POV Rachel

Eu permaneci imóvel, sentindo minhas pernas tremerem cada vez mais. Estava ainda negando para mim mesma que aquilo não estava acontecendo. Senti um buraco embaixo dos meus pés.

Minha mãe olhou para Garfield e eu senti um gelo na espinha.

— Minha filha, esse é seu vizinho?

Ai. Meu. Deus.

— Pois é, ele...

— Na verdade, moramos juntos. - O linguarudo foi falar.

Meus pais e os pais dele fizeram uma careta.

— Como assim? - Soaram todos, para meu desespero.

Mas o Garfield parecia bem tranquilo em relação a isso.

— Sofremos um golpe e tivemos que morar juntos. - Explicou Garfield, pacientemente.

Respirei aliviada. Era bom falar a verdade. Mas estava com medo do que meus pais falariam.

— Não tinha outro jeito, tinham que morar juntos? - A mãe dele parecia desesperada, bem como minha mãe.

— Eu precisava sair de casa, ela também... Então, fizemos um acordo. E sofremos um golpe, precisamos nos unir contra aquela cretina. - Garfield riu, tentando diminuir a tensão que pairava no ar.

— Então, era com ele que você está morando? Não era com uma garota? - Minha mãe estava praticamente gritando e meu rosto está ficando quente.

— Calma, mãe. Eu ia explicar. Eu sabia que você não ia aceitar...

— Mas claro que não! Como uma garota e um garoto podem morar juntos? - Continuou ela, me deixando pior.

— A menos, claro, que namorassem. - Meu pai disse eu arregalei os olhos.

— Ah, vocês se dão bem assim? - Perguntou a mãe do Garfield.

Eu nem tive tempo de falar nada. Garfield segurou meu ombro e me trouxe para mais perto dele, abrindo um sorriso.

— Pois é, nós namoramos. Gosto muito dessa marrenta aqui.

Aí eu pensei: "Quê? Isso é sério?"

— Verdade, filha? - Perguntaram meus pais.

— Nem nos contou nada, filho! - Disseram os pais do Garfield.

Eu forcei um sorriso, mas muito forçado mesmo.

— P-pois é...

— Mesmo assim, não sei se é seguro deixar minha filha com um homem...

— Nosso Garfield é de confiança, senhora. Fica tranquila. - Falou a mãe do Garfield.

Isso parece um pesadelo. Por que isso mesmo está acontecendo? Fiz alguma coisa para isso acontecer?

— Estamos de olho, afinal, ele é homem. - Meu pai estava com aquele jeito protetor de sempre.

— Eu cuidarei da sua filha, não se preocupem. - Garfield bancou o cavalheiro na frente dos meus pais, beijando minha mão.

— Ele parece um bom garoto. - Ouvi minha mãe falar pro meu pai.

— Ele também sofreu o golpe, não seria justo com ele. - Esse foi meu pai falando.

— Por favor, Gar, não faça nenhuma besteira. Você saiu de casa para amadurecer, ouviu? - A mãe do Garfield disse.

— Sei disso, mãe. Vou amadurecer. Vou cuidar da casa e da Quel.

Revirei os olhos. Nem queria reclamar do apelido idiota.

POV Garfield

É, é... Às vezes é preciso fazer sacrifícios, né? Foi o que eu fiz. Quis convencer os pais da Quel que eu tenho capacidade de morar com ela. Temos direitos iguais, afinal ambos sofremos o golpe. E eu não vou fazer nada com ela, não sinto atração por ela, não gosto dela, não suporto ela nem nada. Vou pensar nela como uma irmã mais velha chata e ranzinza.

— Confiamos em você, filhão. - Meu pai bateu de leve nas minhas costas.

— Pode deixar, paizão. Sentirei saudades. - Falei, triste por ter que me despedir.

— Por favor, garoto. Cuide da nossa Rachel. Ela pode parecer casca grossa por fora, mas é frágil por dentro. Não deixe que nada de ruim aconteça à ela. É nosso tesouro.

— Eu prometo, sr. Roth. Ela está em boas mãos comigo. - Eu sorri.

Esse desafio pode ser bom. Ganho o respeito dos pais dela e aí eu vou lá e viro adulto, cuidando dela e tudo mais. Nunca fiz isso por ninguém, muito menos uma garota. Mas já que prometi, terei que cumprir.

E da onde que essa Rachel é frágil? Ela é tão dura quanto pedra. Aposto que tem gelo no coração dela.

Após os meus pais saírem e os dela também, estávamos mais uma vez sozinhos. Como inquilinos. Na mesma casa. Não suportando um ao outro.

— Eu te mato quando isso acabar, Logan. - Ela me fitou, furiosa.

— Qual é, quando isso acabar, você vai estar me amando. - Brinquei, sorrindo para ela.

— Nem em sonho! - Ela cruzou os braços, revirando os olhos.

Comecei a fitá-la, pensando se ela era mesmo frágil como o pai dela havia dito. Eu queria descobrir se era verdade. Já imaginou se eu descubro um lado frágil nessa criatura?

— Bom, pelo menos está tudo resolvido.

— Fale por você.

— Ué, o que foi agora? - Indaguei.

— Você falou que estamos namorando, esqueceu?

— Ué, vamos ter que fingir que namoramos se quisermos morar juntos sem suspeitas.

— Suspeitas? Sofremos um golpe e nada mais. - Ela rebateu.

— Mas sabe como são as pessoas. Vão começar a falar da gente pelas costas. Melhor que anunciemos que estamos namorando para não falarem nada.

— Eu não quero namorar com você! - Disparou ela.

— E você acha que eu quero? - Mostrei a língua. - Eu gosto de ter várias gatinhas. Já imaginou se souberem que eu "namoro"? Ninguém mais chega perto! E ainda mais, namorando com você?

— É a mesma coisa, deve ser repugnante namorar um cara assim que nem você. - Disse ela, revirando os olhos.

— Seus pais me deram um voto de confiança. Vou mostrar que sei me comportar como adulto, pois odeio que duvidem de mim! Vou provar que posso ser um bom namorado!

Eu acho que foi impressão mas naquela hora, o rosto dela ficou corado. Ela até que ficou bonita sem jeito e eu também corei.

— Mas você mesmo disse que não gosta de namorar.

— Mas eu fiz uma promessa. Não quero desapontar alguém e quebrar uma promessa.

— Você está certo. Para isso, você é muito adulto. - Ela admitiu.

Senti o sorriso se formando em meus lábios em contentamento. Eu estava sendo elogiado e isso dava uma sensação ótima, ainda mais para o meu ego. Ainda mais que ela é uma garota que eu não gosto muito. Mas ainda assim, é uma garota. Afinal, mesmo marrenta, ela deu o braço a torcer!

— Obrigado. - Dei um sorriso costumeiro. - Vamos entrar agora.

— Vamos. Mas só vamos fingir namorar fora de casa. Dentro de casa, é como cão e gato. Nós não nos suportamos e você não vai tocar em mim!

Senti meu sorriso sumir.

— Claro...

Eu não gosto de fingir. Eu nunca namorei nem que fosse de mentira. Não sei como é. Mas já vi experiências de amigos. Talvez fosse legal ter uma pessoa especial só para nós. Cuidá-la, amá-la, protegê-la, ajudá-la... E talvez esse negócio de ter muitas meninas possa me prejudicar... Se eu quiser crescer, preciso parar com isso.

Na hora em que ela disse para fingirmos só fora de casa, eu me afastei um pouco dela. Só percebi isso quando já estava dentro de casa.