Good Morning Call - BBRAE

Lar Doce Lar... Só que Não!


POV Garfield

É isso aí! O Logan está indo para uma nova vida! Finalmente vou morar sozinho! Poderei frequentar festas noturnas e conhecer algumas gatinhas. Tem coisa melhor? Creio que não. Claro, preciso estudar. Mas na escola tem muitas gatinhas.

Eu peguei o anúncio do jornal num belo dia e decidi que queria me mudar.

Minha casa era ótima, mas se eu pudesse morar sozinho seria melhor ainda! E sem contar que eu tinha dinheiro para poder comprar.

Eu fiz um bico aí de garçom uns tempos e consegui grana o suficiente para comprar esse apartamento.

Hoje é domingo, temperatura agradável de primavera. Já estou com a minha mala, já que vou acertar a compra com a síndica.

Já estou vendo – Jogar videogame depois da aula, sair com os amigos, ir à festas, conhecer garotas, comer pra caramba... Tem vida melhor?

Sim, claro... Preciso de um emprego. Vou procurar amanhã mesmo. Mas todos precisamos de diversão, certo?

POV Rachel

Esse sol me incomoda um pouco. Não sou vampira nem nada, mas minha pele é clara demais e meus olhos são sensíveis a luz, sem contar que estou acostumada com a escuridão. Sou do tipo que as pessoas chamam de bruxa, vampira, feiticeira, das trevas, gótica, e por aí vai... Sou só uma garota que gosta de ficar sozinha. Sozinha não, com meus livros.

Eu tenho um poder que ninguém sabe: Posso ler a mente das pessoas. Também tenho telecinese, poder de mover as coisas com a força da mente. Mas se eu contasse para alguém, me chamariam de louca e também de esquisita. Nunca acreditariam. E se vissem, nunca mais ninguém se aproximaria de mim.

Ficar sozinha nunca me incomodou, só não gosto que falem mal de mim.

Pelo menos agora, consegui me mudar. Comprei um apartamento e estou indo lá para pagar a síndica. Meus pais me deram dinheiro para isso. E eu também vou precisar trabalhar para poder me manter de alguma forma.

Na mesma hora que cheguei, aquele garoto popular da minha escola, o que chamam de Hulk por ter cabelo verde, também entrou. Ele é bonitinho, mas é muito galinha. Vai ser um saco ser vizinha desse cara.

POV Garfield

Por que dentre todo mundo na face da Terra, a esquisita da Rachel tem que ser minha vizinha? Uns dizem que ela é uma bruxa. Ela é bem fechada e quase nunca fala com ninguém. Acho que ela é só uma gótica trevosa que gosta de muita escuridão. Bem o meu contrário. Ela é bonitinha, mas eu nunca pegaria alguém assim.

Eu não tenho um tipo de mulher. Mulheres são meu tipo. Não sei dizer.

Eu a cumprimentei, inclinando a cabeça e ela também.

A síndica não estava. Ótimo. Justo agora que eu queria acabar logo com isso para jogar videogame.

— Vai morar aqui? – Perguntei, para quebrar um pouco daquele gelo esquisito.

— Vou. – Ela respondeu, com a voz um pouco rouca. Sempre que ela falava, sua voz saía meio rouca e baixa. – E você?

— Por isso estou aqui. Para pagar a síndica.

— Qual apartamento? – Perguntou ela.

— 203.

Ela arregalou os olhos como se tivesse visto um fantasma.

— 203? Deve ter se enganado... Esse apartamento é meu! Eu vi no anúncio de jornal e já deixei reservado para mim!

— Tá de brincadeira! A síndica reservou para mim! – Rebati.

Nos olhamos por uns instantes.

— Acha que sofremos um golpe e a pilantra fugiu? – Dei essa hipótese.

Rachel concordou.

— E agora? Tava mó a fim de sair de casa... – Resmunguei.

— Eu também. Mas eu deveria ficar aqui. Sou mais velha.

— É mais esquisita também. – Fiz questão de falar alto para ela ouvir.

POV Rachel

Sério, o que fiz para merecer isso? Esse cara é tão irritante! Eu acho que eu o odeio! Como dá para aguentar alguém infantil e fútil como ele? Como aquelas garotas são idiotas...

Me chamando de esquisita, mas ele não é esquisito também? Sou apenas diferente, não esquisita. As pessoas não me compreendem.

— Vou ter que embora então. Fazer o que. – Disse Garfield, se preparando para ir embora.

— Espera. – Pedi. – Vamos fazer um trato.

— Um trato? Que trato?

Pigarreei. Espero que seja uma boa ideia.

— Podemos fazer assim: O apartamento pode ser uma semana de cada um e aí...

— Pode parar! – Garfield me interrompeu. Mas que rude. – Eu quero o apartamento só para mim!

Suspirei. Com crianças se deve ter paciência.

— Então sei lá.

— Lá constava que tinha dois quartos, né? Por que não pega um pra você? – Perguntou Garfield.

Fiquei estática no lugar. Isso significava morar com aquela peste, certo?

— Espera... Isso significa morar juntos?

Garfield concordou.

— Claro, até conseguirmos dinheiro o suficiente pra nos mudar. E pegar aquela cretina. – Ele disse, com um pouco de raiva da síndica. Também estava com raiva dela. – E isso não significa que eu vou parar de te odiar.

— Você me odeia? – Perguntei.

— Você não dá a mínima para mim, então sim. Aliás, eu nem te vejo como garota mesmo.

— Ótimo! Bom que não venha com nenhum truquezinho pra perto de mim porque eu não caio! Você é um mulherengo.

— Obrigado. Pelo menos, as garotas me querem. Já você, ninguém quer. – Ele soltou uma risada maldosa que eu até fiquei mal por dentro, mas por fora, estava firme.

— Fala sério. Não preciso fazer ninguém gostar de mim.

— Seus pais gostam de você? – Ele continuava zombando comigo.

— Gostam sim. Mas os seus devem estar de saco cheio, né? Te enxotaram de casa.

— EI! – Ele deu um grito de criança zangada. – Não fala assim comigo, sua estranha! Vamos entrar logo nesse apartamento que quero arrumar minhas coisas. E NÃO VOU VIRAR SEU AMIGO!

— Nunca disse que era pra virar meu amigo. Não preciso disso.

— Você não é uma mulher. Você é o demônio.

Rachel sentiu uma pontada. Durante anos, era chamada de demônio por ter um lado obscuro dentro de si. Mas não porque ela queria. Ela no fundo só precisava de um bom amigo.

— Você também é um demônio e por isso eu digo que morar com você vai ser um inferno. – Respondi, na mesma intensidade.

É, vai ser um longo ano... Para eu poder trabalhar e ganhar dinheiro o suficiente para poder mudar de apartamento. Vou ter que aguentar esse chato no meu pé.

— Calma, Chel. – Ele riu, cínico. – Eu não vou tentar nada com você. Nem te vejo como garota.

— Bom mesmo. E não me chame de “Chel”!

— Não gosta? Por que? É o seu namoradinho vampiro que te chama assim?

— Sério, como alguém aguenta você, Garfidiota? – Entrei no jogo de apelidos.

— Todas as garotas me adoram. Claro, menos você que é uma demônia.

— Ah, vai se ferrar! – Peguei minhas coisas e entrei na minha suposta casa, que era para ser meu novo “lar feliz”.

Tô pensando seriamente em voltar para a casa dos meus pais. Mas não posso dar esse gosto àquela criança, que ainda por cima é mais nova que eu.

POV Garfield

Ela é muito chata. Mas vai ser divertido morar aqui. Claro, não com ela. Sério, parece minha mãe ou minha irmã mais velha que nem tenho. Eu só vou guardar minhas coisas e já vou para a rua. Vou ver se em alguma vitrine tem aviso de “precisa-se de funcionário”.

Quero ganhar dinheiro e sair desse inferno. Uma pena, o lugar é bom, a vista é boa, é grande o suficiente... O que estranha é essa louca feiticeira. De que adianta ser bonita e ser um pé no saco?

Eu deixei ela toda irritadinha. Até que é divertido irritar ela.

Guardei minhas coisas no novo quarto. Nem guardei as roupas, espalhei-as por todo o chão, coloquei o videogame na sala e coloquei mais alguns enfeites.

POV Rachel

Parece que um furacão passou por aqui. Como consegue ser tão relaxado? Isso está me dando dor de cabeça. Eu não suporto esse Garfield Logan!

POV Garfield

Eu não suporto essa Rachel Roth.

Mas eu vou esquecer que ela mora aqui e vou jogar videogame. Ela não me manda mesmo. Ainda se fosse uma garota obediente, mas não. Ela tem mais atitude. É até meio atraente. Mas eu nunca ficaria com ela. Nunca. JAMAIS.