Good Morning Call - BBRAE

Meu Passado Me Condena


POV Rachel

Parece que ultimamente só ando fingindo. Não consigo ser eu mesma. Por que isso? Já nem sei mais o que sinto e nem sei mais quem eu sou. Detesto fingir, mas preciso quebrar esse galho pro Garfield... eu acho.

A Tara acabou de entrar no mesmo restaurante que nós. Isso até parece perseguição (acho que é mesmo). Agora, preciso provocar a loira até não poder mais. Não vou mentir, isso é divertido.

Continuei comendo meu sushi com uma mão e com a outra, segurava a mão do Garfield. Era meio estranho, mas mesmo assim, não soltei. Era como se eu quisesse ficar um pouco com as mãos dadas com alguém e não me sentia tão solitária.

Garfield estava comendo, mas estava observando-a. De certa forma, me incomodou. Ele estava ignorando minha presença e se incomodando com alguém que era apenas um fardo na vida dele que há muito tempo ficou para trás.

— Deixa ela para lá. - Finalmente falei, bebendo um pouco do meu chá preto.

— Ciúme? - Ele sorriu, me deixando um pouco sem graça.

— Não. Apenas deixa ela pra lá. Você não odeia tanto ela?

— É, ela estragou minha vida. - Ele suspirou, triste. - Vou te contar tudo.

Eu estava com um pouco de medo, mas estava curiosa para saber o que viria a seguir.

A medida que ele ia falando, eu ia ficando com mais raiva daquela loira que sabia desde o início não era flor que se cheirasse. Eu sentia pela aura dela. Como ela pôde ter brincado dessa forma com o Garfield? Agora que sei de tudo, fiquei com pena dele.

Vi dentro dos olhos dele que ele ainda estava machucado com isso. Imagino a bronca que os pais devem ter dado nele, o quanto ele não sofreu de raiva e decepção. Fiquei com vontade de abraçá-lo para confortá-lo, apesar de não ser muito do tipo de pessoa que abraça muito.

Francamente, traição como essa dói.

— Agora, está tudo bem, certo? Seus pais não temem que isso aconteça de novo?

— Agora está tranquilo. Eles só não querem que a Tara me engane de novo. Nem ela nem outra garota. Por isso, tenho medo de me apegar... Não quero ser enganado de novo. Dói demais...

Suspirei em silêncio. Não queria que ele sofresse novamente.

— Vai ficar tudo bem. É só ficar de olho vivo. - Eu disse, tentando confortá-lo. - Nem todas as mulheres são iguais.

Ele olhou bem para o meu rosto, por um período de tempo, o que me deixou ligeiramente envergonhada, já que ele ainda segurava minha mão.

— Tem razão. Há suas exceções. - Respondeu ele, ainda me olhando.

Será que está falando de mim?

Confesso que não parecia com nenhuma garota que conheço, mas se ele falar isso de mim, eu acho que ficaria estranho. Não preciso ter vergonha dele, então, por que eu estou tão sem jeito? Resolvi quebrar o gelo.

— Obrigada por me contar sua história.

— Obrigado por me ouvir. Desabafar me fez bem. - Ele disse, abrindo um sorriso meio triste.

Sorri de volta. Essa foi uma das poucas vezes que ele não me irritou e foi a primeira vez que senti pena dele.

Continuamos comendo em silêncio, ainda com uma mão sobre a outra. Eu queria muito tirar minha mão dali, mas outra parte de mim queria deixá-la quietinha ali, repousando por cima da mão de Garfield, que estava quentinha.

POV Garfield

Essa sensação que estou sentindo agora está ótima. Eu desabafei, fiquei triste, mas estou bem melhor. Não sei porquê, mas sinto que na Rachel posso confiar. Ela não tem cara de ser uma garota fofoqueira. Aliás, ela parece não ligar para nada. Quer dizer, quase nada... Mas ela me ouviu, se interessou. Eu gostei disso. Por isso, contei.

Ainda tenho raiva da Tara pelo que ela fez, mas preciso passar uma borracha nisso. Eu devo pensar seriamente em parar de ser pegador e também de ter medo de me apegar. Um dia, mais cedo ou mais tarde vou me apaixonar, vou namorar, quem sabe casar e ter filhos...

Porém, não sei se estou preparado...

Estou treinando com a Rachel e essa tal "promessa" que fiz com os pais dela, sobre cuidar dela, sobre ser namorado dela... Vou ver se posso ser um bom namorado, mesmo falso.

Mesmo que toda a escola fale sobre nós, eu já nem estou mais aí. Deixa eles pensarem que namoramos mesmo. Eu só não quero que mexam com ela.

Nunca pensei sobre isso, mas acho que a Rachel faz meu tipo. Ela é linda, misteriosa, madura, tem um lindo sorriso, é inteligente... Caramba, eu fui um babaca a minha vida inteira e ainda mais com ela. Eu tenho sorte por morar com ela!

— Então... - Pigarreei, após tomar meu suco de acerola. - Sua vez.

— De que?

— Contar sua história.

— Minha vida é menos interessante que a sua.

— Não mesmo. Não preciso contar tudo, apenas um pouco. Para te conhecer melhor.

Ela me deu uma encarada que me deu um pouco de medo. Mas que ela tem olhos lindos, isso sim. Os cílios dela, quando ela pisca... Nossa. Acho que estou reparando demais nela.

— Eu e meus pais sempre moramos na mesma casa, num pequeno bairro de Jump City. Já tive um cão de estimação, mas ele morreu de doença. Meu apelido preferido é "Raven", pois acho que corvos são misteriosos e interessantes.

— Como você?

Vi o rosto dela ficar um pouco rosado.

— C-como assim, como eu?

— Você é misteriosa e interessante.

— Prosseguindo... - Ela balançou a cabeça, ignorando meu comentário. - Sempre acharam que eu era algum tipo de bruxa ou feiticeira. Só porquê posso ler mentes. Pelo menos, "Raven" era um apelido legal.

— É maneiro. Raven soa bem e combina com você. Acha que posso te chamar assim?

— Creio que sim.

— Pode ler mentes? No que estou pensando agora?

POV Rachel

É óbvio que ele está me testando. Olhei bem pros olhos dele, a fim de conseguir ver o que ele estava pensando. Quando finalmente consegui, tive que disfarçar o rosto rosado. Ele estava pensando em mim.

É bem óbvio que esteja pensando em mim, afinal, estou bem na frente dele.

— Você só pensa besteira. Não vou dizer em voz alta. - Argumentei.

— Pensar em você é besteira agora? - Ele deu um sorriso que me incomodou.

— Chega, não conto mais nada sobre mim. Nem tem nada mesmo.

— Tava zoando. Pode continuar, "Raven".

Pronto. Tava demorando para zoar.

— Mas já contei tudo.

— Tem certeza? Não quer contar como conseguiu esse lindo cabelo violeta?

Revirei os olhos. Essa história era bem longa.

— Eu tingi uma vez que estava sozinha em casa. Só tinha 13 anos. Pelo que me lembro, meu cabelo era preto quando eu era bem pequena, aí ele foi clareando e lembrava um pouco o violeta. Aí, para arrebatar, eu tingi. E agora, ele sempre fica assim.

— Maneiro! - Ele exclamou, pela primeira vez, soltando da minha mão. - Você é rebelde?

— Tive uma época rebelde. Mas não durou muito tempo.

Depois de muito tempo sem dizer nada, pude notar, por cima do ombro dele, que Tara estava nos observando. O sorriso dela era sarcástico e me dava um pressentimento muito ruim. Essa louca vai aprontar.

Quando finalmente fomos embora, até Tara sair da vista, fomos de mãos dadas. Mas a maior surpresa seria no outro dia, onde tudo quanto é lugar da escola estava falando que eu e o Garfield estávamos namorando - e pior, que morávamos juntos!! Nós queríamos morrer!!