–Eduardo, me solta!- Ela berrava enquanto a puxava pelo braço em direção ao corredor que antecedia os banheiros

Eu a pressionei contra a parede, de modo que a impedisse de fugir e, assim que larguei seus pulsos e vi as marcas vermelhas, percebi que eu havia agarrado-a com mais força do que planejava. Mas a raiva ainda estava ali.

–Como assim você me traz em uma boate, me larga sozinho e vai se comer com um cara que acabou de conhecer? O que você pensa que eu sou? Um brinquedo, porra?

Meu corpo tremia de raiva e de um certo medo da resposta que viria a seguir. Mas ela apenas decidiu permanecer calada, fitando o chão como se ele fosse um imã que atraia sua atenção. Retomei:

–E eu ainda achava que... –dei função à meus pulmões- Me restam apenas alguns dias... Eu só achava que finalmente estava conseguindo te entender...

Nesse momento um homem de azul parou do nosso lado, e nos encarava. Logo percebi quem era, e uma vontade ardente de acabar com a raça daquele filho da puta cresceu dentro de mim. Apertei a parede com mais força e me contive, quando ele disse:

–Então Ni, que tal sair daí e vir se divertir um pouco? Tenho certeza de que sei divertir uma mulher muito melhor do que esse mauricinho aí. –Ele sorria de uma forma maliciosa, e não segurei o soco que lhe atingiu o barriga.

–Desgraçado, vai embora daqui! –berrei

Ele se levantou e revidou meu ataque, me dando um chute nas piores partes. Me curvei de dor no chão, quando vi que ele tentava puxar Nix pela cintura, enquanto ela praticamente gritava, tentando se soltar:

–Sai daqui! Nos deixe em paz, seu desgraçado!

Eu já me levantava, ainda com uma certa dor. Peguei-a pela mão e a virei, até que estivesse olhando diretamente para mim, e disse:

–Estou voltando pra minha casa, me desculpe o incômodo esse tempo todo.

Não conseguia mais encarar seus olhos quando a deixei ali, sem mais explicações. A decisão de voltar para o meu minúsculo apartamento se deu tão repentina e automaticamente que eu nem sequer calculei as consequências. Eu não conseguiria mais vê-la sabendo que eu não significava nada além de um hóspede intruso. Eu... Me importava com ela. E isso era o máximo que já admitira pra mim mesmo.

Andei até a porta da boate. Tinha pensado em pegar um táxi, mas a ideia de ir embora andando, com mais à minha volta para me preocupar do que alguma faísca que gritava por Nix dentro de mim, me pareceu mais empolgante.

Olhei para trás, com alguma esperança boba de vê-la ali, me impedindo. Em vão. E fui embora. As folhas de outono caíam à minha volta, e eu conseguia ver uma árvore dessas dentro de mim. Desmoronando aos poucos... Já estava na esquina, e a cada passo que eu dava, sentia como se parte de mim estivesse ficando cada vez mais para trás.

–Eduardo!

Olhei, e tentei conter uma certa felicidade ao ver Nix se aproximando. Quando ela parou na minha frente e pegou minhas mãos, me senti como se estivesse voltando para casa. E neste exato momento, me sinto um gay por ter admitido tudo isso.

–Você ainda vai embora? – Ela disse, brincando com as próprias mãos

–Só se você não me pedir pra ficar.

Ela agora me encarava.

–Fica, por favor...

–E por que eu deveria? – Tentei reprimir um sorriso

–Essa parte não estava no acordo. –sorriu

Suspirei

–Você promete não levar mais nenhum idiota pra sua casa?

Nix abaixou o olhar, e me conduziu pela mão até o carro, em silêncio. Sussurrando para si mesma, antes de entrar:

–Existem certas coisas que não podemos prometer.

A viagem foi silenciosa, parecendo mais longa do que a vinda. Assim que paramos na garagem, eu me apressei para ajudá-la a sair do carro. Entramos. Ela me seguiu até meu quarto em um silêncio profundo, como se algo ainda precisasse ser dito. Entrei e olhei para ela, fazendo-a notar que eu havia percebido sua presença.

–Nix... Eu não quero que isso aconteça de novo.

Ela levantou o olhar para o meu e me abraçou. Aquilo me pegou tão de surpresa que demorei a entender que era real. Assim que a ficha finalmente caiu, retribuí o gesto.

–Me desculpe...

Meus braços ainda estavam em seu corpo quando ela me soltou para olhar em meus olhos. Havia uma chama dentro de mim, que crescera a fim de se tornar praticamente um incêndio, e que eu deveria escolher entre deixar queimar, ou tentar contê-lo. Até aquele momento eu escolhera a segunda opção. Meus olhos voavam compulsivamente para seus lábios, e percebi que os dela provavam da mesma sensação. Eu queria beijá-la, queria muito. Meus pensamentos se limitavam à isso. Nix parecia a garota perfeita: corpo maravilhoso, uma beleza incomparável, desejada por todos os homens. Não deixei de reparar nesses detalhes exteriores uma vez sequer, mas ela era muito mais do que isso. “Não queria, não podia”, é o que repetia para mim mesmo todas as noites. Fui para a casa dela a fim de tirar o maior proveito possível da situação, mas planos mudam. E com o meu, não havia sido diferente.

Movi meus braços para sua cintura, segurando-a com força, e me inclinei para tocar seus lábios com os meus. Não havia parado para pensar o quanto ansiava por isso, mais do que tudo. Meus lábios quase roçavam os seus, quando ela me deu um simples beijo no rosto, sussurrando em minha orelha de uma forma que me causou arrepios:

–Eu nunca quebro uma promessa, Eduardo. Espero que me perdoe...

E se esquivando de meu abraço com facilidade, entrou no próprio quarto.

Fechei a porta com uma força mais que desnecessária.

–Mas que merda!