela ainda está com ele.

— E eu não vou ter medo de sacrificar-me por você. Só de te dar esta informação já estou sendo corajoso, Thalia. Imagina ter de me juntar TEMPORARIAMENTE aos magos negros só para salvá-la... Parte da culpa é sua por ser tão irresistível. Eu poderia seguir meu plano normalmente... Mas não me arrependo de cada segundo que passei contigo. A roda gigante está parando... É melhor você correr.

— Se você se juntar aos magos negros, mesmo que temporariamente... Considere-se morto para mim. Você ainda pode manter sua honra! O clã dos magos negros querem derrotar a seita para tornarem-se líderes do mundo! Se você quer me ajudar, tente descobrir o dia da convenção. E eu estou indo. Isso é um adeus. – murmurei limpando a lágrima que insistia em descer, então corri para a moto, pousei meu coelhinho nela e corri para o táxi, dando sinal. Então ele abriu a porta e não aguentei, voltei para pegar a pelúcia e enfim subi no carro. Percebi o taxista olhando para mim pelo retrovisor. Pedi para me levar para a meu bairro.

— Desapega pequena. Certas pessoas é melhor nem lembrarmos, já que estas arruínam nosso coração. Ache um outro amor. Perdi minha mulher há seis anos para meu primo, sei do que estou falando. – murmurou o grisalho.

— O amor deixou de desistir há anos. O amor envolve se jogar, e as pessoas de hoje tem muito medo. Elas mentem, elas te traem, e ainda querem ser perdoadas. É o fim do mundo, pessoas inocentes morrendo, o amor morto, a felicidade acabando... – murmurei lembrando-me de Lizabel, que morrera por culpa parcialmente minha: eu deveria estar morta.

— Não é porque você desacredita no amor que ele deixou de existir. Ele existe, vemos isto nos pequenos gestos, sabe? No marido que segura a mão da mulher, dos adolescentes que se pegam no banco, nos idosos que vão juntos a um baile... Esse banco de trás tem muita história. Até pedidos de casamento. Então é nele que vejo grandes romances, não de novela... É por isto que não desacredito. Enquanto houver pessoas boas, o amor vai existir. Ele machuca, mas tem que se persistir. – avisou enquanto dirigia tranquilamente.

Após algum tempo, chegamos na frente da casa de Chris. Paguei alguns dólares e entrei na casa do louro, sua mãe fazia contas e me avisou que este havia ido no restaurante japonês do quarteirão e que também murmurou “pêsames” para mim. Mas espera aí! Não há nenhum restaurante japonês no quarteirão... Pobre Lola, trabalha tanto em casa que mal vê a luz do sol. Fui procurar Chris nas lanchonetes e após isto nos bares do bairro. No bar da região, acabei sendo encurralada por motoqueiros que fediam a álcool. Chris viu-me e mandou eles saírem da minha frente. Fiz uma carranca para ele e segui-o até sua mesa.

— Antes que me dê alguma bronca, é só por hoje... Só porque estou bebendo estou viciado. Eu amava-a. Eu disse a ela, com voz rouca e lábios trêmulos “eu não vivo sem você” mas então ela riu e disse para parar de brincar. Meu coração está tão vazio, minha mente turbinada de coisas e minha alma mantem-se fria. Eu poderia ter impedido... Tem uma pílula que ajude a esquecer?

— Está difícil para todos nós. Mesmo que houvesse uma pílula, acho que não iria querer tomá-la... Esquecer de todos os momentos bons, de seu rosto? Eu acho que não. Espero que daqui a trinta anos ainda me lembre de seu sorriso sincero. Briguei com Isaac. Acho que também preciso de uma dessa, garçom. – murmurei apontando para o copo de uísque que estava na mão do rapaz. Chris balançou a cabeça negativamente mas mesmo assim, beberiquei o copo, fazendo uma carranca. O gosto era amargo e descia áspero. Pedi mais um. Então observei novas pessoas a chegar: o maior, com seu topete castanho e olhos azuis atentos, forte e decidido:Tyler. Chris pendeu a cabeça para ver e acabou cochilando ali mesmo de cansaço. Andei até o castanho.

—Precisava mesmo falar com você. Ok, eu preciso de ajuda. Eu quero matar Thomas, o líder do clã dos magos negros. – murmurei olhando para baixo, evitando o olhar penetrante do outro que soltou uma risada alta.

— Tenho cara de quem faz caridade? Já estou te ajudando demais só pelo fato de te treinar. Eu poderia acabar com você e aquela velha bêbada em milésimo de segundos. Mas estou aqui, tentando colocar na sua cabeça quem é o lado melhor. Só estou esperando Thalia, a sua decisão. A seita e o clã estão numa balança, você é a única que pode mudar esse resultado e escolher o vencedor. Então eu entraria no campeão, afinal não nasci para ser um perdedor.

Preparei-me para gritar. Como um ser poderia ser tão irritante? Eu odiava-o com tanta força que Tyler já poderia ser considerado meu nêmesis, se não fosse pelo fato de eu precisar tanto da ajuda do inimigo. Ouvi este falando para me controlar e só então, percebi que havia uma chama dançando em meu indicador, igual a do primeiro dia de aula que acabava me queimando... Uma chama que não era minha... Uma chama manipulada. Isaac. Ele não era um stalker, ele estava fazendo aquilo de propósito e ele estava ali. Senti-me ser puxada pelo ombro.

— Você não deveria estar aqui... Um bar cheio de homens não é o melhor lugar. Você deveria estar longe de Greycity. E muito menos pedindo ajuda a ele. É errado, é... Você não está fazendo isto, né? Não acredito que está implorando ajuda ao inimigo! Argh, não vim aqui para falar dessa criatura. Vim para dizer que a convenção acontecerá no começo do mês que vem, o que lhe dá poucos dias para tentar algo, seria uma semana e meia... – murmurou olhando para baixo.

— Você está errado, não pode me dizer o que devo ou não devo. Está me superestimando? Ah não mesmo... Eu sou uma pessoa livre! Se eu quiser bater nele, eu bato, se eu quiser beijá-lo, eu beijo e se eu quiser pedir ajuda, eu também posso! Uma semana e meia está ótimo, dá tempo para matar Thomas e convencer a seita. – brandei entortando a boca

— Você não bateria nele porque é delicada, e não beijaria-o porque ainda gosta de mim. Mesmo que não queira. Eu posso te ajudar em convencer a seita, mas matar alguém não é para mim... – murmurou arqueando a sobrancelha.

— Você me superestimou demais. Delicada é teu rabo! Não preciso da tua ajuda, que engraçado não poder matar alguém, você praticamente matou Lizabel! Você está certo em pensar que Thomas me matará, mas levarei-o junto! E quer saber? Vá se ferrar! - disse nervosa e num momento de raiva, acabei por puxar Tyler e selei nossos lábios. Era estranho tocar outros lábios que não fossem o de Isaac, e também eram formas diferentes. Num beijo com Toby, não havia choque, carinho ou ritmo; era só pegada e calor, tanto que mal havia espaço entre nós dois. Separei-me olhando para o castanho que olhava tristemente para baixo, acabei por sentir-me culpada, mas isto não era nada perto do que ele me fez passar.

— Você sempre achou fofo ter ciúmes... Espero que tenha sido excruciante em você tanto quando foi em mim quando você disse que a culpa de Liz ter morrido era parcialmente sua! É melhor você ir embora. – murmurei jogando o anel que ele havia me dado em seu bolso.

— Era bonitinho até eu sentir. Espero que seja feliz, Thalia. E não importa, não importa o que seja, estarei te protegendo. Posso ficar com o medalhão que você me deu quando estávamos no parque? – perguntou e eu assenti com a cabeça, era só um prêmio de consolação mesmo. Senti meus olhos marejarem quando ele colocou no bolso da camisa e virar-se para ir embora. Tyler batia palmas animadamente atrás.

— Isso realmente é tão clichê. Quantos capítulos de novela dou para vocês voltarem? Vontade de vomitar...Mas só por ter me deixado provar vamos fazer um desafio. Eu, pessoalmente, acho que você não seria capaz de matar uma mosca. Mas na convenção, caso VOCÊ, não o seu namoradinho ou um de seu grupo de heróis, matar uma, uma pessoa da seita... Eu entro nessa briga. Estarei lá, observando, convencerei Miriã a isto. Tem treino amanhã, não faça-nos lhe acordar. Até amanhã, protagonista.

Sorri com tal desafio. Não me importaria de matar alguém se isto salvasse milhares de vidas. Olhei Chris ainda adormecido e sai do bar, correndo por entre os carros, até encontrar um ônibus no qual acabei entrando. Chegamos no aeroporto do estado e tentei descer sem chamar a atenção, mas também observei um rapaz, de manto vermelho com bordagens douradas e tive uma súbita sensação de que conhecia-o. Aproximei-me para ver seu rosto e choquei-me com sua aparência: barba por fazer, olhos negros e expressivos, rugas e marcas no côncavo: meu pai. Sai correndo dali até chegar em outro painel. Mostrava-me o próximo voo para a Inglaterra, onde a sede dos magos negros estava. Mas me ocorreu que eles não estavam lá... E sim nos Estados Unidos. E onde mais, onde magos que desejam o poder se esconderiam, o centro de tudo? Washington. Sorri por ser tão tonta ao não pensar nisto, mas então senti mãos fortes e calejadas me segurando, olhei seu indicador e vi o anel da seita. Eles haviam me encontrado? Senti minha cabeça latejar e então, desmaiei.

Acabei de acordar em um local escuro e íngreme. Vejo á minha esquerda um homem velho de grandes olhos azuis e barba de papai noel, junto a um moreno de fortes olheiras e sorriso de canto nada aconchegante. Á minha direita, está papai e um homem afrodescendente com uma tatuagem no rosto. Todos eles usavam mantas vermelhas, menos o velho que usava uma negra de seda, tão escura que quase impedia-me de ver seu rosto. Li em seus crachás todos seus nomes, eram respectivamente: Joseph, Logan, Edmund e Lourenço. Logan não parava de rir e papai me olhava preocupado.

— O quê você estava fazendo no aeroporto? Qual é seu destino? Queria fugir de nós... – adiantou-se o moreno jovem.

— Fugir de vocês, até parece. Me garanto, queridos. O meu destino era Inglaterra mas por fim, acabei desistindo. Estou fugindo da minha vida, fofo. Minha melhor amiga morreu, terminei com meu namorado... Morrer seria aceitável para mim. – murmurei tentando não demonstrar medo.

— Você não pode sair do país antes da convenção... Deveria saber disto, ainda mais quando se é filha do grande Edmund. E não me chame de fofo! – rosnou o outro. — Iremos colocar esse rastreador em você, por via das dúvidas. Aliás, só escapou de sua morte por ser filha de Ed, mas se ocorrer novamente...

Eu estava preparada para gritar mas então um rastreador surgiu em meus braços, sem nem precisar colocá-lo. Eu estava prestes a meter um chute na cara de Logan quando papai me puxou pelo braço e conduziu-me a saída.

— EU QUERO UMA EXPLICAÇÃO, QUERO AGORA! Seu, seu... traidor! É por isso que passa tanto tempo fora de casa, não é? VOCÊ ACHA QUE MAMÃE SE ORGULHARIA DE VOCÊ? As pessoas são um lixo mesmo, não se dá para confiar nem na sua família, então EM QUEM confiarei?

—Agora me escute, vou te contar tudo. Absolutamente tudo. Mas saiba que não sou membro da seita, é só por esse ano. E escute também, eles não sabem que você é uma luminosa, por enquanto. O seu rastreador, não este que eles colocaram, o que você nasceu com ele na mente... Deu um sinal inconclusivo. Você tem de manter-se longe deles, antes que eles façam testes e descubra a verdade. Acredite, lhe darei todas as informações para que você possa derrotar os magos negros quando chegarmos em casa, mas não pode derrotar a seita... Porque eles fazem parte do equilíbrio natural. Não viveríamos sem eles.

FIM POV'S THALIA